O "Tema Livre" é do piorio. A tentação de escrever sobre o 'nada' aflora mas esse é chão que já não dá uvas, como avisados colunistas veteranos lembram quando perguntados sobre essa gripe infantil da escrita, e com a gargalhada de quem já se constipou e pecou. Assim amarfanha-se o rascunho e regressa-se à folha em branco, a raiva a crescer por não vê-la livremente gatafunhada sobre filosóficos nadas, enquanto o cérebro teima no tema e excusa-se a mais que passarinhos, verões, namoricos, os deliciosos nadas que vão-nos escrevendo a vida sem preocupações de inovação, que na simplicidade está o segredo em vivê-la bem. E escrevê-la?
Inovo: vou começar pelo fim: morri num dia súbito e de doença calendarizada. Antes padeci o envelhecer jogando cartas em jardins e galando voluptuosas raparigas cinquentenárias, que quando me reformei jurei a colegas e família que de papeladas chegaram quatro décadas, e o viço esfumara-se mal os cachopos nasceram e percebi que emprego e família eram gaiolas douradas. Bons tempos foram os dos longos cabelos e um celofane de erva no bolso, a elegância juvenil que até às borbulhas é benevolente, esse passo largo por que a infãncia suspira enquanto se bate a bola sonhando-se estrela voadora que afunda num shuaps! de galvanizar o bairro inteiro, farda onírica que legitima os calções e as sandálias, essas humilhações com única correspondência na tirania déspota da matrícula à nossa revelia em salas de aulas onde uma campainha faz gritar de alegria ao recordar-nos a felicidade de ser livre e criança. De mais não me lembro, excepto de espreitar as pernas à mana e a todas as amigas que a visitavam e, mais longe, duma piscina na Serra que uma foto testemunha existência e minha visita, quando o boné era farda obrigatória e o triciclo o bem mais precioso. E os Natais, todos após a fase do limbo, da roca e das fraldas que imagino sempre mijadas e mais aquela coisa mal-cheirosa.
Se fosse esmiúçar muito por aí acima cataria, mas o espartano tema não me deixa nem liberta, e os melhores pormenores reservo-os para quando me proporem uma crónica sobre as minhas melhores férias e recordar que não me lembro de nada em especial, além de coisinhas poucas e que só darão para seis ou oito páginas entretidas no relato da forma mais suave de pagar empréstimos bancários, duma que me peça que fale da maior alegria da minha vida e também da maior tristeza, e misturar uma com outra para por osmose dizer que a minha vida foi e é assim assim, quem sabe se falarei de amores negados ou de beijos suaves à luz de candeeiros, e sem esforço alargarei o relato se o tema me pedir que conte e diga, em redacção com caligrafia bonita, que me lembre e escrevinhe da emoção sentida num qualquer momento histórico que se cruzou com a minha vida. Quem sabe, os pedidos específicos estimulam a memória, alindam-na no recordar, não são este aperto de me dizerem livre para escrever mas o nada assombrar-me e só me lembrar de badalhoquices de velhadas e de fraldas cagadas de meninos.
Uma última oportunidade. Blogas? «blogo, está claro! que estou aqui a fazer?» Então, rapaz, ora conta aí de tais assados e cozidos, que sentes quando tens quarenta leitores e do sorriso que fazes ao entrar no café do bairro e ninguém suspeitar o popular que és. Conta, como se estivéssemos a ver o "All that jazz", das fases que se sucedem desde a luz inicial que ofusca e maravilha, até à aceitação da perenidade do grão que és, e feliz por habitares praia tão vasta tens de estar, que o rush dos posts não desmerece do contínuo das ondas que te lavam e deixam-te o ego a brilhar. Consegues?
Inovo: vou começar pelo fim: morri num dia súbito e de doença calendarizada. Antes padeci o envelhecer jogando cartas em jardins e galando voluptuosas raparigas cinquentenárias, que quando me reformei jurei a colegas e família que de papeladas chegaram quatro décadas, e o viço esfumara-se mal os cachopos nasceram e percebi que emprego e família eram gaiolas douradas. Bons tempos foram os dos longos cabelos e um celofane de erva no bolso, a elegância juvenil que até às borbulhas é benevolente, esse passo largo por que a infãncia suspira enquanto se bate a bola sonhando-se estrela voadora que afunda num shuaps! de galvanizar o bairro inteiro, farda onírica que legitima os calções e as sandálias, essas humilhações com única correspondência na tirania déspota da matrícula à nossa revelia em salas de aulas onde uma campainha faz gritar de alegria ao recordar-nos a felicidade de ser livre e criança. De mais não me lembro, excepto de espreitar as pernas à mana e a todas as amigas que a visitavam e, mais longe, duma piscina na Serra que uma foto testemunha existência e minha visita, quando o boné era farda obrigatória e o triciclo o bem mais precioso. E os Natais, todos após a fase do limbo, da roca e das fraldas que imagino sempre mijadas e mais aquela coisa mal-cheirosa.
Se fosse esmiúçar muito por aí acima cataria, mas o espartano tema não me deixa nem liberta, e os melhores pormenores reservo-os para quando me proporem uma crónica sobre as minhas melhores férias e recordar que não me lembro de nada em especial, além de coisinhas poucas e que só darão para seis ou oito páginas entretidas no relato da forma mais suave de pagar empréstimos bancários, duma que me peça que fale da maior alegria da minha vida e também da maior tristeza, e misturar uma com outra para por osmose dizer que a minha vida foi e é assim assim, quem sabe se falarei de amores negados ou de beijos suaves à luz de candeeiros, e sem esforço alargarei o relato se o tema me pedir que conte e diga, em redacção com caligrafia bonita, que me lembre e escrevinhe da emoção sentida num qualquer momento histórico que se cruzou com a minha vida. Quem sabe, os pedidos específicos estimulam a memória, alindam-na no recordar, não são este aperto de me dizerem livre para escrever mas o nada assombrar-me e só me lembrar de badalhoquices de velhadas e de fraldas cagadas de meninos.
Uma última oportunidade. Blogas? «blogo, está claro! que estou aqui a fazer?» Então, rapaz, ora conta aí de tais assados e cozidos, que sentes quando tens quarenta leitores e do sorriso que fazes ao entrar no café do bairro e ninguém suspeitar o popular que és. Conta, como se estivéssemos a ver o "All that jazz", das fases que se sucedem desde a luz inicial que ofusca e maravilha, até à aceitação da perenidade do grão que és, e feliz por habitares praia tão vasta tens de estar, que o rush dos posts não desmerece do contínuo das ondas que te lavam e deixam-te o ego a brilhar. Consegues?
Fim de crónica, posição fetal inicial.
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