sábado, 31 de março de 2012

trocas & baldrocas... psico-sexuais


a biblioteca de Almeirim tem uma excelente iniciativa todos os últimos três dias do mês: trocam-se livros. levamos nossos e trazemos outros tantos deixados por outros. eu esmiúfro-me a descobrir repetidos (já não há) ou potenciais filhos bastardos a abandonar, em prol de novos a serem adoptados. mas já estou naquela fase em que chego a pensar comprar uma daquelas revistas que oferece um livro para poder ter 'mais um' para trocas.

hoje* lá fui. inicialmente fiz uma surtida exploratória e descobri dois que queria de querer, imperdíveis, e outros tantos potenciais. entretanto namorei duas amigas de lá, para nas suas estantes descobrirem ajudas para o meu dilema sacrificial: livros de que já não têm puto de interesse e que podiam-mos 'ceder' para usá-los à troca. na minha descobri duas vítimas, e ao princípio da tarde marchei todo pimpão para as 'aquisições'. então veio o problema: dos que as amigas reuniram para "eu dar" interessam-me todos. não os 'dou': quero-os. lá fiz o arranjo possível e acabei por só trazer dois, os mesmos que na parte da manhã já me animaram o olho. mas...

...mas folheei, e prendi-me nesse folhear a um dos que elas me 'dispensam', "A mulher enigma psico-sexual", sei que já vetusto 'mas', de Pierre Vachet. no folhear ia arranjando cãibras nas pernas, tanto que folheei! não veio, virá na próxima, mas entretanto digo-vos: ai "vocês"! ah mulheres danadas, tanto que se escreve acerca "de vós", chamam-vos enigma e com a razão do desesperado decifrador que quando se julga apto a resolver 'o assunto' verifica, com o espanto renovado a cada passo que dá na literatura e na praxis ron-ron, que afinal de contas nada sabe. nada. umas luzinhas, mas o núcleo do mistério continua indecifrável.

vem para a próxima sessão de trocas. aliás, houve uma altura em que os queixos me caíram tanto com o que li que até cheguei a resmungar «como é que conseguiste sobreviver até hoje sem este livro, Carlos! é por isso, seu burro, que elas fazem de ti gato-sapato, humpf!». crescer custa, mas a boa literatura é nesse processo uma parte fundamental ;-)


*ontem

"Too Big to Fail"




Como pode um investimento tão fiável
garantir este rendimento crescente, numa
diária distribuição de beijos e outras mais-
-valias, ainda por cima livres de impostos?

Embora confiasse na tua competência
para criar valor, confesso que não esperava
tanto quando decidi aplicar nos teus títulos
sensíveis os meus parcos activos emocionais.

O mais estranho, no mundo actual, é ser este
um negócio sem perdedores, aparentemente
imune ao nervosismo das tuas acções
ou às flutuações do meu comércio libidinal.

O meu único receio é que despertemos
a inveja dos deuses, no Olimpo de Bruxelas,
e que o Mercado, o monstruoso titã, decida
baixar para lixo o rating da nossa relação,

deixando-nos sem crédito na praça romanesca
e em default o coração. Mas não sejamos
pessimistas. Aliás, ambos sabemos que Cupido
nos ampara com a sua mão invisível. E mesmo

que entrássemos ambos em depressão, tenho
a certeza de que o Estado português nos daria
todo o apoio, concordando que um amor como
este é simplesmente demasiado grande para falir.

José Mário Silva

speeds da memória


isto é lixado.

a "nicotina" mais sedutora que conheci desde que meti na despensa da memória diminuitivos como lipo, prelo, profa, meta, cristal, conjugações perigosas desse verbo speedado duns 70's acelerados.

contas rápidas: em 74/75/76 (os "tempos áureos") estava entusiasmadíssimo a namorar os meus vintes. e sobrevivi, e hoje sorrio quando os penso. daqui a uns trintas correrei atrás do rabo das enfermeiras com o meu andarilho à velocidade da esperança "ó tempo volta para trás", e, se ela me deixar agarrá-la, entre beliscões e baba de velho contar-lhe-ei desta tara do Facebook. e dos brindowns.

poizé. na altura chibar-me-ei tim-tim por tim-tim mas não se ralem: já ninguém se lembrará. ou ralará. como os speed's, afinal

sorrio... :-)

sexta-feira, 23 de março de 2012

Matiné de carinho


hoje queria ir ver um filme antigo,
tão antigo como nós.
do tempo em que o cinema era-nos especial
e escondíamos as lágrimas que se colavam como feitiço.

e ríamos tanto, tanto, antes e depois do filme
que o seu bilhete era a porta íntima do mundo.

hoje queria estar contigo,
e voltar a ver os nossos filmes um por um.
as lágrimas, o riso, a centelha de te tocar no braço
e acreditar que há momentos como o princípio do mundo.

Fálico


Penetrar-te é contar-te
investida a investida
murmúrio a murmúrio
que estou nu e tremo de frio
quando não sou teu.

Aceitares-me é dizeres-me
que além do viril dito
que te sonda húmidos humores
vestes de ti os meus tremores
dás-me em vulva a razão de ser macho
e ser teu.

Estremeço sempre que te rimo

quinta-feira, 22 de março de 2012



esta saudade de ti não tem dia, Pai. não tem dia...

a minha catequese


nasci em '55 e vivi na Covilhã até '62, os meus seis, sete anos. foi na Covilhã que aprendi as primeiras das primeiras "coisas importantes", lá namorei a "minha Téta" e quis fugir de casa com ela (teríamos uns três ou quatro anitos...), mas primeiro fomos pedir um lanchinho à minha mãe para "a fuga". demos uma volta inteira ao quarteirão, o que era uma aventura tão extraordinária que por si justificava a merenda, e foi lá na aba da serra que me iniciei na catequese.

o que tem isto a ver com os filmes de terror dos anos 50's? bem, a "minha Téta" não tem nada, coitadinha, e ela só aparece na conversa porque se me ponho a pensar na Covilhã lembro-me sempre dela, e deste impulso infantil de fugir de casa... devidamente aprovisionado. já a catequese tem ligação directa, e conto-vos porquê. o que mais me recorda da catequese, aliás, a principal recordação que dela advém, pois os livrinhos dos santinhos com aqueles desenhos muito coloridos e luminosos é claramente uma memória que estaca secundária, são os filmes que nos sábados à tarde nos davam como rebuçado, finda a aula de catequese.

não sei de que mais géneros eram mas fixaram-se-me e cá bailam para sempre os de terror. a preto e branco, naturalmente, o que ainda os tornava mais credíveis. o das aranhas gigantes, então, era um sucesso. mexia com as fobias àqueles animaizinhos patudos e peludos, e fazia-os crescer tal como no écran de lençol esticado eles se agigantavam e pareciam saltar sobre nós. ou os monstros que viviam em lagos, ou os et's que vinham em discos-voadores para nos destruírem com raios laser, ou sei lá o quê muito luminoso e mortífero. nós gritávamos de medo e de excitação. duvido que naquele momento pensássemos nos santinhos para nos salvarem, e duvido também que quiséssemos ser salvos: embora de olhos arregalados e as mãos fincadas onde calhasse nunca desejávamos que a fita 'se enrolasse' e o filme parásse. saíamos de lá com a cara igual ao coração, e ríamos para disfarçar o medo, cheios de bravatas esconjuradoras, mas quando nos separávamos para cada um seguir para a sua casa o caminho era todo feito em pés de lã e a olhar para trás do ombro. acagaçados. nessas noites não me lembro, mas deve ter sido difícil adormecer, tão ricas seriam as sombras. era maravilhoso.

era maravilhoso e derreto-me em recordações assim quando dou com estes filmes, cândidos na sua tentativa de aterrorizar... a estes olhos adultos e de século 21. sim, tive a minha catequese. aprendi os padres-nossos todos e até comprei uns cromos de 'santinhos' para entregar à minha mãe. no global acho que não fui mau aluno e até cheguei a fazer a 1ª comunhão, mas essa já em África e a iniciar o processo de recusa de mais estudos religiosos... de ritual clássico. mas tenho saudade dos filmes. da emoção amedrontadora misturada com prazer. das "quelhas" da Covilhã, as ruas e as escadas empedradas, do largo do pelourinho e da escola Central, das idas à serra, da rua da Formosura número oito (lindo nome!) e do terraço da casa, onde aprendi a andar de triciclo, e de onde mandei para cima dum homem que fazia xixi na esquina da casa um enorme camião em madeira, que era o meu maior brinquedo a seguir ao triciclo. ele ralhou que se fartou mas a minha mãe ainda ralhou mais com ele quando soube o que ele estava a fazer.

era maravilhoso e gostava de reencontrar a Téta, e perguntar-lhe se se lembra. do lanchinho de pão com marmelada e da nossa aventura à volta do quarteirão. se também viu os filmes do sr. prior e compararmos os medos. de nós, nós crianças que fomos e às vezes destapamo-las na saudade que as escondeu, do medo igual (igual) àquele que nos punha as mãos a tapar os olhos mas que não conseguia tapar as frinchas por onde espreitávamos. tenho saudades de mim e quero "a minha Téta", tenho medo das aranhas e as voltas ao quarteirão felizmente continuam a ser um fascínio. resta resolver a catequese interrompida, o lanchinho. depois fujo.


(eu e a minha irmã na Serra da Estrela. provavelmente em 1960)

(a foto da Escola Central foi sacada no ilustradíssimo blogue Covilhã, cidade fábrica, cidade granja. thanks)

terça-feira, 20 de março de 2012

Boris Vian/Camille - Fais-moi mal, Johnny

Il s'est levé à mon approche
Debout, il était bien plus petit
Je me suis dit c'est dans la poche
Ce mignon-là, c'est pour mon lit
Il m'arrivait jusqu'à l'épaule
Mais il était râblé comme tout
Il m'a suivie jusqu'à ma piaule
Et j'ai crié vas-y mon loup

Fais-moi mal, Johnny, Johnny, Johnny
Envole-moi au ciel... zoum!
Fais-moi mal, Johnny, Johnny, Johnny
Moi j'aime l'amour qui fait boum!

Il n'avait plus que ses chaussettes
Des belle jaunes avec des raies bleues
Il m'a regardé d'un oeil bête
Il comprenait rien, le malheureux
Et il m'a dit l'air désolé
Je ne ferais pas de mal à une mouche
Il m'énervait! Je l'ai giflé
Et j'ai grincé d'un air farouche

Fais-moi mal, Johnny, Johnny, Johnny
Je ne suis pas une mouche... zoum!
Fais-moi mal, Johnny, Johnny, Johnny
Moi j'aime l'amour qui fait boum!

Voyant qu'il ne s'excitait guère
Je l'ai insulté sauvagement
J'y ai donné tous les noms de la terre
Et encore d'autres bien moins courants
Ça l'a réveillé aussi sec
Et il m'a dit arrête ton charre
Tu me prends vraiment pour un pauvre mec
Je vais t'en refiler, de la série noire

Tu me fais mal, Johnny, Johnny, Johnny
Pas avec des pieds... zing!
Tu me fais mal, Johnny, Johnny, Johnny
J'aime pas l'amour qui fait bing!

Il a remis sa petite chemise
Son petit complet, ses petits souliers
Il est descendu l'escalier
En me laissant une épaule démise
Pour des voyous de cette espèce
C'est bien la peine de faire des frais
Maintenant, j'ai des bleus plein les fesses
Et plus jamais je ne dirai

Fais-moi mal, Johnny, Johnny, Johnny
Envole-moi au ciel... zoum!
Fais-moi mal, Johnny, Johnny, Johnny
Moi j'aime l'amour qui fait boum

Boris Vian - Je bois

Je bois
Systématiquement
Pour oublier les amis de ma femme
Je bois
Systématiquement
Pour oublier tous mes emmerdements

Je bois
N'importe quel jaja
Pourvu qu'il fasse ses douze degrés cinque
Je bois
La pire des vinasses
C'est dégueulasse, mais ça fait passer l'temps

La vie est-elle tell'ment marrante
La vie est-elle tell'ment vivante
Je pose ces deux questions
La vie vaut-elle d'être vécue
L'amour vaut-il qu'on soit cocu
Je pose ces deux questions
Auxquelles personne ne répond

Et
Je bois
Systématiquement
Pour oublier le prochain jour du terme
Je bois
Systématiquement
Pour oublier que je n'ai plus vingt ans

Je bois
Dès que j'ai des loisirs
Pour être saoul, pour ne plus voir ma gueule
Je bois
Sans y prendre plaisir
Pour pas me dire qu'il faudrait en finir

Je bois
Dès que j'ai des loisirs
Pour être saoul, pour ne plus voir ma gueule
Je bois
Sans y prendre plaisir
Pour pas me dire qu'il faudrait en finir

Boris Vian - Le déserteur

Monsieur le Président
Je vous fais une lettre
Que vous lirez peut-être
Si vous avez le temps
Je viens de recevoir
Mes papiers militaires
Pour partir à la guerre
Avant mercredi soir
Monsieur le Président
Je ne veux pas la faire
Je ne suis pas sur terre
Pour tuer des pauvres gens
C'est pas pour vous fâcher
Il faut que je vous dise
Ma décision est prise
Je m'en vais déserter

Depuis que je suis né
J'ai vu mourir mon père
J'ai vu partir mes frères
Et pleurer mes enfants
Ma mère a tant souffert
Elle est dedans sa tombe
Et se moque des bombes
Et se moque des vers
Quand j'étais prisonnier
On m'a volé ma femme
On m'a volé mon âme
Et tout mon cher passé
Demain de bon matin
Je fermerai ma porte
Au nez des années mortes
J'irai sur les chemins

Je mendierai ma vie
Sur les routes de France
De Bretagne en Provence
Et je dirai aux gens:
Refusez d'obéir
Refusez de la faire
N'allez pas à la guerre
Refusez de partir
S'il faut donner son sang
Allez donner le vôtre
Vous êtes bon apôtre
Monsieur le Président
Si vous me poursuivez
Prévenez vos gendarmes
Que je n'aurai pas d'armes
Et qu'ils pourront tirer

Boris Vian - J'suis snob

J'suis snob... J'suis snob
C'est vraiment l'seul défaut que j'gobe
Ça demande des mois d'turbin
C'est une vie de galérien
Mais lorsque je sors à son bras
Je suis fier du résultat
J'suis snob... Foutrement snob
Tous mes amis le sont
On est snobs et c'est bon

Chemises d'organdi, chaussures de zébu
Cravate d'Italie et méchant complet vermoulu
Un rubis au doigt... de pied, pas çui-là
Les ongles tout noirs et un tres joli p'tit mouchoir
J'vais au cinéma voir des films suédois
Et j'entre au bistro pour boire du whisky à gogo
J'ai pas mal au foie, personne fait plus ça
J'ai un ulcère, c'est moins banal et plus cher

J'suis snob... J'suis snob
J'm'appelle Patrick, mais on dit Bob
Je fais du ch'val tous les matins
Car j'ador' l'odeur du crottin
Je ne fréquente que des baronnes
Aux noms comme des trombones
J'suis snob... Excessivement snob
Et quand j'parle d'amour
C'est tout nu dans la cour

On se réunit avec les amis
Tous les vendredis, pour faire des snobisme-parties
Il y a du coca, on deteste ça
Et du camembert qu'on mange à la petite cuiller
Mon appartement est vraiment charmant
J'me chauffe au diamant, on n'peut rien rêver d'plus fumant
J'avais la télé, mais ça m'ennuyait
Je l'ai r'tournée... d'l'aut' côté c'est passionnant

J'suis snob... J'suis snob
J'suis ravagé par ce microbe
J'ai des accidents en Jaguar
Je passe le mois d'août au plumard
C'est dans les p'tits détails comme ça
Que l'on est snob ou pas
J'suis snob... Encor plus snob que tout à l'heure
Et quand je serai mort
J'veux un suaire de chez Dior!

Mário... Mário "Kurika"...



Amanhecer

Amanhecer aqui é uma incongruência.
Fecha, portanto, os olhos e não digas nada
Enquanto a noite for esta, silenciosa e tensa,
Com vagas luzes de automóveis ao longe, na estrada.
Tu, que te pensas homem e como os deuses falhas,
Ergueste a dimensão nocturna, gesto a gesto,
Enquanto se fechavam paredes de navalhas
Sobre o corpo que habitas e a sombra do resto.
Sombra oblíqua e ténue, móvel, plástica,
Pintada a ocidente dos mares inventados,
Onde a madrugada é uma árvore fantástica,
Mais ou menos perdida entre espelhos quebrados.

Mário Domingos, "O Despertar dos Verbos", Edium Editores, 2012

segunda-feira, 19 de março de 2012

Sabes, Pai

sabes, pai

o cachecol bege nos muros da foz
cobria as árvores com o seu pêlo, ao vento
o boné azul, marinheiro nos cabelos louros
sussurrava pequenas frases às silentes águas
o teu sorriso tão leve, enternecia o rosto
esses óculos, teu cabelo nas tardes de sol

ou o barco encalhado na areia breve
junto ao castelo onde nos passeávamos
eu tu a mãe, duas ou três falas e o meu corpo
que se chegava a vós junto à estrada

nestes muros da foz, abertos ao mar
que voava

Jorge Reis-Sá, in "A Palavra no Cimo das Águas"
Dieu est un fumeur de havanes
Je vois ses nuages gris
Je sais qu'il fume même la nuit
Comme moi ma chérie

Tu n'es qu'un fumeur de gitanes
Je vois tes volutes bleues
Me faire parfois venir les larmes aux yeux
Tu es mon maître après Dieu

Dieu est un fumeur de havanes
C'est lui-même qui m'a dit
Que la fumée envoie au paradis
Je le sais ma chérie

Tu n'es qu'un fumeur de gitanes
Sans elles tu es malheureux
Au clair de ma lune, ouvre les yeux
Pour l'amour de Dieu

Dieu est un fumeur de havanes
Tout près de toi, loin de lui
J'aimerais te garder toute ma vie
Comprends-moi ma chérie

Tu n'es qu'un fumeur de gitanes
Et la dernière je veux
La voir briller au fond de mes yeux
Aime-moi nom de Dieu

Dieu est un fumeur de havanes
Tout près de toi, loin de lui
J'aimerais te garder toute ma vie
Comprends-moi ma chérie

Tu n'es qu'un fumeur de gitanes
Et la dernière je veux
La voir briller au fond de mes yeux
Aime-moi nom de Dieu

um dia destes desapareço

avanço com dificuldade no Correcções. não ando numa fase pessoal em que aceite os prazeres que há no quotidiano, e se me rio com o mosaico humano do minúsculo café onde bico a pantomina de normalidade, outros, outras, passam-me ao alcance da mão sem que a estenda e os agarre.

o livro. é literatura maiúscula, musculada, em cada página uma explosão de ideias que se associam, colagens alternativas duma vida que é vida mas não é livro. é literatura. e eu sou o thriller que correu rápido demais , quando estas páginas e dias deviam ser escritos com o vagar e a minúcia do sabor dos pormenores. a diferença da literatura, a tristeza que não se esconde quando nas páginas encontro as razões de tudo contar. escrever é tudo, tudo, menos o erro ortográfico do medo. escrever-de-escrever é coragem, um strip-tease que não é exibicionismo (esse sim: cobardia) mas partilha silenciosa, toma e agarra, e contada em boa escrita. Jonathan (Franzen) é mais um. e eu leio. neste ritmo leio uma, duas páginas por dia. àquele ritmo uma hora leva-se em vinte páginas a contá-la – e sei lá o que “ele” silencia.

o silêncio. este, que o Facebook ou o blogue denunciam (quem me conhece não me reconhece). os livros dos outros pousados, olhados com carinho. e esta folha que sempre me chama, se estende, se enche, onde falo as palavras que nunca conseguirei dizer. o silêncio é bonito. há páginas e páginas cheias dele e tão bonitas que são. é pena que não se leiam os silêncios daqueles com que nos cruzamos, que haja tantos livros por ler, tanto quotidiano rico de nadas bonitos por contar, escrever.

eu maravilho-me facilmente, sei. por isso pouso o livro a meio da página e encho duas ou três do caderno. e o tanto que nunca chega ao caderno e perde-se minutos depois de construído, imaginado e desenhado, mentalmente redigido e sorrido, a boca num sorriso quando o Manel toca a gaita, e todos protestam «cala-te, Manel!» mas todos gostam. o Manel toca bem. toca bem as que sabe, e que julgo serem três: o sucesso é a do apita o comboio, mas os olhos humedecem-se disfarçadamente quando toca aquela que fala nos anos que já lá vão, e o nosso íntimo abre-se em memórias doces quando a gaita canta dos meninos à volta da fogueira. aquele café é uma tasca, felizmente. rica. disse felizmente e eram mais não sei quantas folhas a explicar-vos porquê, e não é necessário. vocês:. Jonathan era gajo para ficar cliente. ando lá todos os dias e avanço passo-a-passo no livro, que as minhas correcções acho-as tão difíceis que me acobardo em descrevê-las. mas vocês sabem. ou calculam. todos temos correcções adiadas. escrevê-las é parte da pantomina, é a ilusão de realizá-las, uma folha cheia é o palácio dos tristes. chega-se a acreditar que o silêncio não existe, mas está ali o livro a chamar-me e a desmentir-me.

nunca ninguém me ouvirá duas palavras disto (ou assim). dizer que não tenho tempo é uma forma de dizer que tenho medo, e quando me visto então leio e se me dispo escrevo. o que eu gostava era ser poeta. mas se tento desconsigo, se julgo que me encontro escondo-me. um dia destes desapareço.

(com o patrocínio da Biblioteca Municipal Marquesa de Cadaval, que me emprestou o Correcções)

sexta-feira, 16 de março de 2012

Quem somos


Quem somos, senão o que imperfeitamente
sabemos de um passado de vultos
mal recortados na neblina opaca,
imprecisos rostos mentidos nas páginas
antigas de tomos cujas palavras

não são, de certo, as proferidas,
ou reproduzem sequer actos e gestos
cometidos. Ergue-se a lâmina:
metal e terra conhecem o sangue
em fronteiras e destinos pouco

a pouco corrigidos na memória
indecifrável das areias.
A lápide, que nomeia, não descreve
e a história que o historia,
eco vário e distorcido, é já

diversa e a si própria se entretece
na mortalha de conjecturados perfis.
Amanhã seremos outros. Por ora
nada somos senão o imperfeito
limbo da legenda que seremos.


Rui Knopfli, "O corpo de Atena", Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1984


"...e nas imperfeições assumidas nos afastamos, na incompreensão das razões abandonamos o que nunca foi demais, mas sem glória, rancor ou tristeza foi tanto que bastante" - Sir Charles B. Walters (1855-1912)

quarta-feira, 14 de março de 2012




uma 1ª edição da Encyclopaedia Britannica. de 1771.

desafio-vos, tal como me desafio a mim próprio, a encontrarmos as nossas disquetes de há meia dúzia de anos atrás, ou a lista de Favoritos.

I rest my case

Encyclopaedia Britannica


"não gosto" disto. é vanguardismo a mais. em extremo de desgosto, até acharei que há desprezo por gerações (gerações!) de fidelidades. no plural: quem sabe o que é uma boa enciclopédia, mesmo que nunca tenha herdado uma 'Britannica' desejou vir a poder legar uma. não se deixam heranças de passwords, links, ou pen's nem que forradas a cabedal. coisa rasca, ou de filmes de 007.

sim, assumo-me como um conservador. profundamente desconfiado quanto a estas modernices de me quererem tirar tudo da mão: os jornais e as revistas já para lá caminham. ou de lá, melhor dito. "diz-se" que nos tablets lêm-se muito bem livros. e deve dar um jeitaço a quem deverá trazer comichões ter de arranjar meia fila numa estante para guardá-los, se não arrumadinhos (escondidinhos) num off/on. não vou nisso. não sou disso. e a merda, a merda, é que tenho orgulho em como sou, no pó e no peso que as minhas mãos aguentam. avé!


(foto gamada na net. ainda não consegui ter 'a minha')

terça-feira, 13 de março de 2012

terça-feira, dia de Toutatis

(é hoje! toca a pôr os óculos escuros e... contar! ;-)

if I were a rich man faria o gosto ao dedo a umas coisas que os olhos apontam, apontam, e quando lhes grito Calem-se! amocham e ficam tristes. não se faz isso aos olhos impunemente: às vezes queixam-se, e justificam a extravagância dos óculos escuros.

if..., sedentário militante que até irrita, seria ousado para viajar. atrever-me-ia talvez até além das duas "que": os filhos, longe, (dois), e com os tais óculos escuros ir até "à terra", à terrinha sentimental. ajeitar a terra do passado, dar um jeito aos torrões soltos. (ou desorganizá-la definitivamente: aí as viagens passariam a inversas. if...)

...e quem sabe até onde iria? Kiribati afunda-se e as paixões não se substituem mas podem amenizar-se com novos beijinhos: sorrio quando penso que tenho dois grossos Atlas numa estante, ambos com linhas de fronteira maravilhosamente desactualizadas. o mundo da memória é lindo, tão perfeito que nem a visita da actualidade o altera: aí, olho as minhas estantes e tudo volta a ser perfeito :-)

if tanta coisa que nem sei como contá-lo. finda a orgia sentava-me a descansar. a folhear manuais de escolas de culinária, para escolher. a namorar a montra duma 'loja de música' para me apaixonar pela viola mas linda de todas, entrar e perguntar se me poderiam ajudar a conseguir tirar música destas mãos, que quando as olho vejo-lhes rugas duma vida passada ao lado, tanta vez inútil por falta de dedilhado, carência histórica que acarretou em excesso de baladas a auroras desesperadas e a luares amaldiçoados, tudo, tudo, vindos desse passado do nada. if.

dubidu, bidu, bidu... if! :-)



if, um futuro inteiro. if! :-)

sábado, 10 de março de 2012

os meus Kiribatis...


a dura asfixia dum sonhador: Kiribati, o meu refúgio fetiche, o meu nirvana corporizado, o Além cá em baixo com que sonho quando me sonho, está tão ameaçado que os seus habitantes tornaram-se clientes desesperados da Remax do Pacífico e até já ponderam enfiarem-se todos no único T1 que encontram disponível nas adjacências.

e assim vão todos, um a um. que falta? a Morgan falir. ou o Toutatis acabar. ficar sexualmente impotente. arrestarem-me a biblioteca. perder a capacidade de me rir. um a um, gone whit the spring... :-(




«Não conheço nenhuma alternativa melhor que fazer. Há uma espécie de ponto de não retorno em que nos podemos tornar irreversivelmente cépticos. Talvez eu tenha decidido que isso não era para mim. Ou é isto ou mais vale desaparecer»

Alexandra Lucas Coelho (jornalista e escritora) falando duma coisa em concreto. mas ponhamos-lhe mira calibrada às dores e serve em muitas mais coisas em concreto. que nem cimento a desiquilibrar equilíbrios.

para reflectir. em leitura contextualizada: 1) na entrevista que ALC deu à Ípsilon (serve); 2) onde todas as pedras doem mais: nos tropeços da vida


"The Road Not Taken"

Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;

Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same,

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I—
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.


Robert Frost

sexta-feira, 9 de março de 2012

a outra "Rosinha, minha canoa"

como vos contei, esta manhã comprei o Público e, à tarde, abri o Ípsilon, o principal suplemento das sextas-feiras. como sempre pelas últimas páginas: à procura de recessões de livros, ao menos acompanhando pelos olhos dos outros as novidades. adiante.

e vejo que saiu um novo romance da espanholita que mais me mexe, aquela Rosa Montero que me forçou, na única semana em que vivi expatriado, num hotel do Sul de Espanha que só abandonava para comprar jornais, a, nos dois domingos que lá passei a comprar além do ‘Gosto’ “El País” o ‘Gosto Menos’ “El Mundo” pois a menina tinha nele uma crónica dominical.

foi gira essa semana. o hotelzinho era simpático e a comida uma bodega, a cerveja espanhola é o “mijo de gato” que sabemos e o café uma água-tinta inarrável, mas encontrei nele um barmen que gostava de literatura, e em portunhol nos entendemos. do inevitável Saramago saltamos para o menino dos seus olhos, Arturo Pérez-Reverte, que na altura já era apreciado cá em casa. não, não me falem no “A rainha do Sul”, não foi só ‘desse’ que gostei… ;-) foram umas boas tardes, e quase-quase coincidiram com a minha noção dumas férias perfeitas. em falhas graves só me recordo de três itens: bejecas de jeito, café de gente, e menos tostões contados.

foi por ele que soube da existência da série “Capitão Alatriste”, e de que, quando muito mais tarde a ASA revolveu cá editá-la ainda comprei os primeiros volumes, até perceber que quanto ao género adolescente de romances de espadachim estaria igualmente servido – e em vantagem de avivar de memórias pessoais paralelas – com uma releitura do “Os três mosqueteiros” e do “Vinte anos depois”, uns bons e cúmplices quarenta e tal anos depois. porém, não evado que o “O mestre de esgrima” (nada a ver com a série Alatriste) é um must no género, e recomendo-o.

mas a Rosa. Rosa Montero. essa mulher “mexe-me”!

primeiro, pela curiosidade que me guiou a mão na crítica de Rui Lagartinho ao novo romance (“Lágrimas de chuva”, da Porto Editora), pondo-me o dedo a correr literalmente pelas duas colunas e meia à procura da referência esperada (no caso não encontrada), e do que é para mim uma extraordinária imagem de marca da romancista espanhola: a existência na trama, nem que espreitando em duas ou três linhas obscuras no meio do essencial, duma personagem filha do nanismo: um anão. é! não me lembro de romance da dita sem um anão, e li vários.


a segunda razão que me algema de paixão à linda linda Rosa é o fabuloso (não exagero, não) “A louca da casa” (é também da ASA). fora-me recomendado por amiga que sabe ler e pelo menos na altura sabia ler-me, e posto em “Futuros” pois já saíra do mercado das novidades e não estava fácil encontrá-lo quando recebi o lamiré de orelha. mas depois aconteceu: reeditaram-no e encontrei-o. ou melhor: outro em que me reencontrei chapado nas páginas, na altura com mais propriedade que nesta actualidade de crises de cinquentão, pois, então, vivia aquela fase parva em que me acreditava escritor – foi quando o “Xicuembo” deu à costa, e escritor de tanto potencial que estava pronto a extasiar o mundo com os meus escritos: lia-me e relia-me mil e uma vezes, eu era obviamente o meu autor favorito! adiante, please.

mesmo com este rubor e tudo isso recomendo-vos a leitura. não do “Lágrimas de chuva”, que não li e não sei se tem anão, mas do outro: “A louca da casa”. acreditam que o mundo da fantasia vive em nós e somos capazes de escrevê-lo? leiam-no: ela também acredita, e conta-o de forma a não nos sentirmos envergonhados em também acreditá-lo. leiam-no, e sorriam por, afinal de contas, não sermos náufragos isolados nesta loucura de acreditar que o mundo, o mundo todo incluindo aquele que é o mais real de todos pois somos capazes de sonhá-lo e não só de vivê-lo, pode-se arrumá-lo e contá-lo todo com jeitinho e palavrinhas.

viva a Rosa! <3

Brave New World




Demissão

Este mundo não presta, venha outro.
Já por tempo de mais aqui andamos
A fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão: sabemos tudo
De morder os mais fracos, se mandamos,
E de lamber as mãos, se dependentes.


José Saramago, "Os Poemas Possíveis", Ed. Caminho, 2005

sextas


saí à rua, comprei o Público e uma revista de carros, namorei a edição especial da Volta ao Mundo redigida em exclusivo pelo José Luis Peixoto - e os quase 5€ ainda se me hesitam (mas não a esqueço), e abanquei no café a fazer que lia mas a pensar nas sextas, na exclusividade das sextas tão mitológicas que são nos nossos mini ciclos de sobrevivência.

tudo parece igual. VPV continua um pop star à custa da sua cirrose analítica e em proveito dum mundo que só pode ser melhor que ele o pensa (meu Deus! atormento-me com dores alheias ao pensar no pânico dos seus vizinhos, agora que se aproxima a reunião anual de condomínio!), Genève mostrou "mais de 100 novidades" lindas de morrer, mas nem os testes aos Porsches escondem que as nossas revistas se viram e reviram em mostrar a excelência das ofertas abaixo dos 15.000 €, e não me esqueço que nas páginas do JLPeixoto entrevi poemas inéditos e uma foto duma skater vista de ré, calçãozinho justo branco. e, sexta, concluo - olhando à minha volta, na minha volta ao meu mundo - que hoje, hoje, as mulheres continuam tão lindas como o eram ontem (ontem, lembram-se?)

amanhã tenho de tomar decisões. ou a infidelidade ao Expresso e ao Público de sábado - e a gastronomia no Fugas? hã? - à troca com os inéditos e o calçãozinho branco (justo), ou prolongar a minha ilusão de ser um VPV caseiro e renovar o delicioso sábado de resmungos ao mundo, e sem os calções brancos.

a vida dum reformado teso é aprazível mas lixada.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Edith Piaf - L'hymne à l'Amour



L'hymne à l'Amour

Le ciel bleu sur nous peut s'effondrer
Et la terre peut bien s'écrouler
Peu m'importe si tu m'aimes
Je me fous du monde entier
Tant qu'l'amour inond'ra mes matins
Tant que mon corps frémira sous tes mains
Peu m'importent les problèmes
Mon amour puisque tu m'aimes

J'irais jusqu'au bout du monde
Je me ferais teindre en blonde
Si tu me le demandais
J'irais décrocher la lune
J'irais voler la fortune
Si tu me le demandais

Je renierais ma patrie
Je renierais mes amis
Si tu me le demandais
On peut bien rire de moi
Je ferais n'importe quoi
Si tu me le demandais

Si un jour la vie t'arrache à moi
Si tu meurs que tu sois loin de moi
Peu m'importe si tu m'aimes
Car moi je mourrai aussi
Nous aurons pour nous l'éternité
Dans le bleu de toute l'immensité
Dans le ciel plus de problèmes
Mon amour crois-tu qu'on s'aime

Dieu réunit ceux qui s'aiment

....

a canção de amor mais intensa que já senti

divagações em pré-leituras: Jonathan Franzen, Alessandro Baricco e moi, mangusso desolado

terminado o hilariante e geriaticamente mágico "O centenário que fugiu pela janela e desapareceu", de que vos falei ontem e fez-me desejar ser ainda mais velho (!) qu'o algo que já me sinto, esfrego as mãos de rebuliço íntimo pois inicio hoje o "Correcções" (traduzido ainda antes do AO, felizmente), da Dom Quixote e do já longínquo ano de 2001, e que «neste solarengo mês de Março» de 2012 a Biblioteca Municipal Marquesa de Cadaval amavelmente me confiou à leitura.

é de Jonathan Franzen, o mesmo norte-americano que no ano passado me pôs quase em órbita de êxtase (pronto, pronto: eu sou assim!) com o "Liberdade". tremo de ansiedade, tais as memórias que tenho do outro, impaciente em voltar a encontrar-me 'a páginas tantas', tal como sempre sucede quando um romance me adoça as mãos e lava-me peito e cara: Baricco (Alessandro) foi talvez 'a porrada' mais forte com o seu "Seda" - é também da D.Quixote mas não me recordo do ano -mas isso também se deveu a um momento especial que vivia e em que a porrada era das fortes (acontece).

momentos especiais que os há sempre, e a porra é que parece que os livros certos me vêm cair às mãos no momento X para lê-los. o "Liberdade", o tal antecessor a este na minha cronologia de leituras do senhor, mas inverso na sua redacção de autor, foi de tal maneira que não só o insultei por tê-lo terminado tão rapidamente como pus-me a recomendá-lo a torto e a direito. bem... não foi bem assim: às pessoas certas, àquelas que não só me encontrariam escondido nas páginas como, com jeitinho, igualmente lá se veriam. e o futuro. ai o futuro, sempre ele a atazanar o presente, este presente de leituras recheado de autores de dotes premonitórios e cuscos-vampiros do caraças das vidas íntimas dos seus leitores.

hum. não sei se gosto disto. mas que o vou ler, vou! depois talvez conte como é que a coisa correu... ;-)

à nossa metade mais linda :-)

Kony 2012




quando vi que o video tem 29 minutos, pensei: «seca!». a verdade é que não consegui pará-lo e vi-o de ponta a ponta. sem lágrimas mas emocionado. a desejar partilhá-lo, contribuir para mais uns nózinhos na longa corda que há-de prender este filho da puta.

li no jornal que no 1º dia teve dez milhões de visualizações. porreiro. pena é que não tenham sido vinte. cem, um bilião. este cão tem de ser parado, julgado, e responder até ao resto da sua miserável vida por um dos piores crimes de que me posso lembrar: roubar o futuro a crianças, mutilando-as além dos horrores que pratica nos seus corpos.

contribuam, por favor. espalhem este video, que a cara do cão seja pespegada em todos os cantos, todos os murais!

"as putas não beijam": Sapos, putas & Xicuembo

este texto foi escrito por mim a 21 de Abril de 2009 e publicado no mesmo dia nos finados Grupos MSN. no dia seguinte apareceu no Multiply, que então também utilizava. nunca mais me lembrei dele excepto há coisa de um ou dois meses atrás, e não tendo ideia certa de onde o encontraria usei o santo Google que me conduziu exactamente ao Multiply. parece que nunca o editei em nenhum dos meus blogues.

hoje ele calhou em conversa. cereja atrás de cereja, ainda a cesta estava mal começada e vem-me à memória uma coisa chata de que me apercebi há pouquíssimo tempo: o senhor Sapo apagou-me o meu 1º blogue, o "Xicuembo", aquele que maioritariamente gerou o livro homónimo. sacanas. sacanas, porque sou um dos que é raro guardar cópia do que escreve, acreditando que as plataformas que os alojam (no meu caso tinha o referido Xicuembo no Sapo, mas ainda tenho mais 9 ou 10 blogues no Blogger), os "servidores", não vêm ou têm grande maçada em servir de estante de arquivo. arquivo de originais, no meu caso quase tudo sem uma cópia. vá lá que muito do falecido blogue está preservado, sob forma de livro. mas muito, muito, não estava.

as putas não beijam enquanto trabalham. fazem-no quando é "de graça", quando amam o seu príncipe esquecendo os sapos, os sapos dos seus dias. eu hoje sou uma puta retirada. reformada. não beijo nem príncipes nem sapos. não confio em espécies mutantes e volúveis, e estou velho demais para recuperar tanta contabilidade profissional em atraso: o que a net deu que a net leve, que se lixe! humpf. sem beijo!

quarta-feira, 7 de março de 2012

o meu 'best seller' dos 100 anos foi adiado!





estou a ler, encantado, as extraordinárias aventuras de Allan Karlsson, um velhote (de 100 anos!) cuja vida só poderia ter existido num romance. e que romance! Jonas Jonasson escreveu-o em 2009, a Porto Editora lançou-o cá em 2011, e neste Março solarengo descobri-o na Biblioteca Municipal Marquesa de Cadaval, aqui em Hell-meirim.

em dia e meio já devorei 252 páginas. com pausas: já aqui* vim espreitar umas quatro vezes. e, se m'encanto e deliro com a extraordinária aventura da vida do senhor Karlsson, que no dia da festa do seu centésimo aniversário decidiu dar de fróxes do Lar onde pastava, entre outras razões que não o ralavam mas sabia existirem, para poder beber uns bons copos sem ser às escondidas da enfermeira esclavagista-geriátrica, a coisa toldou-se-me e está a dar para o torto a meio da pág. 253. lá, escarrapachada, a frase assassina deste livro maravilhoso: «Quando se está numa idade madura, sabe-se melhor o que nos convém». mau...

maduro sou eu, que daqui a um mês faço 57. mas estou (estava...) cheio de esperanças de em vez dum 'qualquer' Jonas Jonasson escrever um "O centenário que fugiu pela janela e desapareceu", moi, o je e lá para os meus 100's, ter finalmente encontrado o fio e a arte para desbobinar mais de quatro páginas seguidas e escrever o meu próprio best seller, algo como "o centenário que fugiu do Facebook e 43 anos depois ainda não regressou". algo assim. aproveitava e tratava de pôr as paixões em dia, contando que entretanto tivesse pervertido as estatísticas da mortalidade por género quanto a enfartes do miocárdio, e já todas tivessem lerpado. coitadinhas. mas nisto de literatura, enfim... subsistiriam naquelas páginas imortalmente belas, bem cheirosas, seduções duma vida alterizadas em formol de estante.

sim, teria umas coisinhas a contar nesses capítulos. e tenho rascunhos, preciosos de lindos, guardados no meu bolso que esconde o gordinho. mas vem o bom do Jonasson e estraga-me o barato: nesta idade, madura, diz ele, eu já deveria saber o que me convém. o que me convém? homessa! que coisa... a merda é que não sei, não tenho puto de ideia de como sabê-lo, e tenho uma forte desconfiança em como nunca irei descobri-lo. pior: nesta 'idade madura' já deu para ver que tenho uma tendência do carilho para acumular dúvidas em cima de dúvidas, em vez de esclarecê-las.

o resultado... editorial? aos 55 'arquivei' um 2º livro de memórias ("Esta cidade"), aos 56 um de poesia ("Tratado de paixões da alma"), e aos 57 vejo já comprometido o comemorativo do meu centésimo aniversário, por 'não saber o que me convém'... ora a porra! :-(


* Facebook e blogues

sábado, 3 de março de 2012

alfaiate casual


quero contar-vos um segredo íntimo
peço-vos! não o contem a mais ninguém.
alguém que lhe pegue sem cuidados e quebra-se
e virá o frio e o seu riso profundo.

não me visto de escuro e ostento lutos (eu não escrevo ao chorar):
a minha tristeza veste-se bem e usa um cachecol sorridente
agasalha-se, dá-me a sombra do nada e eu empresto-lhe o silêncio:
talvez alguma coisa se note a quem bem olhar.

nele, a vácua cacofonia do meu oposto - este,
est'outro alguém - mas não contem que um sem o outro desiste,
não apontem o erro, mintam e mintam-me
e de tudo isto riam-se
e nunca, nunca, nunca o contem a mais alguém.

tenho frio

sexta-feira, 2 de março de 2012

"bye bye hapiness"




«Detesto dizê-lo, mas não faria as coisas de forma muito diferente daquilo que está a ser feito em Portugal».

di-lo Paul Krugman, após uns repastos e 3-três-3 doutoramentos indígenas. não precisa nem duns nem dos outros: é um Nobel de Economia e uma voz ouvida e respeitada. mas disse-o, claramente para 'nós' ouvi-lo, já que tanto foi citado nos últimos meses.

dito isto, e perante tanto esforço e despesa pela parte governamental deste filme, quero dizer o seguinte: daqui a um ano e corra isto mal, e Pedro Passos Coelho o melhor que tem a fazer para cuidar da rica vidinha é viajar incógnito para umas ilhas quanto mais longe melhor, abrir um bar em zona onde não haja emigrantes lusos e, calmamente, meditativamente, adquirir uma merecida cirrose a pensar em qual a sua quota-parte no que correu mal: média, grande, ou gigante. em quem o trafulhou e em porque é que nos trafulhou. não leve o Gaspar nem nenhum dos da comandita. o Gaspar volta para o anonimato da mímica financeira do BdP, e os outros que se raspem. Miguel Relvas à cabeça pois de repente todos nos lembramos de Miguel de Vasconcelos e temos umas ideiazinhas.

a máquina da propaganda é poderosa e o povo é sereno, mas ninguém pense que andamos a dormir. é só Xanax, mas não tarda acordamos e pode ser um sarrabulho dos antigos.


BAIRRO LIVRE

Meti o bivaque na gaiola
e saí com um pássaro na cabeça
Então não se faz a continência
perguntou o comandante
Não
não se faz a continência
respondeu o pássaro
Ah bom
desculpe julgava que se fazia a continência
disse o comandante
Ora essa toda a gente se pode enganar
disse o pássaro.

Jacques Prévert

(tradução de Eugénio de Andrade)

quinta-feira, 1 de março de 2012

safem-se!... ;-)


a necessidade aguça o engenho. todos o sabemos: quem não teve já de inventar soluções, perante problemas? e resolvem-se, ó se se resolvem...

espero muito sinceramente que daqui a um ano os tarragoneses andem todos a rir-se, com os bons ares de sucesso desta sua iniciativa empresarial. arrojada, é ela!

;-)


na imagem, um lindo porta-moedas feito com fibras da cannabis sativa L - ó! como é lindo escrever este nome, como se me enrola no íntimo um sorriso bonito... :-)

AO: há luz! pouca, mas há...


boa tarde.

parece que finalmente vai chover embora só um bocadinho, parece que o frio amainou e isso é óptimo, e parece que os casmurros começam a perceber que a estupidez tem limites - e consequências.

talvez (talvez) 2012 não seja um ano tão mau como se temia, e, incrivelmente, com isso, alguns olhavam para o lado, assobiando, postura de quem sonha atravessar a vida nas tintas para tudo além do seu mundinho, fofinho, pequenininho.

não basta a p. da austeridade a moer-nos e ainda tínhamos de levar em cima com a asneira do século, e com chancela de legal!

"drive in": um resmungo actual


sim, a modelo é gira ("boa comó milho", falando bem e depressa), até o hamburguer parece apetitoso e o carro é um estalo que nem sei. mas o que me ficou e de repente doeu foi a necessidade da notícia explicar aos leitores o que é um "drive in".

não, não conheci muitos. na verdade só um, o da Matola em Moçambique, e que não durou muito tempo. e só lá fui uma ou duas vezes. nem nunca namorei num "drive in", lamento confessá-lo. fumei umas jardas enquanto assistia ao filme, isso sim. e terei bebido uma cervejola ou duas, para fazer e recordar o filme completo de "ter ido a um drive in". mas mesmo assim com tão pouco e que se me assemelhou a tanto...

tal como nunca fui a Londres, Viena ou Florença e imagino-as maravilhosas. nunca conduzi mais que chassos mas babo-me ao pensar em Ferraris, não beijei todas as mulheres que amei mas não me arrependo dum segundo das ilusões ou duma lágrima apaixonada.

não temos de conhecer profundamente ou possuir tudo que nos enformou ou seduziu. mas temos de conhecê-los. é um ADN cultural mais que só geracional: civilizacional. não saber o que é um "drive in" equivale-me em ignorância a olhar para uma máquina de escrever e perguntar onde é que se põe o monitor. desconhecer que os correios aceitam correspondência onde o envelope não tem chancela comercial, e o endereço está escrito à mão. ou quem foi a BB. ou quem foi Wahrol.

que os "drive in's" existiram e foram muito mais que uma sala de cinema ao ar livre, onde se entrava com a carripana. ou pelo menos só isso. chateia-me o assumir-se que a ignorância cultural e histórica é a normalidade. dá-lo como facto, "e paciência, é assim...". a velha mania de se fazer a média sempre um furo abaixo de nós, espelho desfocadinho. e o paternalismo benevolente e presunçoso, pois.

tudo merda