terça-feira, 20 de março de 2012

Mário... Mário "Kurika"...



Amanhecer

Amanhecer aqui é uma incongruência.
Fecha, portanto, os olhos e não digas nada
Enquanto a noite for esta, silenciosa e tensa,
Com vagas luzes de automóveis ao longe, na estrada.
Tu, que te pensas homem e como os deuses falhas,
Ergueste a dimensão nocturna, gesto a gesto,
Enquanto se fechavam paredes de navalhas
Sobre o corpo que habitas e a sombra do resto.
Sombra oblíqua e ténue, móvel, plástica,
Pintada a ocidente dos mares inventados,
Onde a madrugada é uma árvore fantástica,
Mais ou menos perdida entre espelhos quebrados.

Mário Domingos, "O Despertar dos Verbos", Edium Editores, 2012

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