quarta-feira, 27 de abril de 2011

pensamento pateta?



antes, o homem saía da gruta para caçar; e a humanidade cresceu, cresceu. hoje, o homem sai da gruta para despejar o lixo; e a taxa de natalidade veio com ele por aí abaixo.

é melhor não pensar muito nisto.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

coincidências?


terminado Wolf Hall (recebe um Bom interessado: além da aprendizagem histórica, lateralmente encontrei um método de redacção que situa o narrador num plano de distanciamento reflexivo plasmado sem a minúcia de impô-lo ao leitor, mas sempre, sempre bem presente) fui cuscar às estantes por uma nova leitura. veio A educação de um vigarista, do canadiano Will Ferguson, apresentado com pompa pela editora (ASA, 2008) como autor do bestseller "Felicidade" (ano de lançamento 2002) que só cá vendeu 40.000 exemplares. não tenho ideia dele.

a nota nasce pelas coincidências, esse lago que constantemente enchemos mais e mais para ajustá-lo à medida de sonhos, desejos, para justificarmos isto ou aquilo, ou apenas porque somos um bocadinho maluquinhos e não acreditamos nelas, dando-nos gozo encher a banheira só para tirarmos a tampa ao ralo e vê-la esvaziar-se num prazer huno de destruição de grafitis, nuvens, e assim do melhor de nós próprios. enfim, como se usa dizer nestas situações, e acelero o passo para a tal coincidência já apropriada nas primeiras páginas.

embora prometa e à fartazana o que do título se intui, vejo e agrada-me que o décor histórico do romance se situa nas alturas da Grande Depressão (USA, óbvio, mas fica a refª), e absorvem mais a atenção as descrições das vidas e das alterações qu'elas sofrem com a implosão do sistema que as pequenas vigarices do personagem principal e seus parceiros, um trio onde um dos vértices é loirita e tem umas belíssimas pernas que estica preguiçosamente no banco de trás do popó, fazendo os dois machitos do da frente suarem fininho enquanto percorrem cidadezinha a cidadezinha o Grande Sul, a fazerem pela vidinha em burlazitas que, ao que já li, têm tanto de engenhosas como de hilariantes. o tal triângulo amoroso está a compor-se, e isso cai sempre bem e entretém entre uma banhada e outra...

uma Grande Depressão à porta e já com pé dentro temos nós. eu que o diga (eu que o diga, e potencio o dito). porque raio veio cair-me às mãos este livro, agora? não se assustem com uma vertente vigara no pensamento que não é ele o que me inquietou: se, quando e como, sei eu como será e acreditem-me como big sonhador: nada menos que uma banhada gorda, tão gordinha que a correr bem deixo o BCE mailo FMI a nadarem no seu próprio veneno e a conhecerem o sabor do deficit... próprio. eu conto, eu conto tudo: presumindo que entre bancos centrais há uma câmara de compensação tal qual a que existe entre os comerciais e o seu banco central, estou a estudar nas nuvens a forma de fazer meu e só meu o movimento dela, compensação inter-bancária, aquando da transferência da primeira tranche da tal "ajuda" hiper-milionária, e dada com maus modos. cá a malta não se prejudica pois todos estes cliques de milhões e biliões têm o seu equivalente a swaps por trás, segurando e ressegurando tudo e mais alguma coisa, e com a vergonha repõem o dinheirinho num instante. eu, até ser agarrado apanho uma barrigada de riso à rica, e no previsível depois que auguro sem acesso ao Facebook terei tempo para escrever a contar tudo isto, e mais alguma coisa que me tenha esquecido. lá dentro ainda farei consultadoria com honorários em espécie: cigarritos e mais alguma coisita que me dê jeito e haja apetite. violado não devo ser, que tou já quase velhote, e quanto a comidas, como sabem, contento-me com qualquer sopita de cebola. como vêm e disse o outro 'até está escrito nas estrelas', embora eu seja mais bolos, digo, nuvens. como o farei ainda não sei, mas ainda vou nas páginas iniciais e como sabemos duma boa ideia vai-se a outra ainda melhor. até que nas estantes há boas reservas: só quanto à saga Alves dos Reis terei uma boa meia dúzia, e mais modernos também há: Jordan Belfort, ou o sempre actualíssimo A golpada, de Robert Wewerka. e mais avulsos: munição académica não falta.

findo este desavergonhado parêntese volto ao romance em mãos, às possíveis coincidências entrevistas, e ao fascínio das descrições das paisagens e do ambiente social, no antes e no depois da crise lhes cair em cima com a violência duma praga bíblica, que desde searas antes luxuriantes a rostos de normalidade tudo arrasou, enrugando as folhas onde Will Ferguson no-lo escreve, enrugando-nos/-me pensamentos paralelos acerca do porquê nós e do que a providência das coisas força a fazer para sobreviver quando é disso e só disso que se trata.

qualquer estante e lombada está armadilhada, queira-se, ou coincidências assim a façam. a espoleta é invisível e está, queira-se, em tudo que se toque ou olhe. o dinamite é interno, nosso, acumulamo-lo silenciosamente da mesma forma que um banqueiro acumula barras de ouro ou um sem abrigo desperdícios das luzes que não tem e não vive. tudo mora cá, e tudo se entrelinha quando se folheia o pó das estrelas, das nossas estantes.

gostei deste bocadinho, e agora com licença que vou ler mais um bocadinho do livro. a paisagem degrada-se e estou ansioso por ler mais.


a capa 'nacional' do que acabei:
ontem chamaram-me 'escritor maldito', e... gostei! :-) foi do mais bonito que ouvi em relação aos meus escrevinhanços e postura em relação a eles :-)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Braga, tou contigo!

o Sporting de Braga conseguir ganhar uma taça europeia seria feito só com equivalência nas duas ganhas pelo Nottingham Forest, no início dos 80's. seria bom não só para o nosso futebol: para toda a Europa, para todo o futebol europeu, tão anafado com tanta adiposidade luxuosa como anda.

insolúvel

posso utilizar a porta de trás, o que me leva a atravessar 'a garagem' onde tenho a livralhada. nos últimos dias evito-a, assim como não a tenho procurado nos serões onde era uma companhia nada silenciosa e agradável. agora não é.

não consigo encarar a minha biblioteca. ou que ela me encare. há acusações mútuas em excesso, que tanto eu como ela temos cara e não somos totalmente inocentes: formamo-nos, amamo-nos, e neste momento acho que nos odiamos: cada roubou ao outro demais para que isso não se leia em cada lombada cheia de silêncios pesados.

toda a vida construí mitos. eu próprio sou uma construção que fui moldando conforme necessitei. não camaleão, mas carapaça em cima de carapaça até este peso do conjunto m'entaremelar o amor pela mais vistosa e provavelmente a mim próprio a mais querida: a do leitor, a do gajo culto, o intelectual.

a porta da frente é anónima: 1º dtº. vasos nas quinas das escadas, um tapete igual em todos e por escolha e custos do condomínio. óculos, brinco, bigode e barba de-três-dias. é assim. eu julguei que não era assim, e o ódio dos livros é por não tê-lo percebido, e o meu a eles é por não mo terem ensinado. por isso minto-me e fecho os olhos interiores quando insisto, e saio e entro em casa atravessando o passado.

amanhã faço 56 anos. conta a família que até entrar na adolescência eu era "uma casa cheia", e hoje encho qualquer T4 de silêncios. li milhares de livros e ainda não consegui entender porque é que a felicidade só se lê ou se escreve, porque é que para não se ser escritor ou se é mentiroso ou cruza-se em silêncio a armadilhada porta dos fundos...

quinta-feira, 7 de abril de 2011

...e ainda a procissão vai no adro!

vá lá, confessem... nem tudo é mau na crise! ;-) por este caminho, quando chegarem os Novos Euro-Biliões do FMI vai tudo prás Sexshops que até o chiuaua ladra!

7 de Abril, Dia da Mulher Moçambicana

"tombazana, mamana, cocuana"

(à memória de Josina Muthemba Machel, falecida em 7 de Abril de 1971)

sete de abril é teu dia
dia da mulher moçambicana

seja esbelta tombazana
ou mamana de airosa capulana,
hajam cãs de cocuana
sete de abril é o teu dia,
dia da mulher moçambicana

todas és Josina, é teu dia
dia da pioneira na emancipação
da Mulher na mata renascida
que foi obreira na libertação

mulher africana, por graça moçambicana
aquela que é dupla grávida, antes e depois de parir:
no antes traz na barriga o Futuro,
carrega-o às costas quando ele aprende a sorrir

sete de abril é teu dia
dia de lembrar ao mundo
que haja vento, sol ou chuva
batas ou não o pilão no campo,
na mata ou na cidade
há um sorriso que baila e cresce
porque sete de abril é teu dia
dia da mulher que fez a revolução


(publicado originalmente sob o pseudónimo/heterónimo "José Alberto Sitoe")

(na imagem cartaz das LAM - Linhas Aéreas Moçambicanas, dedicado à efeméride)

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interrompi o 'ramadão' por boa razão. querendo ainda dizer que é 'dia' de recordar Josina Machel mas também recordar Celina Simango. o meu amigo Sitoe, amante excessivo de vinhos baratos e de paixões igualmente excessivas, por vezes esquece-se que a História nunca está totalmente escrita...