quinta-feira, 1 de março de 2012

"drive in": um resmungo actual


sim, a modelo é gira ("boa comó milho", falando bem e depressa), até o hamburguer parece apetitoso e o carro é um estalo que nem sei. mas o que me ficou e de repente doeu foi a necessidade da notícia explicar aos leitores o que é um "drive in".

não, não conheci muitos. na verdade só um, o da Matola em Moçambique, e que não durou muito tempo. e só lá fui uma ou duas vezes. nem nunca namorei num "drive in", lamento confessá-lo. fumei umas jardas enquanto assistia ao filme, isso sim. e terei bebido uma cervejola ou duas, para fazer e recordar o filme completo de "ter ido a um drive in". mas mesmo assim com tão pouco e que se me assemelhou a tanto...

tal como nunca fui a Londres, Viena ou Florença e imagino-as maravilhosas. nunca conduzi mais que chassos mas babo-me ao pensar em Ferraris, não beijei todas as mulheres que amei mas não me arrependo dum segundo das ilusões ou duma lágrima apaixonada.

não temos de conhecer profundamente ou possuir tudo que nos enformou ou seduziu. mas temos de conhecê-los. é um ADN cultural mais que só geracional: civilizacional. não saber o que é um "drive in" equivale-me em ignorância a olhar para uma máquina de escrever e perguntar onde é que se põe o monitor. desconhecer que os correios aceitam correspondência onde o envelope não tem chancela comercial, e o endereço está escrito à mão. ou quem foi a BB. ou quem foi Wahrol.

que os "drive in's" existiram e foram muito mais que uma sala de cinema ao ar livre, onde se entrava com a carripana. ou pelo menos só isso. chateia-me o assumir-se que a ignorância cultural e histórica é a normalidade. dá-lo como facto, "e paciência, é assim...". a velha mania de se fazer a média sempre um furo abaixo de nós, espelho desfocadinho. e o paternalismo benevolente e presunçoso, pois.

tudo merda

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