Pierrepoint & Sanson
advogados
segunda-feira, 30 de abril de 2007
domingo, 29 de abril de 2007
dos domingos
cada vez sinto mais que não tenho jeito para isto. a ler os outros e a voltar com azedume ao meu, 'tadito, coisa mal amanhada que sou em fato às riscas, escritas. e não é só pela 'escrita', é pelas experiências vividas que me fazem cantito sossegado, beco calmo demais e já quase sem centímetros quadrados para contar quando lá ao fundo está a avenida, rica em murais escrevíveis com gosto. goteja, ping-ping, uff cadeira de descansar.
fiz hoje o 'ditado' do tal campeonato e não me saí nada mal, a sério que esperava pior: tive 13 erros, uns parvos mas outros que me deixaram a resmungar num «e porque é que eu não pensei nisto antes, porque é que não sei disto, desta?». já agora conto que a Carla teve doze mas ela anda na escola e eu não, tem tudo fresquinho que nem horta bem regada. mas para aí metade deles não são comuns, ela/eu acertamos alguns que o outro falhou. como disse e repito com alegria "vá lá, vá lá..." :-)
ontem fui ver os "clássicos" à FIL. felizmente as pilhas gastaram-se rapidamente e pude cirandar sem a pose de maluquinho com dez "flashes" em dez pormenores de cada um. ida e vinda, no regresso já num ir directo àqueles que na primeira volta mais interessaram. terei parado de contar aos cinquenta, o elogio que posso em verdade dizer pois para o resto, para além 'deles', sinceramente nada mais vi.
acabei o Oz e o Crighton, 'bom mais' aos dois pois não é o tamanho ou o género que fazem um texto 'marcante'.
a CP está uma merda. último comboio de Lisboa-Santarém, num sábado: 22:56. lá na gare do Oriente, a boa 'meia-hora' de distância de muitos sítios nices em Lisboa. a gare àquela hora é um mundo de pormenores. antes, ao som duns desconhecidos "Anthony & os Jonhsons" uma nuvem dos extremos das ruas em lojas sem céu, o formigar, anthony e fosse quem quer que fosse a pairar, experimentei um 'ipod' e flutuei. por pouca ouvir a música arrepia-me, e formigar na multidão ouvindo a ironia do visto, tudo mudo e só os olhos falam, as montras, a luz, os movimentos. e o som, assim dum extremo até ao outro, depois um banco final. e antes soara uma buzina de barco, um troar insistente, reclamante. o último trem para não sei onde.
ontem, à distância dum banco de cervejaria vi que 'ganhei' mas fiquei na dúvida 'por quantos' e 'como'; soube hoje nos jornais as novas, e das boas como é contado por quem viu: dois a zero e domínio do jogo de fio a pavio, o quarto lugar está só nas suas mãos e é História para um dia. o Futuro tem de ter sempre um início: força, "Belém"! este final de ano é muito mais que "página-e-meia" quando a história deste tempo for escrita. Honra, foi uma equipa criada e mantida para a Honra, bendita equipa.
agora acho que vou ler o 'Pão com Manteiga' e 'o Roque e a Amiga". estão ali a rir-se para mim.
sexta-feira, 27 de abril de 2007
há um ano atrás disse-o assim, incapaz de calar o que sentia mais a saudade. neste aniversário escrevo do silêncio, o silêncio do orgulho por este Homem que me abraça e me beija, falo do tanto crescer, tanta ausência, tanto ano, e lamento ser cruel a vida que afasta quando tanta omissão e lacuna existem por preencher na relação sempre virgem e de reescrita terna, que é a de filho e pai.
à socapa olho-o, fascinado pelo contraste entre a imagem da memória e a realidade que vejo. partiu um jovem com sonhos de homem, quatro anos* maturaram-no e devolveram-mo em rápido empréstimo, assim, sólido, "feito", o "miúdo" ainda espreitando num sorrir expontâneo que porém não engana, o sorrir calmo de homem adulto e feliz. dentro duma semana abala de novo, sei lá mais quantos calendários à conta deste álbum de memórias que me esfalfo a encher com novas imagens. por isso olho e, fora este descuido de vaidade em dia que é de aniversário, guardo o silêncio que este sentimento impõe, tonificado pela distância e o tempo.
vinte e cinco, completos hoje. recordo o dia em que nasceste e (digo-te, Miguel) o que hoje me dá este nó no peito é gémeo do que me fez soltar lágrimas quando soube que o meu 'pilinhas' nascera, então e hoje me ilude imaginando-me o rei do mundo - e se calhar não é ficção, quanto mais olho para ti mais acredito que sim, o sou, o rei mais feliz de todos, teu pai.
à socapa olho-o, fascinado pelo contraste entre a imagem da memória e a realidade que vejo. partiu um jovem com sonhos de homem, quatro anos* maturaram-no e devolveram-mo em rápido empréstimo, assim, sólido, "feito", o "miúdo" ainda espreitando num sorrir expontâneo que porém não engana, o sorrir calmo de homem adulto e feliz. dentro duma semana abala de novo, sei lá mais quantos calendários à conta deste álbum de memórias que me esfalfo a encher com novas imagens. por isso olho e, fora este descuido de vaidade em dia que é de aniversário, guardo o silêncio que este sentimento impõe, tonificado pela distância e o tempo.
vinte e cinco, completos hoje. recordo o dia em que nasceste e (digo-te, Miguel) o que hoje me dá este nó no peito é gémeo do que me fez soltar lágrimas quando soube que o meu 'pilinhas' nascera, então e hoje me ilude imaginando-me o rei do mundo - e se calhar não é ficção, quanto mais olho para ti mais acredito que sim, o sou, o rei mais feliz de todos, teu pai.
* com curta mas extraordinariamente saborosa semana, há tanto tempo como o é há dois anos atrás.
quinta-feira, 26 de abril de 2007
post "de papá": os filhos bonitos
este post foi 'directo' e nem teve uma verdadeira releitura: os solavancos na redacção/virgulação e algum saltitar de teclado não escondem que o bichinho está cá, e morde.
há pouco reli-o e a vontade que me deu foi de ir já já 'compô-lo'. mas não. fica. o essencial está lá, mal contado mas está lá: falta-lhe é 'suor', trabalho de ginásio ausente mas que não esconde o principal: eu 'sei', eu percebi Montero e Oz, sei como se faz e falta é trabalho, muito trabalho, como se diz em Palmela e nos "círculos profissionais", estabilidade psicológica para cem páginas de seguida, escrita fina à luz da lamparina que, essa, também cá alumia.
quero é que um dia dê luz para contar melhor a do cabelo, se não cai mal insistir: é que eu "vejo-o" mesmo e letra a letra, ou o fumo dum cigarro que espreita naquelas costas voltadas, o bailado dum insecto em volta duma lâmpada ou a épica vida do Antunes, que foi sargento em Transmissões, atacado por um crocodilo na Guiné e divorciou-se da Lurdes mal o último filho se casou, de lá para cá passou a fase do alegre divorciado tão célere que, hoje, resta o elegante lenço ao pescoço enquanto envelhece a jogar dominó na tasca, manchas de gordura no colarinho e, às vezes, até tão bêbado que se inflama pela Lurdes e lamenta pelo crocodilo.
ai fica fica, pois!
com'é?
li esta semana que o glorioso S. L. e Benfica está desejoso de boas compras e olha nada disfarçadamente para Belém, para a tal equipa que era para ser da 'honra' e tem-la em grau que era insuspeito, o virtuoso quarto lugar di-lo: o meu C. F. "Os Beleneneses". ok, é a vida, compra quem pode e muito sonha e vende quem tem e, rasteirinho, precisa é de ganhar umas massas para equilibrar a vidinha.
mas... com'é? as contas do Paulo Madeira, já...?
(pensamento subsidiário ao post anterior)
... e eu por cá lembro-me de Rio Frio e da Ota, lembro-me que quem lixou Rio Frio foram os sobreiros e os passarinhos e a Ota vai lixar-nos é a nós todos, geração que aos vistos parece andar folgada, altruísticamente indiferente e de carteira aberta, surda a todos os pareceres que chamam à Ota de erro, e dos caros, quando comparado com o dito que se lixou, lixou-se e lixa-nos pelos estudos que confirmam que os sobreiros não crescem a norte do Tejo e os pássaros não gostam da zona da Ota para aninhar, restando como alternativa alada para alegrar a zona e a malta esses outros caros e birrentos, pássaros passarões, aviões.
(não vem de agora: já o pensava antes de comprar o calhamaço do MC)
raciocínios e tesuras; Michael Crighton; ambiente - aquecimento global; queda de mitos e pontapé nos ícones; muro de Berlin '89
estou quase no fim do último calhamaço de Michael Chrigton, "Estado de Pânico", guerras do ambiente e muita, muita, boca aberta a muita página: bem esgalhado. tanto que já me deu vontade de comprar meia dúzia para oferecer, não para 'converter' pois eu também não saio dele assim* - já o posso dizer pois estou a meras dezenas de páginas do fim e o "thriller" já se assumiu além do arrojo na abordagem ao tema.
não o faço também porque é caro, é calhamaço e isso tem preço correspondente. mas o gajo é esperto: fosse eu abonado como desejava e estavam garantidas as prendas: eu sozinho comprava-lhe 'meia dúzia', repito que não para descatequizar alguém pois, crescidinhos, da água benta bebe quem quer, mas pelo prazer que eu teria em, sei lá... natal de '70's?, receber uma ficção bem esgalhada, solidamente fundamentada, sobre... novembro de 89...
é isso: aconteceu, facto. e se...?
* extraído do livro, mais palavra menos palavra: "ser contra a pena de morte não é defender a não punição de criminosos"
quarta-feira, 25 de abril de 2007
sociedade unipessoal e ilimitada
eu quero é escrever, conversar contando o que não há lábios que saibam dizer com tanta clareza. sou um deficiente nos relacionamentos e, tendo de tal consciência e desejando redimir-me, escrevo, escrevo sem parar. nem tenho vergonha em contar que gosto mais disso do que de sexo pois sei lá porquê rara já é a queca que me deixe desvairado e a transpirar e, escrevendo, lá saem umas auto-carícias que põem direito o ego e rejuvenescem o tinteiro.
por sugestão fui directo ao terceiro capítulo daquele livrinho pequenino que o jornal Público recentemente ofereceu, de Amos Oz "contra o fanatismo". sorri até mais não - quase que foi visível!... - e lembrei-me, li-me. ainda bem que há quem o conte, Rosa Montero até esticou esticou até fazer o melhor livro que li ao tema: "A Louca da Casa", ainda bem pois eu rasgo papel atrás de papel, também desejoso em contá-lo: nasce, infiltra-se, vicia, e quando reparamos parecemos uns maluquinhos incapazes de olhar o quotidiano sem imaginar romances, tramas e psicodramas, tudo alegremente esbarrotado e naife como são todas as histórias imaginadas só pelo prazer de 'escrever' em contínuo, que importa se o caderno está ou não aberto ou se há pincel para a tela...: não se consegue parar de escrever mesmo quando se anda ao papel literalmente, a olhá-lo como o analfabeto ao palácio: gosta muito mas não sabe como contá-lo. de vez em quando lá calha e metade do idealizado, laboriosamente construído em 'escritas' no momento, olhar a tela e escrevê-la em directo mas com toda a atenção às vírgulas e mudanças de linha, há bocados que ainda são recordados a tempo de chegarem à caneta e nasce post, crónica, contadas ao Mundo as maluqueiras que pensamos e sabemos escrever - principalmente isto, pois se dá prazer queremos que toda a gente saiba como somos felizes!, é natural à auto-estima e também é a desculpa do escritor.
ninguém sabe o quanto está escrito na linha que vai do olhar perdido até à ponta onde se perde, excepto o outro olhar ausente com que acabamos de cruzar a 'nossa' trama idealizada, em que lugar está e que personagem ele é nesta linha interminável que há quando se encontra a resposta ao "porque escreves" e "como o fazes": não se pára, após começado. cada novo texto é uma aventura, um ginásio faustoso onde se exercita a reinvenção do mundo, ao menos na forma de o escrever pois ao mais que ninguém refile se até no pormenor da queda dum cabelo há matéria para uma evasão direito à escrita do seu movimento, gracioso no cair e pousando com a elegência que só um longo cabelo tem, rolando suavemente num cair preguiçoso, hipnotizante para quem o lê, e assim a ficção às vezes manda mais que a vontade, como é possível passar ao lado da riqueza de olhar sem escrevê-lo, incluindo no descrito a parte mais bela, prazer em contá-lo e imaginar o afago que tanto fez suspirar o cabelo que ele desmaiou, os olhos os lábios e depois a mão a recebê-lo em regaço, derretido em minuciosos prazeres por ir contá-lo, letra.
afinal o sorriso valeu a pena, Oz fez-me contar o meu niquito da história. os meus gelados, a minha forma de 'construir', os meus óculos de ver ao perto. como começa? se pensar bem acho que a resposta honesta será a de ter-se lido e gostado de ler, apanhar-se o 'jeito' de encher a tal linha de vazio do olhar perdido na multidão e nela individualizar ligações, juntar-lhe carga que esteja a jeito na memória para encher o cenário, e ninguém imagina o que vai em tráfego no olhar ausente de 'quem escreve' e parece ter morrido em vida, o olhar perdido em nada, no lento e extenso relato da queda dum cabelo, sentido a pele eriçada de prazer em escrevê-lo.
eu avisei que é melhor que sexo, e, mesmo esse, se pensarmos bem no assunto, tem afagos e cabelos insuspeitos tantos quantos forem os possíveis de se acreditar existirem nos olhos semicerrados perdidos na névoa do orgasmo - tal e qual o olhar o nada e a multidão e seus extraordinários dons de pilosidade, em empolgado relato: um suspiro escrito é mais lento que um roçar de lábios, ó que prazer em contá-lo, os lábios lambendo-se para recolher a sensação, os olhos olhando e recriando, escrever.
é tudo. acabei. gostei de estar a escrever isto. a, outra vez. a, quero para sempre.
terça-feira, 24 de abril de 2007
ovnis; feira popular; a Celeste; X-15; Arrabal; ortodoxia frelimista; ganzas;
Num Grupo MSN um amigo abriu uma mensagem onde abordava os mistérios que a arqueologia nos trás (no caso uns intrigantes crâneos humanos moldados em cristal, com presumíveis milhares de anos) e não tardou a abordar-se a velhinha questão dos UFO's, pretexto para eu recordar assim:
..........................................................................................
" eu uma noite, à porta da Feira Popular, vi uns (ou um, já não me lembro bem) "discos voadores". palavra. estava comigo a Celeste mas não posso arrolá-la como testemunha pois há mais de vinte anos que não sei dela. e todos os que estávamos à porta, naquelas noites de verão em que às 'dez' ainda é cedo e faz um calor dos diachos, todos erguemos a pala e apontávamos, as luzes brilhantes lá em cima e que após umas piruetas deram em zarpar como se levassem fogo no rabo. os jornais no dia seguinte falaram nisso, se bem me lembro foram vistos sobre Setúbal e mais tarde no Algarve.
vale o que vale, mas a verdade é que naquele momento a Celeste ficou(-me) secundária e para todos tudo ficou secundário pois não havia quem não olhasse, comentasse, apontasse, os "discos voadores". sei lá o que era, e na ciência aeronáutica (a militar, principalmente essa) fazem maravilhas de que ouvimos falar pelas tvs e jornais, e de fugida e mal. nos USA, anos 50's e 60's, a febre dos "discos voadores" era o prato do dia, quase sempre nos estados do interior, mais desérticos e, claro, onde se situam as enormes pistas para os aviões experimentais. houve nessa época muita experiência acerca de formas revolucionárias, desde as tentativas de criar bombardeiros em forma de asa única, o avião era todo uma asa qual boomerang gigante, até aos do tipo do famoso X-15, um avião foguete. depois houve o Blackbird (SR-71 se não erro) e os tempos também são outros, mais informados, e foi um claro erro deixar de prestar atenção à Celeste em busca do milagre nos céus. talvez daí, sabe-se lá..., a Celeste também foi um disco voador, célere e fugidio, já agora conto essa parte para não ficarem nós por desatar.
quando me der o berro como ao cão do Miguel, a carne é roída num instante e o meu crâneo fica no melhor museu de história natural que há: a Terra, a boa terra, a minúscula para poder haver a outra, a maiúscula de todos nós. ou cremado. suspeito que ninguém irá querer snifar-me como o gajo dos Rolling Stones fez às cinzas do pai. só num filme do Arrabal (cinema Avenida, na Baixa de LM, já finais de '75 se bem me lembro) vi um gajo comer-se a si próprio, no caso manjou uma mão: dava mais jeito de levar à boca e ainda tinha a outra para segurar o prato, que o serrote tinha ele encaixado no crâneo. agora há o Hannibal e mais aquele gajo alemão que os encomendava pela Internet, tal como se faz para uma piza, mas de autofagismo (é assim que se diz, não é?), canibalismo de si mesmo, só me lembro desse. por isso quer as cinzas quer a carne voltam directos à origem, et voilá.
bem, 'tou baralhado. discos-voadores, a Celeste, mais canibalismo e o X-15. e nada em cristal. vou-me"
vale o que vale, mas a verdade é que naquele momento a Celeste ficou(-me) secundária e para todos tudo ficou secundário pois não havia quem não olhasse, comentasse, apontasse, os "discos voadores". sei lá o que era, e na ciência aeronáutica (a militar, principalmente essa) fazem maravilhas de que ouvimos falar pelas tvs e jornais, e de fugida e mal. nos USA, anos 50's e 60's, a febre dos "discos voadores" era o prato do dia, quase sempre nos estados do interior, mais desérticos e, claro, onde se situam as enormes pistas para os aviões experimentais. houve nessa época muita experiência acerca de formas revolucionárias, desde as tentativas de criar bombardeiros em forma de asa única, o avião era todo uma asa qual boomerang gigante, até aos do tipo do famoso X-15, um avião foguete. depois houve o Blackbird (SR-71 se não erro) e os tempos também são outros, mais informados, e foi um claro erro deixar de prestar atenção à Celeste em busca do milagre nos céus. talvez daí, sabe-se lá..., a Celeste também foi um disco voador, célere e fugidio, já agora conto essa parte para não ficarem nós por desatar.
quando me der o berro como ao cão do Miguel, a carne é roída num instante e o meu crâneo fica no melhor museu de história natural que há: a Terra, a boa terra, a minúscula para poder haver a outra, a maiúscula de todos nós. ou cremado. suspeito que ninguém irá querer snifar-me como o gajo dos Rolling Stones fez às cinzas do pai. só num filme do Arrabal (cinema Avenida, na Baixa de LM, já finais de '75 se bem me lembro) vi um gajo comer-se a si próprio, no caso manjou uma mão: dava mais jeito de levar à boca e ainda tinha a outra para segurar o prato, que o serrote tinha ele encaixado no crâneo. agora há o Hannibal e mais aquele gajo alemão que os encomendava pela Internet, tal como se faz para uma piza, mas de autofagismo (é assim que se diz, não é?), canibalismo de si mesmo, só me lembro desse. por isso quer as cinzas quer a carne voltam directos à origem, et voilá.
bem, 'tou baralhado. discos-voadores, a Celeste, mais canibalismo e o X-15. e nada em cristal. vou-me"
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bem, tive resposta. nela sou perguntado se a visão dos UFO's não se deveria a "umas passas bem puxadas" (sic) que fizeram confundir as luzes dos carrocéis com outras coisas aladas. e, aproveitando a boleia, o filme do Arrabal foi desancado de alto a baixo pois o meu interlocutor também o tinha visto, mesma época e cinema. enfim, os mimos ao cineasta e à sua obra foram abaixo de cão, coisa tão tal e tal que não me coibi em, brincando, levantar mais um canto ao tapete, que pó por varrer é o que mais por ali há... assim:
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" mais depressa se apanha um ortodoxo que um coxo!
sim, o filme é mesmo esse e sei lá se até na mesma sessão... mas vamos ao que interessa, à semelhança de posições entre a tua "crítica" ao filme do Arrabal e a posição de quem então superentendia na agit-prop & cultura da FRELIMO, que esperneou, ralhou, ameaçou, para que o filme não passasse: esse episódio foi-me contado, e não há muito tempo atrás, pelo então responsável pela ida do filme, inserido em ciclo de cinema alternativo, como o exemplo do primeiro dos muitos desencontros, coacções intelectuais, ameaças veladas e menos veladas que acabaram, logicamente, já anos oitentas bem puxados, que o bom do meu interlocutor levantasse a tenda e abalasse para cá, farto e cansado de ser ameaçado se não cumprisse a cartilha cultural oficial do regime: tu tás igual, meu! mas igual é ao outro, ao que, a seu gosto, só passaria o couraçado Potenkim e o filme da vida do Querido Líder, mais o relato épico da campanha do arroz na província de Xin-xin-Xin!....
das partes que falas e que tanto te impressionaram - as visuais, não me refiro à odora... - eu não me recordo. ando há trinta anos é a recordar-me do man a comer a sua própria mão, foi a cena que se me gravou. por isso volta não volta e quando a conversa resvala para aí, cinema dos 'velhos tempos', vem-me sempre à baila e foi aí que ele me contou a saga vivida para o filme ter passado, ameaçado que esteve até ao próprio dia da sessão em ser 'vetado', ameaças de demissões compulsivas e até dalgumas coisas ditas entredentes e bem piores... uns tempos depois gritadas a bom som, numa espiral de ortodoxia que estrangulava qualquer veleidade 'cultural' ou de 'liberdade de imprensa' que fosse além da dita cartilha "boa", que culminou, como te disse, na total incompatibilidade pessoal e ameaças directas à liberdade (pelo menos) do "perigoso reaccionário" encoberto em capa de "agente cultural". história e estórias, que é destas que se faz a outra, a com agá. reconheçamos que ao menos por estas duas coisas valeu a pena o Arrabal ter visitado a então jovem Revolução Moçambicana: terá sido dos primeiros sinais de que as águas não eram tão mansas e plácidas como se sonhava, e 'chocou' os espectadores - touchée! - ao ponto de três décadas e picos depois ainda ser falado, comentado, à mesa da interminável bula-bula do passado, mérito que em certo a maioria dos filmes que vimos não merece.
depois há os UFO's mais o resto, ganzas e Celeste incluídas. saiba Vossa Senhoria de eriçada barba que o je, ao que se lembre, na noite das aparições nada mais inalou que a suave fragância dos sovacos da Celeste e a pestilência que vinha dos frangos e das sardinhas a assar. no máximo, mas já no limite, concedo que tenha aviado meio maço de Kart, que era então o tabaco que a casa gastava. ganzas nicles, niente, n'a pas de rien. ou então tratrar-se-ia da oficial queima dumas boas toneladas de suruma apreendida, e o manto de fumo psicadélico não só bordejava a Feira Popular e inspirava oníricamente todos os que de nariz no ar olhavam o "fenómeno", como a nuvem do "pão dos deuses" se estendeu para os lados do aeroporto pois, segundo contaram os jornais da manhã, lá na torre também os viram sem que as agulhas se agitassem ou da estática saísse qualquer comunicação: "eles andam aí, eles andam aí..." :-)
enfim, verdade ou mentira nos UFO's, isso não sei. sei e lembro-me é da covinha no queixo da Celeste, dos seus lábios brilhantes, o jeito maroto do seu cabelo, a estonteante anatomia dos seus maravilhosos 'vinte anos'. em seu e meu prejuízo nessa noite 'corri' atrás de discos voadores e, fictícios como são, fizeram perder-se a magia dos encontros, dos 'dates'. no dia seguinte fomos ver um filme musical (Led Zepellin? the Who? já não sei...) ao Nimas e recordo-me de haver uma lágrima silenciosa enquanto lhe segurava a mão, num afago último à noite de paixão perdida algures nos céus da ilusão. coisas da vida, que nem sempre é celestial."
sim, o filme é mesmo esse e sei lá se até na mesma sessão... mas vamos ao que interessa, à semelhança de posições entre a tua "crítica" ao filme do Arrabal e a posição de quem então superentendia na agit-prop & cultura da FRELIMO, que esperneou, ralhou, ameaçou, para que o filme não passasse: esse episódio foi-me contado, e não há muito tempo atrás, pelo então responsável pela ida do filme, inserido em ciclo de cinema alternativo, como o exemplo do primeiro dos muitos desencontros, coacções intelectuais, ameaças veladas e menos veladas que acabaram, logicamente, já anos oitentas bem puxados, que o bom do meu interlocutor levantasse a tenda e abalasse para cá, farto e cansado de ser ameaçado se não cumprisse a cartilha cultural oficial do regime: tu tás igual, meu! mas igual é ao outro, ao que, a seu gosto, só passaria o couraçado Potenkim e o filme da vida do Querido Líder, mais o relato épico da campanha do arroz na província de Xin-xin-Xin!....
das partes que falas e que tanto te impressionaram - as visuais, não me refiro à odora... - eu não me recordo. ando há trinta anos é a recordar-me do man a comer a sua própria mão, foi a cena que se me gravou. por isso volta não volta e quando a conversa resvala para aí, cinema dos 'velhos tempos', vem-me sempre à baila e foi aí que ele me contou a saga vivida para o filme ter passado, ameaçado que esteve até ao próprio dia da sessão em ser 'vetado', ameaças de demissões compulsivas e até dalgumas coisas ditas entredentes e bem piores... uns tempos depois gritadas a bom som, numa espiral de ortodoxia que estrangulava qualquer veleidade 'cultural' ou de 'liberdade de imprensa' que fosse além da dita cartilha "boa", que culminou, como te disse, na total incompatibilidade pessoal e ameaças directas à liberdade (pelo menos) do "perigoso reaccionário" encoberto em capa de "agente cultural". história e estórias, que é destas que se faz a outra, a com agá. reconheçamos que ao menos por estas duas coisas valeu a pena o Arrabal ter visitado a então jovem Revolução Moçambicana: terá sido dos primeiros sinais de que as águas não eram tão mansas e plácidas como se sonhava, e 'chocou' os espectadores - touchée! - ao ponto de três décadas e picos depois ainda ser falado, comentado, à mesa da interminável bula-bula do passado, mérito que em certo a maioria dos filmes que vimos não merece.
depois há os UFO's mais o resto, ganzas e Celeste incluídas. saiba Vossa Senhoria de eriçada barba que o je, ao que se lembre, na noite das aparições nada mais inalou que a suave fragância dos sovacos da Celeste e a pestilência que vinha dos frangos e das sardinhas a assar. no máximo, mas já no limite, concedo que tenha aviado meio maço de Kart, que era então o tabaco que a casa gastava. ganzas nicles, niente, n'a pas de rien. ou então tratrar-se-ia da oficial queima dumas boas toneladas de suruma apreendida, e o manto de fumo psicadélico não só bordejava a Feira Popular e inspirava oníricamente todos os que de nariz no ar olhavam o "fenómeno", como a nuvem do "pão dos deuses" se estendeu para os lados do aeroporto pois, segundo contaram os jornais da manhã, lá na torre também os viram sem que as agulhas se agitassem ou da estática saísse qualquer comunicação: "eles andam aí, eles andam aí..." :-)
enfim, verdade ou mentira nos UFO's, isso não sei. sei e lembro-me é da covinha no queixo da Celeste, dos seus lábios brilhantes, o jeito maroto do seu cabelo, a estonteante anatomia dos seus maravilhosos 'vinte anos'. em seu e meu prejuízo nessa noite 'corri' atrás de discos voadores e, fictícios como são, fizeram perder-se a magia dos encontros, dos 'dates'. no dia seguinte fomos ver um filme musical (Led Zepellin? the Who? já não sei...) ao Nimas e recordo-me de haver uma lágrima silenciosa enquanto lhe segurava a mão, num afago último à noite de paixão perdida algures nos céus da ilusão. coisas da vida, que nem sempre é celestial."
memórias, quem as não tem...
sexta-feira, 20 de abril de 2007
O ruído do aparo; eu e Sócrates, covilhanenses mas parolos; o luxo de ter Sol em Abril como nem os finlandeses nem os chineses têm
Arrasto a caneta em patéticas construções como o rabo preguiçoso arrasta a cadeira, rangidos que incomodam quem tem a delicadeza de ser sem incomodar. Cansa-me escrever muito e gostava de ser poeta porque estes escrevem pouco e muito, precisam de escrever pouco para terem 'muito' escrito. Eu não: zaca-zaca, viro folhas a cuspo de tanto nelas me esconder, chinelo de medida trinta e oito que sonha jogar na NBA e sabe-o assim difícil curto como é, zaca-zaca toca a abastardar a pegada. Vou votar no José Sócrates (seja para que freguesia for e esteja ele em que associação estiver) se se confirmar algum do bruá da Universidade Independente: tenho simpatia por um gajo que é tão nabo e tão esperto que chega a general por artes próprias mas é tão parolo que cai no risco de falsificar o diploma de sargento-ajudante, aspirante a fazer pela ´vidinha’ o melhor que conseguisse se aquilo da Política “não desse certo”.
Que tem isto a ver com Poesia, ou com o meu tamanho de chinelo? o laço é a falsificação do bilhete de identidade. Explico. Como ele sou um parolo, a provar-se que falsifiquei a vida substituindo uma caneta administrativa com alguma arte e engenho – diziam alguns…, por outra em que tais dotes foram sobrestimados, tornando o tal rabo preguiçoso. Daí os rangidos ao arrastar da cadeira que incomodam quem à poesia tem o respeito devido, até pela leitura de muita da sua invejosa, a prosa. Em arrastar para a frente descobri que não é de meu jeito encontrar a pura rima da poesia, mais chiar no erro da obsessão pela rima óbvia, ter ‘diploma’.
Fechar-se-á o círculo se, a serem as coisas assim mais que sugerido é dito, juntando Sócrates a sua cadeira à minha no canto dos poetas falhados, retribuir-me a atenção e simpaticamente comprar-me um livro, cada um na sua parolice e dizendo de sorriso parvo que o que traz no colo são rosas, lindas ideias em flores e escritas, rosas e poemas, senhores.
Tenho dificuldade em avaliar o desempenho do Governo: nota-se que se esforça mas não se vê a rima prometida e, olhando-o, vejo o meu espelho a olhar para mim, tanta boa ideia e intenção mas tanta remela em volta dos olhos, amarelos de tanta ruga olharem; lá no departamento que nos governa cada mês que passa há ministros atrás de ministros que engrossam os já não escondem a cara de desiludidos com o País que era suposto governarem rumo a futuros que, vê-se na falta de sintonia e rima, não são para ele, são-lhe mundos estranhos ao seu pé pequeno e de curto ritmo. Sócrates impinge-nos a falsificação colectiva da identidade, quer transformar este Abril que para nós já é mês de Sol num qualquer calendário ‘moderno’, daqueles da Era da Globalização que dizem que é mais importante o custo da sua edição que a beleza da foto que mostram, banais folhas que se arrancam sem saudade, apenas preocupados que haja outra nova que lhe suceda, e outra, e outra, a sobrevivência. Aterroriza-nos com os rácios de produção finlandeses em tecnologias de ponta e ao dizer aos chineses que a nossa pobreza é um ‘cluster’. Como presidente de junta com uns tostões guardados, nas festividades solta foguetório para que haja bailarico, no discurso fala em um dia se ser uma grande cidade e, no dia seguinte, aperta com os funcionários para ver quem tem a licença do ‘caniche’ em atraso e vai almoçar com os empreiteiros, sonhando a sua freguesia pejada do que não é e, suspeito tal como à minha poesia, nunca será, cidade.
Somos ambos “da Covilhã”: as aspas vêm por mim que, não lá nascido tecnicamente pois razões de precaução aconselharam os meus pais a eu nascer na maternidade Alfredo da Costa, lá vivi do ano zero ao sete, antes de pisar o tombadilho do ‘Infante D.Henrique’, paquete até aos vinte. O Alçada Batista também é da Covilhã mas ao que dele sei tem mais tias e gosta mais delas que eu ou o José Sócrates, e é melhor pessoa que nós: que se saiba, nenhuma delas é imaginária, falsificada como é a política do “engenheiro” e diz-se que o seu diploma também, e já agora o tamanho do meu pé, tropeção e arrastão sem rima, viver diário sem Sol em Abril e Poesia no resto do ano que lhes valham ou o futuro prometido antevendo-se como possível, não se sendo por bilhete de identidade finlandês ou chinês, Poeta ou Escritor: nem todos os beirões triunfam, zaca-zaca a abastardar a pegada, é nas estantes que estão os romances e os livros de História e odeiam-se as rugas do espelho.
Rimar um País com o Mundo como se não houvessem fusos horários, trópicos ou glaciares, é tão utópico ou tinta perdida como acreditar que quem escreve três mil e seiscentos caracteres é um poeta e não um industrial da rima, um prosador. Toda uma fronteira de diferença, toda a arte de em poucas letras soltar um suspiro, a elegância de se saber ser governante da sua própria freguesia e não da sede de concelho ao lado, passem os seus exotismos nórdicos ou orientais que afinal pouco valem ao pé da nossa tipicidade de ter Sol em Abril, medida trinta-e-oito mas quarenta e seis sonhado e portuguesmente bronzeado, passe agora o rangido do aparo que à falta de melhor rima havia de soar.
Que tem isto a ver com Poesia, ou com o meu tamanho de chinelo? o laço é a falsificação do bilhete de identidade. Explico. Como ele sou um parolo, a provar-se que falsifiquei a vida substituindo uma caneta administrativa com alguma arte e engenho – diziam alguns…, por outra em que tais dotes foram sobrestimados, tornando o tal rabo preguiçoso. Daí os rangidos ao arrastar da cadeira que incomodam quem à poesia tem o respeito devido, até pela leitura de muita da sua invejosa, a prosa. Em arrastar para a frente descobri que não é de meu jeito encontrar a pura rima da poesia, mais chiar no erro da obsessão pela rima óbvia, ter ‘diploma’.
Fechar-se-á o círculo se, a serem as coisas assim mais que sugerido é dito, juntando Sócrates a sua cadeira à minha no canto dos poetas falhados, retribuir-me a atenção e simpaticamente comprar-me um livro, cada um na sua parolice e dizendo de sorriso parvo que o que traz no colo são rosas, lindas ideias em flores e escritas, rosas e poemas, senhores.
Tenho dificuldade em avaliar o desempenho do Governo: nota-se que se esforça mas não se vê a rima prometida e, olhando-o, vejo o meu espelho a olhar para mim, tanta boa ideia e intenção mas tanta remela em volta dos olhos, amarelos de tanta ruga olharem; lá no departamento que nos governa cada mês que passa há ministros atrás de ministros que engrossam os já não escondem a cara de desiludidos com o País que era suposto governarem rumo a futuros que, vê-se na falta de sintonia e rima, não são para ele, são-lhe mundos estranhos ao seu pé pequeno e de curto ritmo. Sócrates impinge-nos a falsificação colectiva da identidade, quer transformar este Abril que para nós já é mês de Sol num qualquer calendário ‘moderno’, daqueles da Era da Globalização que dizem que é mais importante o custo da sua edição que a beleza da foto que mostram, banais folhas que se arrancam sem saudade, apenas preocupados que haja outra nova que lhe suceda, e outra, e outra, a sobrevivência. Aterroriza-nos com os rácios de produção finlandeses em tecnologias de ponta e ao dizer aos chineses que a nossa pobreza é um ‘cluster’. Como presidente de junta com uns tostões guardados, nas festividades solta foguetório para que haja bailarico, no discurso fala em um dia se ser uma grande cidade e, no dia seguinte, aperta com os funcionários para ver quem tem a licença do ‘caniche’ em atraso e vai almoçar com os empreiteiros, sonhando a sua freguesia pejada do que não é e, suspeito tal como à minha poesia, nunca será, cidade.
Somos ambos “da Covilhã”: as aspas vêm por mim que, não lá nascido tecnicamente pois razões de precaução aconselharam os meus pais a eu nascer na maternidade Alfredo da Costa, lá vivi do ano zero ao sete, antes de pisar o tombadilho do ‘Infante D.Henrique’, paquete até aos vinte. O Alçada Batista também é da Covilhã mas ao que dele sei tem mais tias e gosta mais delas que eu ou o José Sócrates, e é melhor pessoa que nós: que se saiba, nenhuma delas é imaginária, falsificada como é a política do “engenheiro” e diz-se que o seu diploma também, e já agora o tamanho do meu pé, tropeção e arrastão sem rima, viver diário sem Sol em Abril e Poesia no resto do ano que lhes valham ou o futuro prometido antevendo-se como possível, não se sendo por bilhete de identidade finlandês ou chinês, Poeta ou Escritor: nem todos os beirões triunfam, zaca-zaca a abastardar a pegada, é nas estantes que estão os romances e os livros de História e odeiam-se as rugas do espelho.
Rimar um País com o Mundo como se não houvessem fusos horários, trópicos ou glaciares, é tão utópico ou tinta perdida como acreditar que quem escreve três mil e seiscentos caracteres é um poeta e não um industrial da rima, um prosador. Toda uma fronteira de diferença, toda a arte de em poucas letras soltar um suspiro, a elegância de se saber ser governante da sua própria freguesia e não da sede de concelho ao lado, passem os seus exotismos nórdicos ou orientais que afinal pouco valem ao pé da nossa tipicidade de ter Sol em Abril, medida trinta-e-oito mas quarenta e seis sonhado e portuguesmente bronzeado, passe agora o rangido do aparo que à falta de melhor rima havia de soar.
quinta-feira, 19 de abril de 2007
d'Almeirim
a sopa da pedra é mais leve quando em animada companhia. não é caldo que se compadeça com repastos solitários. feijão, batata e enchidos temperados ao que dizem ser segredo mas eu sei, só se degusta e desmói dando-lhe a honra de tchin-tchins em vinho tinto e muita bula-bula de boa casta. tenho alguns em olho para breve. ’07 mostra-se ano de grande colheita, “pão e vinho sobre a mesa” que sopa de pedra e boa companhia tem sido ementa repetida, uma coluna de valores cheia dos melhores algarismos entre todos: o relacionamento humano, olhos nos olhos ou “vis a vis” como diz a outra, mas eles sabendo o quanto conta cada silêncio escrito, os pensamentos falados no tic-tac dum teclado, que as rugas escondem sorrisos e eles brigam por espreitarem, cansados de não serem ‘ouvidos’. é aqui que entra a sopa, e podia ser uma caldeirada se fosse na Nazaré. o segredo da dita é sempre o reforço dos sentidos do aroma e paladar, lendas e mitos e ervas aromáticas, a pedra é facultativa mas todos gostamos de a encontrar: preenche um dos mais fortes sabores, a fábula onde os reinos mineral e animal se sentam à mesa, colher garfo copo e corpo ao serviço do ronronar da mente, ela de babete quando assim em confraria. no “diário” de volta não volta frequentar essas mesas, o caldo da pedra não me atrai mais que, estando o tempo a recomendar um caldo quente, o de peixe, uma rica sopa de peixe. mas, dou por mim sempre em sugerir a sopa de pedra quando por cá passam olhos que estão é atrasados na chegada ao ‘vis a vis’ pois de ‘nos lermos’ já são conhecidos, e, mal começo a pensar num jantar/almoço agradável, além do factor tipicidade a quem vem de fora junta-se um salivar que vai nascendo, eu gosto de sopa da pedra como companhia quando da outra me sento à mesa, quando cá em Almeirim é pavloviano: vou estar com um cyber-amigo ainda ‘desconhecido’? encontrar-me com quem já não vejo há que tempos? à amizade junto logo o caldo da sopa da pedra, cheira e sabe bem e desmói melhor, mesmo que haja um feijão a mais o traque não fica a soar no silêncio dos lugares vazios à mesa, que esses é que são dos cheirosos.
para além da “reunião familiar” de hoje à noite (esta manhã chegou o Miguel e já não nos vemos há dois anos, todos menos a Filipa que esteve com ele no final do ano), acabei de mandar um mail a fazer convite para stop por cá a um xitimela que há-de vir do Porto no fim-de-semana direito a Lisboa, intervalo para “uma sopa de pedra” e muita conversa, alguém que não é dos blogues mas é como se fosse: quando calha vermo-nos fico horas a falar com ela, igual ou até melhor que fazer uma série de leitura de dez posts seguidos, todos bons: os cliques do saltitar duns para outros é uma lotaria onde há vezes em que há prémio, e quando calha gostarmos assim tanto do que lemos e aparece a oportunidade do tal “finalmente! és tu o ‘tal’!”, não hesitar e espreitando a oportunidade falar também no xitimela e na tal dita, a exótica e fumarenta pedra, no caso já apalavrada e na fase de telefonema para acordar data, o que vou fazer mal faça ‘edit’. e a ementa já é conhecida!... :)
para além da “reunião familiar” de hoje à noite (esta manhã chegou o Miguel e já não nos vemos há dois anos, todos menos a Filipa que esteve com ele no final do ano), acabei de mandar um mail a fazer convite para stop por cá a um xitimela que há-de vir do Porto no fim-de-semana direito a Lisboa, intervalo para “uma sopa de pedra” e muita conversa, alguém que não é dos blogues mas é como se fosse: quando calha vermo-nos fico horas a falar com ela, igual ou até melhor que fazer uma série de leitura de dez posts seguidos, todos bons: os cliques do saltitar duns para outros é uma lotaria onde há vezes em que há prémio, e quando calha gostarmos assim tanto do que lemos e aparece a oportunidade do tal “finalmente! és tu o ‘tal’!”, não hesitar e espreitando a oportunidade falar também no xitimela e na tal dita, a exótica e fumarenta pedra, no caso já apalavrada e na fase de telefonema para acordar data, o que vou fazer mal faça ‘edit’. e a ementa já é conhecida!... :)
quarta-feira, 18 de abril de 2007
terça-feira, 17 de abril de 2007
pelosidades
esta tarde, ao aparar a barba - uso-a curta, tipo "de dois dias" que regularmente 'estico' - aventurei-me demais no bigode e que é de uso semi farfalhudo há dezenas de anos, e, acerta dum lado acerta do outro acabei por concluir que o melhor que conseguia já só era reduzi-lo à dimensão da barba, um pouco menos aparada... enfim, há sempre uma não razão para acabar com uma tradição.
mirei-me bem e não gostei. o ânimo só chegou quando a Paula veio e, no pós choque, comentar que eu estava dez anos mais novo. muito gosta de mim esta mulher e tão farta que estará do chato de bigodes... bem, mirei-me bem no espelho e por mais duma vez - há qualquer coisa na imagem que faz com que aquele não seja eu-eu... -, e verifiquei que tenho o lábio de baixo 'torto': num dos lados a pele do queixo quase tocando o lábio de cima, só com um consolador traço a unir e a separar. do outro lado, o lábio bem desenhado: que os tenho bonitos, facto, fora o pormenor descoberto e revelado. do mesmo lado existe a já minha velha conhecida diferença nos vincos de expressão da face, em que numa delas é mais profundo que na outra, mais vincado. isto, já conhecido, agora aliado à revelada diferença no lábio, fez-me pensar em se terei tido algures uma mini trombose, coisa tão ligeira que se confunde no saco do irrecordável dos soluços, e aquelas são as marcas, é a fotografia da sua passagem. sei lá, sei lá mas a cara é minha e é nova, é-me nova, deixem-me gozá-la em primeiro lugar - que inclui seus possíveis mistérios e possibilidades ficcionais.
bem, mas a razão da crónica autobiográfica é outra: a dado momento da observação, já depois do "que horror!" e a Carla ter-se refugiado na sala, furiosamente a ver concursos na tv, a Paula observa o que depois confirmei em pormenor como agora era bem visível, sob a mata mal plantada em que ficou transformado o meu venerando bigode: no lábio superior há uma cicratiz, e recordo-me bem de que foi à porrada. de quando-quando em exacto já não me lembro mas sei da idade doutras duas em igual origem que tenho; a no nó dum punho, felizmente já quase desaparecida, terá sido aos dezoito, dezanove, e, a mais antiga de todas - ao que me lembro... - ainda terá sido feita cá em Portugal, Covilhã, antes de aos sete ir para Moçambique: tenho uma mancha no branco dum glóbulo ganha num jogo de "à pedrada", eu cá e tu lá e até podemos ser amigos pois somos vizinhos e tudo e temos mais brincadeiras fixes mas, entretanto, jogo é jogo e toma lá, estou quase-quase a acertar-te... duma vez calhou-me a mim levar com um calhauzito qualquer num olho e ficou marca para sempre. mas o tal, o do lábio, o 'novo', esse que veio em momento de que não tenho grande memória - olha quem, para esquecer as cargas de porrada que leva eh eh... esse situo-o algures nos quinze, à volta dessa idade ou até um pouco menos; sei lá porquê pois nunca me considerei muito 'brigão' mas volta não volta estava metido nas amarelas e aí tanto cai para um lado como calha para o outro, é sempre uma chatice.
cabronas de marcas. mais a trombose fantasma que me entortou um lábio e fez-me a cara como se estivesse permanentemente com ela torcida em desdém ou resmungo, mais o raio do lábio torcido, agora. acresce, junta-se no espelho, que há dias e dias que ando com a minha honrosa ponta-batata do nariz vermelha, eu que não tenho ido além duma raríssima 'imperial' com uma refeição fora de casa, e normalmente até bebo Coca-Cola ou água lisa.
tenham cuidado, tenham muito cuidado: aparar sim, mas com lembrança do que está por baixo das pelosidades, há tromboses e tremores fantasmas a espreitar, há cicatrizes espalhadas por tudo o que é canto e, às vezes, basta um aparar descuidado e vêm-se ossadas do passado, cabronas de marcas. quanto ao resto, estou hipocondríaco de mim: suspeito e acho má cara ao gajo sem bigode no espelho, novo demais a uns olhos, ainda mais desse demais se aos meus - esses, que reconheço.
segunda-feira, 16 de abril de 2007
contas por/para encerrar
Numa parte qualquer do Xicuembo-livro fecho uma página, com tintas de empolgada e em relação ao período revolucionário moçambicano, com a pergunta mais coisa menos coisa: que se passou entretanto para, em três meses (?) ter-me metido nas bichas do consulado português e tirado o passaporte, tratado do mínimo resto e ala que se faz tarde, Mavalane way?
Há dois meses atrás conheci na Póvoa um intelectual com longas décadas de intervenção cívica e política, vividas e escritas e que não deixam dúvidas sobre o seu posicionamento ideológico e quais as piscinas políticas onde nada quando desvia as braçadas do seu pensamento dos mares académicos em que veleja em letras grandes, vela de referência, e, tratando a conversa à mesa (as melhores, sei lá se do informalismo do jarro se pelo agradável do treca-treca no vozear de pratos à frente) de memórias de Moçambique e da sua revolução, os sonhos e os dramas, comentou-lhe gozão o L., que estava á minha frente e que era quem eu conhecia pois ele é que chamou o H. para o seu canto, a meu grato benefício pois não o conhecia senão em nome e muito vagamente: a exemplo nunca tinha lido nada dele mas, por isso, pelo que gostei do relacionamento com a ‘personagem’ quer na informalidade do tal trato à mesa, quer depois aquando da sua alocução na Mesa em que estava integrado (uma das melhores que lá ouvi, e ouvi muitas), bem, falava-se da democracia popular, da onda revolucionária e de como ela é dada ao exagero acerca do aprazível que é o mar das ‘ditaduras do proletariado’ ou das ‘democracias populares’, e como disso foi montra o Moçambique de 74/75, diz-lhe o L., rematando uma conversa em que se abordara as razões que levara tantos como o H. a “abandonarem” a revolução moçambicana e o país, no caso dele mesmo com portas muito grandes declaradamente abertas, mão estendida ao seu ingresso: “houve uma altura em que o H. era dos poucos brancos que assumia que queria continuar branco!”. Claro que se falava na população ‘engajada’ nos ventos revolucionários e não da que lhe tinha profundo eczema.
Sem a mesma clareza de explicação intelectual/ideológica que do H. se tratava e, por via do seu exemplo, se justificava (vivi e vivo há três décadas com a conta mal-arrumada do meu ‘abandono’ da revolução moçambicana), senti esse sentimento crescer dentro de mim até se ter tornado incontornável, mais a mais sabendo-lhe cura e apimentada pela aventura de ir conhecer um Mundo mais "evoluído", ao que todos contavam e o cinema injectara anos e anos – todos até ao momento: a Europa, afinal minha matriz cultural, raiz familiar e até berço. Ao desconforto ideológico cada vez mais forte aliou-se à realidade de saber de claras provocações e perseguições racistas sob capas revolucionárias, uma mão de casos a que assisti, neles um ou outro onde fui personagem. Daí à bicha e ao passaporte “do passado” foi um instante. De ter declarado de todas as formas que me eram possíveis que Moçambique era o meu novo país e eu era e queria ser cidadão moçambicano, passei a uma inscrição no consulado como “estrangeiro”, tratei de me despedir no trabalho e de dar fins aos tarecos, nasceu uma agenda de bolso com números de telefone e moradas ‘em Lisboa’, fiz um plano mínimo e tratei de burocracias como o tal “papel azul”: ainda o tenho, não há muito tempo atrás e a mexer em pastas com papéis amarelados dei com ele, a colecção de carimbos que diz que eu nada devia ao fisco e aos serviços públicos da cidade, ela a dizer que, contas feitas, não tinha o menor problema em ver-me pelas costas, leitura desagradável mas que não evito quando dele me lembro: se eu queria “fugir”, a cidade, o país e a revolução também não mostravam irem ficar com saudades minhas, tantos carimbos a darem-me oficiais despedidas.
Um desencanto que foi crescendo, um desconforto diário, uma certeza em “eu não gosto do que está a passar aqui, eu não quero viver assim”. Tinha vinte anos, alguém a rondar os trinta era “um velho” e nos meus círculos de relacionamentos íntimos não havia ninguém com quarenta ou mais. Comprava o “Luta Popular” e outros quando lá apareciam e não podia deixar de me abismar com a liberdade que havia na revolução do meu ‘outro país’: as manchetes, os relatos das manifestações e a liberdade intelectual que adivinhava pelo que lia, não podia deixar de compará-los com o que se passava no meu dia-a-dia, na revolução que lá vivia. E a pobreza intelectual dos artigos e colunas do jornal e da revista de lá, então acho que até únicos: o “Notícias” e a “Tempo”, quando em confronto com o que me vinha em qualquer publicação que conseguisse, vinda ‘de Portugal’. Até da “Afrique Asie” que era então a minha única leitura internacional que recordo. Em Moçambique-LM editava-se só propaganda, única e de má qualidade como norma. Mesmo os ‘textos revolucionários’ em livro que imperavam nas livrarias era da cartilha aprovada, e não havia lugar a devaneios intelectuais alternativos, a exemplo os textos anarquistas e da quarta Internacional e outras dissidências desaparecem após a (boa) euforia livreira do pós 25A: havia livros que já não se compravam e cobiçavam-se a quem os tinha, restava ler “A Sagrada Família” do Engels (comecei este ‘n’ vezes e nunca consegui ir além das primeiras páginas, por isso o cito à cabeça), e inflamados discursos de Enver Hoxha e Kim Il-sung, a exemplos da parvoíce com que enchia o cérebro, e é se queria ir além da dieta nacional…
Depois havia o racismo de sinal contrário que era utilizado em abuso justificado com os abusos do outro tempo, perguntando-me eu o que tinha a ver com isso além da coincidência pigmentária… só que ouvia e via, e também recebi a minha dose, e não gostava do que ouvia, via, e senti. “não gosto disto assim, vou-me embora”. Dito e feito. À minha maneira e portanto às meias pancadas e por isso esta conta que sempre tive como mal encerrada. No fundo no fundo eu, passada a vertigem da tal onda, já esticado na areia da praia após os irresistíveis mergulhos na sedutora, pensava para comigo que não via mal nenhum em ser ‘branco’ e (já) não queria ser ‘preto’. E se em relação às paixões revolucionárias não sentia perda de fulgor, já era muito baço o brilho duma onde tais práticas existissem, tornando irreais os discursos oficiais. Perdia a galope acusadores emaranhados intelectuais pela cor da pele que tinha e assumia que gostava dela, gostava de mim assim como era e não via erro nenhum nisso, nem na cor nem em mim. E não gostava que não gostassem de mim por pensar assim.
Há dois meses atrás conheci na Póvoa um intelectual com longas décadas de intervenção cívica e política, vividas e escritas e que não deixam dúvidas sobre o seu posicionamento ideológico e quais as piscinas políticas onde nada quando desvia as braçadas do seu pensamento dos mares académicos em que veleja em letras grandes, vela de referência, e, tratando a conversa à mesa (as melhores, sei lá se do informalismo do jarro se pelo agradável do treca-treca no vozear de pratos à frente) de memórias de Moçambique e da sua revolução, os sonhos e os dramas, comentou-lhe gozão o L., que estava á minha frente e que era quem eu conhecia pois ele é que chamou o H. para o seu canto, a meu grato benefício pois não o conhecia senão em nome e muito vagamente: a exemplo nunca tinha lido nada dele mas, por isso, pelo que gostei do relacionamento com a ‘personagem’ quer na informalidade do tal trato à mesa, quer depois aquando da sua alocução na Mesa em que estava integrado (uma das melhores que lá ouvi, e ouvi muitas), bem, falava-se da democracia popular, da onda revolucionária e de como ela é dada ao exagero acerca do aprazível que é o mar das ‘ditaduras do proletariado’ ou das ‘democracias populares’, e como disso foi montra o Moçambique de 74/75, diz-lhe o L., rematando uma conversa em que se abordara as razões que levara tantos como o H. a “abandonarem” a revolução moçambicana e o país, no caso dele mesmo com portas muito grandes declaradamente abertas, mão estendida ao seu ingresso: “houve uma altura em que o H. era dos poucos brancos que assumia que queria continuar branco!”. Claro que se falava na população ‘engajada’ nos ventos revolucionários e não da que lhe tinha profundo eczema.
Sem a mesma clareza de explicação intelectual/ideológica que do H. se tratava e, por via do seu exemplo, se justificava (vivi e vivo há três décadas com a conta mal-arrumada do meu ‘abandono’ da revolução moçambicana), senti esse sentimento crescer dentro de mim até se ter tornado incontornável, mais a mais sabendo-lhe cura e apimentada pela aventura de ir conhecer um Mundo mais "evoluído", ao que todos contavam e o cinema injectara anos e anos – todos até ao momento: a Europa, afinal minha matriz cultural, raiz familiar e até berço. Ao desconforto ideológico cada vez mais forte aliou-se à realidade de saber de claras provocações e perseguições racistas sob capas revolucionárias, uma mão de casos a que assisti, neles um ou outro onde fui personagem. Daí à bicha e ao passaporte “do passado” foi um instante. De ter declarado de todas as formas que me eram possíveis que Moçambique era o meu novo país e eu era e queria ser cidadão moçambicano, passei a uma inscrição no consulado como “estrangeiro”, tratei de me despedir no trabalho e de dar fins aos tarecos, nasceu uma agenda de bolso com números de telefone e moradas ‘em Lisboa’, fiz um plano mínimo e tratei de burocracias como o tal “papel azul”: ainda o tenho, não há muito tempo atrás e a mexer em pastas com papéis amarelados dei com ele, a colecção de carimbos que diz que eu nada devia ao fisco e aos serviços públicos da cidade, ela a dizer que, contas feitas, não tinha o menor problema em ver-me pelas costas, leitura desagradável mas que não evito quando dele me lembro: se eu queria “fugir”, a cidade, o país e a revolução também não mostravam irem ficar com saudades minhas, tantos carimbos a darem-me oficiais despedidas.
Um desencanto que foi crescendo, um desconforto diário, uma certeza em “eu não gosto do que está a passar aqui, eu não quero viver assim”. Tinha vinte anos, alguém a rondar os trinta era “um velho” e nos meus círculos de relacionamentos íntimos não havia ninguém com quarenta ou mais. Comprava o “Luta Popular” e outros quando lá apareciam e não podia deixar de me abismar com a liberdade que havia na revolução do meu ‘outro país’: as manchetes, os relatos das manifestações e a liberdade intelectual que adivinhava pelo que lia, não podia deixar de compará-los com o que se passava no meu dia-a-dia, na revolução que lá vivia. E a pobreza intelectual dos artigos e colunas do jornal e da revista de lá, então acho que até únicos: o “Notícias” e a “Tempo”, quando em confronto com o que me vinha em qualquer publicação que conseguisse, vinda ‘de Portugal’. Até da “Afrique Asie” que era então a minha única leitura internacional que recordo. Em Moçambique-LM editava-se só propaganda, única e de má qualidade como norma. Mesmo os ‘textos revolucionários’ em livro que imperavam nas livrarias era da cartilha aprovada, e não havia lugar a devaneios intelectuais alternativos, a exemplo os textos anarquistas e da quarta Internacional e outras dissidências desaparecem após a (boa) euforia livreira do pós 25A: havia livros que já não se compravam e cobiçavam-se a quem os tinha, restava ler “A Sagrada Família” do Engels (comecei este ‘n’ vezes e nunca consegui ir além das primeiras páginas, por isso o cito à cabeça), e inflamados discursos de Enver Hoxha e Kim Il-sung, a exemplos da parvoíce com que enchia o cérebro, e é se queria ir além da dieta nacional…
Depois havia o racismo de sinal contrário que era utilizado em abuso justificado com os abusos do outro tempo, perguntando-me eu o que tinha a ver com isso além da coincidência pigmentária… só que ouvia e via, e também recebi a minha dose, e não gostava do que ouvia, via, e senti. “não gosto disto assim, vou-me embora”. Dito e feito. À minha maneira e portanto às meias pancadas e por isso esta conta que sempre tive como mal encerrada. No fundo no fundo eu, passada a vertigem da tal onda, já esticado na areia da praia após os irresistíveis mergulhos na sedutora, pensava para comigo que não via mal nenhum em ser ‘branco’ e (já) não queria ser ‘preto’. E se em relação às paixões revolucionárias não sentia perda de fulgor, já era muito baço o brilho duma onde tais práticas existissem, tornando irreais os discursos oficiais. Perdia a galope acusadores emaranhados intelectuais pela cor da pele que tinha e assumia que gostava dela, gostava de mim assim como era e não via erro nenhum nisso, nem na cor nem em mim. E não gostava que não gostassem de mim por pensar assim.
Foi mais ou menos assim que “fugi”, estão aqui quase todas as parcelas desta conta que tenho por fechar. Se digo ‘quase todas’ é porque há sempre em cada um de nós um qualquer pormenor vivido que se nos agigantou a passou a estatuto de parcela, e das fortes, dalguns calhará falar valendo o que vale o testemunho sempre emocional de quem foi parte, doutros nem isso merecerão tão menores que são os 'grandes' problemas quando olhados ao telescópio que o tempo lhes arranja. Enfim e em resumo, em ‘três meses’ devolvi a casa ao senhorio, dei ao Luis de Brito, o meu melhor amigo, os livros e os lp’s (desconfio que se desfez dos primeiros ainda eu estava em voo, mas acredito se me disserem que os meus lp’s ajudaram a muitos fins de noite em ‘boa onda’), comprei bilhete e fiz duas malas, numa delas uma lata de pó talco “Jonhson’s” com, lá dentro, uma pequena banana de suruma de Nampula embrulhada em capa dupla de plástico, que nem isso a salvou de vir a ser autêntica pestilência fumada, tal o cheiro que deitava. Entreguei a BSA ao pai do Luis Kurika – era o acordo de quando lha ‘comprei’ por, salvo erro, dois contos e quinhentos: se eu mudasse de ideias e viesse para Portugal, deixava-a ao pai pois podia ser ele a mudar de ideias e a regressar a LM; o carro que tinha ‘herdado’ quando o meu pai faleceu foi entregue à minha mãe para o vender, e nada mais tinha ou trouxe além de quinze contos que transferi ao abrigo dum acordo qualquer de câmbios de divisas e com bichas numa esquina qualquer da praça 7 de Março, mais quinhentos escudos que troquei no aeroporto. Trouxe um lp com discursos do presidente Samora, que me aprestei a dar a uma 'velha' paixão e que ela recebeu com cara amarela. Eis as parcelas, arrumadas num instante. Menos a ‘tal’, a que não olhava de caras e que deixou a conta por fechar trinta anos: havia racismo “contra o branco” que ia muito além de margens dissimuladas, e eu nem tinha culpas pessoais pela saga colonialista nem vergonha em ser ‘branco’, dando-me mal com a constante ameaça e episódica realidade de, por tais, ser pessoalmente 'acusado'. Hoje, finalmente hoje, aceito que tomei a opção certa.
Estou a ficar fã de pontos finais.
quinta-feira, 12 de abril de 2007
purgatório
na clássica divisão do condomínio lá de cima o Purgatório nem é carne nem é peixe, será como um albergue espanhol onde se espera que duma celestial lupa advenha uma revisão de sentença. as bacantes, essas doidivanas, deverão ir direitinhas ao Inferno, alegremente a infernizar as eternidades que lá pairarem. às musas, as seráficas, está guardado o dossel do Céu, obviamente, e ai de quem se queixe que eu não se lá me alanbazar.
extraio que no Purgatório ficam "nem carne nem peixe", nem inspiram nem (me) suspiram, outra grande razão para desejar o eterno Além bem definido e sem passar pelo entreposto de triagem. porque acreditar em vida para além da morte inclui acreditar na continuidade do frou-frou da sua vertente sexual, seja na quietude das santas nuvens ou nos encalorados domínios do caldeirão.
este post é obviamente dedicado aos crentes na eternidade das coisas que praticaram como boas, vida e suas musas e bacantes em primeira linha.
Messenger - 6
Ela:
então? paraste o blog? outra vez?
Ele:
é...
Ela:
não sabes o que lá hás-de escrever, é? falta-te inspiração?
Ele:
não é bem isso...
Ela:
então? (smiley sorridente, amigável)
Ele:
ou é. já nem sei. acho que o que escrevo não deve ser tão público. ainda à dias perguntei num post se era importante 'ser lido'. e digo-te, Inês, ainda não consegui responder bem bem a essa pergunta... baila-me cá dentro e ainda não encontrei resposta que me satisfazesse.
Ela:
então? (smiley interrogativo) porquê? porque é que fizeste este?
Ele:
manias. vício. cagança. fui na onda
Ela:
meti-te link e tudo...
Ele:
eu sei, já vi (smiley envergonhado)
Ela:
....
Ele:
tens ido lá? todos os dias?
Ela:
sim! e fico chateada por não haver nada de novo
Ele:
"nada de novo"
Ela:
isso
Ele:
...........
Ele:
gostas mais de me ler ou de estar comigo, "ao vivo"?
Ela:
isso não vale!!!! (smiley zangado)
Ele:
respondeste
Ela:
isso não vale... não é a mesma coisa
Ele:
respondeste de novo...
Ela:
tu tás parvo. já te disse que não é a mesma coisa (três smileys zangados)
Ele:
podia falar no Sócrates mas não quero. prefiro ler os outros
Ela:
tás cheio de medo de escrever!
Ele:
talvez
Ela:
podias escrever daquelas coisas bonitas que às vezes fazes... (smiley piscando o olho)
Ele:
esse às vezes é que me lixa... é por isso que puseste o link?
Ela:
claro! bem... também porque sou tua amiga, né? (smiley sorridente)
Ele:
má razão. os amigos falam, não se lêm
Ela:
ora essa!... queres dizer que se eu não tivesse um blog eras mais meu amigo???
Ele:
não é isso Inês. não era isso que queria dizer
Ela:
é é (smiley triste)
Ele:
não, Inês. é por isso mesmo. tendo "um blog", "escrevendo", perde-se a nossa personalidade, passamos a ser o que escrevemos. e eu não sei se gosto disso... (smiley triste)
Ela:
....
Ela:
explica-te. tu és um gajo complicado, sabias? (smiley sorridente) afinal queres ou não queres "ser lido"?
Ele:
já te disse. nem sei se vale a pena além do tal "às vezes"...
Ela:
entendo...
Ele:
os escritores eremitas escondem tudo o que escrevem. já o li. depois, ao fim de muito tempo, calha mostrarem. como o Luandino
Ela:
também li isso... gostavas de ser um? como o Luandino?
Ele:
eu??? lol
Ela:
(smiley a piscar o olho)
Ele:
bem, quase eremita já sou. e 'escrevo' todos os dias
Ela:
... só que tens medo de não fazeres 'todos os dias' coisas bonitas...
Ele:
poissss....
Ela:
és parvo!
Ele:
???
Ela:
ninguém o faz! nem o teu querido ALA!
Ele:
... mas a malta dos blogues acha que sim, que todos os dias se escrevem "coisas bonitas"!
Ela:
és mesmo um gajo complicado! um blog é SÓ um blog! (smiley triste)
Ele:
gosto mais de ter esta conversa contigo, aqui, do que estar a escrever qualquer coisa sem jeito para o blogue...Ela:
(smiley sorridente)
Ele:
(smiley sorridente)
Ela:
amigos? (smiley de lábios a beijar)
Ele:
claro. sempre. o nosso link é outro lol (smiley de lábios a beijar)
Ela:
vá... vai lá escrever alguma coisa para o blog...
Ele:
... ou para a arca do eremita eheheh
Ela:
kiss. amanhã tc outra vez, ciao maluco (smiley sorridente)
Ele:
ciao, Inês. vou escrever-te "uma coisa bonita" (smiley a piscar o olho)
Ela:
eheh és mesmo mangusso, seu eremita safado! fui............
segunda-feira, 9 de abril de 2007
9-4-1955 - ?
(hoje faço 52 anos inteirinhos. «'tou velho», o primeiro pensamento... bem, se calhar estou mesmo pois passei o dia a ouvir o "My way" e a escrever mensagens de tom fúnebre. nos intervalos da auto-comiseração fui receber uma conta - e pagaram, bem bom... -, fui a uma consulta médica e a sumidade sossegou-me, e fui pagar uma conta atrasada de electricidade pois já estava sob ameaça de corte. a vidinha em real time.
de bom bom foi o telefonema que recebi do meu filho que me disse chegar a Pt daqui a menos de quinze dias e, o sol dele, está apaixonado! para além de mo ter dito senti-o na sua voz, na forma empolgada como me/nos contou do seu amor...
afinal o dia que nascera carregado de cinzento de aniversários de mau agoiro está a terminar bem. a vidinha também tem disto, e que o ponto de interrogação se mantenha por muitos e muitos no vago omisso de por cá andar, uns dias assim e outros como calhar.
também espero que o blogue vos conte mais além do trivial, da vidinha afinal igual a tantas todas. senão, para quê? os 'diários' não são por tradição secretos?)
sábado, 7 de abril de 2007
manual de construção de papagaios fálicos
parei de existir. pairo, um cordão preso a um pé para não me deixar levantar muito e para ser puxado quando (me) calhar. além dos óbvios balões (eu pensei num tipo salsicha, vermelho e com uns cornos e um nariz em linguiça numa ponta - reparem que não disse "com uma pila na ponta") lembrei-me dos papagaios, no gosto que dava fazê-los, arranjar o caniço perfeito, resistente e sem lascas, o papel, a fita para o rabo do lastro onde lá calhava dar largas à imaginação e não era só laçarotes que depois voavam, ondulantes.
o fio. lembro-me sempre do fio. como sabem o meu pai foi padeiro muitos anos, "industrial de panificação" oh yé, e eu pedinchava e às vezes recebia grossos rolos daquele fio em que as sacas de rainha vinham cosidas, bem resistente e uns bons dois metros e tal em cada saca pois ele cosia dobrado. é que desde que o papagaio voasse - e depois é que vinham as 'afinações' ao lastro para o estabilizar, etc, - o truque que 'fazia a diferença' era o tamanho do fio. quem não se recorda de meter a mão em pala, binóculo para olhar um papagaio que se perdia no céu, pequenino e gigante, tão gigante que se perguntava 'de quem é?' e depois vinha a correria do " 'bora lá ver!" e, lá na ponta mestra do fio, numa mistura derretida entre o orgulho e o à rasca, havia um puto (e também uma ou outra vez eu) que segurava a linha e sentia-a como a tarefa mais importante que naquele momento se passava em todo o Mundo, "ele" aos comandos tal como doutras vezes se teleportara para o cockpit dum jacto, nas sombras das noites mais quentes correra escondido ao longo dos muros do prédio, mochila a tiracolo cheia de pilhas-granadas e uma lanterna na mão, um molho de pedras no bolso e entre a camisa e o calção a pistola que fora dos cow-boys quando ele era miúdo, ora, de facto e nas sombras da noite, um temerário guerreiro que zelava pela segurança do prédio, da família e dos amigos e dos vizinhos, perante ou o pesadelo dos 'turras' de que ouve falar ou sobreviventes dos nazis que tenham estado escondidos, e ele vai-os "caçar", infalível e imortal. que durava até soar o odiado "ó Carlitos! ó Carlitos! anda para casa que já está muito escuro, anda te deitar! ó Carlitos!".
papagaios. pairo. quem me dera ser águia e agarrar o cabrão do papel, fugidio como o papagaio quando apanhava ventos acima dos topos dos prédios, das árvores. árvores: o terror deles, assim como os fios dos postes - mas esses era mais para ao pé da estrada: nos terreiros internos do bairro se os havia era só em linha única, e já gozas. o fio enrolava-se num pau, e quanto mais fio era maior era o artefacto e mesmo nessas merdas o tamanho do joystick impressiona, (ou da fama não se livra), mais se inchava o peito e tremia-se por dentro com receio de correr mal, o pior de tudo que era nem levantar voo - mas isso imputava-se sempre ao 1º candidato a "depois deixas segurar um bocado?" que ficava com a missão de se esgadelhar todo a correr com o papagaio levantado no braço, coitado que à conta do desejo de segurar os comandos por "um bocado" servia de motor e desculpa para erros de construção.... o caniço principal, o vertical, teria entre o meio-metro e os setenta centímetros, pois essa coisa de construir super-papagaios é treta, ficam tão pesados que nem dois 'tractores' simultâneos - e em dia de vento!... o conseguem fazer ganhar velocidade e altura para, por si, se elevar. o peso... depois o 'horizontal' terá metade e mais um bocado, o rabo (que 'pesa' e bem... tem de ser comprido q.b., ou seja é coisa que só se v~e quando estiver no ar, tira-se e põe-se, "afina-se". mas nunca é menor que para aí o dobro da altura do papagaio. (além de que tem pinta vê-lo a ondular, cobra aérea que morde o papagaio e enche a paisagem no seu movimento hipnótico) o papel obedece como tudo aos factores peso e resistência, em inversos. o de embrulho, pardo - não confundir com o para o bacalhau, rude e sem mais jeito que para o salgado e bilhetes "fui à loja e não demoro. não desarrumem" - de tipo 'de seda' e onde se faziam desenhos cuja visibilidade era incompatível com a glória do seu suporte, que era voar até "ficar longe de vista", Peter Pan disfarçado antes da massificação Disney e quando ela era o regalo de Super Pateta contra o Mancha Negra, os queridos irmãos Metralhas (adorava o 13 13 !... lol), o cofre do Patinhas e mais a mítica moeda nº 1 - hoje há o Euro Milhões, é (-me! -me!) substituto? - e das patinhas todas gostava da vovó Donalda e da namorada do Peninha, uma pata freak que aparecia pouco mas era uma maravilha!... nunca gostei muito dos ratos, se não entrasse o Bafodeonça às vezes nem as lia. os sobrinhos também eram fixes e o profº Pardal uma maravilha. ele e outro que havia, agora não me lembra o nome. vocês sabem que tudo aquilo que eles inventavam, era absolutamente claro e viável, necessário, e era brilhante eles terem-se lembrado disso, tão óbvia era a sua viabilidade teórica e necessidade social? e o Super Homem existe, o Batman e o Capitão América são mal-encarados mas o Super Homem existe e até se lhe sabia os porquês, como ficara assim e donde viera, os pais, em miúdo, a kriptonite, tudo isso? claro que sabem, o Super Homem existe, tal como os papagaios: é preciso é desenhá-lo - construí-lo.
depois é voar, dar-lhe fio, por vezes puxá-lo e até dar uma corrida para forçá-lo à resistência do ar e ele trepar por aí acima... e 'comandá-lo', quando começa em loopings (mau sinal, rabo muito mal calibrado...) e a ameaçar fazer um mergulho directo a um telhado uma copa, um chão sabe-se lá onde, metros e metros de fio enredados por tudo o que é crosta abaixo do céu que o papagaio recusara. quando calha eleva-se, e não há puto mais feliz em toda a rua, não há impossíveis e o céu fica à mão, paira-se junto com o papagaio, o rabo e os laçarotes e toda a tralha ondulando, esta merda dos papagaios é fálica e ainda por cima na versão pedofálica (não confundir nem baralhar), o que está muito certo pois a pilinha, a existir, não se situa lá em cima na cabeça da salsicha-balão mas na parte de baixo, para os lados do cordão que prende os sonhos à terra e, maior terror, partir-se e perder-se a tesão (coisas 'de gajo', e à matéria digo estou bem, obrigado)
é Páscoa. nada me diz além do trivial. o feriado e a tolerância de ponto de quem anda com as cuecas no ar por causa dum faitdivers transformado em diploma nacional, o farejar para morder a canela se ela estiver descuidada, esta nacional "à espera" de ajuste de contas com o odiado e amado, o charme do autoritário - «haja quem mande!...» e a rebeldia e a revolta por, em contas muito simples, sentir-se que alguém nos anda a chicotear como se esta merda da UE fosse um hipódromo e eu, pacato cavalo que só não quer é ser pileca, fosse obrigado a sempre, sempre, cumprir não sei quantos segundos por volta, senão lá vem o chicote. o voto não foi um bilhete de aposta de tão, tanto, valor. este murmúrio surdo procura megafones, espartilhado que se sente busca até no irritante silvo da panela de pressão uma imagem do silvo que nele ouve, sente. "o diploma" espremido dá isto, todo o mundo já percebeu que há/houve é a cagança dos títulos mas que burocraticamente terão havidos os cuidados devidos e as formalidades académicas cumpridas: não é falso. mas... mas o assunto não morre e há um ouvido nacional a ele ligado, voz de fundo e em baixo volume mas não apagado, se se lhe descobrir um carimbo fora do sítio ou outra maneira de lhe morder as canelas ninguém hesita, e lá vais disto e agora toma pelo que nos tens andado a fazer, cabrão!. é Páscoa, pois é. ontem almocei e jantei carne o que suponho ser pecado menor. para me redimir à noite fui ver um 'musical' religioso (a Webita anda nessa fase de participar no fenómeno místico) e até bati palmas a umas cenas, além das de pai-babado. para completar a absolvição e ela ser mais ampla, à saída do cine-teatro estava a passar a procissão da concorrência e aguentei-a até aos últimos sem recolher ao interior. vendo e sendo visto, involuntariamente incluído na exibição de forças entre Situação e Oposição, maiorias e minorias, concorrências.
o fio. lembro-me sempre do fio. como sabem o meu pai foi padeiro muitos anos, "industrial de panificação" oh yé, e eu pedinchava e às vezes recebia grossos rolos daquele fio em que as sacas de rainha vinham cosidas, bem resistente e uns bons dois metros e tal em cada saca pois ele cosia dobrado. é que desde que o papagaio voasse - e depois é que vinham as 'afinações' ao lastro para o estabilizar, etc, - o truque que 'fazia a diferença' era o tamanho do fio. quem não se recorda de meter a mão em pala, binóculo para olhar um papagaio que se perdia no céu, pequenino e gigante, tão gigante que se perguntava 'de quem é?' e depois vinha a correria do " 'bora lá ver!" e, lá na ponta mestra do fio, numa mistura derretida entre o orgulho e o à rasca, havia um puto (e também uma ou outra vez eu) que segurava a linha e sentia-a como a tarefa mais importante que naquele momento se passava em todo o Mundo, "ele" aos comandos tal como doutras vezes se teleportara para o cockpit dum jacto, nas sombras das noites mais quentes correra escondido ao longo dos muros do prédio, mochila a tiracolo cheia de pilhas-granadas e uma lanterna na mão, um molho de pedras no bolso e entre a camisa e o calção a pistola que fora dos cow-boys quando ele era miúdo, ora, de facto e nas sombras da noite, um temerário guerreiro que zelava pela segurança do prédio, da família e dos amigos e dos vizinhos, perante ou o pesadelo dos 'turras' de que ouve falar ou sobreviventes dos nazis que tenham estado escondidos, e ele vai-os "caçar", infalível e imortal. que durava até soar o odiado "ó Carlitos! ó Carlitos! anda para casa que já está muito escuro, anda te deitar! ó Carlitos!".
papagaios. pairo. quem me dera ser águia e agarrar o cabrão do papel, fugidio como o papagaio quando apanhava ventos acima dos topos dos prédios, das árvores. árvores: o terror deles, assim como os fios dos postes - mas esses era mais para ao pé da estrada: nos terreiros internos do bairro se os havia era só em linha única, e já gozas. o fio enrolava-se num pau, e quanto mais fio era maior era o artefacto e mesmo nessas merdas o tamanho do joystick impressiona, (ou da fama não se livra), mais se inchava o peito e tremia-se por dentro com receio de correr mal, o pior de tudo que era nem levantar voo - mas isso imputava-se sempre ao 1º candidato a "depois deixas segurar um bocado?" que ficava com a missão de se esgadelhar todo a correr com o papagaio levantado no braço, coitado que à conta do desejo de segurar os comandos por "um bocado" servia de motor e desculpa para erros de construção.... o caniço principal, o vertical, teria entre o meio-metro e os setenta centímetros, pois essa coisa de construir super-papagaios é treta, ficam tão pesados que nem dois 'tractores' simultâneos - e em dia de vento!... o conseguem fazer ganhar velocidade e altura para, por si, se elevar. o peso... depois o 'horizontal' terá metade e mais um bocado, o rabo (que 'pesa' e bem... tem de ser comprido q.b., ou seja é coisa que só se v~e quando estiver no ar, tira-se e põe-se, "afina-se". mas nunca é menor que para aí o dobro da altura do papagaio. (além de que tem pinta vê-lo a ondular, cobra aérea que morde o papagaio e enche a paisagem no seu movimento hipnótico) o papel obedece como tudo aos factores peso e resistência, em inversos. o de embrulho, pardo - não confundir com o para o bacalhau, rude e sem mais jeito que para o salgado e bilhetes "fui à loja e não demoro. não desarrumem" - de tipo 'de seda' e onde se faziam desenhos cuja visibilidade era incompatível com a glória do seu suporte, que era voar até "ficar longe de vista", Peter Pan disfarçado antes da massificação Disney e quando ela era o regalo de Super Pateta contra o Mancha Negra, os queridos irmãos Metralhas (adorava o 13 13 !... lol), o cofre do Patinhas e mais a mítica moeda nº 1 - hoje há o Euro Milhões, é (-me! -me!) substituto? - e das patinhas todas gostava da vovó Donalda e da namorada do Peninha, uma pata freak que aparecia pouco mas era uma maravilha!... nunca gostei muito dos ratos, se não entrasse o Bafodeonça às vezes nem as lia. os sobrinhos também eram fixes e o profº Pardal uma maravilha. ele e outro que havia, agora não me lembra o nome. vocês sabem que tudo aquilo que eles inventavam, era absolutamente claro e viável, necessário, e era brilhante eles terem-se lembrado disso, tão óbvia era a sua viabilidade teórica e necessidade social? e o Super Homem existe, o Batman e o Capitão América são mal-encarados mas o Super Homem existe e até se lhe sabia os porquês, como ficara assim e donde viera, os pais, em miúdo, a kriptonite, tudo isso? claro que sabem, o Super Homem existe, tal como os papagaios: é preciso é desenhá-lo - construí-lo.
depois é voar, dar-lhe fio, por vezes puxá-lo e até dar uma corrida para forçá-lo à resistência do ar e ele trepar por aí acima... e 'comandá-lo', quando começa em loopings (mau sinal, rabo muito mal calibrado...) e a ameaçar fazer um mergulho directo a um telhado uma copa, um chão sabe-se lá onde, metros e metros de fio enredados por tudo o que é crosta abaixo do céu que o papagaio recusara. quando calha eleva-se, e não há puto mais feliz em toda a rua, não há impossíveis e o céu fica à mão, paira-se junto com o papagaio, o rabo e os laçarotes e toda a tralha ondulando, esta merda dos papagaios é fálica e ainda por cima na versão pedofálica (não confundir nem baralhar), o que está muito certo pois a pilinha, a existir, não se situa lá em cima na cabeça da salsicha-balão mas na parte de baixo, para os lados do cordão que prende os sonhos à terra e, maior terror, partir-se e perder-se a tesão (coisas 'de gajo', e à matéria digo estou bem, obrigado)
é Páscoa. nada me diz além do trivial. o feriado e a tolerância de ponto de quem anda com as cuecas no ar por causa dum faitdivers transformado em diploma nacional, o farejar para morder a canela se ela estiver descuidada, esta nacional "à espera" de ajuste de contas com o odiado e amado, o charme do autoritário - «haja quem mande!...» e a rebeldia e a revolta por, em contas muito simples, sentir-se que alguém nos anda a chicotear como se esta merda da UE fosse um hipódromo e eu, pacato cavalo que só não quer é ser pileca, fosse obrigado a sempre, sempre, cumprir não sei quantos segundos por volta, senão lá vem o chicote. o voto não foi um bilhete de aposta de tão, tanto, valor. este murmúrio surdo procura megafones, espartilhado que se sente busca até no irritante silvo da panela de pressão uma imagem do silvo que nele ouve, sente. "o diploma" espremido dá isto, todo o mundo já percebeu que há/houve é a cagança dos títulos mas que burocraticamente terão havidos os cuidados devidos e as formalidades académicas cumpridas: não é falso. mas... mas o assunto não morre e há um ouvido nacional a ele ligado, voz de fundo e em baixo volume mas não apagado, se se lhe descobrir um carimbo fora do sítio ou outra maneira de lhe morder as canelas ninguém hesita, e lá vais disto e agora toma pelo que nos tens andado a fazer, cabrão!. é Páscoa, pois é. ontem almocei e jantei carne o que suponho ser pecado menor. para me redimir à noite fui ver um 'musical' religioso (a Webita anda nessa fase de participar no fenómeno místico) e até bati palmas a umas cenas, além das de pai-babado. para completar a absolvição e ela ser mais ampla, à saída do cine-teatro estava a passar a procissão da concorrência e aguentei-a até aos últimos sem recolher ao interior. vendo e sendo visto, involuntariamente incluído na exibição de forças entre Situação e Oposição, maiorias e minorias, concorrências.
dia catorze passa na Culturgest (CGD) uma colecção de 'curtas' sobre e de Guy Debord. quero ver se vou, se meto fio ao papagaio e o molho de pedras no bolso como lastro. gosto do cheiro de Lisboa, perdoe-me quem está fartinha dele. gosto do cheiro da poluição, do buzinar, das multidões. dum snack em cada esquina, das bancas de jornais com milhares de capas, do cheiro a fritos e dos cromos, gosto de Lisboa. a Culturgest é pretexto, e suspeito que o Debord sabe-o, soube-o. catorze, que já não é Páscoa, lá vou, haja o pairar. mai-lo namorar a namorada do Peninha, pitinha e freak, oyé!.... :-)
sexta-feira, 6 de abril de 2007
Messenger - 5
Ela:
"oi"
Ele:
"oi"
Ela:
"tás fixe? já h ´tempo k não apareces. xatiado cmg?"
Ele:
"..." (smiley envergonhado)
Ela:
"k foi? conta..."
Ele:
"parti um pé kd estava a tc"
Ela:
"????? cOMO?????"
Ele:
"a m mulher devia estar c ciúmes e veio sentar-se no m colo e eu t/um pé mal apoiado"
Ela:
"lol" - e bloqueou-o para uma (melhor) convalescença de, digamos, um mínimo de trinta dias.
quinta-feira, 5 de abril de 2007
em letra pequena
olho as estantes, cheias, a abarrotarem de páginas por ler. delas vem o cheiro de naftalina dos sonhos acabados no tampo desta secretária onde não há um papel escrito que valha a pena ler, e se levanto os olhos vejo o diário virtual que anos de monitor me mostram. o resto do cenário é o princípio, meio e fim do post.
há coisa dum mês e picos atrás, um tipo que conheci e que é um gajo porreiro, pensa e escreve bem e é tão razoável no trato como qualquer urso fora do habitat, felizmente, enquanto me indicava uma nesga de sol - "o mais importante...", segredou-me - pôs-me a Dúvida assim, os olhos mirando a tal nesga de céu que valia a pena olhar: «e será mesmo importante ser lido?» eu fiquei calado, sentado no muro como se tivesse recuado no tempo e estivesse de novo a começar, a reparar minuciosamente na laçada, a pergunta certeira, lança, lança em flanco com muitas fraquezas, e que ficou mal sarado pelos vistos com esta pluri reincidência, já mania.
leio parte da resposta aqui. parte. a parte que me diz que, lá calha, há vezes em que 'se escrevem' coisas catitas, peças de boa escrita e cheias de substracto, "bem esgalhadas". fora nove-em-dez que são rascunhos e ideias abandonadas, rolinhos de papel que fazem qualquer um armar-se em basquetebolista e 'sacar' dois-pontos sem espinhas, pumba no cesto. coitado do blogue: de vez em quando enche, enche, e no tampo da secretária nada. leio a parte que diz que o escrever para municiar bolinhas de papel, com elas a caminharem para o cesto sem fazer tabela no monitor, é coisa em nada compadecida com o gasto contínuo da produção diária de posts, o gastar da criatividade na escrita, "secá-la". portanto muito do que se 'edita' num blogue non-stop (todos) deveria em vida não virtual não ter outro caminho senão o óbvio, o caixote do lixo do que sabe que, tentando de novo, faria muito melhor que aquilo, bolinha de papel e dois-pontos, começar de novo, afinal as estantes preservam tanta coisa boa. qualquer bloguista o sabe, mesmo as 'eminências' quer dum quer do outro mundo, escritos.
falta a outra parte. o Sol que brilha numa nesga e dá gosto ficar a senti-lo - a única resposta que em mim encontrei, lá, lá à porta do meu então 'topo do mundo', uma espécie de congresso de escritores. o orgulho de quem escreve é o seu sol, essa chama aquece-o. olha para as estantes e acredita, e esses momentos quando acontecem há vezes em que geram coisas de que há orgulho suficiente para desejar serem lidas, (com muitos dois-pontos no meio, não esquecer... ), é tão bom estar ao quente do sol, nesga, nesga boa em manhã chuventa, tristonha. a nesga é a outra parte: está lá o sol que se procura, sentado no frio muro de cimento do quotidiano. porque há coisas que escrevemos (todos) e de que nos orgulhamos, tanto que as desejamos lidas por não duvidar em que serão apreciadas.
força. toda a força a quem pensa e escreve bem e é tão razoável no trato como qualquer escritor pode ser - ei-los bichos, e a Rosa Montero contou-o bem no "A Louca da Casa", tanta página onde me vi ao espelho... há um mês e picos que me releio e penso em tabelas de basquetebol. a pergunta: "será mesmo importante ter um diário público, um blogue?"... e, parando, que laços se quebram? é justo fazê-lo, havendo quem queira 'saber de mim', o que escrevi? clic, e acabou-se, morre? a verdade do meu lado é a de que dei mais um erro ortográfico e este é o quinto blogue, com umas três (com esta) promessas-e-juras de ser aquele o abandono definitivo. mas verdade verdadinha é que tenho o tampo da secretária vazio, olho para cima e vejo as estantes cheias com tanto livro que nunca conseguirei ler, e, mais perto dos dedos e na beira do tampo da secretária vejo o monitor, carregado de ensaios & bocados, um ou outro conto ou crónica com princípio meio e fim e cosidos em escrita de "está bom, não mexe mais".
ela também vai manter a folha-em-branco do monitor e, lá, eu e ela e todos fazemos tabela quando atiramos posts-rolinhos de papel, para dois-pontos e começa-se mas é outro que aquele 'já era'... que haja força para manter o outro registo, o papel não público antes de terminado, o 'não ser lido' antes de ser realmente importante sê-lo. o "escrever no papel". olho as estantes e penso que do bom que tenho lido extraio o que não vou conseguir ler, e perder por não ter encontrado essas palavras que alguém pensou como importantes de serem lidas, encaixilhadas em formato standart. que, seja sobre que tampo for, têm é de ser escritas pois tu sabes fazê-lo, e bem: FORÇA, MUFANA!
masturbações a grilos
da minha obra poética
relevo o nada, esse tudo.
o níveo que porfia o branco
da ebúrnea folha, enfado
e vazio, meu cândido tudo.
relevo o nada, esse tudo.
o níveo que porfia o branco
da ebúrnea folha, enfado
e vazio, meu cândido tudo.
quarta-feira, 4 de abril de 2007
Messenger - 4
Quando entrou na Urgência ia quase cadáver: os dedos das mãos tinham como sinal de vida o tremor das tendinites, o palpitar das chagas sobre cicratizes.
Ligaram as máquinas todas, o desfibrilhador cardíaco, deram-lhe injecções e chapadas mas tudo debalde.
Até ligarem a net e o Messenger, e ele teclar em tamanho 6 «puta k pariu o vosso mundo»; meteu um smiley 'zangado' e bloqueou toda lista de contactos, em silêncio igual a uma internet desligada, então e só então foi-se.
Puxado o lençol e fechada a janelinha, restou a caixa-de-correio que quinze dias após o funeral ainda recebia spam e pps's de florinhas e anedotas, mails com insultos vários.
Quando entrou na Urgência era quase cadáver e não um inteiro pelo vício do Messenger, teclar, teclar, teclar, era quase cadáver porque já nem conseguia falar: e faltava despedir-se...
"diz-me, espelho meu..."
surdos. surdos além dos seus pequeninos pensamentos. “ninguém ouve ninguém” – disse-me uma ela, não é importante quem. ela, idem praticante, idem todos todos cegos na contemplação umbigal, tão lindos tão feios que são, somos…
somos uma cambada de heróis. arquitectamos planos de destruição alheia à medida das derrotas sofridas, às vezes nem isso mas só suspeitadas – as ‘fraquezas’ e as ‘inseguranças’, os Medos, medo do Outro: tanto que já se filosofou sobre isto e ninguém lê, ninguém ouve ninguém… mentalmente construímos edifícios de pés pequenos, medida nossa e isso não aceitamos. “não altero a minha maneira de pensar que já tem anos”. e porque não? se? se ora envelhecida, mais que as rugas que disfarçamos? sedimentada, é? vale mais um creme, uma coloração do cabelo, uma limpeza de pele ou uns dentes novos? não se usa a maiúscula na palavra verdade porquê? perene, porque é perene e sujeita a contradicta contínua e mais longos são os Medos, a centenária surdez e os altivos muros da individualidade. também a falsa segurança dos bastiões, a solidez da nossa verdade abusivamente maiusculada em regime de permanência. daí não ouvirmos, cegos como ficamos no desespero de procurar argumentos que defendam a nossa Verdade, quando se lêm lanças em lábios que não são do nosso espelho, querido, mil vezes reflectido e querido…
e para quê abrir os ouvidos, e deixar o cérebro tratar o ouvido, se o mundo é (tão) injusto, se não nos ouvem a nós quando aliçamos, quando dizemos e não somos ouvidos? oh, mundo cão, rafeiros que todos somos, desesperados na busca do nosso osso e deixando mijinhas em todos os cantos em elegante e alçada perna, vestida à medida do nosso espelho. ninguém ouve ninguém. eis um drama humano, o vozeirar e as "palavras sábias" que ninguém ouve na multidão. multidão? que multidão-desculpa é essa se nem quando os olhos vêm outros olhos nas ondas das palavras, nem assim o seu afagar é bem recebido e se mergulha nas ondas d'olhos que vêm? as tais que no solitário da praia são prazer, e molham com desconforto quando vêm de olhos, palavras d’outros, o Outro? quem ouve quem? alô, alô! morremos todos? maldita insegurança que nos leva a, tais castores de rabo alçado, passarmos o tempo a edificar muralhas, em pânico por não serem à prova de som?
dizem – e acredito muito, ao que ouço e li – que há um livro que trata com azedume, natural, e com pontaria louvável o nosso caso particular, o 'tuga': “O medo de existir” de José Gil. irei lê-lo logo que puder, ainda não calhou e mantenho a minha mania de não ler no imediato um ‘best-seller’. compro com maior facilidade um desconhecido cuja contra-capa me pisque um olho que retiro uma grama ao monte de árvores mortas, com foto a corpo inteiro do lenhador moral, que são colocados às entradas das livrarias e junto às caixas de pagamento, impulsos à multidão e sinais de trânsito ao intelecto: pago muita multa mas às vezes compensa e, de best-sellers, estão as feiras de livros e os alfarrabistas cheios. mas pelo “que ouvi e li” a matéria é a mesma, e acredito que a acidez seja igual, passe a esperada acutilância académica. o medo do Outro, sempre ele, lá tratado como proto-fenómeno, nacional, nosso nacional este falado “fado”, choramingas, subsidio-dependente de afagos e tantos que são hipócritas, “dou-te e tu dás-me”, défice de auto-estima que, entre outras maleitas, provoca a surdez ao lutar constantemente contra moinhos imaginários que se atravessam no seu pacato caminho rumo ao espelho mais próximo, constante.
serôdia questão, afinal como todas as que valem a pena ler, ouvir, et voilá…
o outro lado: há razões para ter medo, o Medo: há olhos que metem medo, há “más ondas” em excesso no ar, na multidão no bairro e nas caras conhecidas, teme-se suspeitá-las nas outras. bum! mais uma fileira de tijolos, a cerca reforçada, a segurança recriada mas há o problema da voz. soa o zum-zum que afugenta, e quando se individualiza o som perde-se o seu sentido no tratar mental imediato da contra-argumentação, o Medo, a defesa da Verdade ameaçada. dói, e muito, olhar para trás do espelho e ver a merda que se acumulou em anos. o envelhecer, aí, é mais rude, feio, que aquele do espelho, o outro lado, aquele que procuramos para conforto sem olhar para a parte oculta, a traseira do reflexo. teias de aranha e outras miudezas e grandezas amontoam-se, cómodas no seu aconchego ganho por anos de… inacção intelectual, “verdades” assumidas como imutáveis. daí a surdez, será? (comecei o parágrafo como ‘pró’ mas descaiu; é a andropausa no seu fulgor)
este post termina aqui. a seguir vou fazer dele espelho e vou relê-lo três vezes. “as usual”, espelho meu…
(eu não existo: flutuo e um dia destes desapareço. que ninguém inale as cinzas)
somos uma cambada de heróis. arquitectamos planos de destruição alheia à medida das derrotas sofridas, às vezes nem isso mas só suspeitadas – as ‘fraquezas’ e as ‘inseguranças’, os Medos, medo do Outro: tanto que já se filosofou sobre isto e ninguém lê, ninguém ouve ninguém… mentalmente construímos edifícios de pés pequenos, medida nossa e isso não aceitamos. “não altero a minha maneira de pensar que já tem anos”. e porque não? se? se ora envelhecida, mais que as rugas que disfarçamos? sedimentada, é? vale mais um creme, uma coloração do cabelo, uma limpeza de pele ou uns dentes novos? não se usa a maiúscula na palavra verdade porquê? perene, porque é perene e sujeita a contradicta contínua e mais longos são os Medos, a centenária surdez e os altivos muros da individualidade. também a falsa segurança dos bastiões, a solidez da nossa verdade abusivamente maiusculada em regime de permanência. daí não ouvirmos, cegos como ficamos no desespero de procurar argumentos que defendam a nossa Verdade, quando se lêm lanças em lábios que não são do nosso espelho, querido, mil vezes reflectido e querido…
e para quê abrir os ouvidos, e deixar o cérebro tratar o ouvido, se o mundo é (tão) injusto, se não nos ouvem a nós quando aliçamos, quando dizemos e não somos ouvidos? oh, mundo cão, rafeiros que todos somos, desesperados na busca do nosso osso e deixando mijinhas em todos os cantos em elegante e alçada perna, vestida à medida do nosso espelho. ninguém ouve ninguém. eis um drama humano, o vozeirar e as "palavras sábias" que ninguém ouve na multidão. multidão? que multidão-desculpa é essa se nem quando os olhos vêm outros olhos nas ondas das palavras, nem assim o seu afagar é bem recebido e se mergulha nas ondas d'olhos que vêm? as tais que no solitário da praia são prazer, e molham com desconforto quando vêm de olhos, palavras d’outros, o Outro? quem ouve quem? alô, alô! morremos todos? maldita insegurança que nos leva a, tais castores de rabo alçado, passarmos o tempo a edificar muralhas, em pânico por não serem à prova de som?
dizem – e acredito muito, ao que ouço e li – que há um livro que trata com azedume, natural, e com pontaria louvável o nosso caso particular, o 'tuga': “O medo de existir” de José Gil. irei lê-lo logo que puder, ainda não calhou e mantenho a minha mania de não ler no imediato um ‘best-seller’. compro com maior facilidade um desconhecido cuja contra-capa me pisque um olho que retiro uma grama ao monte de árvores mortas, com foto a corpo inteiro do lenhador moral, que são colocados às entradas das livrarias e junto às caixas de pagamento, impulsos à multidão e sinais de trânsito ao intelecto: pago muita multa mas às vezes compensa e, de best-sellers, estão as feiras de livros e os alfarrabistas cheios. mas pelo “que ouvi e li” a matéria é a mesma, e acredito que a acidez seja igual, passe a esperada acutilância académica. o medo do Outro, sempre ele, lá tratado como proto-fenómeno, nacional, nosso nacional este falado “fado”, choramingas, subsidio-dependente de afagos e tantos que são hipócritas, “dou-te e tu dás-me”, défice de auto-estima que, entre outras maleitas, provoca a surdez ao lutar constantemente contra moinhos imaginários que se atravessam no seu pacato caminho rumo ao espelho mais próximo, constante.
serôdia questão, afinal como todas as que valem a pena ler, ouvir, et voilá…
o outro lado: há razões para ter medo, o Medo: há olhos que metem medo, há “más ondas” em excesso no ar, na multidão no bairro e nas caras conhecidas, teme-se suspeitá-las nas outras. bum! mais uma fileira de tijolos, a cerca reforçada, a segurança recriada mas há o problema da voz. soa o zum-zum que afugenta, e quando se individualiza o som perde-se o seu sentido no tratar mental imediato da contra-argumentação, o Medo, a defesa da Verdade ameaçada. dói, e muito, olhar para trás do espelho e ver a merda que se acumulou em anos. o envelhecer, aí, é mais rude, feio, que aquele do espelho, o outro lado, aquele que procuramos para conforto sem olhar para a parte oculta, a traseira do reflexo. teias de aranha e outras miudezas e grandezas amontoam-se, cómodas no seu aconchego ganho por anos de… inacção intelectual, “verdades” assumidas como imutáveis. daí a surdez, será? (comecei o parágrafo como ‘pró’ mas descaiu; é a andropausa no seu fulgor)
este post termina aqui. a seguir vou fazer dele espelho e vou relê-lo três vezes. “as usual”, espelho meu…
(eu não existo: flutuo e um dia destes desapareço. que ninguém inale as cinzas)
esclarecimento
O post-poema-puzzia anterior refere-se, hermeticamente reconheço... ao mítico ombro onde se choram as dores, que lá calha um dia a todos (ditado popular).
terça-feira, 3 de abril de 2007
que Sim
“consegues dar sem perguntar?”
esta é a dúvida que tenho,
a rubra questão do ombro para gotejar.
haja sim e não soará soluço, será rouco o som
do indistinto, esse que tem frio e tem medo, estremece
interroga-se e pergunta se se consegue deixar o silêncio
arfar.
“que Sim”, a palavra mais bonita para escutar.
esta é a dúvida que tenho,
a rubra questão do ombro para gotejar.
haja sim e não soará soluço, será rouco o som
do indistinto, esse que tem frio e tem medo, estremece
interroga-se e pergunta se se consegue deixar o silêncio
arfar.
“que Sim”, a palavra mais bonita para escutar.
e-mail não-sei-quantos
"(...) trauteio. the house of rising sun. yesterday. my way. e mais algumas: trauteio, dedilhando ouço a minha inaptidão para trautear - paradoxo. calo-me. sorrio. calo-me de novo. agora um sms (ainda soa o yesterday?), uma lembrança e um selo de correio, estas algemas que a mim mesmo pus, elo a elo. e só escrevo mails. cartas, trauteio. um dia o telefone calar-se-á e começa a campainha. onde estás tu? e o rising sun, como é? olho-me e não acredito: desapareci, eu não me vejo. cantos. tocas. animal escondido do rising sun. trauteio, my way. com toda a inaptidão para trautear e sem música de assobio que valha mais qu'o paradoxo de, my way, os cisnes passarem a ter dentes e assobiarem enquanto cantam (e sim: ela, my way, é a campeã das estatísticas), mails mails e trautear (...)"
segunda-feira, 2 de abril de 2007
pois...
Sou um devasso: vejo erotismo altamente sofisticado numa banca de peixe na praça, andar num transporte público é perder a paragem pela certa. Neste elejo coitadas vidinhas a aventuras escabrosas mas em ambientes que compensam (veludos & etc), nas bancas olho as vendedoras e, acreditem-me..., vejo sorrisos no desdentar das venturas da truta que mais ninguém vê, a dourada e a sardinha são outras, são outras pois é...
Há momentos em que, mesmo calado, tenho medo de ser preso pelo que penso. Sou mesmo um devasso, confesso para quem não o sabia pois ainda não me tinha visto com o ar aéreo, aquele 'sem ver' que é pior que o ver, é imaginar de partida do (pouco) que viu... (lol especial para "as pitinhas", eheh)
Messenger 3
Ela disse:
«tens câmera?»
Ele confirmou. Lá mais para a noitinha arrependeram-se mas nada disseram e usou-se 'Kleenex' antes de novos bloquear, este cada vez maior desagrado com a vida sexual virtual, bloqueante, havendo tanta pele e tanto poro a suspirar pela adsl se avariar.
(não houve tempo ou vez a smileys: foi "a despachar", reza o registo virtual)
Fotos
Não gosto em especial, é gasto de tempo procurá-las, e gosto muito muito de as ver nos blogues dos outros: não ando com vontadinha nenhuma de pô-las.
'tá dito, até prova em post do contrário, lol
Blogo-nada
Há três anos e picos que ando na blogosfera. Tempo. É fácil dizer que ela é uma "feira de vaidades"... venha o primeiro... Mas, no entretanto, digo eu: na vida real é igual, na vida é. E a blogosfera "é". Puta qu'a pariu. Puta que está desejosa de abrir as pernas ao primeiro que a loe, que mais a envaideça. Fanáticos, adictos. Eu. Pois, eu. Vaidoso. Cagão. Puta que me pariu, fora a minha mãe, coitada, que nem sabe que o querido filho ainda mais se envaidece na Internet (ela é "testemunha de Jeová", entendam...). Voltando aos insultos, estava bom: cambada de insanes, tímidos escondidos com as orelhas de fora, feios e feias que se julgam bonitos: somos uma merda, eis o que não se lê em nenhum blogue. Cobardes. Falsos calados, hipócritas. Raro é o que fala como escreve. O link é a medalha, outro cobarde que nos descobriu e acredita ter encontrado outro ombro, "tão bem que ele/a fala, escreve, pensa...." Vou armar-me em 'bom', em 'diferente': eu quero é olhos, é olhar, e este blogue como os outros quatro é uma capa e nova desculpa para dizer e confessar que, bloguista, sou uma merda. O que eu penso é igual a ti, tu, tu a matutares e calares. Só que eu quero é ver-te os olhos, lê-lo em ti.
Caçaste-me: eu quero, afinal, é que tu o leias em mim. Isso, isso tudo. Quero safar-me, quero o meu blogue especial. Tenho pena de não ter conseguido (ainda...) apagar as referências totais, o perfil e a assinatura: já não me revejo no passado escrito, de não ter conseguido renascer doz ero, do total zero, esse mítico zero onde nascem os nossos Euro Milhões, a audiência perfeita que nos acende as luzes do espelho. Deste blogue, deste link - esse elo que se entrega com mais fervor e cagança que antes um 'cartão de visita'... já nada espero: será igual aos outros quatro, mais dia menos dia, mais post menos post... é 'o Gil', e vocêm sabem quem é ainda desde antes de eu sabê-lo, vê-lo, compreendê-lo.
Um dia que virá eu conseguirei: sei que tenho escrita, que sei como e não tenho merdas em deixar as minhas emoções escritas, e elas valem o que valem mais o arredondado de ser eu o próprio a escrevê-las: há aquele momento em que se pára a olhar para o teclado e é fatal, o segundo antes de se disparar no pente e desatar a pentear o retrato, o espelho. Mas sei "que morro" se parar. Aliás: quando parar. Um dia destes aconterá, mesmo que não o programe ou decida (eu) por impulso. Até lá é assim, vai o resto e é meu amigo que conseguir olhar o que sobrar e olhá-lo nos olhos, a tal carícia.
O que mais desejo?: recuperar os meus amigos. Os que a minha cagança os fez perder, os que as suas caganças fizeram perder-me. Foda-e, que ninguém me diga que uma trip é razão para mudar de passeio, que uma cena marada é mais do que uma cena marada: há gajos e gajas atrás delas, há pessoas com quem trocamos olhares e, lê-se de vez em quando, há flores que nascem em pantanais, essa coisa viscosa e aderente de que, todos!, estamos fartos. Iguais. Tu e eu, tu e todos, eu que me deixe "de merdas". Quem me irá ler conhece-me, fora um (Olá, bem-vindo!) que cá google-caia ainda sei lá porquê vós e eu conhecemo-nos, noventa e nove vírgula nove e mais o resto que sabemos já nos olhamos, sentimos a química, corporalmente reagimos tal como no café d'esquina. Este blogue - oh que choramingas estou... - vejo-o mais como "meu último" que qualquer dos anteriores, e olha-se sempre assim para eles, um dia... Valha quem para além de vocês cá calhar que 'o Gil' ninguém é e, desejo este provável como certo... - ninguém será. É com vocês, apenas, esta "carta a Inês" pessoal, construção de patíbulo remendada com mais uma rodada tal como na "real". O casamento das duas que, como nos dos 'reais e literais', conduz que nem um truz ao divórcio de sentires especiais, e viva a rotina e o quotidiano, palavras sem nenhuma musicalidade mas que rapidamente são forçadas a adquirir a rima do... do... quotidiano.
Cada vez me lembro mais da "Internacional Situacionista" e do que ela terá a dizer sobre o mundo da net, também a blogosfera. Cada vez estou mais parvo a perder-me em juízos inúteis pois o que ela terá a dizer é que eu, (tu, todos os daqui) estamos a dizê-lo. E é assim, é assim quem daqui a dez ou aos anos que calhar será dito e escrito, assinado um 'Internacional' qualquer. Este fogo lento, este marinar antes dum final que ainda não se conhece assim, tão como o medo dos outros indefinidos, o divino, o vida para além da morte, o mundo dos fantasmas e das almas, o sempre tremor íntimo quando se joga-pensa ao jogo da mesa pé-de-galo. Que raio de post...
Tenho uma porta fechada que não desejo ver aberta. Que tenho a fazer? mantê-la fechada e blindar os muros para que nunca dela venha o toc-toc? antes dele 'esconder-me'? 'final'? (gostava que este post fosse lido por quem ainda não conheço mas ainda deverei conhecer, uma tarde chegará a carta e escreverei de mão própria data na agenda) Nada disto cai ou se resolve assim, nuns Cala-te, não sei que dizer ou que dizia: se está certo que tive uma interrupção noutro o é que, voltando à releitura, já não apanhei sentido e sequência ao pensamento escrito, e nada de apagar. Igual? afinal é igual ao resto, às tantas atitudes sem sentido da "outra", do ser sem adsl? rolos no cabelo ou ganchos que já já o formatam, o embelezam, o espelho sempre? Stop, até já: já estou suficientemente baralhado para dizer "até já", nada mau. Bem pior é este sentimento de Páscoa festa menor, de parte da inspirada poesia da vida foi-se e nem deu sinal de ida. De, além da Tropabana haverem escarpas, além de nadas haverem Nadas, e duma mão fechada nada ter além desta mentira gostosa, deste espelho que me finje quando me penteio, deste post da treta para quem, como vós, já "me leu" e sabe, sente, se é ou não meu Amigo, e ponto final (do post).
domingo, 1 de abril de 2007
Messenger 2
Ele diz:
"m perfil: 1 dia serei + chato d/ aturar k hoje"
(smiley à escolha entre o 'envergonhado' e o 'óculos escuros')
Ela diz:
"na boa. gostei do "hoje" e também fumo."
bloquearam-se mutuamente e continuaram na pesca à linha, a consumir recursos naturais.
a audição do silêncio
no silêncio há muitas letras e todas e cada são secretas.
como este parêntese de silêncios que se distendem
como este parêntese de silêncios que se distendem
e se escreve.
Messenger
"faço broches e actas", disse ela.
era 31 de Março: meteu um smiley a rir-se e bloqueou-a, está claro.
era 31 de Março: meteu um smiley a rir-se e bloqueou-a, está claro.
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