Nas livrarias também se ouve música. E da boa.
quinta-feira, 30 de julho de 2009
"Não compreendo as mulheres"
Nos comentários a este belo texto "Olga" diz, e "Bagaço Amarelo", o Autor do blogue Não compreendo as mulheres responde:
Olga - Quando se faz o zoom para focar só uma determinada parte da questão corre-se o risco de perder a noção das coisas.
Há momentos em que é mesmo necessária a distância para se alargar os horizontes e as ideias.
Saber amar alguém também implica saber sair no momento certo...
Bagaço Amarelo - olga, sim, saber amar alguém implica quase tudo no que diz respeito ao bem estar do outro, e esse é normalmente um dos problemas... :)
As visitas a este blogue são... terapêuticas? responda quem quiser. Eu vou lá, e muito!
(a imagem "casal de costas voltadas" foi gamada aqui. que se tenham entendido, é o meu desejo... ou que tenha sido só "filme para a fotografia"...)
Olga - Quando se faz o zoom para focar só uma determinada parte da questão corre-se o risco de perder a noção das coisas.
Há momentos em que é mesmo necessária a distância para se alargar os horizontes e as ideias.
Saber amar alguém também implica saber sair no momento certo...
Bagaço Amarelo - olga, sim, saber amar alguém implica quase tudo no que diz respeito ao bem estar do outro, e esse é normalmente um dos problemas... :)
As visitas a este blogue são... terapêuticas? responda quem quiser. Eu vou lá, e muito!
(a imagem "casal de costas voltadas" foi gamada aqui. que se tenham entendido, é o meu desejo... ou que tenha sido só "filme para a fotografia"...)
palavras complicadas
Aprendo num David Lodge* que segundo um esquema clássico de classificação linguística ("Austin")
"(...) existem três tipos de fala possíveis patentes em qualquer enunciado, oral ou escrito: o locutório (que é dizer aquilo que dizemos, o significado proposicional), o ilocutório (que é o efeito que o enunciado se destina a produzir nas outras pessoas) e o perlocutório (que é o efeito que realmente produz)",
entre elas uma catrefa de subcategorias e etcs mas o essencial são aquelas.
Como se interroga o académico personagem, eu também acho que a zona turva está na conjugação do ilocutório e do perlocutório, entre o proposicional e o efeito. É que locutórios bem intencionados somos todos e eu sinto fortemente o problema de entendimento de mim, que o ilocutório tem (natural?) tendência a céptico, e o perlocutório usa por ferramenta decifradora auxiliar classificações práticas e não as estritamente linguísticas, com dano letal ao locutório original.
A linguística aplicada ao gordinho é uma porra, é o que vos digo!
* "A vida em surdina", David Lodge, Edições ASA, 2009
* "A vida em surdina", David Lodge, Edições ASA, 2009
(microfone gamado aqui.)
domingo, 26 de julho de 2009
O “bitcho” – crónica psico-gastronómica
Nem aqui nem em cantinhos secretos tenho escrito coisas que valha a pena contar. Mas o João vai-se embora na segunda-feira e ontem ao final da tarde bateu cá à porta para umas cenas que incluíam jantar com cartão VISA, coisa sempre porreira mais a mais se a carta com a conta terá código postal de Londres e não de Hell-meirim. Curioso este “nada”, que o jantar se espremido (total 30 €, 3 pessoas, ora digam lá se foi caro!) até terá dado "matéria" para um fabuloso post, mas o vinho falou mais alto e eram nem onze e já roncava e, quando acordei há bocado e fui ao wc vestir o roupão, seriam duas e tal da matina, é que vim olhar para mim e para o teclado. Talvez nem saia hoje - o post - pois ainda se orquestra na sala e não quero nem perturbar nem ser perturbado quando escrevo, até que o Carreras canta amanhã em Santarém. Aliás, só essa ideia já me diz que deixe o post a maturar na vinha-d’alhos que ele não se perderá, o Ully, o Ulrich que é a sua personagem principal não o perde pela demora nem foge, que há décadas que vive nos arredores de Lagos gozando a vida que eu – “tu”? todos os que? - gostaríamos de viver. Talvez abuse um pouco ultimamente pois, contou-me quem viu e disso soube ao jantar, este jantar de petiscos que merecia crónica a três páginas do José Quitério, bem, aquando da última visita que teve ao Ully andava o bom do alemão há três dias a tentar matar o "bitcho" e simultaneamente a tentar recuperar o corpo onde ele se alojara pois precisava de telefonar: ele, "bitcho" metera-se no telemóvel e mal disso dera conta, mais o amigo da trip, pisaram-no, esmagaram-no, mesmo assim o "bitcho" não fugira pelo que o mandaram para o canto mais fundo da piscina, mas depois e como a trip, que era de cena elefantina como já já conto, já durava há dias e queriam pedir reforços para esconjurar a cena - haveria de durar até à semana, veja-se a potência da mistela elefantina - o dos dois mais afoito e que não percebi nem o vinho contou qual fora lá mergulhou e recuperou a carcaça com o "bitcho" dentro, e quando o Carapinha chegou de visita algarvia o destroço repousava nas escadas esticadinho ao Sol, como se aqueles restos tecnológicos nitidamente esmagados e imprestáveis para mais que hospedeiro dum "bitcho" viessem algum dia, por mais secos ou aspirados que fossem, a dar um mínimo bip da vida para que foram criados: falar ou ouvir. É que "o bitcho" alojara-se lá e tivesse sido à tacão quarenta e quatro, à pedrada ou martelada, o telemóvel fora estripado e esmagado, afogado, mas... o "bitcho" ainda lá estava. Que cena, raio do coiso!
Como aconteceu tudo isto? É preciso primeiro dizer que com as fatias de pão caseiro vieram azeitonas cordovil retalhadas e temperadas em ervas e massa de alho, um pratinho de salada de polvo bem vinagrada e sem o excesso que tanta vez o afoga, mais o pimento e a cebola em pequenos cubos, casando com os pedacinhos de pickles e tornando o polvo... polvo de se evaporar num ai mailo molho onde regiamente se transportara. A partir daí a sucessão opípara teve ordem de chegada que não recordo mas que receberam uma a uma exclamações de satisfação que quase já passariam ora por grunhidos salivados ora por poemas à donzela que nos servia, conforme o primeiro jarro de tinto da casa se esvaziou e veio o segundo, opaco, denso, meloso e guloso, em certo nada desmerecendo ou envergonhando-se perante as três garrafas de aguardente de medronho e as calculadas cento e quarenta de minis que ao tal terceiro dia o Carapinha encontrou na casa do Ully, eles na procura da esconjura da mistela que dera trip que ainda ia a meio pois, já contei, durou uma semana das clássicas, e elefantina como disse e sem mentir pois tudo começou - contaram-lhe, no líquido que coube numa tampinha das garrafas pequenas de água, coube na tampinha repito, e fora bebida a dois.
O quê? O cocktail teve por base anestésico para elefantes (juro! e o Carapinha não é aldrabão!) cortado com dose igual de anfetaminas para não adormecer nem o Ully nem o companheiro mas que despertou "o bitcho" que, também já se sabe, se alojara no telemóvel e portanto em algum dos dias primeiros da trip fora esmagado e depois tentado recuperar - o telemóvel - porque nem esmagado nem afogado, nem bebido como contado, o raio do "bitcho" se ia embora e era preciso telefonar a alguém a contar da bad cena e assim quando o Carapinha chegou o bitcho e a sua carcaça tecnológica dormiam ao sol algarvio esperando o milagre da ressurreição e a seguir o exorcismo que o afastasse, raio do "bitcho".
Afinal ainda durou mais entre três a quatro dias para fazer a tal semana, e trip assim eu não me lembra de conhecer nem que de só contada, aguçasse-me a vida e entre as petingas de escabeche e a farinheira frita em aguardente e a morcela de arroz frita de igual modo, mais os carapaus alimados, o torricado, esse pão de deuses de queixo pingado, as migas e o arroz de feijocas que completavam a robusta guarda de honra ao jarro que descia tanto de nível conforme o meu subia ao ouvir e a dizer eu quero, eu quero! eu quero conhecer o Ully, eu quero que afinal há quem na minha idade – ele tem 56, porra! - ainda tema "bitchos" e avie medronhos à beira de piscinas nas redondezas de mares e areias das tais, eu quero e tanto quis que, às tantas, vim à porta fumar dois cigarros como o MST acocorava-se à porta da cabana a ver a noite do deserto e a Cláudia adormecia no seu ombro e assim um dia morreu, mal acendi o primeiro vi que a lua estava em quarto minguante, e não mais despeguei os olhos dela até agora que acordei e vesti o roupão e vim responder à Lua que a noite de ontem foi diferente, afinal nem me apercebi dos passarinhos a acordar e chilrearem a contá-lo que o branco do dia já existia, embora eu e o puto que é tanto homem como eu, ou mais, que interessa isso, um dia um será mais, outro será o outro e nada conta além duma noite que durou até terminar em conversa que foi meia, se há meias quando se conversa assim, que acho que estas conversas nunca têm um fim e são como as dunas no deserto, intermináveis porque precisas para que a paisagem tenha a brutal beleza da natureza e da naturalidade. o "bitcho" lá não sobrevivia e hei-de arranjar maneira de o Carapinha contar isso ao Ully, mas que não seja assim que o leve de cá que quero saber mais dele e conhecê-lo, que garante-me o Carapinha o Ully adoraria conhecer-me e com bitchos ou sem bitchos tem a melhor plantação da zona e a única coisa que o preocupa são os 18.000 euros que perdeu na bolsa nesta coisa que abalou o mundo, terá sido por isso que tomou um tranquilizante elefantino embora em tamanho de rolhinha azul, mas, esperto o Ully! misturou-o com anfetamina pura antes que lhe desse para ressonar e o “bitcho” não o acordasse.
Coitado, ele que já é uma vítima antiga das inclemências peninsulares desta terra linda à beira de Lagos plantada que o abrigou pois, antes e primeiro os javalis, depois aquele incêndio monstro que deitou fogo ao País e incluiu na fogueira a floresta que rodeia a casa do Ully na serra algarvia, lá para os seus lados, já agora anotem e se por lá passarem ou fujam ou abanquem – acho que dá para as duas coisas! -, que os danados dos bichos dava-lhes o cheiro das bolotas do melhor pólen de hax que se arranjava e ele escondia escavado e guardado em sacos de plástico em sítios que só ele sabia, mas que os javalis descobriam e muita bolota lhe comeram, "bitchos", outros bichos e até investiam quando ele ia na busca de mais uma e descobria que o "bitcho" porcino dera com a toca e curtia o pólen de olho vermelho, dentes alçados e arreganhados, e a bolota é minha ai de quem ma tire. Depois foi tragédia ainda maior, que tudo e tudo e tudo ardeu, salvou-se-lhe a casa que não é dele mas da senhoria que até é sócia na plantação das arvorezinhas e há dias foi lá e cortou-as todas pela surra pois zangaram-se ou pelo medronho ou pelo bitcho ou sei lá porquê pois essa parte o Carapinha também não sabe e não contou, e estou a esquecer-me de repetir que as migas e a farinheira estavam divinais, mas veio o fogo e todos os cantinhos onde ele escondia as bolotas dos javalis e dos javalis fardados tudo ardeu, disso não veio nos jornais mas lembro-me de então o Carapinha me ter contado e ter dito que o Ully estava inconsolável com a tragédia.
Contara-lho quando o visitara na prisão de Évora, que essas coisa acontecem e qualquer merda judicial que andava pendente há que rores e nem agora nem então interessa que as vidas são o que são e bicquáite que esta porra é mesmo assim, bem viera um papel da Alemanha até ao Algarve, All ainda não, e o Ully vivia com os ciganos na prisão de Évora, onde o Carapinha que é gajo amigo do seu amigo o visitava todas as semanas durante os meses que demorou até a merda, fosse o que fosse, bitchos, se resolvesse, que havia que dar caminho às mobílias e ao carro, um Opel com preparação Steinmitz que era uma bomba e, contou o Carapinha, fodera-se há poucos dias numa curva algarvia mas disso não fora o bitcho a ter culpa, as bolotas também não, aquelas era uma pena mas no incêndio desapareceram e isso até o Ully lamentava tanto como os javalis seus confrades de rabo chamuscado. Foi quando os sofás do Ully vieram para a casa de Almeirim e o Carapinha aproveitou a súbita falta de espaço e vendeu-me por cinco contos os do pai, e são os que estão lá em baixo na garagem e dão um jeito do caraças, isto é mesmo assim e os pais entendem que a vida não pára, e se não entendem tendo um filho como o Carapinha vão-no entendendo que é o que lhes resta além dum testamento sacana – cruzes credo!
A lua estava mesmo em quarto minguante, e ainda não fui espreitar à janela que tenho de escrever isto tudo e ainda não tive tempo mas reparem vocês se lerem dos bitchos lá pelas cinco da matina, e se calhar, este sem calhar é porque nunca se escreve "de certeza" sendo luas ou queijos - sim, a final vieram queijos e até bolo de bolacha, mas tive de enfiar um café abatanado mas não era chávena só grande era com dose Delta dupla, queria dizer que se calhar isto das luas acontece quando se repara estarem em quarto minguante, raio de nome, raio de coisa, bitchos, bitchos é o que é. Até já: os passarinhos acordaram e o céu está no mais branco do dia, o meu filho chegou da night e dorme no sofá ao som blá-blá do canal Benfica, vou à cozinha fazer um café e pisgar-me para o jardim que a esta hora é só meu, da Tufas e dos pássaros.
O Carapinha? sei lá: eu quando fui para a cama ainda por cá andava mas quando acordei já não dei por ele. Deve andar a voar com os pássaros, aposto a bolota que não tenho. Gosto mesmo dele. Vai além da amizade pois olho-o, ouço-o, e tenho a prova real de que houve um tempo meu que não sonhei e aconteceu tudo assim tim-tim por tim-tim. Tal como ao Ully. Depois conto mais.
Como aconteceu tudo isto? É preciso primeiro dizer que com as fatias de pão caseiro vieram azeitonas cordovil retalhadas e temperadas em ervas e massa de alho, um pratinho de salada de polvo bem vinagrada e sem o excesso que tanta vez o afoga, mais o pimento e a cebola em pequenos cubos, casando com os pedacinhos de pickles e tornando o polvo... polvo de se evaporar num ai mailo molho onde regiamente se transportara. A partir daí a sucessão opípara teve ordem de chegada que não recordo mas que receberam uma a uma exclamações de satisfação que quase já passariam ora por grunhidos salivados ora por poemas à donzela que nos servia, conforme o primeiro jarro de tinto da casa se esvaziou e veio o segundo, opaco, denso, meloso e guloso, em certo nada desmerecendo ou envergonhando-se perante as três garrafas de aguardente de medronho e as calculadas cento e quarenta de minis que ao tal terceiro dia o Carapinha encontrou na casa do Ully, eles na procura da esconjura da mistela que dera trip que ainda ia a meio pois, já contei, durou uma semana das clássicas, e elefantina como disse e sem mentir pois tudo começou - contaram-lhe, no líquido que coube numa tampinha das garrafas pequenas de água, coube na tampinha repito, e fora bebida a dois.
O quê? O cocktail teve por base anestésico para elefantes (juro! e o Carapinha não é aldrabão!) cortado com dose igual de anfetaminas para não adormecer nem o Ully nem o companheiro mas que despertou "o bitcho" que, também já se sabe, se alojara no telemóvel e portanto em algum dos dias primeiros da trip fora esmagado e depois tentado recuperar - o telemóvel - porque nem esmagado nem afogado, nem bebido como contado, o raio do "bitcho" se ia embora e era preciso telefonar a alguém a contar da bad cena e assim quando o Carapinha chegou o bitcho e a sua carcaça tecnológica dormiam ao sol algarvio esperando o milagre da ressurreição e a seguir o exorcismo que o afastasse, raio do "bitcho".
Afinal ainda durou mais entre três a quatro dias para fazer a tal semana, e trip assim eu não me lembra de conhecer nem que de só contada, aguçasse-me a vida e entre as petingas de escabeche e a farinheira frita em aguardente e a morcela de arroz frita de igual modo, mais os carapaus alimados, o torricado, esse pão de deuses de queixo pingado, as migas e o arroz de feijocas que completavam a robusta guarda de honra ao jarro que descia tanto de nível conforme o meu subia ao ouvir e a dizer eu quero, eu quero! eu quero conhecer o Ully, eu quero que afinal há quem na minha idade – ele tem 56, porra! - ainda tema "bitchos" e avie medronhos à beira de piscinas nas redondezas de mares e areias das tais, eu quero e tanto quis que, às tantas, vim à porta fumar dois cigarros como o MST acocorava-se à porta da cabana a ver a noite do deserto e a Cláudia adormecia no seu ombro e assim um dia morreu, mal acendi o primeiro vi que a lua estava em quarto minguante, e não mais despeguei os olhos dela até agora que acordei e vesti o roupão e vim responder à Lua que a noite de ontem foi diferente, afinal nem me apercebi dos passarinhos a acordar e chilrearem a contá-lo que o branco do dia já existia, embora eu e o puto que é tanto homem como eu, ou mais, que interessa isso, um dia um será mais, outro será o outro e nada conta além duma noite que durou até terminar em conversa que foi meia, se há meias quando se conversa assim, que acho que estas conversas nunca têm um fim e são como as dunas no deserto, intermináveis porque precisas para que a paisagem tenha a brutal beleza da natureza e da naturalidade. o "bitcho" lá não sobrevivia e hei-de arranjar maneira de o Carapinha contar isso ao Ully, mas que não seja assim que o leve de cá que quero saber mais dele e conhecê-lo, que garante-me o Carapinha o Ully adoraria conhecer-me e com bitchos ou sem bitchos tem a melhor plantação da zona e a única coisa que o preocupa são os 18.000 euros que perdeu na bolsa nesta coisa que abalou o mundo, terá sido por isso que tomou um tranquilizante elefantino embora em tamanho de rolhinha azul, mas, esperto o Ully! misturou-o com anfetamina pura antes que lhe desse para ressonar e o “bitcho” não o acordasse.
Coitado, ele que já é uma vítima antiga das inclemências peninsulares desta terra linda à beira de Lagos plantada que o abrigou pois, antes e primeiro os javalis, depois aquele incêndio monstro que deitou fogo ao País e incluiu na fogueira a floresta que rodeia a casa do Ully na serra algarvia, lá para os seus lados, já agora anotem e se por lá passarem ou fujam ou abanquem – acho que dá para as duas coisas! -, que os danados dos bichos dava-lhes o cheiro das bolotas do melhor pólen de hax que se arranjava e ele escondia escavado e guardado em sacos de plástico em sítios que só ele sabia, mas que os javalis descobriam e muita bolota lhe comeram, "bitchos", outros bichos e até investiam quando ele ia na busca de mais uma e descobria que o "bitcho" porcino dera com a toca e curtia o pólen de olho vermelho, dentes alçados e arreganhados, e a bolota é minha ai de quem ma tire. Depois foi tragédia ainda maior, que tudo e tudo e tudo ardeu, salvou-se-lhe a casa que não é dele mas da senhoria que até é sócia na plantação das arvorezinhas e há dias foi lá e cortou-as todas pela surra pois zangaram-se ou pelo medronho ou pelo bitcho ou sei lá porquê pois essa parte o Carapinha também não sabe e não contou, e estou a esquecer-me de repetir que as migas e a farinheira estavam divinais, mas veio o fogo e todos os cantinhos onde ele escondia as bolotas dos javalis e dos javalis fardados tudo ardeu, disso não veio nos jornais mas lembro-me de então o Carapinha me ter contado e ter dito que o Ully estava inconsolável com a tragédia.
Contara-lho quando o visitara na prisão de Évora, que essas coisa acontecem e qualquer merda judicial que andava pendente há que rores e nem agora nem então interessa que as vidas são o que são e bicquáite que esta porra é mesmo assim, bem viera um papel da Alemanha até ao Algarve, All ainda não, e o Ully vivia com os ciganos na prisão de Évora, onde o Carapinha que é gajo amigo do seu amigo o visitava todas as semanas durante os meses que demorou até a merda, fosse o que fosse, bitchos, se resolvesse, que havia que dar caminho às mobílias e ao carro, um Opel com preparação Steinmitz que era uma bomba e, contou o Carapinha, fodera-se há poucos dias numa curva algarvia mas disso não fora o bitcho a ter culpa, as bolotas também não, aquelas era uma pena mas no incêndio desapareceram e isso até o Ully lamentava tanto como os javalis seus confrades de rabo chamuscado. Foi quando os sofás do Ully vieram para a casa de Almeirim e o Carapinha aproveitou a súbita falta de espaço e vendeu-me por cinco contos os do pai, e são os que estão lá em baixo na garagem e dão um jeito do caraças, isto é mesmo assim e os pais entendem que a vida não pára, e se não entendem tendo um filho como o Carapinha vão-no entendendo que é o que lhes resta além dum testamento sacana – cruzes credo!
A lua estava mesmo em quarto minguante, e ainda não fui espreitar à janela que tenho de escrever isto tudo e ainda não tive tempo mas reparem vocês se lerem dos bitchos lá pelas cinco da matina, e se calhar, este sem calhar é porque nunca se escreve "de certeza" sendo luas ou queijos - sim, a final vieram queijos e até bolo de bolacha, mas tive de enfiar um café abatanado mas não era chávena só grande era com dose Delta dupla, queria dizer que se calhar isto das luas acontece quando se repara estarem em quarto minguante, raio de nome, raio de coisa, bitchos, bitchos é o que é. Até já: os passarinhos acordaram e o céu está no mais branco do dia, o meu filho chegou da night e dorme no sofá ao som blá-blá do canal Benfica, vou à cozinha fazer um café e pisgar-me para o jardim que a esta hora é só meu, da Tufas e dos pássaros.
O Carapinha? sei lá: eu quando fui para a cama ainda por cá andava mas quando acordei já não dei por ele. Deve andar a voar com os pássaros, aposto a bolota que não tenho. Gosto mesmo dele. Vai além da amizade pois olho-o, ouço-o, e tenho a prova real de que houve um tempo meu que não sonhei e aconteceu tudo assim tim-tim por tim-tim. Tal como ao Ully. Depois conto mais.
(imagens daqui e daqui.)
o meu Amigo João Carapinha!
Obrigado por quando cá vens dares-me a tua gargalhada e abraço amigos. E também por através de ti e das memórias do que já se me escapa, lembrar-me do outro que fui e conheceste. Até à próxima, João :-)
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Se pudesse ia lá comer uma chamuça!
Calhando, até me arriscava a um pé de dança que - dizem! eu danço "aos pulinhos", quem sabe uma nova moda! :-))
Mais info aqui.
Lourenço Marques (I've Been Loving You Too Long )
As visitas aos amigos têm além do prazer próprio uma vantagem: recordam-nos o que nunca deveríamos esquecer: festas, aniversários, datas e acontecimentos especiais que nos são comuns. Foi o que aconteceu hoje ao visitar o Macua e dou de caras com a sua Homenagem à menina dos nossos olhos, a Princesa do Índico: a nossa "velhinha" cidade de Lourenço Marques, a Maputo que eu ainda não conheço mas quem sabe se...
Sou um sem vergonha assumido mas aqui ela assomou, tanto que para compensar o esquecimento e ainda ir a tempo de cá no tasco evocá-lo, fui pedindo licença e fazendo logo o gamanço integral do post, mais a mais que no fim tem uma gentil dedicatória cá ao je e a uma amiga comum. O título do post é também by Copy/Paste :-))
Sou um sem vergonha assumido mas aqui ela assomou, tanto que para compensar o esquecimento e ainda ir a tempo de cá no tasco evocá-lo, fui pedindo licença e fazendo logo o gamanço integral do post, mais a mais que no fim tem uma gentil dedicatória cá ao je e a uma amiga comum. O título do post é também by Copy/Paste :-))
Carta para um amor
Cidade!,
nunca fui mais longe do que
à raia de Espanha.
Creio amar Paris,
conheço Paris dos filmes, a Concórdia
dos postais, a Torre Eiffel divulgada,
Hitler passando sob o Arco do Triunfo.
Amo Paris em Aragon e Eluard,
Paris dos pintores, Paris de Erenburgo.
Amo outras cidades, todas as grandes
cidades.
Madrid dos espanhóis e do coração despedaçado,
Stalinegrado das batalhas, Berlim do triunfo.
Nunca fui às grandes cidades,
amo-as porque os homens mas ensinaram
a amar.
Conheço Lisboa grande e colorida,
longe dos meus sentidos
e Johannesburg do ouro e do pó.
Nunca fui a New York ou São Paulo
do Brasil.
Chicago, Los Angeles, Londres,
Moscou, Rio, não conheço,
não conheço as grandes cidades,
que as há,
do estado de Massachusetts
ou da beira do Nilo.
Cidade!,
amo em retórica discursiva
as outras cidades.
Das viagens que tenho feito,
por rotas tão diferentes,
és sempre a meta, cidade que amo
desde sempre,
– para lá dos poetas, dos pintores,
dos filmes e da retórica discursiva.
Os nossos companheiros tiveram
a coragem de partir,
vivem nas grandes cidades, com história,
do mundo,
eu fui covarde e fiquei.
Experimentei, e não soube, viver longe de ti
noutras cidades.
Sei que este meu amor é a minha mediocridade
também,
a mediocridade de quem não teve asas
para subir mais alto
e orgulho, o orgulho que nada venceu,
nem o ser estranho na própria terra.
É uma ternura que escorre
das tuas tranquilas avenidas de acácias
e jacarandás,
dos claros prédios,
da população colorida,
da mansitude da baía,
do teu ar de provinciana janota.
Cidade, menina fútil
de pouca história,
carros pequenos nas ruas,
velas na baía, patinadores nos ringues,
terra de sete estuários,
de cinemas e cafés buliçosos,
de alegrias e pequenas traições,
leviana, ingénua, snob, bonita,
mulata, branca,
hindu, negra,
de cabelos louros e olhos amendoados,
morena sensual,
terra índica, minha terra,
minha amada inocente, prostituída.
Amo-te cidade da infância,
com girassóis e casa de madeira e zinco
a dormir na neblina da memória.
As quadrilhas de arco, flecha e pistola
de fulminantes,
os esconderijos da barreira,
o sexo e as coxas morenas de Xila,
a Sete de Março da política e dos antigos cafés,
a tristeza verde-negra do Enes,
o paço do senhor bispo
e S. Navio todos os meses.
Quebrou-se esse velho espanto
e nossos companheiros
tiveram a coragem
de partir para outras cidades,
com história, do mundo
(Para eles tua lembrança é
fugitiva mágoa).
Só,
eu fiquei abraçado a este amor anónimo.
Rui Knopfli
...e tem música que cai que nem ginjas, como soe dizer-se - e aqui se ouvirá:
Thanks Amigo!
quinta-feira, 23 de julho de 2009
domingo, 19 de julho de 2009
cruzadas sem sal
Já há muito que o 'Público' deixou de trazer as cruzadas sem as quadrículas pretas. As que me dava prazer tentar completar, e quando o conseguia sem rasuras a minha vaidade era semelhante a ganhar um jogo de xadrez contra outro de astúcia semelhante. Por retaliação passo a folha das pintalgadas com olhar de desdém e nem leio uma única linha enigma.
Sobranceria intelectual? Não sei se é nem a sê-lo me preocupa. Faço esta nota para deixar registo de protesto de leitor fiel, a quem cortaram unilateralmente o incomensurável prazer de em oitavo de folha de jornal imaginar-se um gajo inteligente.
Sobranceria intelectual? Não sei se é nem a sê-lo me preocupa. Faço esta nota para deixar registo de protesto de leitor fiel, a quem cortaram unilateralmente o incomensurável prazer de em oitavo de folha de jornal imaginar-se um gajo inteligente.
(imagem daqui.)
Uma foto, um símbolo
Os protestos no Irão. A foto (no jornal 'Público' de ontem; sem link que isso é luxo reservado a assinantes e eu sou um tradicionalista do "papel") retrata um momento duma manifestação em que várias pessoas presumivelmente manifestam publicamente a sua indignação contra o Regime. Conto quatorze na imagem e todas mulheres. Em todas o lenço na cabeça mas só uma usa um, branco, a tapar-lhe a parte inferior da face, tal como numa manif' em Paris ou em Praga uma manifestante assim se esquive a ser identificada. Mas é Bagdad e nem uma burkha se vê nas catorze. Nem um véu do medo. Vivendo no oásis de cá leio este pormenor como esperança, lá.
Antes que seja tarde, que a marinha israelita cruzou pela primeira vez o Canal do Suez com o ágremment do seu soberano Egipto, e com carga total e rumo indisfarçável. Entre eles um dos seus três submarinos de poder de fogo nuclear, e toda a frota que lhe dá apoio para uma missão longe de casa e de tempo que pode ser demorado. Nos States, o que o chefe não pode dizer di-lo o seu sub: Joe Biden, vice-presidente, declara preto no branco que Israel é livre de atacar o Irão para desmantelar até ao pó as intalações nucleares quando e como desejar, e terá o apoio total dos USA. Como não concordar, se os legos envenenados foram dados a uma creche de crianças com deficiências mentais profundas e incuráveis?
A Coreia do Norte é ligeiramente diferente: a China é menos previsível que a Rússia, e se esta já ronrona pelo status de prestígio/medo readquirido, os senhores do Império do Meio têm tantos problemas internos por resolver que facilmente poderão optar pela facilidade da velha solução agutinadora interna: a união contra um inimigo comum, "estrangeiro", seja na defesa do velho amigo manicómio do Norte, seja por uma versão em força dumas novas Falklands no sueste asiático, - leia-se Taiwan.
Entretanto catorze mulheres sem burkha lutam: heroínas a meus olhos.
Antes que seja tarde, que a marinha israelita cruzou pela primeira vez o Canal do Suez com o ágremment do seu soberano Egipto, e com carga total e rumo indisfarçável. Entre eles um dos seus três submarinos de poder de fogo nuclear, e toda a frota que lhe dá apoio para uma missão longe de casa e de tempo que pode ser demorado. Nos States, o que o chefe não pode dizer di-lo o seu sub: Joe Biden, vice-presidente, declara preto no branco que Israel é livre de atacar o Irão para desmantelar até ao pó as intalações nucleares quando e como desejar, e terá o apoio total dos USA. Como não concordar, se os legos envenenados foram dados a uma creche de crianças com deficiências mentais profundas e incuráveis?
A Coreia do Norte é ligeiramente diferente: a China é menos previsível que a Rússia, e se esta já ronrona pelo status de prestígio/medo readquirido, os senhores do Império do Meio têm tantos problemas internos por resolver que facilmente poderão optar pela facilidade da velha solução agutinadora interna: a união contra um inimigo comum, "estrangeiro", seja na defesa do velho amigo manicómio do Norte, seja por uma versão em força dumas novas Falklands no sueste asiático, - leia-se Taiwan.
Entretanto catorze mulheres sem burkha lutam: heroínas a meus olhos.
sexta-feira, 17 de julho de 2009
na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
api, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho, mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco
José Luis Peixoto, "A criança em ruínas", Quasi, 6ª edição, 2007
...e eu precisei de lê-lo e recordá-lo, aqui
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
api, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho, mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco
José Luis Peixoto, "A criança em ruínas", Quasi, 6ª edição, 2007
...e eu precisei de lê-lo e recordá-lo, aqui
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Tertúlia Virtual: tema de Julho de 2009
O "Tema Livre" é do piorio. A tentação de escrever sobre o 'nada' aflora mas esse é chão que já não dá uvas, como avisados colunistas veteranos lembram quando perguntados sobre essa gripe infantil da escrita, e com a gargalhada de quem já se constipou e pecou. Assim amarfanha-se o rascunho e regressa-se à folha em branco, a raiva a crescer por não vê-la livremente gatafunhada sobre filosóficos nadas, enquanto o cérebro teima no tema e excusa-se a mais que passarinhos, verões, namoricos, os deliciosos nadas que vão-nos escrevendo a vida sem preocupações de inovação, que na simplicidade está o segredo em vivê-la bem. E escrevê-la?
Inovo: vou começar pelo fim: morri num dia súbito e de doença calendarizada. Antes padeci o envelhecer jogando cartas em jardins e galando voluptuosas raparigas cinquentenárias, que quando me reformei jurei a colegas e família que de papeladas chegaram quatro décadas, e o viço esfumara-se mal os cachopos nasceram e percebi que emprego e família eram gaiolas douradas. Bons tempos foram os dos longos cabelos e um celofane de erva no bolso, a elegância juvenil que até às borbulhas é benevolente, esse passo largo por que a infãncia suspira enquanto se bate a bola sonhando-se estrela voadora que afunda num shuaps! de galvanizar o bairro inteiro, farda onírica que legitima os calções e as sandálias, essas humilhações com única correspondência na tirania déspota da matrícula à nossa revelia em salas de aulas onde uma campainha faz gritar de alegria ao recordar-nos a felicidade de ser livre e criança. De mais não me lembro, excepto de espreitar as pernas à mana e a todas as amigas que a visitavam e, mais longe, duma piscina na Serra que uma foto testemunha existência e minha visita, quando o boné era farda obrigatória e o triciclo o bem mais precioso. E os Natais, todos após a fase do limbo, da roca e das fraldas que imagino sempre mijadas e mais aquela coisa mal-cheirosa.
Se fosse esmiúçar muito por aí acima cataria, mas o espartano tema não me deixa nem liberta, e os melhores pormenores reservo-os para quando me proporem uma crónica sobre as minhas melhores férias e recordar que não me lembro de nada em especial, além de coisinhas poucas e que só darão para seis ou oito páginas entretidas no relato da forma mais suave de pagar empréstimos bancários, duma que me peça que fale da maior alegria da minha vida e também da maior tristeza, e misturar uma com outra para por osmose dizer que a minha vida foi e é assim assim, quem sabe se falarei de amores negados ou de beijos suaves à luz de candeeiros, e sem esforço alargarei o relato se o tema me pedir que conte e diga, em redacção com caligrafia bonita, que me lembre e escrevinhe da emoção sentida num qualquer momento histórico que se cruzou com a minha vida. Quem sabe, os pedidos específicos estimulam a memória, alindam-na no recordar, não são este aperto de me dizerem livre para escrever mas o nada assombrar-me e só me lembrar de badalhoquices de velhadas e de fraldas cagadas de meninos.
Uma última oportunidade. Blogas? «blogo, está claro! que estou aqui a fazer?» Então, rapaz, ora conta aí de tais assados e cozidos, que sentes quando tens quarenta leitores e do sorriso que fazes ao entrar no café do bairro e ninguém suspeitar o popular que és. Conta, como se estivéssemos a ver o "All that jazz", das fases que se sucedem desde a luz inicial que ofusca e maravilha, até à aceitação da perenidade do grão que és, e feliz por habitares praia tão vasta tens de estar, que o rush dos posts não desmerece do contínuo das ondas que te lavam e deixam-te o ego a brilhar. Consegues?
Inovo: vou começar pelo fim: morri num dia súbito e de doença calendarizada. Antes padeci o envelhecer jogando cartas em jardins e galando voluptuosas raparigas cinquentenárias, que quando me reformei jurei a colegas e família que de papeladas chegaram quatro décadas, e o viço esfumara-se mal os cachopos nasceram e percebi que emprego e família eram gaiolas douradas. Bons tempos foram os dos longos cabelos e um celofane de erva no bolso, a elegância juvenil que até às borbulhas é benevolente, esse passo largo por que a infãncia suspira enquanto se bate a bola sonhando-se estrela voadora que afunda num shuaps! de galvanizar o bairro inteiro, farda onírica que legitima os calções e as sandálias, essas humilhações com única correspondência na tirania déspota da matrícula à nossa revelia em salas de aulas onde uma campainha faz gritar de alegria ao recordar-nos a felicidade de ser livre e criança. De mais não me lembro, excepto de espreitar as pernas à mana e a todas as amigas que a visitavam e, mais longe, duma piscina na Serra que uma foto testemunha existência e minha visita, quando o boné era farda obrigatória e o triciclo o bem mais precioso. E os Natais, todos após a fase do limbo, da roca e das fraldas que imagino sempre mijadas e mais aquela coisa mal-cheirosa.
Se fosse esmiúçar muito por aí acima cataria, mas o espartano tema não me deixa nem liberta, e os melhores pormenores reservo-os para quando me proporem uma crónica sobre as minhas melhores férias e recordar que não me lembro de nada em especial, além de coisinhas poucas e que só darão para seis ou oito páginas entretidas no relato da forma mais suave de pagar empréstimos bancários, duma que me peça que fale da maior alegria da minha vida e também da maior tristeza, e misturar uma com outra para por osmose dizer que a minha vida foi e é assim assim, quem sabe se falarei de amores negados ou de beijos suaves à luz de candeeiros, e sem esforço alargarei o relato se o tema me pedir que conte e diga, em redacção com caligrafia bonita, que me lembre e escrevinhe da emoção sentida num qualquer momento histórico que se cruzou com a minha vida. Quem sabe, os pedidos específicos estimulam a memória, alindam-na no recordar, não são este aperto de me dizerem livre para escrever mas o nada assombrar-me e só me lembrar de badalhoquices de velhadas e de fraldas cagadas de meninos.
Uma última oportunidade. Blogas? «blogo, está claro! que estou aqui a fazer?» Então, rapaz, ora conta aí de tais assados e cozidos, que sentes quando tens quarenta leitores e do sorriso que fazes ao entrar no café do bairro e ninguém suspeitar o popular que és. Conta, como se estivéssemos a ver o "All that jazz", das fases que se sucedem desde a luz inicial que ofusca e maravilha, até à aceitação da perenidade do grão que és, e feliz por habitares praia tão vasta tens de estar, que o rush dos posts não desmerece do contínuo das ondas que te lavam e deixam-te o ego a brilhar. Consegues?
Fim de crónica, posição fetal inicial.
Etiquetas:
tertúlias virtuais
domingo, 12 de julho de 2009
Prenditas :-)
As prendas com que os amigos nos surpreendem são um encanto. Dito com propriedade, que é esse o sentimento quando as recebemos - ao caso, a descobri..., mais a mais quando sem origem em data tradicional a mimos e baseando-se, alega a Ana, em critério que me deixa vaidoso e envergonhado; a primeira porque há orgulho em saber que há quem nos visite assiduamente por se sentir bem aqui, a segunda emoção pela noção de que tão mal tenho tratado as visitas, que a mesa não tem sido mudada com a assiduidade desejável. Mas enfim, ainda ando "esquerdo" com o tasco mas talvez melhores dias assomam, estou em crer.
E assim como o "selo" do Prémio Lemniscata já está colado no sítio devido e bem altaneiro, resta-me fazer Copy ao 'regulamento de atribuição' e passar a bola a mais sete blogues que visito diariamente - o que vai ser complicado como mais abaixo explicarei. O regulamento, história do prémio, e etimologia da palavra, explicados pela Ana:
"Entretanto convém explicar que o selo deste prémio foi criado a pensar nos blogs que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores. Sobre o significado de LEMNISCATA:LEMNISCATA: “curva geométrica com a forma semelhante à de um 8; lugar geométrico dos pontos tais que o produto das distâncias a dois pontos fixos é constante.” Lemniscato: ornado de fitas Do grego Lemniskos, do latim, Lemniscu: fita que pendia das coroas de louro destinadas aos vencedores (In Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora) Acrescento que o símbolo do infinito é um 8 deitado, em tudo semelhante a esta fita, que não tem interior nem exterior, tal como no anel de Möbius, que se percorre infinitamente.Texto da editora de “Pérola da cultura”
"Entretanto convém explicar que o selo deste prémio foi criado a pensar nos blogs que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores. Sobre o significado de LEMNISCATA:LEMNISCATA: “curva geométrica com a forma semelhante à de um 8; lugar geométrico dos pontos tais que o produto das distâncias a dois pontos fixos é constante.” Lemniscato: ornado de fitas Do grego Lemniskos, do latim, Lemniscu: fita que pendia das coroas de louro destinadas aos vencedores (In Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora) Acrescento que o símbolo do infinito é um 8 deitado, em tudo semelhante a esta fita, que não tem interior nem exterior, tal como no anel de Möbius, que se percorre infinitamente.Texto da editora de “Pérola da cultura”
Agora vem a parte complicada. Tenho dias que visito dez blogues mas há outros em que visito dois ou três (e ultimamente é mais assim...)
Depois, as minhas preferências são voláteis e basta-me engraçar com um post dum tasco até então desconhecido para lhe fazer marcação cerrada durante alguns dias, até decidir se o incluo na já longa lista nas caves do tasco, minha ementa que debico conforme o apetite do momento e a fragrância que venha das duas ou três linhas visualizáveis das novidades que tem na montra.
Ou vice-versa, embirrar com um escrito ou uma foto e utilizar o 'cartão amarelo' para só lá voltar quando me tenha esquecido - mas eu esqueço facilmente, vantagens do signo astrológico.
A ater-me exclusivamente aos que na actualidade visito diariamente, sem fazer contas acho que não dá sete, e dos que haja dois são de cortinados fechados, portanto de nada vale meter links e não os refiro, embora lhes envie o Selo para lhes darem o destino que entenderem.
A lista possível, (além dos 2 referidos) aqueles blogues que visito mais assiduamente:
A Trama
Estrada Poeirenta
Moçambique para todos
Pululu
Voz em Fuga
um voo cego a nada
Ma-schamba
A Trama
Estrada Poeirenta
Moçambique para todos
Pululu
Voz em Fuga
um voo cego a nada
Ma-schamba
sábado, 11 de julho de 2009
Twittices
Recebo um mail a informar-me que AlexiaStone691 está a "seguir-me" naquela catedral de silêncio que trago no bolso nem sei para quê: há meses que não escrevo lá uma palavra, a acrescentar às pouco mais dum décimo das "cento e quarenta" que terei utilizado desde que me vi "envolvido" naquilo - há horas más, é o que é.
Olho para o resumo de perfil da "perseguidora" que o mail gentilmente me trás: ela tem 18 seguidores e, certamente por vingança, segue... 918! Duvido que saiba uma palavra da língua portuguesa e não percebo qual o interesse que há em perseguir um 'silencioso', embora aí eu possa ser vantagem, que "ouvir" 917 deve ser uma canseira.
Isto é confuso, e ninguém me consegue demonstrar que uma rede social assim formada não é mais que... nada! e vale esta empresa "milhões", dizem...
Está explicada a origem profunda da crise mundial, pronto.
hélas!
«...e como faço? que até lá não há tempo para nada, etc etc?»
Deixa-te de merdas e olha esta sugestão: declara - mas é para cumprir, porra! - que independentemente dos resultados conseguidos nas autárquicas e nas legislativas, irás convocar eleições internas antecipadas. Que te recandidates ou não é secundário, embora o preferível seja ires uns anitos para a estranja. Vais ver se não resulta... ;-)
Deixa-te de merdas e olha esta sugestão: declara - mas é para cumprir, porra! - que independentemente dos resultados conseguidos nas autárquicas e nas legislativas, irás convocar eleições internas antecipadas. Que te recandidates ou não é secundário, embora o preferível seja ires uns anitos para a estranja. Vais ver se não resulta... ;-)
kiss kiss bang bang
Um comentador político diz que acabou a era das beijoquices em campanhas eleitorais.
Eu acho bem. Embora Sónia Sanfona seja candidata à Câmara Municipal de Alpiarça, e, à vista desarmada (e em profundidade) eu seja mais bonito que Vítor Constâncio.
(a capa do DVD veio daqui.)
Vai-te, José!
O ideal era José Sócrates ir-se embora. Votar PS não ser o mesmo que "votar Socas".
Agora o voto não é dumas vagas "europeias" onde se pode brincar aos meninos zangados. A esquerda lusa é área fraticida que se alimenta no prazer de não se entender. A direita é o papão, e sempre fez por isso.
Vai-te, José! Percebe e aceita que não fazes parte da solução, pelo contrário és "o" grande problema. Maior que aqueles que não resolveste...
[Kasparov (? acho que sim) a pensar no assunto, veio daqui.]
quinta-feira, 9 de julho de 2009
completamente descontextualisado, mas gostei desta parte: reli-a 3 vezes!_e depois fui à cata dum boneko
"A grande parte daquilo que os meus vizinhos consideram ser bom, eu acredito com toda a alma ser mau, e se me arrependo de algo, é muito provável que seja do meu bom comportamento. Que diabo me possuiu para que me comportasse tão bem? Podeis dizer a coisa mais sábia que conseguirdes (...), mas eu escuto uma voz irresistível que me convida ao alheamento de tudo isso. (...)"
Henry David Thoreau, "Onde vivi e para que vivi", Quasi, 2008
(o bonequito maquiavélico veio daqui)
quarta-feira, 8 de julho de 2009
jacintos d'água
Dizem que os jacintos quando germinam envenenam o rio, asfixiando-o, sugando-lhe o porte e a seiva. Opinião de biólogo. A minha biologia é visual, imediatista, a dos que não são rio mas são água e se se abeiram da margem vêm flores e não veneno. Os que não se ralam se a tinta é tóxica pois gostam ou não do quadro e é assim.
Recomeçando: dizem que os jacintos quando germinam envenenam o rio, asfixiando-o, sugando-lhe o porte e a seiva, opinião que muito preocupa quem se preocupa com o equilíbrio entre o parecer e o ser, a essência e a fragância. Gente preocupada com o desenvolvimento sustentável, gente do futuro que não se cega ao brilho efémero e rejeita que lhes esconda a substância.
Não, não é assim.
Sento-me na margem desta folha e penso se tanta letra não é veneno que agigante o problema, falando de jacintos d'água e caudais, as rugas da beleza, meditações inúteis quando em menos palavras se diz e conta e é tão simples como escrever, seja em água seja em tinta, que a minha biologia é doente, míope, não há rios mas sim ribeiros, não há flores de água nem de jardim: uma natureza morta, floresta após incêndio, caroços de abundâncias, saco de folhas caídas de ilusões.
Feliz é o rio das flores.
(imagem daqui.)
Recomeçando: dizem que os jacintos quando germinam envenenam o rio, asfixiando-o, sugando-lhe o porte e a seiva, opinião que muito preocupa quem se preocupa com o equilíbrio entre o parecer e o ser, a essência e a fragância. Gente preocupada com o desenvolvimento sustentável, gente do futuro que não se cega ao brilho efémero e rejeita que lhes esconda a substância.
Não, não é assim.
Sento-me na margem desta folha e penso se tanta letra não é veneno que agigante o problema, falando de jacintos d'água e caudais, as rugas da beleza, meditações inúteis quando em menos palavras se diz e conta e é tão simples como escrever, seja em água seja em tinta, que a minha biologia é doente, míope, não há rios mas sim ribeiros, não há flores de água nem de jardim: uma natureza morta, floresta após incêndio, caroços de abundâncias, saco de folhas caídas de ilusões.
Feliz é o rio das flores.
(imagem daqui.)
segunda-feira, 6 de julho de 2009
Marmitas
Porque um avião se atrasou num aeroporto londrino acabei a jantar num modestinho café – restaurante – alugam-se quartos fronteiro à estação de comboios de Santarém. As declarações prévias: vim sem esperar pelo telefonema confirmativo de que o meu amigo tinha chegado à Portela, e no café aceitam fumadores. Não me perco na costeleta frita, que está deliciosa e sempre estaria tal a fome que tenho – mas está de facto – mas sim na sala comensal vazia a esta hora e quem sabe se nas outras, nos cortinados verde-claro igual ao das paredes e me vêm lutar com a caneta e com a faca (pausa), a ventoinha de pás azuis imóveis, o silêncio pois recusei que o televisor fosse ligado. Transportei-me ao passado, e nele se som havia nas salas de comer das pensões era o de rádios.
Nos idos do fim da gesta colonial as pensões eram vulgares em LM, Lourenço Marques, e recorda-me que além dos hóspedes amensados e dos comensais fixos havia famílias que optavam por lá abastecer as lancheiras, a coluna de marmitas cuja pega era a tranca das barras que a ligavam em cilindro de alumínio e de cheiros, a sopa na de cima que oscilava menos*. Que (pausa e termina a costeleta) as pensões não eram casas de uma ou duas noites a vendedores apressados mas tinham hóspedes fixos e comensais de contas ao mês, tal como esta um aparador com montes de pratos em cima, o inevitável quadro grande e barato com uma natureza bem morta, o grande espelho que me espreita a avivar as nostalgias, caem-me os olhos agora nas concessões aos tempos modernos que são o autocolante vermelho na zona de refeições, a seu lado um enorme extintor, só ele capaz de induzir a dois ou três raciocínios paralelos, por isso sigo com o olhar pela sala vazia, a mesa ao lado por levantar mas onde antes vi um calvo barbudo e quase idoso. Só ocupei o seu lugar no silêncio quando auto vagou e na memória ficou a imagem dum escritor russo, dos tempos em que pensava que todos os escritores russos foram calvos e barbudos, colete às riscas e viviam em pensões perto de caminhos-de-ferro ou noutro nevoeiro qualquer.
Nunca vivi numa, não sou russo e escrevo por paixão, tenho ainda cabelo embora olhe com grande apreensão o ralo da banheira, quanto a pilosidades acima do umbigo disfarço a pobreza facial que algures a genética encontrou para presentear-me com pastagem rala, que ambiciono seja vista como “casual look de três dias”. Se calhar não tenho sangue russo e daí é que a escrita não anda, não rola como a costeleta encontrou via e seguiu, mas já quando frequentava pensões em LM não era nem hóspede nem comensal, às vezes garfo alheio mas quase sempre visita que chegava para acompanhar ao café e ao mais que a seguir vinha, conhecia pensionistas e comensais, em tais ofícios conheci muitos cortinados verdes olhando-me, aparadores suspirando por movimento que lhes chocalhe os pratos, espelhos retratando-me e inevitáveis quadros de naturezas mortas a quem, em concessão pelo local, atribuo e outorgo muitos ananases, mangas e papaias, peras goiabas.
Terminei o café e mudo para a sala do letreiro azul onde o escritor russo amensado em Santarém me olha escrevendo enquanto as suas mãos realizam o artifício de extrair um cigarro duma caixa metálica sem que eu consiga distinguir o desenho da tampa sem parecer excessivamente curioso e, quem sabe de pensares russos, um inconveniente. Mas gostava de saber qual é, fica então em registo que é um florir estranho, um verde gasto e raspado e manchas amarelas que supus serem flores, letras em elipse belle époque que não consegui decifrar, provavelmente em caracteres russos e por isso desvio o olhar.
Frequentava-as por amigos que fazia, muitos ou mesmo todos jovens pouco mais velhos que eu mas que a vida de soldadinhos levara a amensados em pensões, por fortuna próprias e administrativas livres da castrense camarata. Lembra-me um, Luís, de apelido cinéfilo famoso e filho dum dos autores da fama, com quem privei à mesa amensada e em tardes no areal da Costa do Sol, por personalidades parecidas que casaram bem até um dia, e pela paixão comum por livros, à literatura indiscriminada pois era a idade em que tudo que viesse morria. Conheci livros que me teriam passado ao lado, mais velho e mais culto, vindo da metrópole doutros acessos à matéria, de classe social mais atreita a folhas assim, deu-mos para as mãos e agradeci e assim hoje evoco. A relação de amizade terminou naquela areia na tarde em que, espalhando Coca Cola pelas costas um do outro para melhorar o bronzeado, ouvi uma confissão homossexual que não me agradou nada, apavorou-me, ainda mais incómoda e inoportuna quando me tinha acabado de contar que ou a mãe ou uma tia se passeava nas ruas do Porto numa maravilha de design, beleza pura, então obra prima superior a qualquer natureza morta, um Lamborghini Miura**. Não dava Luís, mas lamento pelos livros e pela história do carro de que já não soube mais, e também por não ter sabido gerir o medo e a amizade, pelo café à mesa da pensão e a praia alivralhada terem terminado aí, que eras um gajo bem porreiro.
Numa pensão da antiga avenida Anchieta, pouco abaixo do café Cortiço, estavam alojados dois tropas freaks, um membro duma banda rock que à altura mexeu tanto comigo que nunca mais esqueci e sempre glorifico: os Melting Pot, rock puro e duro como soe dizer-se, no reportório havia Uriah Heep e Black Sabbath e nada mais que me lembre. Pensão que já frequentava para o café de companhia após o jantar, e a seguir uma ida aos quartos para enrolar as reconfortantes surumas, lá, nela, na tarde de estreia da banda, cinema Dicca, LM, éramos mais que o grupo ‘residente’ mas maior a excitação e no quarto pairava a neblina das esperanças fumadas com uma descontracção invulgar pois dias não são dias e aquele era especial. Daí a pouco um palco e uma plateia, os como eu que não sendo sentíamo-nos sendo parte do quadro e do concerto, o deleitável meio-termo entre o artista e o público que não era iniciado nos segredos, assim. Fumou-se a alegria e a fantasia e tudo correu bem, que a banda excedeu-se, que a claque gritou mas era só parte duma plateia extasiada. Vínhamos da pensão, lá “nascêramos”, e ouço o chiar do comboio e fecho, marmitas, russos carecas, queridas pensões, e o feliz atraso que me deu este espelho.
Nos idos do fim da gesta colonial as pensões eram vulgares em LM, Lourenço Marques, e recorda-me que além dos hóspedes amensados e dos comensais fixos havia famílias que optavam por lá abastecer as lancheiras, a coluna de marmitas cuja pega era a tranca das barras que a ligavam em cilindro de alumínio e de cheiros, a sopa na de cima que oscilava menos*. Que (pausa e termina a costeleta) as pensões não eram casas de uma ou duas noites a vendedores apressados mas tinham hóspedes fixos e comensais de contas ao mês, tal como esta um aparador com montes de pratos em cima, o inevitável quadro grande e barato com uma natureza bem morta, o grande espelho que me espreita a avivar as nostalgias, caem-me os olhos agora nas concessões aos tempos modernos que são o autocolante vermelho na zona de refeições, a seu lado um enorme extintor, só ele capaz de induzir a dois ou três raciocínios paralelos, por isso sigo com o olhar pela sala vazia, a mesa ao lado por levantar mas onde antes vi um calvo barbudo e quase idoso. Só ocupei o seu lugar no silêncio quando auto vagou e na memória ficou a imagem dum escritor russo, dos tempos em que pensava que todos os escritores russos foram calvos e barbudos, colete às riscas e viviam em pensões perto de caminhos-de-ferro ou noutro nevoeiro qualquer.
Nunca vivi numa, não sou russo e escrevo por paixão, tenho ainda cabelo embora olhe com grande apreensão o ralo da banheira, quanto a pilosidades acima do umbigo disfarço a pobreza facial que algures a genética encontrou para presentear-me com pastagem rala, que ambiciono seja vista como “casual look de três dias”. Se calhar não tenho sangue russo e daí é que a escrita não anda, não rola como a costeleta encontrou via e seguiu, mas já quando frequentava pensões em LM não era nem hóspede nem comensal, às vezes garfo alheio mas quase sempre visita que chegava para acompanhar ao café e ao mais que a seguir vinha, conhecia pensionistas e comensais, em tais ofícios conheci muitos cortinados verdes olhando-me, aparadores suspirando por movimento que lhes chocalhe os pratos, espelhos retratando-me e inevitáveis quadros de naturezas mortas a quem, em concessão pelo local, atribuo e outorgo muitos ananases, mangas e papaias, peras goiabas.
Terminei o café e mudo para a sala do letreiro azul onde o escritor russo amensado em Santarém me olha escrevendo enquanto as suas mãos realizam o artifício de extrair um cigarro duma caixa metálica sem que eu consiga distinguir o desenho da tampa sem parecer excessivamente curioso e, quem sabe de pensares russos, um inconveniente. Mas gostava de saber qual é, fica então em registo que é um florir estranho, um verde gasto e raspado e manchas amarelas que supus serem flores, letras em elipse belle époque que não consegui decifrar, provavelmente em caracteres russos e por isso desvio o olhar.
Frequentava-as por amigos que fazia, muitos ou mesmo todos jovens pouco mais velhos que eu mas que a vida de soldadinhos levara a amensados em pensões, por fortuna próprias e administrativas livres da castrense camarata. Lembra-me um, Luís, de apelido cinéfilo famoso e filho dum dos autores da fama, com quem privei à mesa amensada e em tardes no areal da Costa do Sol, por personalidades parecidas que casaram bem até um dia, e pela paixão comum por livros, à literatura indiscriminada pois era a idade em que tudo que viesse morria. Conheci livros que me teriam passado ao lado, mais velho e mais culto, vindo da metrópole doutros acessos à matéria, de classe social mais atreita a folhas assim, deu-mos para as mãos e agradeci e assim hoje evoco. A relação de amizade terminou naquela areia na tarde em que, espalhando Coca Cola pelas costas um do outro para melhorar o bronzeado, ouvi uma confissão homossexual que não me agradou nada, apavorou-me, ainda mais incómoda e inoportuna quando me tinha acabado de contar que ou a mãe ou uma tia se passeava nas ruas do Porto numa maravilha de design, beleza pura, então obra prima superior a qualquer natureza morta, um Lamborghini Miura**. Não dava Luís, mas lamento pelos livros e pela história do carro de que já não soube mais, e também por não ter sabido gerir o medo e a amizade, pelo café à mesa da pensão e a praia alivralhada terem terminado aí, que eras um gajo bem porreiro.
Numa pensão da antiga avenida Anchieta, pouco abaixo do café Cortiço, estavam alojados dois tropas freaks, um membro duma banda rock que à altura mexeu tanto comigo que nunca mais esqueci e sempre glorifico: os Melting Pot, rock puro e duro como soe dizer-se, no reportório havia Uriah Heep e Black Sabbath e nada mais que me lembre. Pensão que já frequentava para o café de companhia após o jantar, e a seguir uma ida aos quartos para enrolar as reconfortantes surumas, lá, nela, na tarde de estreia da banda, cinema Dicca, LM, éramos mais que o grupo ‘residente’ mas maior a excitação e no quarto pairava a neblina das esperanças fumadas com uma descontracção invulgar pois dias não são dias e aquele era especial. Daí a pouco um palco e uma plateia, os como eu que não sendo sentíamo-nos sendo parte do quadro e do concerto, o deleitável meio-termo entre o artista e o público que não era iniciado nos segredos, assim. Fumou-se a alegria e a fantasia e tudo correu bem, que a banda excedeu-se, que a claque gritou mas era só parte duma plateia extasiada. Vínhamos da pensão, lá “nascêramos”, e ouço o chiar do comboio e fecho, marmitas, russos carecas, queridas pensões, e o feliz atraso que me deu este espelho.
* diz-me quem se lembra - e tem toda a razão! - que a sopa ia na marmita de baixo, quer pelo peso quer pelo calor ajudar a manter quentes as superiores; era assim mesmo, com este 'picanço' recordei, e quando escrevi ainda hesitei e se optei pela vasilha de cima foi por ter achado que, mais próxima da mão, oscilaria menos. afinal a lógica era outra...
** outro erro: de manhã "bateu-me": o carro da senhora seria um Citroen SM e não o Miura. não sendo aquela beleza, não sendo mesmo beleza nenhuma, o SM era à época um ''objecto de desejo" pelo luxo, conforto e mecânica nobre aliados. mesmo assim gostava de ter ouvido o resto da história!
(a emissão de ondas hertzianas foi catada aqui. vénia)
(a emissão de ondas hertzianas foi catada aqui. vénia)
"No teu deserto"
"(...) É um livro de exposição absoluta. Achei que só fazia sentido assim. Chega-se a um ponto da vida em que as coisas boas que ficaram para trás são muito marcantes, e nós percebemos que a única maneira de não as sepultar de vez é trazê-las à superfície. No fim do livro digo que «há viagens de onde não se regressa». Eu nunca vou regressar desta viagem."
Miguel Sousa Tavares em entrevista à revista VISÃO de 2 de Julho, acerca do seu novo livro "No teu deserto", dentro de dias um pouco por todo o lado. Vou lê-lo, claro que vou lê-lo.
(a foto veio daqui. gracias)
serão do curso nocturno? + crismas bem além de foleiros
Moçambique:
Como bem repara o Fernando Gil é "esquisito" alunos de escola primária precisarem de Cartão de Eleitor...
Aproveitando a visita, a ler as crónicas de Luís Nhachote e de Machado da Graça, o primeiro lembrando Carlos Cardoso e o seu "Guebuza não!", o segundo, sibilino, deixando uma sugestão muito interessante, das tais "assassinas".
Tanto é, disse-me uma abelhinha, que mais facilmente o Governo plenipotenciário do Partido Frelimo recuará em baptizar a nova ponte do rio Zambeze - que irá 'unir' simbolicamente Norte e Centro do país - com o descabido "Armando Emílio Guebuza", e correrá a dar-lhe o do pai da unidade nacional, Eduardo Mondlane, assim deixando cair a ridícula deliberação de crismá-la com o nome dum político em funções, candidato a eleições e assim o inaugurador-de-si-próprio antes delas, a aceitar um nome, disse-me a abelhinha, que lhe é mais incómodo que a estátua e nomenclatura da nova rotunda da Munhava.
(a foto das pernas e pés do Querido Líder gamei-a aqui.bem procurei uma "com ponte" mas não encontrei. lá para Setembro...?)
Aproveitando a visita, a ler as crónicas de Luís Nhachote e de Machado da Graça, o primeiro lembrando Carlos Cardoso e o seu "Guebuza não!", o segundo, sibilino, deixando uma sugestão muito interessante, das tais "assassinas".
Tanto é, disse-me uma abelhinha, que mais facilmente o Governo plenipotenciário do Partido Frelimo recuará em baptizar a nova ponte do rio Zambeze - que irá 'unir' simbolicamente Norte e Centro do país - com o descabido "Armando Emílio Guebuza", e correrá a dar-lhe o do pai da unidade nacional, Eduardo Mondlane, assim deixando cair a ridícula deliberação de crismá-la com o nome dum político em funções, candidato a eleições e assim o inaugurador-de-si-próprio antes delas, a aceitar um nome, disse-me a abelhinha, que lhe é mais incómodo que a estátua e nomenclatura da nova rotunda da Munhava.
(a foto das pernas e pés do Querido Líder gamei-a aqui.bem procurei uma "com ponte" mas não encontrei. lá para Setembro...?)
sexta-feira, 3 de julho de 2009
memórias à volta da música
Há quem saiba porque sorrio de cara rasgada a estas duas músicas. E ouvidas quase quarenta anos depois mantenho a opinião que lá deixei: ouvi a primeira em versão que me apaga a imortalidade desta, a original, e a segunda vale pelo nome e a data de malucos que a compuseram. Já contei, um dia destes conto outra vez.
quinta-feira, 2 de julho de 2009
gente "não presta"
este blogue não foi pra banhos.
já fechou 20 vezes mas o post anterior não é o anúncio da 21ª.
é a minha satisfação por ter conseguido concluir aquilo que cheguei a duvidar conseguir. mas FIZ. eu
cadelas apressadas parem cachorros cegos, diz-se. deus queira que não.
super clarividências, pitonisas, videntes da treta, gente má em resumo, engana-se excessivamente nas suas intricadíssimas contas ao calcular os outros. cálculo desumano, mau.
não vêm e não percebem, julgando que vêm tudo.
são burros. burros inteligentes mas burros na mesma.
ateus a tudo além do seu espelho. asnos, e dos desconfiados que são os que dão mais coices.
usam a letra com maldade. fossem soldados ou polícias e usavam a arma igualmente.
este blogue continua sempre que me apetecer fazê-lo, e na "audiência" não desejo cliques maldosos. metam-nos pelo olho do cu acima, já que vivem obsecados com eles.
RUA DAQUI PRA FORA
já fechou 20 vezes mas o post anterior não é o anúncio da 21ª.
é a minha satisfação por ter conseguido concluir aquilo que cheguei a duvidar conseguir. mas FIZ. eu
cadelas apressadas parem cachorros cegos, diz-se. deus queira que não.
super clarividências, pitonisas, videntes da treta, gente má em resumo, engana-se excessivamente nas suas intricadíssimas contas ao calcular os outros. cálculo desumano, mau.
não vêm e não percebem, julgando que vêm tudo.
são burros. burros inteligentes mas burros na mesma.
ateus a tudo além do seu espelho. asnos, e dos desconfiados que são os que dão mais coices.
usam a letra com maldade. fossem soldados ou polícias e usavam a arma igualmente.
este blogue continua sempre que me apetecer fazê-lo, e na "audiência" não desejo cliques maldosos. metam-nos pelo olho do cu acima, já que vivem obsecados com eles.
RUA DAQUI PRA FORA
Subscrever:
Mensagens (Atom)