quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

palavras que não sei mas sinto

(pela voz do próprio)

"Ladainha dos póstumos natais"

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito


in Obra Poética, Ed. Presença



lidos


Casos do beco das sardinheiras - Mário de Carvalho
O homem que era 5ª feira - G. K. Chesterton
Morrer em Madrid - Frédéric Rossif/Madeleine Chapsal
História do povo judeu - Werner Keller
A praia de Brazzaville - William Boyd (em curso)

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Chimamanda Ngozi Adichie


é típico dos finais de ano, e não resisto a dar uma olhada - várias vezes gulosa - a estas listas «os 10 mais de... ». alguns já por cá andam, para outros alerta-se a atenção para futuras traduções a aguçarem apetites a curto prazo. hoje caiu-me o olho na da famosa The New York Times Books Review.

um dos da listita dá-me comichões especiais: Americanah, da minha muito querida nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie: já anda pelas nossas livrarias, mas quanto a este infeliz que vos escreve as minhas mãos ainda estão órfãs dele. é triste!... sim, vem aí o Natal, «tô a pidir...»

calha ainda que terminei ontem o seu (de contos) A coisa à volta do teu pescoço, que não matou as saudades da autora deixadas pelo fabuloso Meio Sol Amarelo - para mim o seu melhor romance, superior ao A cor do hibisco, e um dos melhores de sempre de escritores africanos - nem achei que fosse uma colecção de contos memorável. porém houve dois que mexeram comigo.
um, o "Embaixada americana", fez-me mesmo pousá-lo, incomodado em bom sentido, reflectindo sobre noções como dignidade e honra versus a primária sobrevivência, ou os caminhos a tomar para o mal-são «temos de seguir em frente...», após um profundo abalo psicológico e emocional, não se tornarem um trilho que um dia nos surja como uma opção para minimizar a dor de que nos envergonhamos.
o outro conto que 'mexeu-me' foi o "Casamenteiros". aliás, as razões disso estão presentes nos outros contos do livro, é cunho de Chimamanda Adichie a exposição e denúncia da violência psicológica sobre a Mulher, naturalmente versando a mulher africana. lá, em África, ou a imposta (defensivamente auto-imposta tantas vezes) pela integração migratória em culturas e sociedades tão diferentes da sua original, algo como uma prostituição sociológica que pertence ao dia-a-dia e nos passa diante dos olhos como indiferente e menor, mas que retratado e contado pelos olhos e sentimentos da vítima dói, doem. não estou a fazer capelinhas condescendentes em prol duma qualquer especialmente triste saga da mulher africana na diáspora se comparada com todas as outras - muito além dum espartilho de género, julgo. apenas que ao caso concreto das dores africanas ela trata-as com um chapadão forte, tanto que o livro corre contos e enredos ou pousa-se mas o meditativo enriquece-nos.

ok. venha o Americanah. Chimamanda Ngozi Adichie é uma dos meus autores de culto, e além do superior ou irrelevante valor destas mui doutas classificações certamente continuará «muito cá da casa», carinho que almejo com o novo romance até reforçado.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

lidos

A zona de desconforto, Jonathan Franzen
A ilha de caribou, David Vann
Os alferes, Mário de Carvalho
A coisa à volta do teu pescoço, Chimamanda Ngozi Adichie (em curso)

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

da série "O Amor é..."

este é um dos dois cafés do bairro que eu frequento. aquela mesita é a sobra da esplanada que me fez as delícias na saudosa canícula. pronto, o GPS e os cortinados estão explicados qb.

agora: sorrir ao grafitti. sorrir muito :) _e não, não fui eu! :D

terça-feira, 3 de dezembro de 2013