segunda-feira, 25 de abril de 2011

coincidências?


terminado Wolf Hall (recebe um Bom interessado: além da aprendizagem histórica, lateralmente encontrei um método de redacção que situa o narrador num plano de distanciamento reflexivo plasmado sem a minúcia de impô-lo ao leitor, mas sempre, sempre bem presente) fui cuscar às estantes por uma nova leitura. veio A educação de um vigarista, do canadiano Will Ferguson, apresentado com pompa pela editora (ASA, 2008) como autor do bestseller "Felicidade" (ano de lançamento 2002) que só cá vendeu 40.000 exemplares. não tenho ideia dele.

a nota nasce pelas coincidências, esse lago que constantemente enchemos mais e mais para ajustá-lo à medida de sonhos, desejos, para justificarmos isto ou aquilo, ou apenas porque somos um bocadinho maluquinhos e não acreditamos nelas, dando-nos gozo encher a banheira só para tirarmos a tampa ao ralo e vê-la esvaziar-se num prazer huno de destruição de grafitis, nuvens, e assim do melhor de nós próprios. enfim, como se usa dizer nestas situações, e acelero o passo para a tal coincidência já apropriada nas primeiras páginas.

embora prometa e à fartazana o que do título se intui, vejo e agrada-me que o décor histórico do romance se situa nas alturas da Grande Depressão (USA, óbvio, mas fica a refª), e absorvem mais a atenção as descrições das vidas e das alterações qu'elas sofrem com a implosão do sistema que as pequenas vigarices do personagem principal e seus parceiros, um trio onde um dos vértices é loirita e tem umas belíssimas pernas que estica preguiçosamente no banco de trás do popó, fazendo os dois machitos do da frente suarem fininho enquanto percorrem cidadezinha a cidadezinha o Grande Sul, a fazerem pela vidinha em burlazitas que, ao que já li, têm tanto de engenhosas como de hilariantes. o tal triângulo amoroso está a compor-se, e isso cai sempre bem e entretém entre uma banhada e outra...

uma Grande Depressão à porta e já com pé dentro temos nós. eu que o diga (eu que o diga, e potencio o dito). porque raio veio cair-me às mãos este livro, agora? não se assustem com uma vertente vigara no pensamento que não é ele o que me inquietou: se, quando e como, sei eu como será e acreditem-me como big sonhador: nada menos que uma banhada gorda, tão gordinha que a correr bem deixo o BCE mailo FMI a nadarem no seu próprio veneno e a conhecerem o sabor do deficit... próprio. eu conto, eu conto tudo: presumindo que entre bancos centrais há uma câmara de compensação tal qual a que existe entre os comerciais e o seu banco central, estou a estudar nas nuvens a forma de fazer meu e só meu o movimento dela, compensação inter-bancária, aquando da transferência da primeira tranche da tal "ajuda" hiper-milionária, e dada com maus modos. cá a malta não se prejudica pois todos estes cliques de milhões e biliões têm o seu equivalente a swaps por trás, segurando e ressegurando tudo e mais alguma coisa, e com a vergonha repõem o dinheirinho num instante. eu, até ser agarrado apanho uma barrigada de riso à rica, e no previsível depois que auguro sem acesso ao Facebook terei tempo para escrever a contar tudo isto, e mais alguma coisa que me tenha esquecido. lá dentro ainda farei consultadoria com honorários em espécie: cigarritos e mais alguma coisita que me dê jeito e haja apetite. violado não devo ser, que tou já quase velhote, e quanto a comidas, como sabem, contento-me com qualquer sopita de cebola. como vêm e disse o outro 'até está escrito nas estrelas', embora eu seja mais bolos, digo, nuvens. como o farei ainda não sei, mas ainda vou nas páginas iniciais e como sabemos duma boa ideia vai-se a outra ainda melhor. até que nas estantes há boas reservas: só quanto à saga Alves dos Reis terei uma boa meia dúzia, e mais modernos também há: Jordan Belfort, ou o sempre actualíssimo A golpada, de Robert Wewerka. e mais avulsos: munição académica não falta.

findo este desavergonhado parêntese volto ao romance em mãos, às possíveis coincidências entrevistas, e ao fascínio das descrições das paisagens e do ambiente social, no antes e no depois da crise lhes cair em cima com a violência duma praga bíblica, que desde searas antes luxuriantes a rostos de normalidade tudo arrasou, enrugando as folhas onde Will Ferguson no-lo escreve, enrugando-nos/-me pensamentos paralelos acerca do porquê nós e do que a providência das coisas força a fazer para sobreviver quando é disso e só disso que se trata.

qualquer estante e lombada está armadilhada, queira-se, ou coincidências assim a façam. a espoleta é invisível e está, queira-se, em tudo que se toque ou olhe. o dinamite é interno, nosso, acumulamo-lo silenciosamente da mesma forma que um banqueiro acumula barras de ouro ou um sem abrigo desperdícios das luzes que não tem e não vive. tudo mora cá, e tudo se entrelinha quando se folheia o pó das estrelas, das nossas estantes.

gostei deste bocadinho, e agora com licença que vou ler mais um bocadinho do livro. a paisagem degrada-se e estou ansioso por ler mais.


a capa 'nacional' do que acabei:

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