sábado, 7 de abril de 2007

manual de construção de papagaios fálicos

parei de existir. pairo, um cordão preso a um pé para não me deixar levantar muito e para ser puxado quando (me) calhar. além dos óbvios balões (eu pensei num tipo salsicha, vermelho e com uns cornos e um nariz em linguiça numa ponta - reparem que não disse "com uma pila na ponta") lembrei-me dos papagaios, no gosto que dava fazê-los, arranjar o caniço perfeito, resistente e sem lascas, o papel, a fita para o rabo do lastro onde lá calhava dar largas à imaginação e não era só laçarotes que depois voavam, ondulantes.
o fio. lembro-me sempre do fio. como sabem o meu pai foi padeiro muitos anos, "industrial de panificação" oh yé, e eu pedinchava e às vezes recebia grossos rolos daquele fio em que as sacas de rainha vinham cosidas, bem resistente e uns bons dois metros e tal em cada saca pois ele cosia dobrado. é que desde que o papagaio voasse - e depois é que vinham as 'afinações' ao lastro para o estabilizar, etc, - o truque que 'fazia a diferença' era o tamanho do fio. quem não se recorda de meter a mão em pala, binóculo para olhar um papagaio que se perdia no céu, pequenino e gigante, tão gigante que se perguntava 'de quem é?' e depois vinha a correria do " 'bora lá ver!" e, lá na ponta mestra do fio, numa mistura derretida entre o orgulho e o à rasca, havia um puto (e também uma ou outra vez eu) que segurava a linha e sentia-a como a tarefa mais importante que naquele momento se passava em todo o Mundo, "ele" aos comandos tal como doutras vezes se teleportara para o cockpit dum jacto, nas sombras das noites mais quentes correra escondido ao longo dos muros do prédio, mochila a tiracolo cheia de pilhas-granadas e uma lanterna na mão, um molho de pedras no bolso e entre a camisa e o calção a pistola que fora dos cow-boys quando ele era miúdo, ora, de facto e nas sombras da noite, um temerário guerreiro que zelava pela segurança do prédio, da família e dos amigos e dos vizinhos, perante ou o pesadelo dos 'turras' de que ouve falar ou sobreviventes dos nazis que tenham estado escondidos, e ele vai-os "caçar", infalível e imortal. que durava até soar o odiado "ó Carlitos! ó Carlitos! anda para casa que já está muito escuro, anda te deitar! ó Carlitos!".
papagaios. pairo. quem me dera ser águia e agarrar o cabrão do papel, fugidio como o papagaio quando apanhava ventos acima dos topos dos prédios, das árvores. árvores: o terror deles, assim como os fios dos postes - mas esses era mais para ao pé da estrada: nos terreiros internos do bairro se os havia era só em linha única, e já gozas. o fio enrolava-se num pau, e quanto mais fio era maior era o artefacto e mesmo nessas merdas o tamanho do joystick impressiona, (ou da fama não se livra), mais se inchava o peito e tremia-se por dentro com receio de correr mal, o pior de tudo que era nem levantar voo - mas isso imputava-se sempre ao 1º candidato a "depois deixas segurar um bocado?" que ficava com a missão de se esgadelhar todo a correr com o papagaio levantado no braço, coitado que à conta do desejo de segurar os comandos por "um bocado" servia de motor e desculpa para erros de construção.... o caniço principal, o vertical, teria entre o meio-metro e os setenta centímetros, pois essa coisa de construir super-papagaios é treta, ficam tão pesados que nem dois 'tractores' simultâneos - e em dia de vento!... o conseguem fazer ganhar velocidade e altura para, por si, se elevar. o peso... depois o 'horizontal' terá metade e mais um bocado, o rabo (que 'pesa' e bem... tem de ser comprido q.b., ou seja é coisa que só se v~e quando estiver no ar, tira-se e põe-se, "afina-se". mas nunca é menor que para aí o dobro da altura do papagaio. (além de que tem pinta vê-lo a ondular, cobra aérea que morde o papagaio e enche a paisagem no seu movimento hipnótico) o papel obedece como tudo aos factores peso e resistência, em inversos. o de embrulho, pardo - não confundir com o para o bacalhau, rude e sem mais jeito que para o salgado e bilhetes "fui à loja e não demoro. não desarrumem" - de tipo 'de seda' e onde se faziam desenhos cuja visibilidade era incompatível com a glória do seu suporte, que era voar até "ficar longe de vista", Peter Pan disfarçado antes da massificação Disney e quando ela era o regalo de Super Pateta contra o Mancha Negra, os queridos irmãos Metralhas (adorava o 13 13 !... lol), o cofre do Patinhas e mais a mítica moeda nº 1 - hoje há o Euro Milhões, é (-me! -me!) substituto? - e das patinhas todas gostava da vovó Donalda e da namorada do Peninha, uma pata freak que aparecia pouco mas era uma maravilha!... nunca gostei muito dos ratos, se não entrasse o Bafodeonça às vezes nem as lia. os sobrinhos também eram fixes e o profº Pardal uma maravilha. ele e outro que havia, agora não me lembra o nome. vocês sabem que tudo aquilo que eles inventavam, era absolutamente claro e viável, necessário, e era brilhante eles terem-se lembrado disso, tão óbvia era a sua viabilidade teórica e necessidade social? e o Super Homem existe, o Batman e o Capitão América são mal-encarados mas o Super Homem existe e até se lhe sabia os porquês, como ficara assim e donde viera, os pais, em miúdo, a kriptonite, tudo isso? claro que sabem, o Super Homem existe, tal como os papagaios: é preciso é desenhá-lo - construí-lo.
depois é voar, dar-lhe fio, por vezes puxá-lo e até dar uma corrida para forçá-lo à resistência do ar e ele trepar por aí acima... e 'comandá-lo', quando começa em loopings (mau sinal, rabo muito mal calibrado...) e a ameaçar fazer um mergulho directo a um telhado uma copa, um chão sabe-se lá onde, metros e metros de fio enredados por tudo o que é crosta abaixo do céu que o papagaio recusara. quando calha eleva-se, e não há puto mais feliz em toda a rua, não há impossíveis e o céu fica à mão, paira-se junto com o papagaio, o rabo e os laçarotes e toda a tralha ondulando, esta merda dos papagaios é fálica e ainda por cima na versão pedofálica (não confundir nem baralhar), o que está muito certo pois a pilinha, a existir, não se situa lá em cima na cabeça da salsicha-balão mas na parte de baixo, para os lados do cordão que prende os sonhos à terra e, maior terror, partir-se e perder-se a tesão (coisas 'de gajo', e à matéria digo estou bem, obrigado)

é Páscoa. nada me diz além do trivial. o feriado e a tolerância de ponto de quem anda com as cuecas no ar por causa dum faitdivers transformado em diploma nacional, o farejar para morder a canela se ela estiver descuidada, esta nacional "à espera" de ajuste de contas com o odiado e amado, o charme do autoritário - «haja quem mande!...» e a rebeldia e a revolta por, em contas muito simples, sentir-se que alguém nos anda a chicotear como se esta merda da UE fosse um hipódromo e eu, pacato cavalo que só não quer é ser pileca, fosse obrigado a sempre, sempre, cumprir não sei quantos segundos por volta, senão lá vem o chicote. o voto não foi um bilhete de aposta de tão, tanto, valor. este murmúrio surdo procura megafones, espartilhado que se sente busca até no irritante silvo da panela de pressão uma imagem do silvo que nele ouve, sente. "o diploma" espremido dá isto, todo o mundo já percebeu que há/houve é a cagança dos títulos mas que burocraticamente terão havidos os cuidados devidos e as formalidades académicas cumpridas: não é falso. mas... mas o assunto não morre e há um ouvido nacional a ele ligado, voz de fundo e em baixo volume mas não apagado, se se lhe descobrir um carimbo fora do sítio ou outra maneira de lhe morder as canelas ninguém hesita, e lá vais disto e agora toma pelo que nos tens andado a fazer, cabrão!. é Páscoa, pois é. ontem almocei e jantei carne o que suponho ser pecado menor. para me redimir à noite fui ver um 'musical' religioso (a Webita anda nessa fase de participar no fenómeno místico) e até bati palmas a umas cenas, além das de pai-babado. para completar a absolvição e ela ser mais ampla, à saída do cine-teatro estava a passar a procissão da concorrência e aguentei-a até aos últimos sem recolher ao interior. vendo e sendo visto, involuntariamente incluído na exibição de forças entre Situação e Oposição, maiorias e minorias, concorrências.

dia catorze passa na Culturgest (CGD) uma colecção de 'curtas' sobre e de Guy Debord. quero ver se vou, se meto fio ao papagaio e o molho de pedras no bolso como lastro. gosto do cheiro de Lisboa, perdoe-me quem está fartinha dele. gosto do cheiro da poluição, do buzinar, das multidões. dum snack em cada esquina, das bancas de jornais com milhares de capas, do cheiro a fritos e dos cromos, gosto de Lisboa. a Culturgest é pretexto, e suspeito que o Debord sabe-o, soube-o. catorze, que já não é Páscoa, lá vou, haja o pairar. mai-lo namorar a namorada do Peninha, pitinha e freak, oyé!.... :-)

1 comentário:

Anónimo disse...

Gosto do Peninha, há
nele um kê de moi,
e também admiro imenso a Páskoa pelas 4 manhás que me dá.
Fim da puzia.
Beijo ao escriba, muf'.