quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

benurons invernais




Em cada corpo a corpo se procura
o espírito das águas onde a alma
por vezes paira sobre a face obscura
e só depois do fim encontra a calma

essa calma tristíssima de quem
volta a si de repente e sabe então
que enquanto um se esvai e outro se vem
ninguém é de ninguém ó solidão.

Suprema solidão que vem depois
de findo o corpo a corpo sobre a cama
quando nunca se é um mas sempre dois

e só um cigarro triste ainda é chama
e um lindo pudor puxa os lençóis
e a cinza cobre o amor que já não ama.


do livro Sete sonetos e um quarto, poemas de Manuel Alegre com desenhos de João Cutileiro, da Dom Quixote. hoje comprado miraculosamente por 5 euros, nos saldos da Feira Nova

domingo, 24 de janeiro de 2010

As "Teorias da Conspiração" - I



Gostei do comentário « La luna no existe» :-)

E calculo que o próximo romance de Dan Brown já tem tema...

Poemas pornográficos (?) de Carlos Drummond de Andrade




Recebo-os por mail, na newsletter da e-revista Obvius. E-revista que me dá sempre o prazer de folheá-la tal como folheio a

Superinteressante da minha filha Carla e encontro artigos a desvendarem coisas que mal nos lembramos mas, reveladas... têm interesse. Tipo curiosidades que espremidas são inúteis mas giras ao ponto de, enquanto as consumimos, pensar-se que se está perante um conhecimento imprescindível. A boa literatura juvenil, em faceta de revista.

Achei estranha a classificação dos poemas como "porno". Eu chamá-los-ia de "eróticos", que parece-me ser mais ajustado. Porno é o exagero e o rasca, e erótica é a arte da sensualidade.


Sugar e ser sugado pelo amor

Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um o gozo pleno
Que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar o ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua.


A língua lambe

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.


A castidade com que abria as coxas

A castidade com que abria as coxas
e reluzia a sua flora brava.
Na mansuetude das ovelhas mochas,
e tão estreita, como se alargava.

Ah, coito, coito, morte de tão vida,
sepultura na grama, sem dizeres.
Em minha ardente substância esvaída,
eu não era ninguém e era mil seres

em mim ressuscitados. Era Adão,
primeiro gesto nu ante a primeira
negritude de corpo feminino.

Roupa e tempo jaziam pelo chão.
E nem restava mais o mundo, à beira
dessa moita orvalhada, nem destino.


Mimosa boca errante

Mimosa boca errante
à superfície até achar o ponto
em que te apraz colher o fruto em fogo
que não será comido mas fruído
até se lhe esgotar o sumo cálido
e ele deixar-te, ou o deixares, flácido,
mas rorejando a baba de delícias
que fruto e boca se permitem, dádiva.

Boca mimosa e sábia,
impaciente de sugar e clausurar
inteiro, em ti, o talo rígido
mas varado de gozo ao confinar-se
no limitado espaço que ofereces
a seu volume e jato apaixonados
como podes tornar-te, assim aberta,
recurvo céu infindo e sepultura?

Mimosa boca e santa,
que devagar vais desfolhando a líquida
espuma do prazer em rito mudo,
lenta-lambente-lambilusamente
ligada à forma ereta qual se fossem
a boca o próprio fruto, e o fruto a boca,
oh chega, chega, chega de beber-me,
de matar-me, e, na morte, de viver-me.

Já sei a eternidade: é puro orgasmo.


Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça

Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
de magnificar meu membro.
Sem que eu esperasse, ficaste de joelhos
em posição devota.
O que passou não é passado morto.
Para sempre e um dia
o pênis recolhe a piedade osculante de tua boca.

Hoje não estás nem sei onde estarás,
na total impossibilidade de gesto ou comunicação.
Não te vejo não te escuto não te aperto
mas tua boca está presente, adorando.

Adorando.

Nunca pensei ter entre as coxas um deus.


1992, O amor natural: poemas pornográficos de Carlos Drummond de Andrade


sábado, 23 de janeiro de 2010

coisas chatas

Li este gajo, e fiquei com a sensação que ele também me lê.

Preferia que não, que a insanidade fosse só minha.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

"gullwing"



"Conseguirá o Mercedes-Benz SLS AMG andar no tecto de um túnel?
Cada vez mais, as marcas automóveis produzem mini-filmes de Hollywood para publicitarem os seus carros. No entanto, para aqueles mais exclusivos, as marcas dedicam mais atenção e mais importância. Foi o que a Mercedes-Benz fez para publicitar o seu novíssimo supercarro, o SLS AMG.
Graças à exclusividade do seu modelo, a marca alemã decidiu perceber se o seu carro conseguiria fazer uma espiral dentro de um túnel, andando por alguns metros com as quatro rodas no tecto. Será real ou mais uma maravilha gerada por computador e uma potente placa gráfica? A ser ficção, James Cameron e o seu Avatar têm já concorrência à altura."



video e texto do Auto Sport, vénia.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Haiti e abutres

Ainda os mortos estão espalhados pelos passeios, os vivos à míngua de tudo e até de água, e já os abutres atacam. A lembrarem os velhos escroques da Nigéria, de há uns anos atrás. Ou "o sobrinho" de Jonas Savimbi. Todos conhecemos essas histórias. Mas, este, estes, surpreendem pela rapidez e cinismo!

O mail que recebi há dez minutos atrás. Apaguei os endereços de mail do "Sr. Major", não vá o diabo fazer algum voodoo e tecê-las...


Dear Friend,
I am Major Bruce Roberts of the United Nations Armed Forces here in Haiti, I am a very close friend and personal adviser to the Haiti President Mr. Rene Garcia Preval. Following the Earthquake that struck Haiti, so many people where killed and that unfaithful day I was at the president's palace having some important discussions with him. When the Earthquake struck, the presidential palace was seriously damaged and we managed to get out of the place alive and unharmed and all telecommunications facilities where damaged due to the damages caused by the earthquake.
The president Mr. Rene Garcia immediately contacted me and asked me to assist him move out all his funds which he stored in his safe in his presidential palace. The president Mr. Rene Garcia is a very corrupt government and he owns so many companies in Mexico and Jamaica, bank accounts all over Switzerland while his people suffer and die in poverty. I immediately deployed some of my close military personnel to move all his funds out of the presidential palace to avoid the outside world (western world and other government authorities) from knowing that he has this huge amount of money in his custody. I and my fellow military personnel immediately went to the president palace and we recovered 4 big trunk boxes each containing $13.6Million (thirteen million six hundred thousand dollars) each. I personally kept one of the trunk box for myself $13.6Million (thirteen million six hundred thousand dollars) unknown to my military personnel and the other 3 boxes we immediately transported them out of Haiti through United Nations Delivery means to the president's business associate in Austria according to the president instruction. I informed the president that the other box has been damaged by fire in his palace and he believed me and asked me to clean up the building so no one will know about this whole situation.
Now I have in my custody a total sum of $13.6Million (thirteen million six hundred thousand dollars) which I want to transport out of Haiti to you in your country via much secured United Nations freight means. I will give you 30% from this total $13.6Million $13.6Million (thirteen million six hundred thousand dollars) for your assistance, I will have 65% for myself, 5% we shall donate to the people of Haiti for humanitarian aids. Please keep this information highly confidential between us and respond back to me with your telephone number via my personal e-mail; brucerobertss@___________ so we can discuss better on how I will be transporting this box out of here to you. Thank you and bye for now.

Major Bruce Roberts
brucerobertss@_______

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Merlin, síndico de falências

Nas cavernas do inconsciente e dos pesadelos, ou à janela do subconsciente e do sobrolho franzido, já o suspeitávamos.

Nós, a Irlanda, a Espanha e a Grécia, mais a Islândia como penduricalho exótico, mais quem ainda se apresentar, estamos a demonstrar o Princípio de Peter aplicado à grande construção da "Europa única", com vinte's e trinta's membros. A realidade da economia a vergar a vontade política. Porque milagres não há sem pilim, e o tempo das algibeiras fartas acabou para todos, os "grandes" incluídos.

O vendaval não amaina e, lembrem-se das coincidências, áugure, já ruiu uma bancada de circo. Repristinar os nacionalismos não é solução mas será o caminho.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

deixa-me cá aproveitar antes que venha a ASAE

Este blogue anda abaixo de tasco. Viesse cá a ASAE e era fechado.

Tentando o impossível meto uma musiquinha. Simples, bonita. Aí vai ela:

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

ainda a velha discussão da descolonização. conversas à volta dum livro

Este post, e a colecção de comentários, com 'prolongamento' aqui, fez-me recordar as eternas discussões nos finados Grupos MSN de comunidades luso-moçambicanas: ao fim de '100 mensagens' desistíamos por exaustão. Todos. Na mesma irredutíveis nas suas convicções. Que não é fácil, fosse com que idade fosse que se o viveu e o sentimento se sedimentou, como se o viveu e seja para que lado for que se pendeu, ao fim de trinta anos convencerem-nos de que "não foi bem assim." Não é nada fácil e é compreensível que não o seja.

Como um vespeiro (passe o exagero!...) que se destapou. O bloguista, ABM (já agora visitem o seu blogue The Delagoa Bay Company dedicado ao desporto de Lourenço Marques, a Maputo colonial, essencialmente mais ligado ao Grupo Desportivo, os "alvi-negros"), fez bem em trazer o assunto à mesa virtual. Fez bem que, todos, precisámos é de falar, soltar os desconfortos e até os medos ou os rancores. Esta purga íntima faz-nos falta.

A minha opinião sobre o livro "de que se fala", e alargando-se cresce ao tema em título, está - mais uma vez... - expressa nos comentários.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

conversas resmungadas

Os animais utilizam-se na nossa alimentação. Tudo ok por aí, que temos de safar-nos e a chicha faz falta a todos. Mas cozinhá-los em fogo lento, tipo banho-maria, nem aos caracóis se deve fazer quanto mais a putativos futuros, por muito desanimado que esteja o nível da esperança.

memória do mau



O Holocausto não se nega!


(foto daqui. Mas a Lisbeth Salander também tem o seu peso no saco, que Tom Ripley não é o único "mau simpático" dos policiais)

post saudosista



Memória do bom.



(foto encontrada aqui. gracias :-)

conversas na varanda

Fui levar o Carapinha à estação, e apanhei uma moca danada. E está frio, digo lembrando outras ao sol...

Entretanto estou a pensar escapulir-me para aqui.

sorveteria avulsa

Quando saí esqueci-me do gelado e agora fui ao supermercado do bairro comprá-lo. Às minhas duas vizinhas que olhavam com cara de quem não está a perceber nada do assunto: lá porque como gelados no Inverno não enfardo sopas de pedra e feijoadas no Verão, descansem.

Crítica:

Elos, nata e morango, 950 ml, 3,45 € - Não desilude. Os cubos de pedaços de fruta, que parecem um penacho à Tin-Tin na careca do Gorbatchov, não sabem a nada.

Frigo Richesse Sorbet, manga, 1000 ml, 2,35 € - No barato há muitas rasteiras: além da cor, da manga só tem ligeiro cheirito que desaparece num instante no meio de tanta água.

Ok!, nata com nozes, 900 ml, 2,97 € - As nozes congeladas nem a amendoim sabem. No meio de tanta tristeza o gelado até nem é mau.

Olá, baunilha e chocolate, 2000 ml, 3,55 € - O que melhor se safa. E chocolate será sempre chocolate, haja o que vier!

conversas na varanda

«... entretanto, passei por uma livraria, vi-o e não houve forma de evitar pensar em como a escrita fala mesmo de nós além do "fato-e-gravata" das pinturas do dia-a-dia.»

«aos seus lugares... preparar...»

1, 2 e 3

Título alternativo:

«Já é tempo de amealhar»

:-o

Não há amor como o primeiro.

(sim, esta tem mesmo destino e destinatário)

Se me permites a expressão, "a chorar-me, o caralho!" Vi o anúncio ao lado duma caixa MB, e na redacção li semelhanças. E adaptei, end of story do cão achado e perdido"

:-(

Isto já parece o nosso futebol.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

1, 2, 3, experiência

não resisti a ver impressa a data "2010".
é esquisito, há algo de 'ficcão científica vivida' nestas datas futuristas...