terça-feira, 31 de março de 2009
segunda-feira, 30 de março de 2009
"Eles vêm aí"
À Chrysler foram dados trinta dias para entrar nos eixos ou que alguém lhe dê outra mão, que aquela não dará mais. Fala-se na Fiat mas, a este nível, os pobres só vão às compras quando há Saldos. Ou dinheiro extra, haja quem o dê.
À General Motors foram dados esses trinta e outros tantos, e presume-se que o bónus deve-se ao terramoto psicótico que um "histórico" daqueles provocaria ao fechar portas e ser desmantelado no retalho do quem dá... alguma coisa.
Não sei números de agora mas não deverão divergir muito daqueles cujo resultado fixei há alguns anos: o orçamento anual da GM era superior ao do Estado português. É uma empresa-ícone, bandeira, e dos três gigantes de Detroit sobraria a Ford sabe-se lá até quando se igualmente não descarrilar mais.
O efeito-dominó destes encerramentos, a acontecerem, varrerá que nem furacão os USA de costa a costa e o vendaval chegará a todo o Mundo: mais bancos e mais seguradoras, mais grande e pequeno comércio (do sector mas não só) a fecharem portas: os 'grandes' estão interligados numa dependência mútua e há uma míriade de satélites que gravitam em volta da sua força nem que seja para aviar pequenos-almoços aos que lá trabalham.
Pois: é a tal da 'crise'. Que nem peste e sem antibióticos para curá-la, além do sanitário enterro dos mortos.
Mas há vencedores. Há, há. A China e a Índia. 'Eles vêm aí', não se duvide. E não é às compras: se as fizerem é para as vendas pois só precisam das 'lojas' e dos emblemas para pôr nas fachadas.
domingo, 29 de março de 2009
GP da Austrália + jornal PÚBLICO
Os Brawn em 1º e 2º, sendo que o 2º de Barrichello foi de sorte grande pois o lugar era do Vettel - sem difusor aerodinâmico! - até cinco voltas do final, quando deu a louca ao Kubica e veio para cima dele.
não consegui "ver" em nenhum dos links ao lado :( tenho de refinar "a coisa" pois que os há, há. acabei por acompanhá-lo em directo mas por relato escrito e com fotos a ilustrar no mesmo site dos últimos anos: o F1 na Web.
não consegui "ver" em nenhum dos links ao lado :( tenho de refinar "a coisa" pois que os há, há. acabei por acompanhá-lo em directo mas por relato escrito e com fotos a ilustrar no mesmo site dos últimos anos: o F1 na Web.
...e volto para a cama. com o raio da "hora nova" nem sei bem que horas são. sei é que... tchau, ó ó.
Classificação final:
1º Jenson Button
2º Rubens Barrichello
3º Jarno Trulli
4º Lewis Hamilton
5º Timo Glock
6º Fernando Alonso
7º Nico Rosberg
8º Sebastien Buemi
9º Sebastien Bourdais
10º Adrian Sutil
11º Nick Heidfled
12º Giancarlo Fisichella
13º Mark Webber
14º Sebastian Vettel
15º Robert Kubica
16º Kimi Raikkonen
17º Felipe Massa
18º Nelsinho Piquet
19º Kazuki Nakajima
20º Heikki Kovalainen
...................................
... e hoje é dia de comprar a PÚBLICA (uma revistinha que vem junto com um jornal que lhe é mano) pois tem uma reportagem com certa bloguista :) Parabéns Theo, minha Amiga nascida na virtualidade mas com sapatas de cimento feitas cá fora, das bem robustas!
sábado, 28 de março de 2009
surpresas?
eram bem vindas. mesmo sendo certo que os dois últimos campeonatos foram decididos na última prova: é que "são sempre os mesmos" e, belenense, acredito quer nas surpresas quer nos pequenos.
e recordo-me da Wolf, finais dos 70's. seria óptimo daqui a vintes, trintas, recordar-se igualmente uma Brawn.
PARA VER O GP À BORLIÚ: na coluna lateral há uma parga de links para, sem aturar a chulice futebolesca da Sport TV, ver pelo pc os Grande Prémios. ainda não testei os links todos mas foram 'gamados' num site de maluquinhos de Fórmula 1, portanto de quem saberá da poda.
este, GP da Austrália, é às sete da manhã. só para tarados, portanto :)
sexta-feira, 27 de março de 2009
"Pneuma" - Luis Patraquim
É já na próxima quinta-feira, às seis e meia (da tarde, claro! os poetas são loucos mas nunca o foram de madrugadores, felizmente!) que o Luis Patraquim manda ao mundo a sua nova obra, PNEUMA de sua graça e respiração.
Onde é? aqui, bem pertinho da Gulbenkian (e até tem um blogue), portanto central e não há desculpas para não se ir dar um abraço ao Luis. Eu só não estarei se não puder, que daqui a pouco arranco para Lisboa numa de "tem mesmo de ser" e... nem sempre se pode tudo que se deseja.
Mas um livro de poesia de Luis Carlos Patraquim não é de se poder ou não poder: é dos tais obrigatório!
quinta-feira, 26 de março de 2009
Voar
(...)
(...)
(imagem gamada aqui.)
- « Onde é que tu te meteste?», resmungou Smack, pedacinhos de irritação boiando nas palavras qual pão torrado em sopa de peixe. Apenas boiando, que o caldo era de lamentos de saudade.
- « Fui à depilação!», atirou-lhe en passant Smacka, a cabeça erguida naquele trejeito agarotado, lolita pura, que, embora dois 'maduros', fazia-o sentir-se deliciosamente quase pedófilo quando, como agora, ronronava atrás dela, os olhos fixos nas bochechas mas a perversa mioleira curiosinha da silva acerca dos retoques nouvelle vague no anverso.
O navio bóia, águas mansas e quentes. O cérebro voa qual asa delta pois é triangularmente que pensa que a brisa, cá em cima, é quase tão boa quanto o que a língua sente quando escreve com discreta descrição os odores e sabores de mergulhar e subir, voar.
- « Fui à depilação!», atirou-lhe en passant Smacka, a cabeça erguida naquele trejeito agarotado, lolita pura, que, embora dois 'maduros', fazia-o sentir-se deliciosamente quase pedófilo quando, como agora, ronronava atrás dela, os olhos fixos nas bochechas mas a perversa mioleira curiosinha da silva acerca dos retoques nouvelle vague no anverso.
O navio bóia, águas mansas e quentes. O cérebro voa qual asa delta pois é triangularmente que pensa que a brisa, cá em cima, é quase tão boa quanto o que a língua sente quando escreve com discreta descrição os odores e sabores de mergulhar e subir, voar.
(...)
(imagem gamada aqui.)
por Toutatis!
Lua
Apaga-se um grito negro quando as
foices matinais decepam a noite. É o sol
que nasce, mesmo quando o olhar o
não alcança. São as aves que acordam,
em quantos arbustos, em
quantas margens! Mas
não os ouvimos. Nada nos acorda deste
fim de ceifa; e é o sonho
que nos prende, no seu campo
de nuvens, à pele de pérolas
pálidas da deusa
branca.
Nuno Júdice
(a imagem foi gamada aqui.)
acreditarei Sempre. por Toutatis, Kiribati, Gallway, as ameijoas e o Pitágoras, acreditarei! nem que aos oitenta, setenta, se possível já "amanhã". há luas em saldos: não digam (suavemente, sugiram...), que é impossível voar se se acreditar! por Toutatis, e porra!
domingo, 22 de março de 2009
Domingo... pois!
embora esteja enevoado apetece-me dar uma mini voltita.
para não me constipar levo este:
... que, embora se chame "BMC Mini Claustrophobia Custom Coupe", ir neste é que seria um risco em senti-la:
claro que estivesse Sol e não hesitava: era este:
se entretanto chovesse... há sempre solução!
boas voltinhas, malta :)
para não me constipar levo este:
... que, embora se chame "BMC Mini Claustrophobia Custom Coupe", ir neste é que seria um risco em senti-la:
claro que estivesse Sol e não hesitava: era este:
se entretanto chovesse... há sempre solução!
boas voltinhas, malta :)
sábado, 21 de março de 2009
(algures)
hoje
- que é dia de Ti
sinto a falta do tudo
que me mantém longe
(meu limbo, estante, vazio)
lendo nos outros o que falta
de mim.
- que é dia de Ti
sinto a falta do tudo
que me mantém longe
(meu limbo, estante, vazio)
lendo nos outros o que falta
de mim.
sexta-feira, 20 de março de 2009
"Mark, by Ben"
postei parvoíves. ou apenas coisas engraçadas, o gag fácil, tal como os Fw's de anedotas ou de couves galegas e ursinhos.
há quem tenha outro olhar das sextas, as sextas da vida.
Obrigado por esta lição. a minha "e-voltinha" de hoje está finalmente completa. húmida, em meu benefício.
há quem tenha outro olhar das sextas, as sextas da vida.
Obrigado por esta lição. a minha "e-voltinha" de hoje está finalmente completa. húmida, em meu benefício.
"small is more beautiful"
não, não tenho inveja nenhuma!
as sextas-feiras são feiras de parvoíces. há de tudo como na farmácia. ou no YouTube...
as sextas-feiras são feiras de parvoíces. há de tudo como na farmácia. ou no YouTube...
"David após ida ao dentista"
:))
(para activar as legendas clicar na setinha no canto inferior direito e seguir a instrução, p.f.)
(para activar as legendas clicar na setinha no canto inferior direito e seguir a instrução, p.f.)
quinta-feira, 19 de março de 2009
depois vem a lágrima
diz quem sente para não sentir que não existem dias especiais. que todos o são e é Natal sempre que um Homem quiser. logo logo acrescenta a lágrima que referenda como, afinal, há dias em que se sentem mais as ausências. diz assim quem sente quanto valem os afectos e a sua falta.
hoje é dia do Pai, alguns atrás foi o dos Namorados, o da Mulher, e certamente alguém amante d'algo especial e o perdeu, igualmente dirá no dia que lhe é dedicado - seja qual for: "é Natal sempre que..." - que não, eles são todos iguais e todos são especiais. depois vem a lágrima.
fui e sou o pai possível e tal como em tudo terei melhorado com a idade. mesmo com as carências implícitas no dito, enquanto pai em exercício, como filho fui perante meu Pai soma de mais tristezas que alegrias e causador dalgumas das tais lágrimas, que as houve, não duvido, embora delas não recordo além da sua capa, o olhar de tristeza. os de reprovação não contam pois neste novelo são nós menores.
hoje pouco leio na Net. da lista lá em baixo visito meia dúzia ao dia e tanta vez chego ao fim achando que enchi demais o cabaz, consumista de nadas e nada importante ao meu dia. mantenho-os pelos fogachos pois tal como acredito acontecer cá no tasco todos são mãe de labaredas que num sopro acendem brasas quando já se esfria o olhar, cansado da voltinha.
e há outros (outros) que não estão na lista pois o seu lugar não é de rol mas de mais cimo, o "gordinho". puxo isto à conversa por causa do Dia do Pai e como, nele, li a lágrima, aquela que não sei soltar. fi-la minha porque não sabendo dizê-lo sinto tão quase igual que ela é a mesma: sou filho antes de ser pai.
precisava dizer isto.
quarta-feira, 18 de março de 2009
curto e grosso: "jamé!"
tou-me a cagar para as "novas tecnologias", que delas chega-me o blogue e mesmo neste passo mais tempo a olhá-lo de esgelha que como altar do mundo. tal como me estou a cagar para o montão de documentos de identificação que tenho na carteira e o Cartão de Cidadão foi uma boa-nova, uma alegria. Hi5's, Twitters, Face Books, Sonicos, Multiplys, tenho ficha neles todos e só o último me interessa assim-assim e por razões familiares. o resto é tralha que anda por aqui e só faz peso. estou neles porque "calhou" e fui atrás da onda de 'convites', mas ligo-lhes tanto como à toponímia dum deserto.
claro que isto tem destinatário. tem pois. com código postal e tudo, e não é Ferrero Rocher embora se julge a última bolacha do pacote.
claro que isto tem destinatário. tem pois. com código postal e tudo, e não é Ferrero Rocher embora se julge a última bolacha do pacote.
foto de caixinha de chocolates multitasking daqui.
domingo, 15 de março de 2009
"atravessadas"
(clicar para aumentar, pf)
Durante muitos anos acreditei que eram atravessadas, de fenda horizontal. A fantasia terá durado até, sei lá... aos meus doze, treze, catorze anos... Era um dos mitos presente nas conversas de muro, aquele crescer lento e aprendido entre sonhos com as miúdas vizinhas, anedotas que hoje eram soft mas então pareciam-nos deliciosamente 'porcas' e muita treta contada e jurada "cinco chagas de Cristo" acerca de sexo.
Não sei qual a idade do meu visitante de à um minuto atrás. E sequer se o fetiche é puramente oriental púbico ou se anda à procura de gambozinos, i.e., vaginas atravessadas. Bem, desejo-lhe boa sorte. Que encontre o que deseja, seja isso o que for. Lamento não ter podido ajudar pois que me recorde nunca aqui falei explícitamente em 'conas' e por certo nunca tão etnicamente localizadas: é que nem sou esquisito nem mantenho todas as fantasias dos treze anos. Algumas sim, mas juro "cinco chagas de Cristo" que, essa, já não. Infelizmente também aí envelheci.
Durante muitos anos acreditei que eram atravessadas, de fenda horizontal. A fantasia terá durado até, sei lá... aos meus doze, treze, catorze anos... Era um dos mitos presente nas conversas de muro, aquele crescer lento e aprendido entre sonhos com as miúdas vizinhas, anedotas que hoje eram soft mas então pareciam-nos deliciosamente 'porcas' e muita treta contada e jurada "cinco chagas de Cristo" acerca de sexo.
Não sei qual a idade do meu visitante de à um minuto atrás. E sequer se o fetiche é puramente oriental púbico ou se anda à procura de gambozinos, i.e., vaginas atravessadas. Bem, desejo-lhe boa sorte. Que encontre o que deseja, seja isso o que for. Lamento não ter podido ajudar pois que me recorde nunca aqui falei explícitamente em 'conas' e por certo nunca tão etnicamente localizadas: é que nem sou esquisito nem mantenho todas as fantasias dos treze anos. Algumas sim, mas juro "cinco chagas de Cristo" que, essa, já não. Infelizmente também aí envelheci.
sábado, 14 de março de 2009
explico-me
No serão antes dos pássaros chilrearem como agora fazem, chamando-me, chamando o primeiro café, o sol, as rotinas dos semanários - a minha "novela" privada - escrevi um pequeno texto num desafio pessoal que a Claire me fez, que ela para isso nem se roga nem é de modas: está-se nas tintas e a malta que se lixe ;)
Ora como soe dizer-se, acontece que a folhas tantas citei Enrique Vila-Matas em castelhano e ainda os pássaros dormiam quando o cantarolar do barcelonês que mais admiro me acordou. É que algures por aí abaixo está pespegada numa das paredes do tasco uma "cagança" que dá conta à clientela da minha etilização literária, execrável e fedorenta como as etilizações devem ser e com vómito tão vero que nem uma rodela de chouriço foi acrescentada ao bolçado: todos os resíduos boiantes foram expelidos por, antes, terem sido deglutidos.
Explico-me e traduzo, não haja pior fedor: no bolçado dou como já 'aviado' o livro "A assassina ilustrada" (edição da Campo das letras) e hoje-ontem, na tal lenga-lenga à volta do Desejo e mais umas coisinhas, abro lide em futebolês mas mal arregaço mangas salto para o castelhano e disse-me bem acompanhado quando me refugiei no café a dar conta do 'desafio': "La asesina ilustrada", o mesmíssimo mas noutro linguajar, em que até nem me sinto afoito a ponto de dispensar as traduções: mal me vejo com a minha quanto mais com a dos outros. Barthes explica essa parte, que eu não foi por isso que madruguei, os pássaros cantam, e não tarda abre o primeiro café no bairro e aí vou eu empanturrar-me de vazios, sempre à cata duma gargalhada que me assome o fim-de-semana (acontece).
Parafraseando-me, acontece que quando passei os dedos pela edição espanhola já a lusa regressara às estantes, paz à sua alma e siga para bingo que lá em baixo há mais toneladas por aviar que aquelas que conseguirei fazê-lo enquanto houver pássaros a acordarem-me. A sua capa dura não me enganou pois não justificava per si as diferenças de espessura entre uma e outra, ambas em formato "de bolso" e portanto ali havia estória: folheei. O desejo?
Vila-Matas escreve-se com maiúscula, é Literatura. "A assassina ilustrada", se não erro tão velhinho que dos anos setenta's, tem uma estrutura narrativa em que o Prólogo não é prólogo mas chamar-lhe-ei o primeiro capítulo do romance e nem ele nem a minha psiquiatra se zangará: a minha loucura não me cega, até porque uso óculos e se há coisa em que sou vezeiro é na "cagança" de ler, muito, de tudo, e raramente esquecer. Ora o acréscimo de peso e volume no original espanhol (edição de 2005, mas naquela editora: a primeira é do tempo em que Irving Wallace fazia fila e meia da minha estante) justificava-se por: a) um prólogo específico do Autor àquela ediçáo e por inerência à obra, o que me interessava tal qual tudo o que Vila-Matas escreve me interessa; e, b) um Epílogo por Jordi Llovet, seu companheiro dos tempos de Paris à pala da Duras (está no "Paris nunca se acaba", sortudos, todos), duas e já tantas para fazê-lo meu como fiz: eram Saldos, coisa sempre de garimpo fino e feliz.
E, - para terminar o "eu explico" e ir à vidinha pois atrás de mim já há luz à janela e já nem meia hora falta para abrir o café, os jornais, blá blá -, ontem misturei desejos naquela rentabilidade temporal com que tento gerir a confusão da minha vida, e seus amores, desejos: levei para o café a versão castelhana não por ter falsificado o bolçado ou por amor a Espanha, terra que terá muitas virtudes mas nelas não incluo o prazer de (lhes) ler jornais enquanto se aviam cafés: o Prólogo ao "prólogo" mais o Epílogo foram a razão e assim me explico, que é a mesma coisa coisa que dizer que acordei mal-disposto, este azedo que só se esvairá após o primeiro café tomado, permitam-no os cronistas a que darei a manhã. Ah! há os pássaros, sim. Gosto de ouvi-los a anunciarem o dia.
E houve quem me fizesse um mimo enquanto dava voltas à noite, e isso sabe bem. Muito bem :) Thanks Maria de Fátima! (vão lá. acreditem-me ;)
Ora como soe dizer-se, acontece que a folhas tantas citei Enrique Vila-Matas em castelhano e ainda os pássaros dormiam quando o cantarolar do barcelonês que mais admiro me acordou. É que algures por aí abaixo está pespegada numa das paredes do tasco uma "cagança" que dá conta à clientela da minha etilização literária, execrável e fedorenta como as etilizações devem ser e com vómito tão vero que nem uma rodela de chouriço foi acrescentada ao bolçado: todos os resíduos boiantes foram expelidos por, antes, terem sido deglutidos.
Explico-me e traduzo, não haja pior fedor: no bolçado dou como já 'aviado' o livro "A assassina ilustrada" (edição da Campo das letras) e hoje-ontem, na tal lenga-lenga à volta do Desejo e mais umas coisinhas, abro lide em futebolês mas mal arregaço mangas salto para o castelhano e disse-me bem acompanhado quando me refugiei no café a dar conta do 'desafio': "La asesina ilustrada", o mesmíssimo mas noutro linguajar, em que até nem me sinto afoito a ponto de dispensar as traduções: mal me vejo com a minha quanto mais com a dos outros. Barthes explica essa parte, que eu não foi por isso que madruguei, os pássaros cantam, e não tarda abre o primeiro café no bairro e aí vou eu empanturrar-me de vazios, sempre à cata duma gargalhada que me assome o fim-de-semana (acontece).
Parafraseando-me, acontece que quando passei os dedos pela edição espanhola já a lusa regressara às estantes, paz à sua alma e siga para bingo que lá em baixo há mais toneladas por aviar que aquelas que conseguirei fazê-lo enquanto houver pássaros a acordarem-me. A sua capa dura não me enganou pois não justificava per si as diferenças de espessura entre uma e outra, ambas em formato "de bolso" e portanto ali havia estória: folheei. O desejo?
Vila-Matas escreve-se com maiúscula, é Literatura. "A assassina ilustrada", se não erro tão velhinho que dos anos setenta's, tem uma estrutura narrativa em que o Prólogo não é prólogo mas chamar-lhe-ei o primeiro capítulo do romance e nem ele nem a minha psiquiatra se zangará: a minha loucura não me cega, até porque uso óculos e se há coisa em que sou vezeiro é na "cagança" de ler, muito, de tudo, e raramente esquecer. Ora o acréscimo de peso e volume no original espanhol (edição de 2005, mas naquela editora: a primeira é do tempo em que Irving Wallace fazia fila e meia da minha estante) justificava-se por: a) um prólogo específico do Autor àquela ediçáo e por inerência à obra, o que me interessava tal qual tudo o que Vila-Matas escreve me interessa; e, b) um Epílogo por Jordi Llovet, seu companheiro dos tempos de Paris à pala da Duras (está no "Paris nunca se acaba", sortudos, todos), duas e já tantas para fazê-lo meu como fiz: eram Saldos, coisa sempre de garimpo fino e feliz.
E, - para terminar o "eu explico" e ir à vidinha pois atrás de mim já há luz à janela e já nem meia hora falta para abrir o café, os jornais, blá blá -, ontem misturei desejos naquela rentabilidade temporal com que tento gerir a confusão da minha vida, e seus amores, desejos: levei para o café a versão castelhana não por ter falsificado o bolçado ou por amor a Espanha, terra que terá muitas virtudes mas nelas não incluo o prazer de (lhes) ler jornais enquanto se aviam cafés: o Prólogo ao "prólogo" mais o Epílogo foram a razão e assim me explico, que é a mesma coisa coisa que dizer que acordei mal-disposto, este azedo que só se esvairá após o primeiro café tomado, permitam-no os cronistas a que darei a manhã. Ah! há os pássaros, sim. Gosto de ouvi-los a anunciarem o dia.
E houve quem me fizesse um mimo enquanto dava voltas à noite, e isso sabe bem. Muito bem :) Thanks Maria de Fátima! (vão lá. acreditem-me ;)
sexta-feira, 13 de março de 2009
"O Desejo"
A Claire ficou tão brava por ter mandado às urtigas (dixit) a minha arenga a pé-coxinho ao desafio seis particularidades pessoais - que entretanto já recuperara à visibilidade voyeur -, que arranjou-me outro "trinta e um": conversar sobre O Desejo, venha ele de que poro vier. Ainda mais em café já com mesas à cunha, tanto que lá me ajeitei numa mesinha do meu de bairro e enquanto o Paços de Ferreira marcava um golo esgalhei sobre desejos mais realistas que não o do meu Belenenses se safar esta época em malhar com os costados na "Honra", again :(
Como levei companhia que caiu que nem ginjas, saco do primeiro parágrafo do Prólogo de Vila-Matas ao "La asesina ilustrada" (edição de 2005 da Editorial Lumen), pois por algum lado tinha de começar:
"Tan mezcladas y entrelazadas se encuentran en mi vida las ocasiones de risa y de llanto que me es imposible recordar sin buen humor el penoso incidente que me empujó a la publicacion de estas páginas". ora nem mais: a vida é um Desejo contínuo de tudo, e não tem de ser penoso falar dele... e dela.
"Na boa-hora de sexta treze sentei-me no mocho para olhar O Desejo, ciente que o libelo não é pequeno e o tempo para alegações abonatórias termina num ai, ai o desejo. Atenuantes e agravantes cruzam-se nas seis letras e destas a menor não é certamente, por tardia descoberta tertuleana, ter corrido à saca dos fantasmas e virado-a no chão deste papel, tal qual puto que vaza o baú de brinquedos pois se na sua alma brincalhona há lugar a desejo, é o de voltar a tocar o velho cromo que era tão raro, tão raro, que por ele trocou o lanche e a playstation, os ténis novos e as moedas todas que encontrou e rapinou, todas e tantas que quando o barqueiro lhas pedir ele exibirá o cromo e como para tão raro bem não há troco ficará na margem certa, a dos putos e dos Desejos satisfeitos.
Desejo... desejo tanto, tanto... Primeiro, desejo ser feliz. E temo-o. Pois cumprido o nº Um nenhum haverá por satisfazer e chafurdarei na felicidade oca de ser feliz por desejo, e não pelo acaso d'algo, um momento um gesto, uma palavra lida ouvida, dita ou escrita. O Desejo é Viver: mesmo quando se chama a Morte - ó bemquista! ó salvícia que te invoco mas, cobarde, saco do cromo e rio de não haver trocos a tanto como este resto de baú...! -, quando na lágrima cai o mundo e na enxurrada se esbraceja e silvam cordas baloiçantes há nesse plasma perenidade suficiente para alongar o fio e pousar os pés nesse chão que é linha, linhas de carrinho de desejos.
Vou contar, recontar é melhor dito, o meu segredo mais público entre todos os que não conto mas lá vou contando, o meu Desejo dos Desejos, que me leva a virar a folha e continuar, sexta-feira treze, tal como o trânsito não pára e só abranda quando se vêm desejos abruptamente amarrotados: desejava ser amado. Vias travessas pois não me importa se atalho ou atraso, amado como escritor. Sonho sensualidade nesta sede, há amor por mim e de mim pelo leitor. Desejava que o ler-me fosse quase sempre tão bom como às vezes é fazer amor. Penso que esta entrará nas atenuantes mas, leitor, eu estou no mocho e dói-me o rabo e só me levantarei no fim para ouvir-te. Deixo aos autos este desejo como peça processual, este anexo alfabetizado ao corpo principal: O Desejo. Tudo, tudo cede a esta cegueira. Dizem que os "shandys" chegavam a atirar as crianças pela janela para conseguirem o silêncio criador. Eu jogo-me inteiro neste desejo, capo a vida e ronrono a olhá-lo seja sexta seja sábado, aurora crepúsculo multidão vazio, estou só: o meu desejo: eu e tu, e as linhas que nos ligam, atam, até os pulsos ficarem roxos (de desejo), a erecção do enforcado. Mórbido, hã? é, os desejos são assim: um cromo único, o amor a uma flor.
...e a dois dias de fim de prazo e na mesa do café de esquina fumei este desejo, conversei contigo, leitor. "Foi bom para ti também?" Não, claro que não: nas boas-horas as alegações nunca têm um fim: matariam o desejo e aí sim, o barqueiro sorriria e faria o último troco, adeus margem de desejos, meu cromo raro, meu brinquedo querido, linhas, aquela flor.
Como levei companhia que caiu que nem ginjas, saco do primeiro parágrafo do Prólogo de Vila-Matas ao "La asesina ilustrada" (edição de 2005 da Editorial Lumen), pois por algum lado tinha de começar:
"Tan mezcladas y entrelazadas se encuentran en mi vida las ocasiones de risa y de llanto que me es imposible recordar sin buen humor el penoso incidente que me empujó a la publicacion de estas páginas". ora nem mais: a vida é um Desejo contínuo de tudo, e não tem de ser penoso falar dele... e dela.
"Na boa-hora de sexta treze sentei-me no mocho para olhar O Desejo, ciente que o libelo não é pequeno e o tempo para alegações abonatórias termina num ai, ai o desejo. Atenuantes e agravantes cruzam-se nas seis letras e destas a menor não é certamente, por tardia descoberta tertuleana, ter corrido à saca dos fantasmas e virado-a no chão deste papel, tal qual puto que vaza o baú de brinquedos pois se na sua alma brincalhona há lugar a desejo, é o de voltar a tocar o velho cromo que era tão raro, tão raro, que por ele trocou o lanche e a playstation, os ténis novos e as moedas todas que encontrou e rapinou, todas e tantas que quando o barqueiro lhas pedir ele exibirá o cromo e como para tão raro bem não há troco ficará na margem certa, a dos putos e dos Desejos satisfeitos.
Desejo... desejo tanto, tanto... Primeiro, desejo ser feliz. E temo-o. Pois cumprido o nº Um nenhum haverá por satisfazer e chafurdarei na felicidade oca de ser feliz por desejo, e não pelo acaso d'algo, um momento um gesto, uma palavra lida ouvida, dita ou escrita. O Desejo é Viver: mesmo quando se chama a Morte - ó bemquista! ó salvícia que te invoco mas, cobarde, saco do cromo e rio de não haver trocos a tanto como este resto de baú...! -, quando na lágrima cai o mundo e na enxurrada se esbraceja e silvam cordas baloiçantes há nesse plasma perenidade suficiente para alongar o fio e pousar os pés nesse chão que é linha, linhas de carrinho de desejos.
Vou contar, recontar é melhor dito, o meu segredo mais público entre todos os que não conto mas lá vou contando, o meu Desejo dos Desejos, que me leva a virar a folha e continuar, sexta-feira treze, tal como o trânsito não pára e só abranda quando se vêm desejos abruptamente amarrotados: desejava ser amado. Vias travessas pois não me importa se atalho ou atraso, amado como escritor. Sonho sensualidade nesta sede, há amor por mim e de mim pelo leitor. Desejava que o ler-me fosse quase sempre tão bom como às vezes é fazer amor. Penso que esta entrará nas atenuantes mas, leitor, eu estou no mocho e dói-me o rabo e só me levantarei no fim para ouvir-te. Deixo aos autos este desejo como peça processual, este anexo alfabetizado ao corpo principal: O Desejo. Tudo, tudo cede a esta cegueira. Dizem que os "shandys" chegavam a atirar as crianças pela janela para conseguirem o silêncio criador. Eu jogo-me inteiro neste desejo, capo a vida e ronrono a olhá-lo seja sexta seja sábado, aurora crepúsculo multidão vazio, estou só: o meu desejo: eu e tu, e as linhas que nos ligam, atam, até os pulsos ficarem roxos (de desejo), a erecção do enforcado. Mórbido, hã? é, os desejos são assim: um cromo único, o amor a uma flor.
...e a dois dias de fim de prazo e na mesa do café de esquina fumei este desejo, conversei contigo, leitor. "Foi bom para ti também?" Não, claro que não: nas boas-horas as alegações nunca têm um fim: matariam o desejo e aí sim, o barqueiro sorriria e faria o último troco, adeus margem de desejos, meu cromo raro, meu brinquedo querido, linhas, aquela flor.
A génese do Amor (citações)
TERCEIRO DIÁLOGO ENTRE NATÉRCIA E CAMÕES
- Quando o meu pensamento,
minha amada,
era o teu pensamento,
em atino e esperança
de bem querer
Ou fui eu que sonhei
esse momento
e nunca houve mais
que supor crer:
por ele me perdi
no desejo de em ti
me desejar perder?
- Quando o teu pensamento,
amado meu,
era o meu pensamento,
e ardia em brilho,
como sarça ardendo
Ou fui eu
que ao sonhar esse momento
me desejei,
te querendo?
E o que via de ti,
amor, amado,
era a mim própria,
paralela em amor,
como num espelho
por onde o teu olhar
me fosse doce riso
branda pele,
e eu nele assim cativa,
meu amor
- E eu nele assim,
cativo
"A Génese do Amor", Ana Luísa Amaral, Campo das Letras, 2005
- Quando o meu pensamento,
minha amada,
era o teu pensamento,
em atino e esperança
de bem querer
Ou fui eu que sonhei
esse momento
e nunca houve mais
que supor crer:
por ele me perdi
no desejo de em ti
me desejar perder?
- Quando o teu pensamento,
amado meu,
era o meu pensamento,
e ardia em brilho,
como sarça ardendo
Ou fui eu
que ao sonhar esse momento
me desejei,
te querendo?
E o que via de ti,
amor, amado,
era a mim própria,
paralela em amor,
como num espelho
por onde o teu olhar
me fosse doce riso
branda pele,
e eu nele assim cativa,
meu amor
- E eu nele assim,
cativo
"A Génese do Amor", Ana Luísa Amaral, Campo das Letras, 2005
quarta-feira, 11 de março de 2009
o eco (citando-me)
(...) o eco... o eco é o som que se aninha nos sentidos. e as palavras dóiem-se da sua intromissão, escasseiam-se, por medo dele aninham-se longe dos dedos tal como as cidades se abrigam e esvaziam as artérias quando os deuses copiosamente as atormentam e fazem das noites clarões terríveis, fotografando-as quais ecos luminosos do seu perfil. o eco, o mote, o eco das decisões. soa. eu? eco-o igualmente. também cá caem relâmpagos e os retratos sociais adornam mobiliários molhados. a dissonância do eco são os coitados dos smileys e sua moldura, esparsos espectadores em bancadas vazias, chuvadas, adeptos de militância mas com corações molhados de descrentes na glória da sua equipe. pobres smileys: tantos em princípio de época que se acotovelavam para ir a jogo, ora o eco e a chuva do silêncio. corri três bancos deles e ele, ele smiley-eco! não o encontrei. nem um suplente. (...)
terça-feira, 10 de março de 2009
a mania das citações
"(...) Vê como é fácil? Eu fui para a guerra para vencer ou morrer; o que ninguém me tinha dito é que se pode ir à guerra e acabar vivo e derrotado. Sou um homem simples, gosto das coisas com lógica (...)" (pág. 109)
"- Isso é coisa que nem precisas de me dizer, tenente - a voz de Bouthellier ganhou um tom de cordialidade artificial. - Mas lembra-te de que, mais perigosa que a verdade ou a mentira, é a meia-verdade ou a meia-mentira. Se tivesses algo para me contar, fá-lo-ias, estou correcto?" (pág. 117)
"A arte de matar dragões", Ignacio del Valle, Porto Editora, 2009
... e termino as citações a saca-rolhas deste, já que lhe passei o pêlo e cheguei ao meio com duas certezas: actualmente leia o que leia leio sempre a mesma estória: "eles andam aí"; a outra é que as linhas dos escritores são como as estradas dos empreiteiros (à excepção da CRIL, por enquanto): todas vão dar às nossas Romas, seus castelos e dragões.
PS: entretanto este já chegou. não ficará em lista de espera :)
"- Isso é coisa que nem precisas de me dizer, tenente - a voz de Bouthellier ganhou um tom de cordialidade artificial. - Mas lembra-te de que, mais perigosa que a verdade ou a mentira, é a meia-verdade ou a meia-mentira. Se tivesses algo para me contar, fá-lo-ias, estou correcto?" (pág. 117)
"A arte de matar dragões", Ignacio del Valle, Porto Editora, 2009
... e termino as citações a saca-rolhas deste, já que lhe passei o pêlo e cheguei ao meio com duas certezas: actualmente leia o que leia leio sempre a mesma estória: "eles andam aí"; a outra é que as linhas dos escritores são como as estradas dos empreiteiros (à excepção da CRIL, por enquanto): todas vão dar às nossas Romas, seus castelos e dragões.
PS: entretanto este já chegou. não ficará em lista de espera :)
(post reformulado na noite de 11)
segunda-feira, 9 de março de 2009
citações
"O rosto de Arturo, até aí cortês, sofreu uma transformação intensa e dolorosa. Soube que a rapariga era luz, a luz em torno da qual devia girar, a luz que possivelmente o devoraria.
- Não é demasiado nova? - perguntou.
- A fruta madura apodrece, é preciso comê-la enquanto está verde - disse o aristocrata.
- Quantos anos tens?
A rapariga olhou-o abrindo muito os olhos.
- Não o percebe. É austríaca. - esclareceu Margot.
- Wie alt sind Sie? - Arturo repetiu a pergunta.
O sorriso da rapariga estendeu-se iluminando até os últimos recantos da sua escura vida.
- Ich bin sechzehn und halb - respondeu: 16 anos e meio.
- Und wie heissen Sie, denn?
- Wie Sie wollen.
"E como se chama?", "Como o senhor quiser." Falou sem provocação, com a ingenuidade própria de uma embalagem tão delicada. Arturo imaginou que a jovem devia ter sido instruída nas artes eróticas desde muito nova, mas, apesar disso, conservava no seu interior um inviolável fogo de vestal sagrada. Ela era a donzela germânica, loura apesar de morena, a dama a quem qualquer cavaleiro devia encomendar-se. O dragão não devia estar longe.
- Procurei-te através dos séculos, pela noite do mundo, sem sono, sempre em busca de ti.
Arturo proferiu estas palavras em voz alta, sem desviar os olhos dela. A rapariga olhava-o sem conseguir compreender, mas com um ar curioso. Uma tosse fingida de Publio Medina fê-lo aperceber-se de que se estava a expor. Margot e o aristocrata observavam-no com um ar de grande desconcerto.
- Decididamente, o senhor é uma caixinha de surpresas - constatou a madame, como de si para si." (págs. 57 e 58)
"Lá fora, a chuva continuava a passar as mãos sobre cada centímetro quadrado do mundo." (pág. 77)
"- Meu coronel - Arturo retomava o tratamento intencionalmente -, posso pedir-lhe um conselho?
- Não dou conselhos - respondeu Gandía de modo seco.
- Uma opinião, então.
- Acerca de quê?
- Bem... De todo este assunto... Que lhe parece?
Gandía nem sequer se voltou.
- O senhor conhece o princípio de Ockham? - perguntou a Arturo.
- Sim, diz que a explicação mais simples de um facto costuma ser a correcta.
- Pois bem, Ockham era um embusteiro." (pág. 85)
"Bem - comentou o engraxador com complacência -, e então como é ela?
Arturo ficou uns momentos de olhar perdido, reflectindo sobre como procederia um cavaleiro para descrever ao escudeiro a sua dama. Falou de modo suave, acariciando as palavras.
- É a coisa mais bela e mais terrível do mundo." (pág. 90)
"Um bando de aves cruzava o céu numa formação em "v", que alargava o seu ângulo à medida que se afastava. Quando já não conseguia distinguir os pássaros, aconchegou a roupa ao corpo e começou a caminhar pela avenida fora. Poucos metros mais à frente, contudo, foi detido por alguém que lhe agarrava o braço. Arturo voltou-se com um sobressalto. Era a velha.
- Há vivos que são tão belos para os mortos que estes muitas vezes ficam à sua volta para os contemplar - disse a cartomante com estoicismo.
- Que quer de mim?
- À tua volta há muitos mortos, Arturo.
- Já não precisa de continuar com a fantochada. Olhe, se é mais dinheiro que quer... - fez menção de meter a mão no bolso.
- O que te disse antes eram patacoadas. Nunca vi umas cartas como as tuas, filho. Vi mausoléus abandonados à luz da lua. Sorte e morte. Também vi reis. Poder e morte. Via a carta do Par: uma mulher e um homem. Ela está na casa do amor e ele na casa das contrariedades e do fim trágico. Cuidado com ele.
- Não percebo nada do que me diz - respondeu Arturo contrariado.
- Os oráculos são sempre assim: certeiros, mas imprecisos. Mas tu ouve, para não te esqueceres. Não poderás evitar que as coisas aconteçam, mas sofrerás menos.
- Não acredito nessas coisas.
- Ainda não terminei - interrompeu a mulher com a palma da mão erquida. - A mulher vai-te fazer feliz, mas também fará de ti escravo. E o homem... O homem é pérfido e enganador, está no mundo para fazer o mal. Vai haver violência e morte. E todos sereis devorados pela última carta: o dragão. Mas deves recordar que a força do dragão não vem do seu pânico, mas de um fogo interior que o consome. O verdadeiro combate terá início quando o dragão tiver de lutar consigo mesmo." (pág. 97)
"A arte de matar dragões", Ignacio del Valle, Porto Editora, 2009
- Não é demasiado nova? - perguntou.
- A fruta madura apodrece, é preciso comê-la enquanto está verde - disse o aristocrata.
- Quantos anos tens?
A rapariga olhou-o abrindo muito os olhos.
- Não o percebe. É austríaca. - esclareceu Margot.
- Wie alt sind Sie? - Arturo repetiu a pergunta.
O sorriso da rapariga estendeu-se iluminando até os últimos recantos da sua escura vida.
- Ich bin sechzehn und halb - respondeu: 16 anos e meio.
- Und wie heissen Sie, denn?
- Wie Sie wollen.
"E como se chama?", "Como o senhor quiser." Falou sem provocação, com a ingenuidade própria de uma embalagem tão delicada. Arturo imaginou que a jovem devia ter sido instruída nas artes eróticas desde muito nova, mas, apesar disso, conservava no seu interior um inviolável fogo de vestal sagrada. Ela era a donzela germânica, loura apesar de morena, a dama a quem qualquer cavaleiro devia encomendar-se. O dragão não devia estar longe.
- Procurei-te através dos séculos, pela noite do mundo, sem sono, sempre em busca de ti.
Arturo proferiu estas palavras em voz alta, sem desviar os olhos dela. A rapariga olhava-o sem conseguir compreender, mas com um ar curioso. Uma tosse fingida de Publio Medina fê-lo aperceber-se de que se estava a expor. Margot e o aristocrata observavam-no com um ar de grande desconcerto.
- Decididamente, o senhor é uma caixinha de surpresas - constatou a madame, como de si para si." (págs. 57 e 58)
"Lá fora, a chuva continuava a passar as mãos sobre cada centímetro quadrado do mundo." (pág. 77)
"- Meu coronel - Arturo retomava o tratamento intencionalmente -, posso pedir-lhe um conselho?
- Não dou conselhos - respondeu Gandía de modo seco.
- Uma opinião, então.
- Acerca de quê?
- Bem... De todo este assunto... Que lhe parece?
Gandía nem sequer se voltou.
- O senhor conhece o princípio de Ockham? - perguntou a Arturo.
- Sim, diz que a explicação mais simples de um facto costuma ser a correcta.
- Pois bem, Ockham era um embusteiro." (pág. 85)
"Bem - comentou o engraxador com complacência -, e então como é ela?
Arturo ficou uns momentos de olhar perdido, reflectindo sobre como procederia um cavaleiro para descrever ao escudeiro a sua dama. Falou de modo suave, acariciando as palavras.
- É a coisa mais bela e mais terrível do mundo." (pág. 90)
"Um bando de aves cruzava o céu numa formação em "v", que alargava o seu ângulo à medida que se afastava. Quando já não conseguia distinguir os pássaros, aconchegou a roupa ao corpo e começou a caminhar pela avenida fora. Poucos metros mais à frente, contudo, foi detido por alguém que lhe agarrava o braço. Arturo voltou-se com um sobressalto. Era a velha.
- Há vivos que são tão belos para os mortos que estes muitas vezes ficam à sua volta para os contemplar - disse a cartomante com estoicismo.
- Que quer de mim?
- À tua volta há muitos mortos, Arturo.
- Já não precisa de continuar com a fantochada. Olhe, se é mais dinheiro que quer... - fez menção de meter a mão no bolso.
- O que te disse antes eram patacoadas. Nunca vi umas cartas como as tuas, filho. Vi mausoléus abandonados à luz da lua. Sorte e morte. Também vi reis. Poder e morte. Via a carta do Par: uma mulher e um homem. Ela está na casa do amor e ele na casa das contrariedades e do fim trágico. Cuidado com ele.
- Não percebo nada do que me diz - respondeu Arturo contrariado.
- Os oráculos são sempre assim: certeiros, mas imprecisos. Mas tu ouve, para não te esqueceres. Não poderás evitar que as coisas aconteçam, mas sofrerás menos.
- Não acredito nessas coisas.
- Ainda não terminei - interrompeu a mulher com a palma da mão erquida. - A mulher vai-te fazer feliz, mas também fará de ti escravo. E o homem... O homem é pérfido e enganador, está no mundo para fazer o mal. Vai haver violência e morte. E todos sereis devorados pela última carta: o dragão. Mas deves recordar que a força do dragão não vem do seu pânico, mas de um fogo interior que o consome. O verdadeiro combate terá início quando o dragão tiver de lutar consigo mesmo." (pág. 97)
"A arte de matar dragões", Ignacio del Valle, Porto Editora, 2009
vrum-vrums
há uns três ou mesmo já quatro anos que colecciono fotos de automóveis via Internet. uso um disco externo para guardá-las, catalogadas e arrumadas dentro do possível e do impossível - há umas boas duas mil por identificar.
à pouco pus a correr o "propriedades" para satisfação duma curiosidade que cada dia aumentava, assim como a noção de desactualização dos seus números reais. deu:
- 534.671 fotografias, em
- 45.983 pastas individualizadas.
tudo num espaço total de 116 GB.
estou farto de carros até ao cocuruto mas não consigo parar. talvez as anunciadíssimas falências no sector me venham dar descanso e me dedique à pesca ou à capinagem.
à pouco pus a correr o "propriedades" para satisfação duma curiosidade que cada dia aumentava, assim como a noção de desactualização dos seus números reais. deu:
- 534.671 fotografias, em
- 45.983 pastas individualizadas.
tudo num espaço total de 116 GB.
estou farto de carros até ao cocuruto mas não consigo parar. talvez as anunciadíssimas falências no sector me venham dar descanso e me dedique à pesca ou à capinagem.
ou outra metadona qualquer.
domingo, 8 de março de 2009
dia De Flores
sem Vós seria um mineral e nada sentia além de apenas existir num canto qualquer daqui. vá lá, talvez fosse um vegetal mas não uma flor: uma couve galega ou uma alface de ar viçoso, uma ou outra acompanhamento sem pretensão a honra de prato principal que é como me sinto quando sou Amor. nunca sentiria a alegria de numa mão ou numa jarra nascer um sorriso que perfumasse dias e sonhos, Vós. as melhores emoções que tenho e recordo não existiriam, daí o registo era o nada pois não sou gay: adoro-vos de paixão eternamente renovada em nomes tão suaves como os cheiros dum jardim. amo-vos desde que vos descobri. desejo-vos desde que me senti. tantas flores que vi e a quem sorri e não me encho desse prazer: não sou mineral e cresço sempre mais um pouco quando Vos amo, e pétala a pétala enrubeço o viver, crente que o existir estático é anestesia ocasional e logo logo acordarei: por Vós. vós, Mundo-Jardim onde de mãos-dadas sinto o coração gordinho quando descubro que não sou um mineral pois na minha mão está uma Flor. amo-vos tanto, às de ontem, ao hoje e a um amanhã que sejam os deuses sorridentes e será igual: os jardins são belos e neles estão vocês, as Flores.
sexta-feira, 6 de março de 2009
(eu bem dizia...)
pelo-me por uma história de amor. manias... esta foi oscarizável na categoria de "curtas" mas como esqueceram-se de me pedir o voto não ganhou. injustiça, pois. ora vejam...
triste
O Afonso Tiago não volta. Ele e o JL, irmão da minha amiga Elsa.
Não conheci o Afonso ou os seus familiares. Uma mini-mini relação virtual com um familiar e outra menos mini com um amigo desse familiar, e nada mais.
Nem que esse quase nada não existisse havia uma razão para. A ajuda na sua busca foi (inicialmente) a única para manter a porta semi-aberta.
Depois outras juntaram-se. Poucas. O bichinho a espreitar e eu a hesitar se lhe apertava o pescoço ou se continuava a dança louca. O diário de mim e o voyeirismo de mim, que bem quero mas não me curo. E a velha esperança nos impossíveis e a sempre nova desilusão das realidades.
Triste, sim. Pelo Afonso e pela sua família. E sem outra razão para continuar aqui, que com a Elsa falei pessoalmente.
Para já, que se a vontade diz "nunca mais" sei de saber que não é bem assim. Tal como as famílias e amigos dos falecidos precisam do seu luto eu preciso do meu.
Não conheci o Afonso ou os seus familiares. Uma mini-mini relação virtual com um familiar e outra menos mini com um amigo desse familiar, e nada mais.
Nem que esse quase nada não existisse havia uma razão para. A ajuda na sua busca foi (inicialmente) a única para manter a porta semi-aberta.
Depois outras juntaram-se. Poucas. O bichinho a espreitar e eu a hesitar se lhe apertava o pescoço ou se continuava a dança louca. O diário de mim e o voyeirismo de mim, que bem quero mas não me curo. E a velha esperança nos impossíveis e a sempre nova desilusão das realidades.
Triste, sim. Pelo Afonso e pela sua família. E sem outra razão para continuar aqui, que com a Elsa falei pessoalmente.
Para já, que se a vontade diz "nunca mais" sei de saber que não é bem assim. Tal como as famílias e amigos dos falecidos precisam do seu luto eu preciso do meu.
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