terça-feira, 29 de setembro de 2009

acenderam mais um bico de gás no inferno!



Eu gosto de confusão. Juro que gosto. E não tenho culpa: as coisas acontecem e não consigo evitar-me de pensar nelas de forma... criativa? maleficamente criativa? Ora vejam:


Cenário 1: quando chamado para apresentar a(s) sua solução governativa após o molho de bróculos parido domingo passado, o Partido Socialista declara que perdeu a confiança no Presidente da República e, assim, recusa-se a formar ou participar num governo sob um mapa político que integre o "caído em desgraça". Era giro!

Cenário 2: ouvidos os partidos que elegeram representação parlamentar (o tal molho de bróculos que de papelinho riscado parimos, blá blá) Sua Excelência entende que o mais votado não tem postura de Estado que garanta um funcionamento digno, o segundo mais votado tem falta de combustível e passageiros para ser um meio credível parlamentarmente, e os outros claro que não contam. Porra, que era bestial!


E porque é que era giro, ou bestial, escolham-me o júbilo?


Vexa poderia fazer três coisas, para já:

a) demite-se (tá quieto!... o man é de quebrar antes de torcer...)

b) declara os resultados eleitorais inconclusivos e convoca novas eleições (porreiro pá! esta cena de viver em permanente campanha eleitoral dava-nos visibiliadde externa, case study, etc etc. Deve ser bom pró turismo e mais qualquer outra que agora não me lembra)

c) a parte primeira de b) e nomeia um governo presidencial, sob o aplauso da Srª que disse que a democracia podia ser suspensa seis meses, e se chega à frente. O mercado de arrendamento habitacional recebe um boom, pois o PC açambarca tudo que pode para 'casas seguras' dos seus dirigentes, funcionários, militantes, e dos primos verdes. (giríssima, essa de passar a ter como vizinhos gajos e gajas constantemente de gabardine e óculos de sol, e jornal debaixo do braço. melhor que emigrantes romenos, acrescento - e falo assim porque tive-os, nada de merdas de acusações de xenofobia, etc)


Isto ficou curtido, ó se ficou!...

Adenda: há as Presidencias, e Cavaco Silva quer ser reeleito - estava a esquecer-me. Alguém acredita que, uma "rata velha" como ele é, não previu e mediu ao decímetro as consequências da teatral declaração desta noite? "não há almoços grátis", disse uma vez um parvo. e acertou. caso raro mas acertou. Alegre lixou-se esta noite. Mais uma vez...

(o cartaz dum filme que me veio à memória veio daqui. ganda cena!...)

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

de bem com Deus e o Diabo



Está montado o Circo!... Novas piruetas em cartaz! Não perca a hilariante palhaçada quinzenal, os hábeis engolidores de sapos e os intrépidos domadores de avestruzes! Prémios diversos para os fiéis adeptos, e pipocas para os rabugentos! Não perca a Nova Edição da famosa peça teatral "Como estar bem com Deus e o Diabo"! Não fuja: o Circo É Nosso!!!

Obrigado :-)


a foto é bem conhecida

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

contágios de campanha eleitoral


Tempos de campanha eleitoral são propícios ao recurso a kit completo: gabardine, chapéu, cachecol e luvas: há alto risco de ocorrência de sonoros atchins! alérgicos.

Hoje recebi um mail inócuamente intitulado como "reflexão interessante", e descomprometedoramente seguido do irritante "... que envio como recebi". Mau começo, mesmo muito mau, que quem não tem certezas ou opiniões próprias acerca de melões deve publicitar é uvas, ou aquilo que perceba ou acredite perceber. Meias tintas é que não. Aplicável à gestão empresarial será falência certa, e na individual é sprint para descrédito garantido. Pena, que a remetente é gente boa e inteligente - sei-o, mas o compromisso moral de aceitar ceder a sua independência a uma lista partidária certamente foi o encolher de ombros que lhe permitiu tal "frete" político, pois não concebo que fora do espartilho ideológico duma campanha eleitoral se sujeitasse (e cegasse para) a isto. Maus tempos: gabardine, chapéu, cachecol e luvas - aconselho.

Que diz o mail das meias tintas? no mesmo registo de não comprometimento insinua e sugere. Raciocina por conta própria as parcelas todas, depois faz o risco e dá uma ajudinha para o leitor completar a soma, todo pimpão por ter decifrado o "enigma". Escolástico. Insultuosamente escolástico, a recordar velhas escolas doutras tabuadas e reguadas, fábricas de pensamentos únicos e de ostracismo aos divergentes. Omito a nota de repugnância pelo conhecimento pessoal da remetente, e acreditando sempre que recebeu, leu, o encolher de ombros e clicou no Fw: é campanha, afinal.
Em suma e sem paninhos quentes: o voto de esquerda no BE é um voto perdido pois este partido político está longe de ser donzela: candidata-se encapotadamente ao concubinato de apoio (parlamentar, com ou sem componente governamental) do PS, face à previsível vitória deste mas bem longe duma maioria. Pasmo! E termina melífluamente com: «Perante isto, os muitos descontentes com o PS de Sócrates, bem que podem rever o seu slogan, antes que seja tarde, mudando-o para "Vota à esquerda ou à direita, mas não votes PS nem BE"».
Não gosto que me chamem burro, e aqui passo do pasmo à indignação. Explico e dou lenço de papel, para quem hesite no espirro:

1 - Afinal não é objectivo de qualquer partido político alcançar o exercício do poder, para influenciar a sociedade segundo o que ideologicamente acha que melhor serve os interesses da mesma?

2 - Alguém dá - política - sem receber em troca? alguém serve de bengala a quem está coxo - política - sem exigir para tanto que, negoceia-se, as políticas X, Y e Z sejam adaptadas à sua visão específica de como elas devem decorrer?

3 - O BE é um epifenómeno do espectro político português? com crescimento sustentado há década e meia?

4 - Será só da ala alegrista e parentela que lhe vem o crescimento? o voto jovem e de gauche não cai lá quase por inteiro, por não se rever em "(bocejo) mais do mesmo (bocejo)"?


Percebe-se a grande preocupação do PC: uma derrota face ao BE por números que seriam humilhantes. O pânico por o último bastião estar ameaçado - a hegemonia na esquerda-esquerda - e a partir daqui ou a reconversão, impensável para a nomenclatura dinossáuria, ou o fim, o resíduo, em galope e não a trote como até agora.
E repito que fico triste com "fretes" de campanha, por quem vale bem MAIS que, afinal, tão pouco_que o é.

Por isso recomendo neste Outono rigoroso gabardine, chapéu, cachecol e luvas. At´«e ao fecho das urnas de voto. Alergias, espirros, má disposição: o perigo espreita numa caixa de correio electrónico bem à frente dos nossos estimáveis narizes!...

Declaração de interesses: Provavelmente irei votar BE nas legislativas. Mas ainda não decidi em absoluto: o voto em branco tem força política quase igual, percentagens à parte.


procurava uma imagem com diversos cartazes políticos e dei com esta. gira. fica. veio daqui.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O impulso Thoreau


Acabei Niassa, um bom livro. Digo mais: um óptimo livro que conforme as páginas lidas iam engrossando deixavam um rasto de pena por não serem intermináveis. Por uma rara vez concordei com JEAgualusa, quando escreve que Niassa é dos livros que nos acompanham para a vida - o exagero é compreensível e partilhado.
Esta noção de finitude iminente do prazer, das páginas maravilha, influenciou o sobrolho alçado sobre o final, que ainda não chegara e já chamava de atamancado. Egoísticamente ruim, mas porventura há forma mais isenta de ser crítico daquilo que gostamos, sem atraiçoar o enlevo? Aquele fim é mau, mau principalmente porque foi o fim da minha fantasia Thoreau, (link como memo pessoal, que há que contar mais dela) desta vez em versão niasseana. Resta a outra, a soft, inhambanense, afinal o bater de horas certas e em métrica acertada: terra mista e praia múltipla, eu urbano com cheiros e sonhos burgueses mal resolvidos de vidas em campo, mato e assim. A conciliação. E um afago às ilusões e aos desejos de boas vizinhanças, Knopfli tinha-a no BI e, dizem, Guita Jr. ainda lá mora.
Thoreau style mas acentuadamente urbano, portanto. Comodamente, livro a livro, e um caderninho de capa bordeaux e letras douradas olhando-me e tentando-me, desculpas próprias para uma aquisição que não teve sorrir: não se lê e usa-se sem ler.

Este post tem vários códigos incorporados, e autodestruir-se-á no preciso segundo em que for esquecido (gosto desta parte!...), sem lagos mágicos ou ruas plácidas que o salvem. Thoreau dixit, essa é que é essa e venha o próximo livro: como sempre estou abananado em expectativas mas igualmente pronto a gostar e ser ruim. E depois conto, claro. Cá, em Lichinga ou Inhambane. Ou, se deixarem.

Regressos

(...)
Mas tudo cansa, menos as saudades. Essas abraçam-nos, amplexo cabrão que cada dia dá mais uma voltinha ao torniquete e quando reparámos estamos prisioneiros delas. Não de Lisboa e das suas lisboas, não do café nosso que isso resolveu-se com uma máquina Nespresso, não dos amigos e das notícias que para isso a Internet colmata e aguenta, que o exílio era provisório. As mais fundas, as dos suspiros lentos, ciciados, as das palavras murmuradas a medo como que receando que um desajeito estrague o desejo, uma precipitação magoe o sonho e ele grite, que além do mar espanholado que viam da varanda só houvesse África árabe e a sua, a deles, morresse como memória e ficção, esse casamento que o tempo constrói e legitima. Memória então exílio, então um crescer que se faz envelhecer e dessas rugas de fim do passado não há cura nem sorte nem desculpa: é a tristeza do fim de nós próprios, e odiamos o desconhecido que nos espera em reflexos de espelhos baços de ninguéns sem passado.
(...)
Uma noite em que praticavam o bom hábito espanhol de fazer da varanda divisão principal da casa enquanto as noites o permitem, um dos dois - e não interessa qual! - abordou-o num toca e foge, soltou o suspiro e disse algo como ai, como gostava de lá voltar, ou outra deixa qualquer assim. Não interessa. Qualquer montinho de palavras servia. Talvez nem um montinho, talvez só uma, talvez até nenhuma pois bastaria o olhar: entendiam-se sem uso de sinais de fumo ou telegramas falados. Existia um tãn-tãn em código secreto quando se olhavam com as janelas abertas.
(...)
Não se pense que o regresso a Moçambique foi o rabisco nesta vindima de Mundo, capricho ou hiato de calendário a preencher. É a sua terra, são das suas memórias individuais muitas das mais queridas, e igualmente uma dor comum por resolver, moínha com tempo a mais para deixar de lado havendo meios de coçá-la. Daí, talvez, os cuidados, os pruridos mútuos no adiar da ida, no sugeri-la, no ganhar balanço ao encontro dos seus passados sabendo ambos que se tocaria uma sinfonia sensível, e temendo que nas mãos lhes tremesse a batuta do equilíbrio e da sintonia. Mas... tinha de ser e assim aconteceu. Maputo foi servida sôfregamente e os primeiros quatro dias passaram-se na inevitável romaria da saudade, a que se seguiu um coro de choros que só as paredes do hotel conheceram, e rapidamente anuíram em rasparem-se dali, má onda a pairar e conspurcar as boas que entreviam quando olhavam os pormenores com a benevolente miopia da nostalgia. E assim aconteceu Niassa. O livro entra aqui.
(...)

meu. inspirado por um livro e um sorriso. meu, dedos hesitantes mas meus até ao osso e suas miudezas. a foto é by Net e sem registo. minha, porque gosto dela. assim, abusivamente. assim, nunca abusivamente.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Yo La Tengo + Niassa



Li, num livro de que estou a gostar muito, que é uma música bonita, «a canção que eu levaria comigo para qualquer lado se para esse lado apenas pudesse levar uma só canção» (pág. 79). Até gostei. Melancólica. Bonita, realmente. E não a conhecia e surpreendeu-me, tal como o livro o está a fazer: Bom.

Niassa, Francisco Camacho, ASA, 2ª edição, 2009

sábado, 19 de setembro de 2009

acontece, outra vez!...



A imagem a bater à porta. O assobio que chega e arrepia. Nem tanto: o primeiro olhar. Depois o clique e vem o resto muito além das imagens encaixilhadas, varrendo a realidade: acontece, outra vez!...

Foi o único filme que vi 5-cinco-5 vezes em salas de cinema, que o acompanhei da estreia (Dicca?) até à sua 2ª volta, no Estúdio 222. Um período, o dos fascínios simples e dos maravilhamentos inocentes. Sim: inocentes. Para os menos inocentes reservam-se as sessões às 5 da tarde de sábado na porta ao lado, Cine-Clube, tanta vez um fastio mal disfarçado e o desejo de ver... Trinitá. Bruce Lee. Lino Ventura. Clint, Florinda Bolkan, gajas boas, muito, muito. Simples. Rir é simples e sai-se do cinema contente. Isto é revolucionário, é é. Reich queria o mesmo com a máquina do 'orgone' mas não tinha namorada e só ao princípio do mês havia dinheiro para desbundas assim. Por isso rir. Trinitá. As sessões duplas de sábado à tarde no S. Miguel, Dean Martin e Frank Sinatra, o Santo, Ugo Tognazzi, filmes com Elvis Presley, os luxos das sessões no Manuel Rodrigues, o culto das da meia-noite no Scala e no Gil Vicente. Evel Knievel. O Mensageiro, maravilha de Losey. A granda farra, pois. México '68. Jaqueline Bisset e Catherine Dénèuve. Verão de '42. Por aí, por aí. Até Arrabal, no Avenida, mas isso foi mais tarde e o 'Patracas' sabe, abençoado. Mas Trinitá? sim. Trinitá's Sempre!

Thanks companheiro. Há merdas onde nos desentendemos mais que entendemos mas ambos temos uma puta de memória que faz 10 no alvo. Seja a seta disparada onde e quando fôr.





caraças! tou que nem um puto! :-) ora agora vejam esta ehehe



lol :-))

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Ecos


"Ler, tinha aprendido na cadeia, sobretudo romances, permitia-lhe habitar a sua cabeça de uma forma diferente; como se ao esfumar-se a fronteira entre realidade e ficção pudesse assistir à sua própria vida como quem presencia coisas que acontecem aos outros. (...) Porque, ao passar cada folha - descobriu isso com prazer e surpresa - o que se faz é escrevê-la de novo. (...) E assim Teresa verificou que aquilo que não era mais que do que um objecto inerte de papel e tinta ganhava vida quando alguém passava as suas folhas e percorria as suas linhas, projectando aí a sua existência, as suas inclinações, os seus gostos, as suas virtudes e os seus vícios. (...) ... que não há dois livros iguais porque nunca houve dois leitores iguais. E que cada livro é, como cada ser humano, um livro singular, uma história única e um mundo à parte."

A Rainha do Sul, Arturo Pérez-Reverte, Edições ASA, págs. 193 e 194

terça-feira, 8 de setembro de 2009

terça-feira, 1 de setembro de 2009

(...)



Sou um velho rastreador de Bill Bryson, que me mostra o mundo que nunca conhecerei na exacta forma como ele deve ser visto, i.e. como eu gostaria de conhecê-lo (passe a arrogância). É curioso como depois de ler este livro li este, com a noção bem sólida de Stieg Larsson ter-se socorrido da mesma muleta. O consolo: mesmo que não escreva porra nenhuma de jeito é bom saber-me municiado. Fim de momento egocêntrico. Fim? uma porra! Recomecemos: mesmo que não escreva porra nenhuma de jeito sempre vou lendo umas coisas bem interessantes.

Já agora: contaram-mo e fui a correr confirmá-lo e dou fé convicta: Millennium é mesmo uma leitura viciante, por uma pipa de razões superiores às do código browniano.

(foto gamada aqui)