quinta-feira, 20 de outubro de 2011

o medo


Khadafi foi capturado.

saltei para esta tão previsível notícia feito leão cego sedento de luz. cravei-lhe os olhos do princípio ao fim. porquê?

era previsível mais dia menos dia. as evoluções da Revolução de Jasmim já não são noticiosamente atractivas: entrou numa formatada velocidade de cruzeiro que a lava e institucionaliza há muito tempo. Khadafi já não existia, geopoliticamente falando. nem sou líbio.

sou português. português cansado de notícias más, saturado duma realidade prometida que é indesejável. injusta, injusta sim. receoso da depressão. a individual-colectiva, e que sinto roçar-se nas omnipresentes 'notícias más' que enchem as caixas altas dos jornais e os quotidianos. os d'hoje, já tão duros, mas com estremecimento imaginados num amanhã a serem olhados como aceitáveis, até. farto. com sede de notícias 'normais'.

viva o Khadafi. que se foda o Khadafi. precisava disto.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

girassóis, 2011


Afinal Van Gogh não se suicidou, foi vítima duma bala perdida

Tal como nós.
Daltónicos a um mundo de formatos e regras e logaritmos de domínio e contradomínio financeiro pintámos uma tela maravilhosa, cheia das nossas cores, únicas, brilhante de encantar. Pusémo-la em todas as casas, usámo-la em todas as lapelas, bailamos e éramos felizes. Ou a modos que isso: ninguém nos comprava a nossa arte embora as nossas praias, as nossas cidades, aldeias, as nossas galerias se enchessem de turistas encantados e invejosos com as maravilhosas cores do lusitano 'laissez faire'. Mas porfiámos, seguimos: se não nos compravam nada, vendiam-nos tudo.
Depois disseram-nos que nesta nossa Auvers de girassóis eternos nos suicidávamos. A olhar para eles. A pintá-los.
E afinal é falso, nós não nos suicidamos mas fomos vítimas de votos perdidos. Não cá, ressalvo: votos perdidos lá fora, paredes fora desta tela do nosso mundo. Traíram a arte, mataram o artista.
Hão-de morrer no cinzento, no ocre, nas cores más da vossa paleta, merceeiros do dinheiro, cães marchands de países!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

qual é o melhor dia da semana para fazer amor?



ok, ok. eu desvendo o mistério :-)

QUALQUER GAJO QUE NA SEXTA-FEIRA LIGUE ESTA MERDA ANTES DAS DEZ DA MANHÃ É MARICAS! HUMPF

século XXI, quem diria? mas é


estes números são sempre tão assustadores que somos levados a crer-lhes algum exagero, provavelmente para nossa própria acalmia e, até, sossego de consciência social mal apaziguada.
mas cruze-se com outras notícias dispersas, tantas. de casos concretos, uns só conhecidos pelas notícias mas outros quase vistos em vizinhanças, porque suspeitados: o cheiro senão da miséria mas do «viver mal» sente-se... em ruas próximas, em portas próximas.
e o número gigantesco transforma-se num fedor global. a crescer. credível, assutadoramente credível. e o desejo de vê-lo reflectivo nos Orçamentos, esses Relatórios e Contas dos Estados, essa magna entidade que gere e trata, a quem confiamos. devia ser assim: gere e trata. mas não o vejo nem sequer suspeito quando leio os índices dos Orçamentos. não, não me enganem. não nos enganem. é que o cheiro sente-se, sente-se, já não só se suspeita!

fanei a imagem aqui.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Morgan Roadster



já não sei se pus aqui imagens do Morgan três, quatro, ou sei lá quantas vezes. e de vez em quando falo nele: é um caso de amor.

mas o belo repete-se sempre. eis uma fé, e precisamos disso

...e esta melancolia por tempos em que não se temia abrir um jornal, um rádio, uma televisão...


"É preciso estar sempre embriagado. Apenas isso, mais nada. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que vos esmaga os ombros e vos dobra para o chão, é preciso que vos embriagueis sem tréguas. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. Mas embriagai-vos.

E se alguma vez, nos salões de um palácio, sobre a erva de uma vala ou na solidão morna do vosso quarto, acordardes de u...ma embriaguez evanescente ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio, vos responderão:

"São horas de vos embriagardes! Para não serdes os escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha."

Charles Baudelaire, in "O spleen de Paris"
na imagem, "Boulevard Montmartre - Noite", de Camille Pissaro

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

ai Autor, Autor...*


arrepia assistir à abutrice que esvoaça no Facebook em volta dos porta-moedas daqueles que, achando que não escrevem mal de todo, têm o sonho de se verem editados.

por causa dum comentário tipo arroto a posta de bacalhau, tive curiosidade em ir ver quem era a bicha da garganta funda. como sempre entrei pelo Notas, quando o há, que é a escrever e a ler que a gente se entende.

afinal nada lavra de si além de palavrinhas melodiosas para lavrar a fazenda alheia: uma "Editora", aleluia! em resumo, a proposta da tipa, e sob chancela chic-pirosa, anda à volta disto:

- imprime e mete capas em 100 ex. (até um máximo de 120 págs.) por 600-seiscentas-600 mocas
- desses 100, entrega ao Exmº Autor 50 e promete tentar vender a demasia (não refere trabalhar com uma distribuidora...), com a tradicional percentagem de 10% para o dito
- elabora uma coisa misteriosa e que presumi ser um «best of» do escrito, loura as palavrinhas com filme(s) e, assim bonitinho, "dá-a" ao Autor.

caraças! mesmo sendo o "logro" que é a Edição de Autor para a maioria das ambições de quem se quer ver editado, é-o pelo próprio ao próprio e contra isso nada a dizer, de placebos ao umbigismo cada um toma ou guarda na despensa os exemplares que entender. e não é explorado, se não tiver o azar de escolher a tipografia errada.

agora isto... mas há mesmo quem caia nesta treta? nesta PURA BANHA-DA-COBRA?



* título semi roubado a David Lodge

(a imagem da simpatiquíssima Jessica Rabbit, fanei-a aqui. thanks)

quarta-feira, 12 de outubro de 2011



2012, o Ano nacional da Mixomatose

figuras sinistras


a Banca tem levado bordoada de três-em-pipa (ah! grande Céline!) , e alguma até injustificada.

pouca desta, infelizmente. para compensar e nos vingar há muita da outra. é só escolher, para chapar com a folha impressa nas trombas cada dia mais antipáticas dos nossos 'gestores bancários' (de quê, meu Deus? gestores de desgraças? coveiros!) que nos atazanam os dias e enchem as insónias, e até nos ocupam a porcaria do telefone.

até já. vou imprimir esta crónica e já venho ;-)

ps1: como as ligações às edições online dos jornais são muito perecíveis, faço Copy integral da (excelente) crónica de Tiago Mesquita,, no semanário Expresso, "Se o Ronaldo aos 10 anos precisasse de arranjar os dentes o BES financiava?"
ps2: googlei uma imagem sob a chave 'figura sinistra', para ilustrar o texto e o espírito da coisa, e escolhi esta. veio daqui. thanks.

"Se o Ronaldo aos 10 anos precisasse de arranjar os dentes o BES financiava?", por Tiago Mesquita


"Que as instituições bancárias gozam com os portugueses a cada anúncio que passa na televisão não tenho dúvidas. Que se aproveitam descaradamente da ignorância de alguns clientes com publicidade deplorável idem. Agora o que se está a passar neste momento, especialmente numa época em que muitos, pela situação de instabilidade económica e debilidade financeira que vivemos, aos cortes constantes e psicoses orçamentais que temos sofrido, aumentos virais de impostos que se têm sucedido a uma rapidez alucinante e cíclica, se vêem obrigados a ter um relação de vergonha para com a instituição onde têm quase sempre a conta a descoberto, a quem entregam a casa e pedem desesperadamente ajuda para pagar a escola dos filhos, prestações do carro, de tudo. Já quase ninguém entra num banco de cabeça erguida. São poucos.

Estas mesmas pessoas que se arrastam pelos balcões dos bancos a tentar desesperadamente encontrar uma solução milagrosa para os seus problemas têm o Ronaldo a piscar-lhes o olho em cada esquina e o Mourinho a coçar a micose no mapa da Europa. Saem com o rabinho entre as pernas e sem solução para os seus problemas que estrangulam os sonhos, as promessas no passado e o futuro ameaçado da família. A ruina mais do que certa.

No entanto, estes mesmos clientes chegam a casa, ligam a televisão e lá está ele. O tipo que acerta sempre, o que não é indeciso em frente à baliza e só diz baboseiras. E o outro que é o melhor do mundo e mais não sei quê, o que raio é que isso interessa para quem tem três prestações em atraso e está falido e desempregado? O primeiro é um puto a quem o BES não emprestaria um cêntimo que fosse à família caso tivesse continuado a ser mais um triste aos pontapés na bola num dos bairros pobres da Madeira. Agora que ganha milhões foi promovido a conselheiro financeiro da classe média. Se José Mourinho ainda fosse tradutor nem um cêntimo para comprar um pónei (de plástico) ao mais novo lhe emprestavam mas agora bate no peito a dizer que é português com orgulho. Apela as pessoas para usarem uma fitinha. Simplesmente patético. Olha filho dá-me o teu cachet que eu bato no peito quinze dias seguidos, podes chamar-me Tarzan do "Milénio. E encho o corpo de fitinhas, tipo múmia.

Que exemplos são estes? Porque têm dinheiro? Sucesso? Temos de ser todos Mourinhos e Cristianos para que o banco nos considere e ajude. E o senhor João que tem 3 empregos e vendeu todos os móveis que possui para continuar a pagar religiosamente a prestação da arrecadação onde vive, não será este o verdadeiro herói desta treta toda? Ah este não vende? Somos uns provincianos de primeira, até nisto. Não têm vergonha, senhores banqueiros? De destruírem vidas e famílias para dar dinheiro a quem não precisa a troco de uma fabricada?

Mourinhos e quejandos não dão nada, absolutamente nada, aos clientes de um banco e só quem é burro pode acreditar numa coisa destas. Os Banco é que precisam do sucesso por osmose e não o contrário. Quantos milhões são gastos em publicidade? E quantos milhões possuem os bancos neste momento de crédito mal parado e dívidas incobráveis? Quantas casas foram entregues aos Bancos só este ano? Apareceu lá algum São Cristiano ou Mourinho para salvar esta gente, meter-lhe uma fitinha na mão e dizer "olha filho agora vai ali pedir para a baixa que eu já te atendo"? Hipócritas de m...."

terça-feira, 11 de outubro de 2011

2012




Subsídios de Natal e Férias em risco



«Hoje reparei no sorriso das vacas, que estavam satisfeitíssimas, olhando para o pasto. Fiquei surpreendidíssimo por ver que as vacas avançavam, umas atrás das outras…»

Presidente da República Portuguesa, Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

visita às Trompas de Eustáquio da memória



querem crer que quando me veio à ideia referir as trompas lembrei-me primeiro das... de falópio? LOL foi por um triz que! vá lá que me tocou um sininho e fui confirmar... ;-)

neblinas, os anos


aguardo a iluminação dos dias. até lá pasto a insónia em velhos poetas e outras razias nocturnas, enquanto hesito se visto as calças verdes ou as de ganga para ir à procura do primeiro café de muitos. se calhar vou em cuecas, coisa muito pouco poética pois pernas de velho são prosa, escrevem-se em madrugadas de arrepios e por longo e bom extenso

(a foto é de 'ceciliano', e foi obtida aqui.)

Rui de Noronha


"Pós da História"

Caíu serenamente o bravo Quêto
Os lábios a sorrir, direito o busto
Manhude que o seguiu mostrou ser preto
Morrendo como Quêto a rir sem custo.

Fez-se silêncio lúgubre, completo,
No Kraal do vátua célebre e vetusto.
E o Gungunhanha, em pé, sereno o aspecto,
Fitava os dois, o olhar heróico, augusto.

Então Impincazamo, a mãe do vátua,
Triunfando da altivez humana e fátua,
Aos pés do vencedor caiu chorando.

Oh, dor de mãe, sublime, que se humilha!
Que o crime se não esquece à luz que brilha
Ó mães, nas vossas lágrimas gritando?


Rui de Noronha

cor, cor, cor



talvez a arte de Cristian Zuzunaga seja extraordinária, ou talvez apenas a expressão dum bom artista. para mim tem um fascínio especial: a selva das cores. e?..., dizem com razão. afinal a arte do man é exactamente essa, o jogo das cores, os contrastes entre elas.
discromatopsia, o palavrão. sou um daltónico ligeiro, algumas (poucas) cores são-me invisíveis e muitas (muitas mesmo) 'misturo-as', troco-lhes os nomes. então os tons, isso... :-)))
por isso artigos como este são-me uma festa! maravilho-me a olhar as combinações cromáticas, tentando adivinhar que cores serão. é que a maioria vejo-as como diferentes entre si, apenas não sei os seus nomes. o que vejo não corresponde às ideias formatadas do que é, será cada uma (ok. a relva é verde, sei-o de pequenino e intuitivamente. e as listas das camisolas do Sporting são o quê? tão diferente? e o 'branco sujo' nos semáforos? lol entendem? entendem-me? :-)
tenho um mundo próprio no festival da cor. uso pincéis personalizados quando olho à volta, seja um quadro, a paisagem urbana, a roupa que usamos... é giro :-)



...alegria de que as meninas estão safas: uma menina daltónica é um fenómeno, mas já nos rapazes...
li que tem a ver com a 'perninha' que nós perdemos, na nada subtil diferença que vai da combinação XY para a XX... ;-)

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Anjos

todos, o narrador, qualquer um, é Steve.

e eu quero acreditar que o sueco que nunca li sabe transmitir emoções e pensamentos assim. em corridinho ou em haikus. mas que não seja mais outro que não chegue aos calcanhares, Steve, Steve, alguém numa janela em Anjos, esta Lisboa longa, longa, viu-te e viu acontecer noutros nomes, o que são nomes, o que são nomes laureados se cada um de nós laureia o que alcança ver nas janelas que abrimos, seja em maçã rilhada ou na folha esvoaçante que viaja, ala, acrónimo de Anjos até cada um de nós