terça-feira, 27 de novembro de 2012

Silêncio e Tanta Gente



Às vezes é no meio do silêncio

Que descubro o amor em teu olhar
É uma pedra
É um grito
Que nasce em qualquer lugar

Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal aquilo que sou
Sou um grito
Ou sou uma pedra
De um altar aonde não estou

Às vezes sou o tempo que tarda em passar
E aquilo em que ninguém quer acreditar

Às vezes sou também
Um sim alegre
Ou um triste não
E troco a minha vida por um dia de ilusão
E troco a minha vida por um dia de ilusão

Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro as palavras por dizer
É uma pedra
Ou é um grito
De um amor por acontecer

Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal p'ra onde vou
E esta pedra
E este grito
São a história d'aquilo que eu sou

Às vezes sou o tempo que tarda em passar
E aquilo em que ninguém quer acreditar

Às vezes sou também
Um sim alegre
Ou um triste não
E troco a minha vida por um dia de ilusão
E troco a minha vida por um dia de ilusão

Às vezes sou o tempo que tarda em passar
E aquilo em que ninguém quer acreditar

Às vezes sou também
Um sim alegre
Ou um triste não
E troco a minha vida por um dia de ilusão
E troco a minha vida por um dia de ilusão

Maria Guinot (letra e música)
ontem. soube-o hoje de manhã

O lugar do Amor


Amo-te
com pressa
de não acabar o amor.

in "Casa térrea"

--/--

Entrar contigo
dentro das searas
e depois
trigo
sairmos da terra.

-/-

Imóveis, seguros
no calor um do outro.

E não importa
a crueldade perdurável,
que chova, vente, esteja frio
na primavera que não veremos.

-/-

- Se eu te desse a folhagem
da acácia sempre-verde
que farias tu por mim?

- Seria búzio, obstinação do mar.
E com fúria na boca me beijaste.

in "A boca junta"

António Osório, "O lugar do Amor", 1985 (2ª edição)

domingo, 25 de novembro de 2012

non, je ne regrette rien



Não, Eu Não Me Arrependo de Nada

Não! Nada de nada...
Não! Eu não lamento nada...
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal - isso tudo tanto faz!

Não, nada de nada...
Não! Eu não lamento nada...
Está pago, varrido, esquecido
Não me importa o passado!

Com minhas lembranças
Acendi o fogo
Minhas mágoas, meus prazeres
Não preciso mais deles!

Varridos os amores
E todos os seus temores
Varridos para sempre
Recomeço do zero.

Não! Nada de nada...
Não! Não lamento nada...!
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal, isso tudo tanto faz!

Não! Nada de nada...
Não! Não lamento nada...
Pois, minha vida, pois, minhas alegrias
Hoje, começam com você!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012


poucas vezes este bicho foi tão importante como será este final de tarde e noite. sim, aguardo boas notícias. as melhores destes últimos três anos

os "movimentos inorgânicos"



...e dou por mim a pensar isto: não excluo uma relação directa entre a 'surpreendente' votação em Manuel Alegre nas Presidenciais de 2006 - e o descalabro da conseguida em 2011, e a 'surpreendente' adesão maciça à manif' de 15 de Setembro último. acessoriamente, até associo ao pensamento alguns 'surpreendentes' resultados eleitorais do Bloco de Esquerda.

...e dou por mim a pensar se 'a relação inorgânica' é a esperança (o futuro?) da esquerda portuguesa...

o gato e o rato



(leituras do jornal Público de hoje)

estupenda, a entrevista de São José Almeida e Leonete Botelho* a Jerónimo de Sousa** no Público de hoje (em versão curta, aqui na edição online).

o jogo entre a qualidade das perguntas e das evasivas mostra o velho (eterno?) jogo do gato e o rato entre o jornalista e o político, com argúcia como raramente vi/li (estou no meu dia de hipérboles, passem esta). nesta entrevista o entrelinhado é evidente, e lê-se com tanta nitidez que há alturas onde o não-dito se sobrepõe às letras grafadas. sobre cá dentro, e lá fora: a "Europa".

* jornalistas, e ocasionalmente politólogas
** secretário-geral do PCP, 'alma mater' da CGTP, e 2º ou 3º 'alter ego' do seu secretário-geral, Arménio Carlos

sobre a privacidade na Internet



(leituras do jornal Público de hoje)
entrevista a Jeff Jarvis, "um dos grandes gurus americanos da Internet", muito interessante. sobre 'nós'. e não é grande, lê-se rapidamente.

destaco (uma em várias):

"Quais são os grandes desafios de alguém que tem uma relação natural com o mundo online hoje e publica muito, quando estiver a procurar emprego no futuro, por exemplo?

- Fez alguma coisa embaraçosa quando era nova? Todos o fizemos. O problema não é termos feito coisas embaraçosas, é tornarmo-nos intolerantes em relação a isso mais tarde. Chamo a isto a “teoria da humilhação mútua assegurada” – eu tenho os meus momentos de humilhação, tu também, não fales dos meus que eu também não falo dos teus. O que espero é que isto crie uma sociedade mais tolerante, em que respeitamos os medos e erros das pessoas."


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

imortais


«é Natal, é Natal, vem aí o Pai Natal...»


as memórias. visitando-as e revisitando-as uma e uma e outra vez esmagam o vácuo do tempo, desenrugam-se polidas pelo beneplácito da distância e tornam-se imortais. os momentos, os locais. os companheiros de juventude. e nós próprios: torna-nos imortais. 

e a construção-reconstrução... porque não? eu tive uma viola, tive sim. mal aprendi - como em tanto, em tanto... - mas tive-a sim. não minto. alouro. adorno, mas a essência está lá. penteio-me despenteando-me.

quando me calo e olho sou o que quero ser. será? deixa acreditar! deixa adolescer. porque não? 

eu, a fazer figas! ;-)

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

um bom Novembro

idades cidades divindades, Mia Couto
Um homem singular, Christopher Isherwood
As paisagens perdidas, Nuno Bermudes
Budapeste, Chico Buarque
Derrocada, Ricardo Menéndez Salmón
Os fantasmas do Rovuma, Ricardo Marques
O ente querido, Evelyn Waugh
Todas as Palavras - poesia reunida, Manuel António Pina

domingo, 18 de novembro de 2012

...e nada tem tanta importância como uma data

terça-feira, 13 de novembro de 2012

o não ao AO. ainda. sempre!

já passei pela experiência da leitura de dois livros segundo "as novas regras": triste. além dos jornais, aqueles que correram "a aderir": dá vontade de amarfanhá-los. 

aqui? pela net? blogues ou facebook? sou prático: por regra, quando detecto 'a maleita' abandono de imediato o dito. a excepção que compõe a minha regra é exclusivamente dedicada àqueles que, cumulativamente, a) sei que o apreço pela boa escrita nunca foi considerada prioridade; b) cujo pensamento prezo saber. eu disse: cumulativamente...

ps: sou algo benevolente com os que, por profissão, foram obrigados a aderir. o bom exemplo são os professores de língua portuguesa. no activo.

domingo, 11 de novembro de 2012

 

"..e que nada nem ninguém é mais importante do que nós próprios. E não devemos negar-nos nenhum prazer, nenhuma experiência, nenhuma satisfação, desculpando-nos com a moral, a religião ou os costumes."
 
Marquês de Sade

orgasmo. marítimo e poético



no dia internacional do orgasmo
fui ver o mar
fez-se a mim fiz-me a ele
as ondas desta vez tombaram de pé e
espumaram de gozo

 

Bénèdicte Houart

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

enfim o sucesso: a vagina-maçã



aqui no tasco tenho um mini-registo de visitas. não as 'conta', mas regista as 20 mais recentes. é uma forma de cuscar o mundo além desta folha negra, saber quem veio... e em muitos casos ao que veio: quando surgem provindo duma busca por determinada palavra ou expressão, dum motor de busca, indica-a.

ora o meu best seller quanto a isso é... vaginas. sim, vaginas. raro é o dia em que não tenha 'clientes' à procura de vaginas. cosidas, assadas, compridas, estreitas, peladas ou ao natural, todos os dias recebo no meu canto incautos que o julgam um bordel. ou um museu, sei lá.

a culpa é deste post, onde além da dita palavra aparecer várias vezes mencionada, alourei-o com uma imagem que o Santo Google me deu quando procurei algo que... algo que se adequasse. ao caso, uma maçã onde o miolo parece de facto uma coisa linda.

ando no blogue à procura de outra coisa. mas, ao dar com esta velharia - é de 26 de Dezembro do ano passado - lembrei-me do chamariz contínuo que se tem mostrado. não sei se quem vem fica, se lê alguma coisa ou só se baba à vista da imagem, no desejo de trincar a dita, rilhá-la bem rilhadinha. seja como for espero não desiludir ninguém: cá, afinal, não são só 'palavrinhas' que se desejam sedutoras, também há 'bonecada' para entreter vistas tão sedentas que se socorrem de motores de busca para ver... 'pardalitas'. ou se calhar é por causa da maçã...

A Laranja Mecânica e o Hotel Polana

uma reflexão crítica sobre o hiper-famoso filme "A laranja mecânica", de Stanley Kubrik, e sobre o desvio que o realizador praticou no seu final, relativamente ao original plasmado na obra (literária) de Anthony Burgess. interessante.

já agora um 'Quiz', para quem viu o filme e é moçambicano ou luso-moçambicano: na cena em que o personagem principal, o vilão Alex, é submetido a um tratamento inovador e experimental em que é injectado com uma droga e forçado a visionar imagens que lhe eram aprazíveis (enquanto ouve a 9ª sinfonia de Beethoven, o seu must musical), de forma a criar-lhe uma aversão psicológica e física ao que as imagens mostram ou simbolizam, que edifício emblemático de Lourenço Marques - e ainda hoje o é, de Maputo - aparece?


ps: o filme, em LM, passou no Scala

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

a minha verdadeira invenção do amor

 
(...ou procurar na memória. aquele que tivéramos e se perdeu. aquele que não tivemos mas desejávamos ter. aquele que suspeitávamos existir mas não sabíamos que existia até dar-mos com ele, ali, a chamar-nos. aquele que...)
alfarrabistas:  
vou-vos contar da alegria. a alegria de ter 'encontrado' um que perdera e outro que não tivera. A Invenção do Amor, Daniel Filipe. A Noite Dividida, Sebastião Alba. este é o prazer. o prazer em tocar-lhes, até cheirá-los, sei lá se em busca de pistas acerca do dono primitivo, quem foi, porque o abandonou, se em busca duma qualquer alquimia emocional que, dizem, o cheiro dos livros nos trás. o toque de campainha. será o correio? e quando é, e quando trás o embrulhinho. meu. meu. sou bibliófilo. além do prazer de lê-los? o prazer de tê-los.
perco-me a ler. a sonhar. perco-me em tantas coisas, e esta é daquelas em que nem que o meu mundo acabe me irei arrepender.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

América a votos

uns tempos depois da Queda do Muro, não sei se nas primeiras presidenciais americanas que se lhe seguiram ou nas seguintes, quando os USA se acharam como única super-potência mundial e o que decidissem acerca do Mundo tinha efectiva e imediata influência em qualquer parte do Mundo, em nós, cheguei a pensar que seria justo todos podermos votar. afinal éramos todos cidadãos informais do Império sobrevivente, não é? era? _até o escrevi num dos meus blogues anteriores, provavelmente no primeiro Xicuembo que o sr. Sapo me fez o desfavor de apagar.

mas já não somos. nem com a Crise: lá têm a própria, parece que melhor resolvida que a nossa mas mesmo assim, ao que se lê, com medidas estatais para combatê-las, e aos seus efeitos que todos sentem nos bolsos próprios, que estão longe de conseguir o consenso e satisfazer os votantes indígenas: os norte-americanos desconfiam da eficácia das políticas desta Administração quanto a 'economics', e daí a surpreendente indecisão do eleitorado em pôr em massa a cruzinha ao lado do nome do mais mediático de ambos, e ainda mais o em cargo: Obama. é que Romney é um competente mago das finanças, todo o seu percurso profissional e político o diz.

ora não voto mas interrogo-me. as eleições nos USA são por demais importantes para todos nós para lhes passarmos ao lado - e os media também não deixam, é uma feira global. assim interrogo-me na qualidade de 'estrangeiro', e penso que fosse-me dada a oportunidade e votaria Obama facilmente. porque acho que para o resto do mundo, para nós, a sua política estrangeira, global, promete mais equilíbrio qu'aquela que uma Administração republicana liderada por Mitt Romney nos traria. nem que pelo abstencionismo que ela (esta) praticaria, virada prioritariamente para o arrumar de contas no seu cofre doméstico, que estão muito desarrumadas como todos sabemos e lá concordam. mas na politica global provavelmente ir-se-ia assistir a fogachos extremados, tipo «agora não tenho tempo, mas tomem lá esta para não se esquecerem de mim e de como sou grande!». barracas musculadas. e, sabe-mo-lo, as barracas são uma chatice para quem leva com elas e levam montes de tempo a limpar. principalmente as deste tipo.

mas e se lá vivesse? se fosse genuíno indígena americano e lá votasse? aí teria de pensar, e bem. provavelmente hoje, vésperas da eleição, estaria completamente baralhado, indeciso, mais ainda que estou se na premissa do parágrafo anterior. mas, de certeza, estava muito mais informado. oh oh! a esta hora já tinha lido uns mil artigos de analistas políticos, assistido a um sem número de programas políticos na televisão (e não, como agora, somente a dois dos três debates mais importantes, aqueles que envolveram os candidatos per si), e quando amanhã pusesse o papelinho/clicado no botão/etc - os métodos de voto, , são altamente confusos se comparados com a simplicidade a que,, estamos habituados - o meu voto era um voto consciente, nem que achado pelos complicados raciocínios a que amiúde me entrego quando me acho convocado a um decisão assim profunda. eu sou complicado nestas coisas. a porra é que gosto de sê-lo, e se me arrependo a posteriori (acontece) isso acontece (aconteceu) pela superveniência de factos que na altura do bzzz-bzzz-bzzz me estavam omissos: gosto de votar em consciência, e já não tenho idade para seguir sempre em frente, balindo.

Obama é hoje outro político. a realidade fê-lo. o seu segundo mandato só pode ser melhor que o primeiro: aprende-se praticando, aprende-se até errando. e Romney não é certamente um bronco insensato como alguma imprensa faz por passá-lo. não pode ser. além de que a América não é a Europa, e lá os status políticos têm azimutes próprios: qualquer deles, candidatos, , inscrevia-se na boa no CDS/PP.

ainda bem que voto... . mesmo assim dá esta... trabalheira.