terça-feira, 18 de outubro de 2011

girassóis, 2011


Afinal Van Gogh não se suicidou, foi vítima duma bala perdida

Tal como nós.
Daltónicos a um mundo de formatos e regras e logaritmos de domínio e contradomínio financeiro pintámos uma tela maravilhosa, cheia das nossas cores, únicas, brilhante de encantar. Pusémo-la em todas as casas, usámo-la em todas as lapelas, bailamos e éramos felizes. Ou a modos que isso: ninguém nos comprava a nossa arte embora as nossas praias, as nossas cidades, aldeias, as nossas galerias se enchessem de turistas encantados e invejosos com as maravilhosas cores do lusitano 'laissez faire'. Mas porfiámos, seguimos: se não nos compravam nada, vendiam-nos tudo.
Depois disseram-nos que nesta nossa Auvers de girassóis eternos nos suicidávamos. A olhar para eles. A pintá-los.
E afinal é falso, nós não nos suicidamos mas fomos vítimas de votos perdidos. Não cá, ressalvo: votos perdidos lá fora, paredes fora desta tela do nosso mundo. Traíram a arte, mataram o artista.
Hão-de morrer no cinzento, no ocre, nas cores más da vossa paleta, merceeiros do dinheiro, cães marchands de países!

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