quarta-feira, 25 de julho de 2012

o primado da política sobre o patriotismo

gosto da Inglaterra (Grã-Bretanha; mas prefiro dizer Inglaterra, "soa-me" melhor) não só pelo culto dos carros clássicos ou a beleza pictorial dos campos do Surrey, os castelos ou os pub's. olho-a como um dos países (ou 'o' país) onde será mais improvável acolher uma ditadura, e isso agrada-me pois fala-me e muito acerca de mentalidades, civismo, valores. 

o meu exemplo magno em defesa da convicção usa a derrota eleitoral de Churchill logo após o final da 2ª Guerra Mundial: que outro país do mundo era capaz de mandar embora um herói nacional, o homem que o levou à vitória numa guerra mundial? não consigo imaginar outro a fazê-lo em circunstâncias semelhantes...
para mim significa que os ingleses - os 'britânicos'... - são capazes de separar águas e colocar a política acima do patriotismo, e claro que gosto disso. prefiro o método analítico ao sintético, o racional ao irracional. decididamente. 

e há a válvula de escape do Speaker's Corner, em Hyde Park. eu, se penso "Londres" penso automaticamente em Hyde Park. seja ou não 'folclore', rima, e muito bem, com liberdade. nem que insana!

de papo pró ar

até domingo ou segunda, malta.

e já sabem: se quiserem um apartamento jeitoso e a preço mini, é o da postagem abaixo. precisa dumas obras, que qualquer habilidoso faz: pintura, umas fichas eléctricas e umas fechaduras por arranjar, etc. mas por aquele preço? é "dado"!

vendo T2 em Almeirim - 27.500 €


info (e mais fotos) aqui e aqui.

genericamente, é:  "3º andar. próximo de transportes públicos, comércio, jardim da Biblioteca e várias escolas. a necessitar de obras de conservação interiores (pintura, etc)."

o meu contacto está nos anúncios, ou pelo mail carlosgil2006@gmail.com

segunda-feira, 23 de julho de 2012

"Voz de Dafne"




Supón que de verdade Dafne murmura
en lo que llamas queja de esta planta,
sin sospechar la dicha que suplanta
en verde luz la antiga criatura.

Siente temblar al viento mi cintura
donde se enreda el día que adelanta,
la voz multiplicada que te canta,
oh Apolo, esta tristeza de ser pura!

Río del aire, estremecida escala
donde la danza aprende la cadencia
y urden abeja y flor su claro juego,

te amaré, dios de miel, tortura de ala,
con la misma encendida resistencia
con que te huí mujer y árbol me entrego.


Julio Cortázar, "Salvo el Crepúsculo", Alfaguara, 2009

sábado, 21 de julho de 2012

o Sir Charles B. Walters e os gadjets da moda

«Já não sei o que sei. Sei que alguma coisa é, mas a única certeza é que não a tenho acerca de nada, nem sequer da página onde ela estará!»

Sir Charles B. Walters, pensador e ornitólogo inglês prematuramente falecido (1855-1912), comentando a overdose informativa que a 'Encyclopedia Britannica' representava.

...e não conheceu ele a Internet, senão que diria... 


já agora, que vem ao tema: não acham completamente parva a decisão da insigne e vetusta enciclopédia, em terminar com a sua edição em papel, pondo os ovos todos na cesta da edição digital? um empurrão de metros e quilos para meter as bibliotecas no bolso, chame-se-lhes tablets, i-Pad, ou qualquer coisa assim, em jeito de electrodoméstico? fico com pele-de-galinha ao imaginar os meus ricos livros transformados em... 'links'!... :-(


falta um mês, filhote!
é raro partilhar estas "frases definitivas", até porque normalmente acho-as erradas ou estúpidas, e até ambas em conjunto. mas esta... é, é verdadeira, é sentida, é real. e "acontece" sempre que um necessitar do ombro, do abraço, do carinho e compreensão do outro.
para além dos anos e dos momentos difíceis, das pedras e dos humores, luas ridículas ou predadores que descem das serras, ou o-raio-que-parta: um amigo é mais que um irmão. e isso nunca muda, nunca mudará. nunca. nem que murmurado em quase silêncio.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

«Ele sentiu os dedos dela, frios e macios, na coisa dele...»



iniciei ontem a leitura de “Longe do Abrigo” (Edições ASA, 2003) de David Lodge, romance quase autobiográfico escrito nos finais dos anos 60 e ‘refeito’ parcialmente para esta edição, que é de 1984, e que, segundo o próprio conta no posfácio e o editor subscreve em badana, é dos seus romances um dos menos lidos. mas eu estou a lê-lo, iniciei-o ontem e portanto ainda vou nas suas páginas iniciais, e já estou em choque. ciúme. até inveja. de certeza, reclamação educacional! vejamos:

«(…) O ruído dos canhões era agora mais fraco e muito distante. (a cena passa-se durante o Blitz de Londres, na IIWW, e os personagens estão acoitados num abrigo) O Timothy baixou as calças do pijama e a Jill aninhou-se ao lado dele ao mesmo tempo que puxava a camisa para cima. Ele sentiu os dedos dela, frios e macios, na coisa dele ao mesmo tempo que ele procurava com o dedo a prega pequenina entre as pernas dela. Sentia-se quente, em segurança e cheio de sono. Esperava que houvesse outro ataque na noite seguinte.» (pág. 19)

mandei um salto! um salto para trás num flic-flac de angústia premonitória, à procura dum dos dados que o autor despeja no décor inicial e que, por se estar no início, ainda não foram assimilados pelo leitor como fundamentais para o enredo, até tal carência ser evidente e uma luzinha cá dentro nos dizer que já passáramos por ele. página 10:

«(…)A Jill era da idade dele, cinco anos, mas ele era mais velho, porque fazia anos primeiro»

“ora lá está… eu sabia!” _apetece gritá-lo, de raiva, frustração, e embora se venha a saber logo à pág. 22 que a jovenzinha Jill veio a morrer via encontro imediato com uma pesada ameixa caída do céu, mais em concreto dum bombardeiro Heinkel  He 111, a sensação de que algo que nos deveria ter pertencido dalguma forma dele se fora privado, e essa ausência em tempo e modo próprios se viria a revelar como grave lacuna no desenrolar do resto, a vidinha: eu, aos cinco anos de idade (nem aos seis; aos sete; aos oito…) fora agraciado com «… os dedos dela, frios e macios, na coisa dele ao mesmo tempo que ele procurava com o dedo a prega pequenina entre as pernas dela.» (sic) pumba! pumba de integral sic que não tive e certamente veio a fazer posterior falta e me atrasou quer o conhecimento quer talvez até o desenvolvimento – há quem me diga d’eu ser muito infantil

nasci em 55 e nunca a minha família teve de se abrigar de bombardeamentos ou doutras maldades próprias das guerras, mas pelos vistos profícuas em prazeres educacionais e formativos a felizardos que mais tarde deles se chibam em memórias quase autobiográficas, fazendo frustrados como eu darem saltos paginados, à procura do seu momento, e encontrando-o invariavelmente com décalages nada abonatórias para a sua carreira académica da vida. passando a afirmações concretas, eu situo-o algures nos meus onze, doze, treze anos, e com entrada directa em acção da pior forma e lugar, e sem ensaios prévios: escrito há muito tempo atrás, e algures em páginas que são minhas… das tais quase autobiográficas:

O ritual

Ele ainda hesitou à entrada da humilde palhota mas os olhares dos amigos cravados nos seus mais pequenos movimentos forçaram-no a entrar, vinte escudos poupados a lanches nas mãos suadas.

Os joelhos tremiam quando despiu os calções e cumpriu um antigo rito de masculinidade.
Mafalala e data incerta, a primeira experiência sexual.


percebem a minha reclamação? não sei se por aselhice própria, azar de vizinhanças em vestidinhos que me calharam, ou por ausência duma guerra a sério que metesse tudo ao monte em quentes e seguros abrigos anti-aéreos, na minha pilinha e além de mim só vieram a mexer muito mais tarde que aos cinco anos, e quanto a preguinhas fofinhas a coisa ainda foi mais tardia (de certeza que não toquei na da mamana gorda e ‘velha’, que me atendeu na tal ‘Mafalala e data incerta’; eu queria era safar-me com o brilhantismo possível, e que fosse rápido!). 

agora, a caminho dos 58 e com rodagem mais que feita, sou via memórias alheias confrontado com problemas íntimos, e pelos vistos nunca resolvidos, com as pistas onde corri o meu passado. solavancos. troços acidentados que, felizmente pois os azares não duram sempre, vieram a alternar com asfaltos suaves e bem delineados onde foi um gosto correr. mas, curricularmente, se me quase auto biografo, hesito se não seria melhor recorrer à ficção do tal quase, esse ora véu protector, ora construção reconstrutora. mas que iria alterar? não tenho nas minhas memórias dos cinco anos uma Jill a proteger do incómodo das memórias tardias de brincadeiras cândidas à idade mas de sorriso amarelado se mais tarde recordadas, e mesmo se me recordar (e invocá-las) das romanticamente ardentes paixões que tive na minha idade infante, além duns poucos beijinhos mais consentidos que dados nada mais há, além da verdade que me iniciei na coisa com uma puta para aí do triplo da minha idade. 

acusei a carência. justifiquei o porquê de “ciúme. até inveja. de certeza, reclamação educacional”. tenho razão? tenho. mas não há culpas nesta queixa a atribuir a ninguém. nem à família hiper-protectora, nem a mim que fiz o que pude e sabia – embora afinal fosse pouco: eu apaixonava-me, e de que maneira. até lhes escrevia versos e entregava-lhos com olhos de carneiro-mal-morto. e suava fininho ao mirar-lhes as pernas no recreio da escola. mas algo falhou, e hoje mistura-se tudo fazendo as páginas tão pesadas.

vou regressar ao livro. nem este escapou, e afinal qual é a surpresa? sempre, em todos, há sempre páginas onde nos encontramos. neste, pelo inverso. maldita vida, d'assim leitor!


(imagem: foto de Ricardo Rangel, sacada aqui)

quarta-feira, 18 de julho de 2012

nós, Florbela

 «Quem nos deu asas para andar de rastos?
Quem nos deu olhos para ver os astros
- Sem nos dar braços para os alcançar?»

quem lhe lê os sonetos e depois lê a sua prosa em contos, crê estar-se perante duas autoras distintas, duas mulheres de anseios e fogos íntimos diversos. numa, a busca narcísica da miríade de céu sagrado que lhe pertence mas não alcança; noutra a lassidão das coisas simples, o desejo e o apelo da vida mansa do conformismo burguês. 

porém nessa dicotomia está ela. estamos todos nós. uma vez soneto, insatisfeito(a), apaixonado, sempre sonhador e esperançoso, noutra um conto de nós mesmos que escrevemos dia a dia com a realidade que são as nuvens que passam e seduzem, mas nunca ficam porque não as alcançamos. conto que tratamos com desvelo embora se sonhe com mais poesia, um soneto de nuvens e mais (mais!) céu.

e o best seller são os Sonetos. os Contos vendem residualmente. os sonhos vendem, e se em soneto esmerado ainda vendem melhor: a poesia extrema-nos e enternesce-nos, suavizando-nos o olhar quando o erguemos e vemos todos os céus como possíveis. quanto à realidade conformada... para quê ouvir contar de lindas desilusões? um copo meio cheio, quando de facto se olha e sabe como meio vazio? 

há duas Florbelas entre os seus sonetos e os seus contos, sendo afinal uma e a mesma: nós. nós, eterno humano soneto, impenitentes destruidores da prosa com que a vida se conta, se s'a escreve.


"Sonetos", Difel, 1984
"O dominó preto - Contos", Bertrand, 1982

terça-feira, 17 de julho de 2012

novos, cá em casa

o prazer de lê-los. mas também o prazer de tê-los.



alguns vindos de leilões. outros não. mas há quanto tempo "não entrava nada"...

...e um especial "obrigado" à Biblioteca Municipal de Almeirim, cujo programa de 'troca de monos' nos últimos dias do mês muito me tem municiado...