segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Italia uccidermi...



a esta hora, urnas fechadas há quatro, prevê-se mais uma bela duma caldeirada italiana para ser servida no prato dos que a pediram, e dos que não a pediram: todos os outros - nós incluídos - que comemos em restaurantes próprios mas importamos quase tudo o que está no prato. a coligação de centro-esquerda, de Pierluigi Bersani, ganha a Câmara dos Deputados, mas no Senado ganha a coligação conservadora, liderada pelo inefável Silvio Berlusconi. em 3º, e com votações robustas em ambas as câmaras, o movimento 5 Estrelas do comediante-populista Beppe Grillo. ah! o salvífico tecnocrata Mario Monti vem num 4º lugar sem direito aos dois dígitos de honra dum Messias que vai a votos. grande caldeirada! ou o novo Papa deita mão àqueles desgraçados e faz um milagre em estreia, ou daqui a dois meses há novas eleições. à italiana. sísmicas.

o mapa é de cerca de 1.050 dc. actualíssimo.

delicioso


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

umbrella

hesito. chove mas tenho de sair.

antes, os chapéus-de-chuva eram todos negros e lisos, e tudo que floreasse a cor ou tergiversasse do padrão uniforme era delas. o mundo assim era clarinho. depois a modernidade veio, não pé ante pé mas farfalhuda e vistosa, vermelhona, num vermelho aceite por indiscutível estandarte alfa pois leva cavalinhos empinados e, para as dúvidas, as letras amarelas gritam que é um orgulhoso homem Ferrari. foi o cavalo de Tróia. o confortável negro liso está ausente na chapeleira. neste agora, cada dia mais cheio de complicações e dúvidas, veio uma chuva que não é chuvinha e é bem-quista, mas tudo o que era fácil descambou e há um défice de clareza até nos gestos mais simples. vesti um sobretudo longo, preto e justo, e entre ele e os sapatões castanhos todo-o-terreno vêm-se as Levi’s pretas, roupa prática e confortável. mas. tenho de sair à rua mas hesito, olhando a jarra florida em que se tornou a chapeleira familiar. acabo por optar por um achinesado padrão com parecenças Burberry, embora me venha a lembrança de que os escoceses têm a estranha mania de usar saias. 

saí, mas pelo sim pelo não pus os óculos escuros e uma faca de cozinha no bolso interior do sobretudo. vivem-se dias difíceis.


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

nós, leitores

 
"Desde que existe um público literário (quer dizer: desde que há uma literatura) o leitor, colocado diante duma grande variedade de escritores e de obras, reage de duas maneiras: por um 'gosto' e por uma opinião. Instalado diante dum texto, vai produzir-se nele o mesmo clic interior que sentimos, sem regra e sem razão, quando encontramos alguém: «ama» ou «não ama», sente ou não sente, à medida que vai virando as páginas, a sensação de ligeireza, de liberdade pura, embora suspensa, que se pode comparar à sensação dum galope sobre um cavalo de raça. Pode-se dizer, efectivamente, no caso de uma feliz conjunção, que o leitor adere à obra, enche de segundo a segundo a capacidade exacta da forma vazia que vai aprofundando numa rapidez voraz, formando com ela, no vento contínuo das páginas viradas, esse bloco de velocidade lubrificada e sem falhas cuja recordação depois da última página vir bruscamente «cortar o gás» nos deixa atordoados e vacilantes como num princípio de náusea. Alguém que tenha lido um livro desta maneira fica preso a ele por um laço forte, uma espécie de aderência, qualquer coisa parecida com o sentimento vago de ter sido iluminado (...). É este sentimento, e ele só, que transforma o leitor em prosélito fanático que não descansa (sendo esse, talvez, o mais desinteressado sentimento que exista) enquanto não fizer partilhar por outros a sua singular emoção. Há livros que nos queimam as mãos (...)"

Julien Gracq, "A literatura no estômago", Assírio & Alvim, 1987

Kafka e Gaspar. e nós

 
«Ai de mim», disse o rato, «o mundo está a ficar mais pequeno a cada dia que passa. A princípio, era tão grande que tive medo e corri, corri até que, por fim, fiquei feliz ao ver aparecer muros lá longe, à direita e à esquerda, mas estes longos muros correram tão depressa ao encontro um do outro que agora já me encontro na última câmara, e ali no canto está a armadilha na qual terei de cair.»
«Só tens de mudar de direcção», disse o gato, e comeu-o.


Franz Kafka, "Pequena Fábula", in "O Abutre e outras histórias", Estrofes & Versos, 2009

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

guerra


destruí-los pelo humor. cinzentos, secos, estúpidos, não têm classe para retaliar. vivem numa redoma onde a gargalhada é uma atitude que estranham, um vírus que os ridiculariza, uma ameaça a que na codificação paranóica que produzem faltam alíneas para rechaçá-la. destruí-los, fazendo-os envergonharem-se com o espelho matinal, os olhares irónicos que mais que vêm suspeitam quando descem dos gabinetes, o pavor ao perceberem que afinal não são nada nem têm nada. ocos. mesmo de Leis, essa sua vergonha suprema.

eu tenho uma viola

quando olho para a minha guitarra, ali, encostada a um móvel e tão falsamente silenciosa, é assim, e fico minutos e minutos ouvindo-a no único palco que me fez sonhá-la e pedinchá-la, apropriando-me dos objectos e moldando a sua existência física às nuvens onde guardo as guedelhas e os cavalinhos de madeira. 
quando olho para o que ela me faz esqueço, esqueço tudo, e só ouço e digo muito baixinho: eu tenho uma viola.

 depois vou ao YouTube e penso que nada é tarde demais


domingo, 10 de fevereiro de 2013

a polémica acerca da Lei de limitação dos mandatos autárquicos




mas porque é que não se arranjam uns Medveve's em cada caso, como na Rússia, e os Putin's ora cá na berlinda fazem uma quase-sinecura dum mandato? vereador, quatro anos nas Caraíbas ou a tratar das vinhas, e depois regressam revigorados? "lavados"? e acaba-se com esta conversa interminável, todos sorrimos com o  truque e batemos palmas. boa?

por vezes os maus exemplos lá de fora anda conseguem ser melhores que os melhores que, cá dentro, arranjamos. a nossa criatividade anda por baixo. quem diria...

sininhos


esta manhã atirei-me a tarefas domésticas. menores, pronto, concedo, mas com bom fito e de excelso extracto doméstico: reparei que as facas de cozinha estavam a ficar rombas, puxei um banquinho para a frente da árvore de Natal e passei um aprazível momento de paz a afiá-las, uma a uma. brilhavam.

lá fora vai uma ventania. mas cá dentro, no lar, reina o silêncio, a doce harmonia dos domingos perfeitos...

sábado, 9 de fevereiro de 2013

o Natal é sempre que um homem quiser! ou não?


estou indignadíssimo! estou a ser submetido a pressões a la Gestapo para tirar a árvore de Natal! chegou ao ponto de ser ameaçado de, se não o fizer este fim-de-semana, ser obrigado a substituir todas as lâmpadas fundidas da sala! isto é inaceitável! ela é LINDA! e, acesa, vê-se tudo muito bem!

Viagra/Sildenafil. para sorrir!

 
estive dente. como já me sinto recuperado, nada como recomeçar juntando ao blogue uma coisa gira. um filmito de 17 minutos - uma 'curta', na gíria - mostrando com humor as vantagens e as desvantagens do uso do adubo mais famoso do último século: o Viagra. deduz-se que Sildenafil é o (um dos?) nome por que é conhecido no Brasil. o filme é um saca-sorrisos :-)

...e aproveito para contar de mais. dos pequenos prazeres que tornam a convalescença a cereja da doença: este final de manhã dei por mim a meditar sobre o que é a felicidade. estava sentado na esplanada, abrigado do vento e sem dores, o primeiro café em cinco dias - como soube bem, meu Deus!, a Tufas enrolada ao sol e a olhar-me com aquele ar parvo e apaixonado com que me conquista, o som do trânsito - movimento! gente! - num agradável zunido que prolonguei enquanto o cigarro acompanhava em sinais de fumo a sensação profunda de prazer.
há momentos assim. pequenos prazeres, disse? disse sim :-)


ps: o filmito foi-me enviado por mail. houve quem fizesse por que a minha travessia da realidade fosse amenizada com sorrisos

é nas nuvens que a floricultura nos enternece


"(...) noutro leito nas nuvens deito os teus cabelos, o teu
cansaço e a minha miséria, os teus braços e os
meus, altos como cidades, altos como flores."

Mário Cesariny

metafísica machista

...e este cartoonzinho que nos mostra que já não há candidatas a princesas "como havia antes" levou-me a uma reflexão, seguida duma interrogação....

- 1ª parte da reflexão: no antes muito antes o homem saía da caverna para actividades nobes como a caça, a guerra, ou plantar coisas que fazem rir muito. hoje, o homem sai para despejar o lixo.
- 2ª parte da dita: o índice de natalidade tem caído quer em Portugal quer no resto do 1º Mundo.

- a dúvida é naturalmente esta: há ligação?

irritações: o Gasparzinho, o Costa, e 'bardamerda' para todos eles!


1ª página do Expresso de daqui a umas horas.

mas esta malta já não as pensa antes das fazer, ou eu é que já estou com a síndrome de que nos julgam burros de todo e desconfio da tinta de cada palavra? não está na cara que o ministro Gaspar é um dos dois que terminada a "missão de serviço" (o outro é o ministro Álvaro) regressa na boa à sua secretária de origem - Bruxelas - sem ter de se ralar com futuros políticos pessoais? que pode arcar com o papel de "polícia mau" para safar o lombo dos colegas que por cá vão ficar a fazer pela vidinha? e - pior - que isto assim soprado é para nos preparar para mais cortes a doer de doer e prazo curto, já com cabeça-de-turco preparado? «enquanto o pau vai e vem folgam as costas», folgam-lhes as costas enquanto os canhões dos insultos se viram para o 'mártir' voluntário? mas esta gente anda a gozar com o pagode, ou eu é que já sonho com gambozinos? alguém acredita que as decisões em Conselho de Ministros são tomadas assim? 'bardamerda', como disse acertadamente outro!
e onde é que está a Oposição que devia representar a voz dos que estão fartos destes desmandos? a reflectir sobre a cor da gravata que deve usar nas [putativas] reuniões com o Governo sobre a forma de tornar-nos a coisa mais fácil de suportar? ó Costa! ó Costa! um 'Costa' qualquer, que não me sinto nada seguro!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Moleskines

 
sou fã destes cadernitos. pequenos e práticos, e pela capa dura e o elástico que os fecha muito resistentes. costumo andar com um onde descarrego as minhas tonteiras. depois guardo-os quando a minha letrinha miúda os consumiu até ao último espaço. já terei quase uma dúzia assim. o espólio. quase ilegível, que a minha caligrafia é 'à médico'. e impublicável «por inutilidade superveniente da lide», assim que o elástico estala pela última vez. para que os guardo, então? para olhá-los e recordar-me de mim: antes de tudo se ter esquecido, tudo o que se me lembrou lá existiu.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

"O artista pode exprimir tudo"


 
"O artista é o criador de coisas belas.
Revelar a arte e ocultar o artista é o objectivo da arte.
O crítico é aquele que sabe traduzir de outra maneira ou com material diferente a sua impressão das coisas belas.
A mais alta, assim como a mais baixa, forma de crítica é uma auto-biografia.
Aqueles que encontram feias significações nas coisas belas são corruptos sem serem encantadores. É um defeito.
Aqueles que encontram belas significações nas coisas belas são cultos. Para esses há esperança. São os eleitos aqueles para quem as coisas belas apenas significam Beleza.
Não há livros morais nem imorais. Os livros são bem ou mal escritos. Nada mais.
A antipatia do século XIX pelo Realismo é a raiva de Caliban ao ver a sua cara no espelho.
A antipatia do século XIX pelo Romantismo é a raiva de Caliban por não ver a sua cara no espelho.
A vida moral do homem faz parte do assunto do artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito dum meio imperfeito. Nenhum artista deseja provar o que quer que seja. Até as coisas verdadeiras se podem provar.
Nenhum artista tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num artista é um imperdoável maneirismo de estilo.
O artista nunca é mórbido. O artista pode exprimir tudo.
O pensamento e a linguagem são para o artista materiais de arte.
O vício e a virtude são para o artista materiais de arte.
Sob o ponto de vista da forma, o tipo de todas as artes é a arte do músico. Sob o ponto de vista do sentimento, o tipo é a profissão de actor.
Toda a arte é simultâneamente superfície e símbolo.
Aqueles que descem além da superfície fazem-no com risco seu.
O mesmo sucede àqueles que lêem o símbolo.
É o espectador, e não a vida, que a arte realmente reflecte.
A diversidade de opiniões sobre uma obra de arte mostra que a obra é nova, complexa e vital.
Quando os críticos divergem, o artista está de acordo consigo mesmo.
Pode-se perdoar a um homem o fazer uma coisa útil, enquanto ele não a admira. A única desculpa que merece quem faz uma coisa inútil é admirá-la intensamente.
Toda a arte é absolutamente inútil.”


Oscar Wilde, no prefácio do seu romance “O retrato de Dorian Gray”

o Mate de Légal, e 'os xadrezes' no Largo do Rato



 
desde miúdo que jogo xadrez. uma das primeiras "jogadas giras" que aprendi é o Mate de Légal, que basicamente consiste em, nas primeiras cinco jogadas (ou quatro, se se jogar com as pretas), ainda os miolos mal aqueceram e os cavalos não escouceiam, em hábil descuido deixar a nossa rainha desprotegida à troca por um bispo, uma peça de valor bem menor. 

quem não conheça a jogada não resiste a troca tão suculenta. a partir daí, e em meras 3 jogadas e sem possibilidades de defesa, o conjunto de dois cavalos e um bispo (ou dois bispos e um cavalo) dá xeque-mate ao adversário. oferece-se à gula a peça maior, em momento aparentemente ainda incipiente do jogo em que as peças de ambos os lados normalmente só pretendem ganhar posições no centro do tabuleiro, e a partir daí são favas contadas. não é só nos livros que acontece: já conheci este gozo.

há três dias que ouço e leio zurzirem em Antº Costa. eu cá, modesto player mas também velha rata de jogos de mesa, desconfiaria. corrijo: desconfio. e por interesse próprio: é que não me conformo em nas próximas Legislativas escolher entre ficar em casa ou votar em AJ Seguro para qualquer cargo superior a deputado ou chefe-de-sala no Tavares. até que, olhado assim a frio, nem há que muito que hesitar: uma tarde de domingo a ler sempre foi uma muito boa alternativa a uma muito provável úlcera nervosa.

love, forever?


 
"O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um cami...nho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o príncipio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida."

Fernando Pessoa


simultâneamente animador mas também profundamente desanimador. e aqueles amores que duram desde que a chama pegou? há que olhá-los com cepticismo, "um olho no burro e outro no cigano", à coca que se transforme em borralho e as mãos comecem a procurar outra fogueira? ups... não sei se 'gosto' disto...

eu, rico e sacana



por vezes tenho sonhos tão megalómanos, tão brilhantemente grandiosos, que perdem qualquer pingo de originalidade que um bom sonho deve ter. o mais recente é que sou estupidamente rico. rico, mas rico "à séria".

e que faz um rico? um rico vive à grande e à francesa mas precavê-se quanto ao seu dinheiro. protege-o. guarda-o. afinal é ele a garantia de que pode continuar a sonhar acordado. guarda uns molhitos debaixo duma tábua do soalho (ele há coisas), mas o grosso deposita-o em mãos especialistas, um Banco.

mas - no meu sonho magnificamente grandioso - eu era estupidamente rico. mais rico que rico: rico mesmo. então que faria? comprava mas é um Banco. manter o controle do "assunto" de A a Z (ele há coisas.) comprava o BPI.

para um espectacularmente grandioso "kick in the ass" do senhor Ulrich. isso, um pontapé no cu. rua. à maneira bruta, sem modos, sem processos disciplinares ou indemnização. só levava os retratos dos netos que terá em cima da secretária. os abusos todos do manual. rua.

...e depois confiava cândidamente na boa eficiência da nossa Justiça e na minha infatigável capacidade de pagar gordos honorários para arrastar até às lagrimas o processo que ele 'me' movesse. isso. até levá-lo às lágrimas. embrulhado em jornais, num banco mas dos de jardim. isso. acho que gosto disto. acho, porque é sonho. sei lá se...

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

...e é tão linda!

ainda tenho a árvore de Natal montada. ontem à noite até lhe liguei as luzes.

afinal o Natal não é sempre que um homem quiser?
(1 de Fevereiro)