sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

umbrella

hesito. chove mas tenho de sair.

antes, os chapéus-de-chuva eram todos negros e lisos, e tudo que floreasse a cor ou tergiversasse do padrão uniforme era delas. o mundo assim era clarinho. depois a modernidade veio, não pé ante pé mas farfalhuda e vistosa, vermelhona, num vermelho aceite por indiscutível estandarte alfa pois leva cavalinhos empinados e, para as dúvidas, as letras amarelas gritam que é um orgulhoso homem Ferrari. foi o cavalo de Tróia. o confortável negro liso está ausente na chapeleira. neste agora, cada dia mais cheio de complicações e dúvidas, veio uma chuva que não é chuvinha e é bem-quista, mas tudo o que era fácil descambou e há um défice de clareza até nos gestos mais simples. vesti um sobretudo longo, preto e justo, e entre ele e os sapatões castanhos todo-o-terreno vêm-se as Levi’s pretas, roupa prática e confortável. mas. tenho de sair à rua mas hesito, olhando a jarra florida em que se tornou a chapeleira familiar. acabo por optar por um achinesado padrão com parecenças Burberry, embora me venha a lembrança de que os escoceses têm a estranha mania de usar saias. 

saí, mas pelo sim pelo não pus os óculos escuros e uma faca de cozinha no bolso interior do sobretudo. vivem-se dias difíceis.


Sem comentários: