... é o dia do meu Miguel. ontem 'falamos', teclamos no MSN. agora, aqui, renovo o nosso beijo e desejos de todas as felicidades do mundo. porque as mereces :-)
Filipa, Carla, Carlos e Paula
domingo, 27 de abril de 2008
esta noite
esta noite não sonhei contigo.
adormeci descansado,
convencido que a sombra da almofada a meu lado
eras tu, meu beijo dado.
acordei acreditando qu'o vazio,
era tão provisório como fora tardio
o nosso acordar dos sonhos,
lado-a-lado
adormeci descansado,
convencido que a sombra da almofada a meu lado
eras tu, meu beijo dado.
acordei acreditando qu'o vazio,
era tão provisório como fora tardio
o nosso acordar dos sonhos,
lado-a-lado
sábado, 26 de abril de 2008
acerca do '25'
No Tempo dos Assassinos André Pereira fala sobre a efeméride 25 de Abril. Acertadamente em minha opinião, pesem as evidentes diferenças de idades e das lógicas emoções sentidas.
epistolar para a Terra do Nunca: elogio a Evel Knievel
(…)
Gostava de ir àquele parque das sequóias gigantes, julgo que Yellowstone. E sim, também espraiar a vista pelo Grand Canyon, imaginar-me a ressurreição de Evel Knievel e conseguir saltá-lo, dar um salto gigante e chegar ao outro lado. Qual lado? não sei. Nem me parece ser importante. O salto, esse sim, esse é o marco que separa os formatados dos irredutíveis aldeões 'compagnons de route' do Astérix, chamem-lhes Easy Riders ou, apenas, outro grande sonho que é reler ao vivo Kerouac e fazer (o que sobrou da) a Route 66.
Outros fascínios? ir a Norfolk e 'sacar' o meu filho, dar com ele um pulinho mais abaixo e visitar Cape Canaveral. Depois voltarmos juntos, mais juntos que alguma vez estivemos. Acreditas que a distância aproxima as pessoas? Sim, tu vives na terra das distâncias, essa réplica moderna da Terra do Nunca do Peter, Pan de família e que é tão vasta em que há momentos que me acredito ser parte dela, familiar afastado mas companheiro e solidário nos voos acima de galeras de maléficos Ganchos e com muita, muita alegria. Num voo do Nunca acima da Terra. O Grand Canyon. Nevada e as suas lonjuras intermináveis e, imagino, secas, nudez bela. Ouvir o linguarejar hispânico da Califórnia, sentir o roush sem sono de Manhattan, lamber a gulodice com os melhores bifes do mundo que dizem que só se comem em Chicago. Tanto, tudo aí. Nos aís que há e nenhum aqui, que se veja da minha janela.
‘Sei’ de tudo, soube sempre de ti. Aqui, noutras lonjuras que são e-perto acompanhei e acompanhei-te - qu'o silêncio não precisa de falar, ele soa e até troa quando queremos, desejamos, ouvi-lo, ou ignorar o seu ruído. Há um ano atrás? Mais ou menos. E venceste. Não me admirei e tu provavelmente também não - pese que só quem se vê nas "amarelas" lhes sabe dar valor e o que elas custam. És um vencedor. Sabe-lo. E mais uma vez triunfaste. Agora olho o meu umbigo. Olho e vou agora falar-te dele.
Creio que no outro mail rocei dos meus males, deixa-me contar-te dos outros – que, já o disse a alguém, lavar as lágrimas ajuda a secá-las. Além do Crohn há, houve e provavelmente haverá mais. Tomo drunfos como se fossem smarties. De manhã são nove e às cores, ao longo do dia sei lá mais quantos. Deles, metade é tratamento psiquiátrico, agora em ambulatório. Antes, estive internado na respectiva ala, aquela das portas fechadas à chave, grades nas janelas e olhares perdidos no Nada, onde o resto do mundo não existe fora as refeições e as mistelas a horas certas. Só podia ter uma visita, a minha Webina que sempre me acompanhou, avé santa.
Não trabalho há mais dum ano. Não conseguia e agora já não posso, males próprios dos males e outros filhos de mim, da gota brilhante que era singelo brinco e julgou-se gordo cachucho, jóia soberba demais para ser real. Vivo com dificuldades, mas Vivo. Escrevo a letra em grande pois respeito a verdade da escrita: vivo-a como o meu último amor. Pena é ser um amor de famílias pobres, remediadas, e não ter havido dote nem hoje regulares subornos de satisfeitos sogros. A sua filha, a minha Escrita, Querida Escrita, casou com um Zé Ninguém, e quem tem esse nome não tem nome, donde resulta que quem o tem não consta na folha de remunerações da família, essa longa, extensa fila de cronistas e aparentados que são pagos por darem corda à caneta e divagarem a cavalo em A4 pelas ruas do mundo ou do seu bairro.
Eu também o faço, nem sempre estou fechado em casa a olhar o mundo através da minha janela e, um pouco aqui e ali, sejam os aquis os Grupos MSN e os Blogues, e os alis o jornal local e um ou outro que lá calha e me e-acolhem, lá vai o 'Carlos Gil' aparecendo num canto das páginas do meio. Sei lá se quem lê gosta. Chego a acreditar que sim por mails como o teu, às vezes palavras ao vivo de quem comigo se cruza e me 'reconhece', extraindo-me ao anonimato que hoje defendo com unhas compridas, veras garras. Também porque quem recebe os escritos e decide, decide mantê-los e, aqui e ali, a "coluna do carlos gil" mantém a sua periodicidade. Não paga, fora o adubo às pilosidades no umbigo, as tais a que recentemente senti necessidade de lhes fazer uma depilação rigorosa.
Sabes que gosto mais desta escrita, a epistolar? É mais íntima, solto melhor os sentimentos que quando sei que vai ser pública - a maldita auto-censura do mau escritor. Dos bons nunca serei: afinal praticamente só sei falar de mim e, se ficciono, desajeitado, dou o salto errado e sou atropelado em plena azáfama da NY do meu mundo ou afogo-me nas nuvens que pairam no Canyon - que lá as haverá também alterosas e cinzentas, e tão ácidas como uma big aplle mal mordida. Não sei escrever outro romance que contar de mim: a ficção não é da minha família, quer a de sangue quer a do tardio casamento.
A consolo, apenas invejo os Dan Brown's desse e deste mundo - e aqui há tantos, xiii... - pela independência económica que serem best-sellers lhes dá. Não sou arrogante quando digo que bem mais de metade dos livros que leio são como beber um copo de água do Luso: nem fazem bem nem fazem mal (a frase não é minha, e adorei-a). Mas há a outra, a tal escrita onde refulgem frases daquelas que obrigam a poisar o livro e os olhos vagueiam no horizonte íntimo, a pensá-las: não são água, isso é 'vintage' e é desse néctar que procuro beber para aprender a escrevê-lo. E há-o, encontro-o de vez em quando - não cito nomes pois eles são muitos e invejo-os um a um, a todos: eu, o aprendiz que se julgou de feiticeiro e saio diariamente chamuscado nessa fogueira, neste fogo lento onde o brilho das brasas se chama Escrever, que por vezes aquecem e sentimo-nos bem, mas às vezes excedem-se e criam frieiras nos dedos e eles mal suportam o peso da caneta quando relêem o que foi escrito, mal escrito. Por isso os invejo, e à calosidade que imuniza à dor.
Ambiciono, persigo, aquilo que há quem me diz ser 'escrita poética'. A frase bela, sem rodriginhos ou berloques balzaquianos. O arrumar de letras feliz, explícito e sentido. Legível. Que se leia que quem as escreveu encheu o aparo com a sua melhor tinta, e que ela é 'vintage'. Eis só o que queria, afinal sou Evel Knievel e a minha oculta ambição é saltar o Grand Canyon, esse néctar que Peter Pan conseguiu fabricar, e bebeu-o.
(…)
Gostava de ir àquele parque das sequóias gigantes, julgo que Yellowstone. E sim, também espraiar a vista pelo Grand Canyon, imaginar-me a ressurreição de Evel Knievel e conseguir saltá-lo, dar um salto gigante e chegar ao outro lado. Qual lado? não sei. Nem me parece ser importante. O salto, esse sim, esse é o marco que separa os formatados dos irredutíveis aldeões 'compagnons de route' do Astérix, chamem-lhes Easy Riders ou, apenas, outro grande sonho que é reler ao vivo Kerouac e fazer (o que sobrou da) a Route 66.
Outros fascínios? ir a Norfolk e 'sacar' o meu filho, dar com ele um pulinho mais abaixo e visitar Cape Canaveral. Depois voltarmos juntos, mais juntos que alguma vez estivemos. Acreditas que a distância aproxima as pessoas? Sim, tu vives na terra das distâncias, essa réplica moderna da Terra do Nunca do Peter, Pan de família e que é tão vasta em que há momentos que me acredito ser parte dela, familiar afastado mas companheiro e solidário nos voos acima de galeras de maléficos Ganchos e com muita, muita alegria. Num voo do Nunca acima da Terra. O Grand Canyon. Nevada e as suas lonjuras intermináveis e, imagino, secas, nudez bela. Ouvir o linguarejar hispânico da Califórnia, sentir o roush sem sono de Manhattan, lamber a gulodice com os melhores bifes do mundo que dizem que só se comem em Chicago. Tanto, tudo aí. Nos aís que há e nenhum aqui, que se veja da minha janela.
‘Sei’ de tudo, soube sempre de ti. Aqui, noutras lonjuras que são e-perto acompanhei e acompanhei-te - qu'o silêncio não precisa de falar, ele soa e até troa quando queremos, desejamos, ouvi-lo, ou ignorar o seu ruído. Há um ano atrás? Mais ou menos. E venceste. Não me admirei e tu provavelmente também não - pese que só quem se vê nas "amarelas" lhes sabe dar valor e o que elas custam. És um vencedor. Sabe-lo. E mais uma vez triunfaste. Agora olho o meu umbigo. Olho e vou agora falar-te dele.
Creio que no outro mail rocei dos meus males, deixa-me contar-te dos outros – que, já o disse a alguém, lavar as lágrimas ajuda a secá-las. Além do Crohn há, houve e provavelmente haverá mais. Tomo drunfos como se fossem smarties. De manhã são nove e às cores, ao longo do dia sei lá mais quantos. Deles, metade é tratamento psiquiátrico, agora em ambulatório. Antes, estive internado na respectiva ala, aquela das portas fechadas à chave, grades nas janelas e olhares perdidos no Nada, onde o resto do mundo não existe fora as refeições e as mistelas a horas certas. Só podia ter uma visita, a minha Webina que sempre me acompanhou, avé santa.
Não trabalho há mais dum ano. Não conseguia e agora já não posso, males próprios dos males e outros filhos de mim, da gota brilhante que era singelo brinco e julgou-se gordo cachucho, jóia soberba demais para ser real. Vivo com dificuldades, mas Vivo. Escrevo a letra em grande pois respeito a verdade da escrita: vivo-a como o meu último amor. Pena é ser um amor de famílias pobres, remediadas, e não ter havido dote nem hoje regulares subornos de satisfeitos sogros. A sua filha, a minha Escrita, Querida Escrita, casou com um Zé Ninguém, e quem tem esse nome não tem nome, donde resulta que quem o tem não consta na folha de remunerações da família, essa longa, extensa fila de cronistas e aparentados que são pagos por darem corda à caneta e divagarem a cavalo em A4 pelas ruas do mundo ou do seu bairro.
Eu também o faço, nem sempre estou fechado em casa a olhar o mundo através da minha janela e, um pouco aqui e ali, sejam os aquis os Grupos MSN e os Blogues, e os alis o jornal local e um ou outro que lá calha e me e-acolhem, lá vai o 'Carlos Gil' aparecendo num canto das páginas do meio. Sei lá se quem lê gosta. Chego a acreditar que sim por mails como o teu, às vezes palavras ao vivo de quem comigo se cruza e me 'reconhece', extraindo-me ao anonimato que hoje defendo com unhas compridas, veras garras. Também porque quem recebe os escritos e decide, decide mantê-los e, aqui e ali, a "coluna do carlos gil" mantém a sua periodicidade. Não paga, fora o adubo às pilosidades no umbigo, as tais a que recentemente senti necessidade de lhes fazer uma depilação rigorosa.
Sabes que gosto mais desta escrita, a epistolar? É mais íntima, solto melhor os sentimentos que quando sei que vai ser pública - a maldita auto-censura do mau escritor. Dos bons nunca serei: afinal praticamente só sei falar de mim e, se ficciono, desajeitado, dou o salto errado e sou atropelado em plena azáfama da NY do meu mundo ou afogo-me nas nuvens que pairam no Canyon - que lá as haverá também alterosas e cinzentas, e tão ácidas como uma big aplle mal mordida. Não sei escrever outro romance que contar de mim: a ficção não é da minha família, quer a de sangue quer a do tardio casamento.
A consolo, apenas invejo os Dan Brown's desse e deste mundo - e aqui há tantos, xiii... - pela independência económica que serem best-sellers lhes dá. Não sou arrogante quando digo que bem mais de metade dos livros que leio são como beber um copo de água do Luso: nem fazem bem nem fazem mal (a frase não é minha, e adorei-a). Mas há a outra, a tal escrita onde refulgem frases daquelas que obrigam a poisar o livro e os olhos vagueiam no horizonte íntimo, a pensá-las: não são água, isso é 'vintage' e é desse néctar que procuro beber para aprender a escrevê-lo. E há-o, encontro-o de vez em quando - não cito nomes pois eles são muitos e invejo-os um a um, a todos: eu, o aprendiz que se julgou de feiticeiro e saio diariamente chamuscado nessa fogueira, neste fogo lento onde o brilho das brasas se chama Escrever, que por vezes aquecem e sentimo-nos bem, mas às vezes excedem-se e criam frieiras nos dedos e eles mal suportam o peso da caneta quando relêem o que foi escrito, mal escrito. Por isso os invejo, e à calosidade que imuniza à dor.
Ambiciono, persigo, aquilo que há quem me diz ser 'escrita poética'. A frase bela, sem rodriginhos ou berloques balzaquianos. O arrumar de letras feliz, explícito e sentido. Legível. Que se leia que quem as escreveu encheu o aparo com a sua melhor tinta, e que ela é 'vintage'. Eis só o que queria, afinal sou Evel Knievel e a minha oculta ambição é saltar o Grand Canyon, esse néctar que Peter Pan conseguiu fabricar, e bebeu-o.
(…)
sexta-feira, 25 de abril de 2008
ábaco da vida
na intimidade da solidão imagino-te
nua, terna
minha.
em silêncio gemido
ejaculo a minha tristeza.
nua, terna
minha.
em silêncio gemido
ejaculo a minha tristeza.
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Abril e a pub'
por mail mandam-me o link (se não surgir logo na abertura, clicar em Página Inicial e aparecerá o video "As Marcas de Abril") e pedem-me um comentário. ei-lo, em pontas que é como saiu:
................................
finalmente vi, e gracias pela lupa com que me habilitaste.
sobre os artistas/pub, designadamente os escritores: eu recordo sempre um que a reportagem não refere: o O'Neill. e dos slogans que lhe são célebres, de todos os mais conhecido o celebérrimo "há mar e mar, há ir e voltar". mas recordo-o - e os 'manuais de pub' idem, também pelos slogans brilhantes que o conservadorismo dos clientes rejeitaram. como o aquando da abertura da primeira linha de Metro em Lisboa, anos 50's, em que ele propôs de imediato na primeira reunião que a agência contratada para a campanha realizou, este: "vá de Metro, satanás!" Brilhante! - mas rejeitado. ou o slogan para a campanha dos colchões Lusospuma: "com um colchão Lusospuma você dá duas como se fossem uma".... igualmente rejeitado. a criatividade, o brilhantismo, - e como é habitual.... - só é reconhecido tardiamente, já quando o legítimo beneficiário nada dela pode aproveitar.
a Pub, hoje, é um mundo espartilhado. hierarquizado. com escadas e escadinhas, sem grandes oportunidades de se ousar escorregar pelo corrimão, informalmente, ignorando a fila de fatos e gravatas todos vestidos de igual, todos com projectos castrados pois de castrados se tratam. quando não o são ainda, rapidamente as megaestruturas das megasempresas tratam de lhes capar o laivo de criatividade individual. há década e meia Portugal descobriu a 'frescura' da Pub brasileira, muito por graça e obra do primeiro emigrante do género que cá aportou com sucesso: o Athaíde (julgo que é assim que se escreve). a Pub brasileira estava - e ainda está, mas com o fosso mais reduzido - a anos-luz da nossa, pra melhor. fresca. inovadora. ousada. afinal capaz de atingir o seu fim primevo que é atrair a atenção do potencial consumidor dum produto, 'gravar-lhe' uma mensagem no subconsciente. amanhã, quando ele entrar numa loja, supermercado, etc, na vitrina expositora do produto que pretende e com as marcas lado a lado,... a 'mensagem' surge-lhe e, se foi forte e simpática, feliz, ele prefere. é assim que funciona. simples.
hoje, creio, se há agências de pub nacionais independentes das multinacionais têm uma quota mais que minoritária de mercado: as Thompson & companhia também já cá chegaram, recrutaram os «cérebros' que lhes interessavam, a troco de soldo e rancho melhorado moldaram-nos a padrões multinacionais, espartilharam e desfizeram a lusa singularidade, que também existia ao caso, a pub do produto genuíno nacional. nesse não se podem aplicar fórmulas importadas, com mínimas adaptações. pelo menos para se conseguir uma campanha feliz, o 'diferente' que faz a diferença. mas não é o que acontece. é a globalização também neste campo, também filha e fruto de "as grandes marcas nacionais" estarem extintas além do nome - quando este restou... - após terem sido absorvidas pelos tentáculos dos gigantes.
Abril? Abril na pub? mitologia. mitologia igual ao Abril político, que dele também restam os foguetes que esta noite se ouvem, os cantos das primeiras páginas dos diários de amanhã, e de x em x tempo ser-nos pedido que colaboremos na manutenção ad eternum da sua mitologia magna, a democracia em versão parlamentar, claro, que da outra já há muito que até a sua campa não recebe flores vivas, extra o conservador e burocrático plástico.
era isto que querias ouvir-me? não sei. foi o que me veio à memória ao ver o documentário. o Grande O'Neill. o Grande Ary. todos esses artistas, doutores em letras das que valem, que mesmo na pub para comporem o orçamento viviam com dificuldades. que o diga a actual mulher do Guterres, a viúva do Alexandre O'Neill. ela conta, ela contou. não era "uma sardinha para três", claro, mas era meio mês a viver de fiados até vir o ordenado ou - festa grande! um cheque extra de direitos de autor ou de prémio por uma campanha excepcional. também se diga que não é mentira que, magnânimo e amigo dos seus amigos tal como eles eram dele, mal esses bónus vinham rapidamente iam, qu'ele a todos convidava a festejar, tal e qual como quando era a vez doutro assim acontecia. pelas tascas da Mouraria, tua vizinha. pelo Bairro Alto, quando ele era o que era e não o plástico d'hoje, turístico e embriagado sem gosto nem proveito. bolas, fizeste-me evocar tanto que não sei além do ter lido e ouvir falar que.... só posso agradecer-te, hoje a 24 e quase a 25. fizeste-me ganhar a noite da liberdade, passe o jargão e viva a publicidade!
posts retirados provisoriamente
por razões "técnicas" retirei provisoriamente alguns posts, recentes. assim que se mostrar viável serão repostos.
os comentários que amavelmente alguns mereceram não são prejudicados e mantêm-se conservados integralmente.
solicito desculpas por eventual incómodo, que acredito ser tão pequeno que até passaria despercebido se não o denunciasse.
segunda-feira, 21 de abril de 2008
a minha catarse (continuação ad eternum...)
num Grupo MSN uma e-amiga recordou a sua viagem de vinda de Moçambique para Portugal. era jovem e segundo o seu relato eram muitos os jovens no avião, havia violas e houve cantares, e os comissários de bordo foram generosos na distribuição de garrafitas de vinho. foi, segundo contou, a forma possível de 'esquecerem' o acto, a viagem para o desconhecido.
não resisti e contei da minha. assim:
.........................................................................................
a minha viagem não foi tão 'alegre'. houve hipótese de haver uma viola mas saiu gorada quando paramos na Beira para "dar boleia" ao Gonzaga que tinha recebido um 24-20, segundo percebi... o seu violão foi-lhe 'apreendido' por um soldado da Frelimo à entrada do avião, sem de nada valerem os seus protestos de que não se tratava dum instrumento lúdico mas sim de trabalho... enfim, o 'Gonzas' veio a refilar até sobrevoarmos Marrocos mais milha menos milha, e não me recordo de quase mais nenhum pormenor, sequer da ementa ou se era 'bar aberto'. vinha calado e sisudo, não conhecia ninguém e ninguém me conhecia - sina que toda a vida me segue e à qual já me habituei.
parámos em Luanda para mudar do 707 para um 747, um Jumbo. era noite e estava um calor asfixiante, aquele ar parado e seco que arde na garganta e empapa a roupa, o nosso avião ficou na placa bem longe da aerogare onde devíamos aguardar pelo transbordo da bagagem e depois embarcarmos para a viagem directa até Lisboa, agora com novos companheiros de viagem, angolanos, ou 'tugas-angolanos melhor dizendo. já não era a "ponte aérea" mas ainda o refugo da mesma. na sala onde fomos fechados estava um calor sufocante, nem uma janela aberta, éramos largamente mais que os lugares sentados disponíveis. para cúmulo estavam lá já há horas, à espera de embarcar no 707 que nos trouxera, passageiros vindos de Lisboa e com destino à ainda LM.
reconheci uma cara, mas o cansaço e o desânimo, o estado d'alma, não estava para palavras quanto mais cumprimentos. e era recíproco, lia-se-lhe nos olhos cansados, no fato amarrotado, no suor que lhe empapava a camisa: um dos meus últimos ex-chefes no Sindicato da Estiva, um conferente da Permar que fora o último presidente do Sindicato nos tempos corporativos, de "comissões administrativas superiormente escolhidas" - que eleições nunca lá conheci em quatro anos de trabalho - antes e depois.... recordo-me perfeitamente do nome dele e de duas particulariedades: José Augusto Pimentel dos Santos, tinha um defeito num braço ao nível da articulação do cotovelo que o fazia, nessa zona, estar sempre afastado do tronco, ou seja tinha um braço "torto". e na caneta usava em exclusivo tinta verde. eu, que trabalhava no escritório, chamara-me logo a atenção esse pormenor pois nunca vira ninguém escrever/assinar sem ser a azul, vá lá a preto. uma excentricidade, que se me fixou e até hoje recordo.
o pior fora a 'viagem' entre o avião, parado a uns bons cem metros da sala da aerogare, e esta. foi feita a pé, cada um carregando a sua bagagem de mão, de cabine, num túnel formado por militares que depois percebi pelo linguarejar e pela tez 'morena', eram soldados cubanos. éramos olhados provocatoriamente, ouviam-se de vez em quando, naquela humilhante caminhar num túnel que nunca mais parecia ter fim, insultos indiscriminados, o tradicional 'colonialistas' e outros que não vale a pena citar. nem o ânimo que era mais desânimo que outra coisa, ou o calor, ou o armamento que os soldados exibiam, nada em nada levou alguém a retrucar. seguimos com o olhar baixo e estivemos encerrados, apinhados numa sala onde a temperatura não era inferior a bem mais de 40º, umas duas asfixiantes horas até que o transbordo da carga fosse feita e tivéssemos ordens de embarcar para a viagem final, um 'non stop' até Lisboa, com música de fundo dos resmungos do Gonzaga. que me lembre mal dormi, terei passado pelas brasas mas a excitação, os nervos, a ansiedade, o conflito interior com a 'fuga' de Moçambique e que estava bem longe de estar aplacado, não me permitiam fechar olhos, serenar.
chegamos à Portela manhã cedo, estavam 7º e pensei que morria de frio. na aerogare estavam uns balcões de atendimento da Cruz Vermelha, ou do IARN, ou seja do que ou de quem fosse, que me deram uma nota de 500$00 e perguntaram-me se precisava de alojamento ou alimentação. eu no bolso trazia a morada da "prima Amélia", em Campo de Ourique, de que não me lembrava nem ela de mim. disse que não, que ia para casa da "prima Amélia". e fui. tomei um táxi e dei-lhe a morada, Rua Adelaide e Sousa e já não me recordo do número, sei que o machimbombo 9 tinha uma paragem em frente. comigo foi assim.
vinte e oito anos depois encontrei o Gonzaga no piano-bar Sinatra que ele então tinha no Estoril, na noite onde lá fizemos a continuação da festa de aniversário do Zé Carlos, de Stº André. reconheci-o, claro que ele a mim não, pois nem eu fora alguma vez à Beira excepto para lhe dar a tal boleia, e também nunca ninguém se lembra de mim. o habitual. perguntei-lhe em que data viera para Pt, batia certo. falei-lhe na viola apreendida já nas escadas para o avião, batia certo. só este frio persistente, este gelo de memórias trinta e dois anos depois não bate certo. e acredito que nunca baterá. é por isso que digo em metáfora que "morri" nessa viagem, a primeira e única vez que me meti num avião - tão má foi a experiência e de tão baixo nível são as suas memórias. 20 para 21 de Janeiro de 76, ou 21 para 22 - já me baralho... e é mero pormenor irrelevante no meio de tanta memória dessa má viagem, se calhar acertada se calhar o maior erro da minha vida.
parámos em Luanda para mudar do 707 para um 747, um Jumbo. era noite e estava um calor asfixiante, aquele ar parado e seco que arde na garganta e empapa a roupa, o nosso avião ficou na placa bem longe da aerogare onde devíamos aguardar pelo transbordo da bagagem e depois embarcarmos para a viagem directa até Lisboa, agora com novos companheiros de viagem, angolanos, ou 'tugas-angolanos melhor dizendo. já não era a "ponte aérea" mas ainda o refugo da mesma. na sala onde fomos fechados estava um calor sufocante, nem uma janela aberta, éramos largamente mais que os lugares sentados disponíveis. para cúmulo estavam lá já há horas, à espera de embarcar no 707 que nos trouxera, passageiros vindos de Lisboa e com destino à ainda LM.
reconheci uma cara, mas o cansaço e o desânimo, o estado d'alma, não estava para palavras quanto mais cumprimentos. e era recíproco, lia-se-lhe nos olhos cansados, no fato amarrotado, no suor que lhe empapava a camisa: um dos meus últimos ex-chefes no Sindicato da Estiva, um conferente da Permar que fora o último presidente do Sindicato nos tempos corporativos, de "comissões administrativas superiormente escolhidas" - que eleições nunca lá conheci em quatro anos de trabalho - antes e depois.... recordo-me perfeitamente do nome dele e de duas particulariedades: José Augusto Pimentel dos Santos, tinha um defeito num braço ao nível da articulação do cotovelo que o fazia, nessa zona, estar sempre afastado do tronco, ou seja tinha um braço "torto". e na caneta usava em exclusivo tinta verde. eu, que trabalhava no escritório, chamara-me logo a atenção esse pormenor pois nunca vira ninguém escrever/assinar sem ser a azul, vá lá a preto. uma excentricidade, que se me fixou e até hoje recordo.
o pior fora a 'viagem' entre o avião, parado a uns bons cem metros da sala da aerogare, e esta. foi feita a pé, cada um carregando a sua bagagem de mão, de cabine, num túnel formado por militares que depois percebi pelo linguarejar e pela tez 'morena', eram soldados cubanos. éramos olhados provocatoriamente, ouviam-se de vez em quando, naquela humilhante caminhar num túnel que nunca mais parecia ter fim, insultos indiscriminados, o tradicional 'colonialistas' e outros que não vale a pena citar. nem o ânimo que era mais desânimo que outra coisa, ou o calor, ou o armamento que os soldados exibiam, nada em nada levou alguém a retrucar. seguimos com o olhar baixo e estivemos encerrados, apinhados numa sala onde a temperatura não era inferior a bem mais de 40º, umas duas asfixiantes horas até que o transbordo da carga fosse feita e tivéssemos ordens de embarcar para a viagem final, um 'non stop' até Lisboa, com música de fundo dos resmungos do Gonzaga. que me lembre mal dormi, terei passado pelas brasas mas a excitação, os nervos, a ansiedade, o conflito interior com a 'fuga' de Moçambique e que estava bem longe de estar aplacado, não me permitiam fechar olhos, serenar.
chegamos à Portela manhã cedo, estavam 7º e pensei que morria de frio. na aerogare estavam uns balcões de atendimento da Cruz Vermelha, ou do IARN, ou seja do que ou de quem fosse, que me deram uma nota de 500$00 e perguntaram-me se precisava de alojamento ou alimentação. eu no bolso trazia a morada da "prima Amélia", em Campo de Ourique, de que não me lembrava nem ela de mim. disse que não, que ia para casa da "prima Amélia". e fui. tomei um táxi e dei-lhe a morada, Rua Adelaide e Sousa e já não me recordo do número, sei que o machimbombo 9 tinha uma paragem em frente. comigo foi assim.
vinte e oito anos depois encontrei o Gonzaga no piano-bar Sinatra que ele então tinha no Estoril, na noite onde lá fizemos a continuação da festa de aniversário do Zé Carlos, de Stº André. reconheci-o, claro que ele a mim não, pois nem eu fora alguma vez à Beira excepto para lhe dar a tal boleia, e também nunca ninguém se lembra de mim. o habitual. perguntei-lhe em que data viera para Pt, batia certo. falei-lhe na viola apreendida já nas escadas para o avião, batia certo. só este frio persistente, este gelo de memórias trinta e dois anos depois não bate certo. e acredito que nunca baterá. é por isso que digo em metáfora que "morri" nessa viagem, a primeira e única vez que me meti num avião - tão má foi a experiência e de tão baixo nível são as suas memórias. 20 para 21 de Janeiro de 76, ou 21 para 22 - já me baralho... e é mero pormenor irrelevante no meio de tanta memória dessa má viagem, se calhar acertada se calhar o maior erro da minha vida.
quinta-feira, 17 de abril de 2008
'National Geographic' privado*
Todos temos momentos em que o viver se altera radicalmente e a vida, que até aí corria assim, de repente começa a correr assado. Fora a metáfora, há instantes que tudo alteram, o íntimo, a paisagem, as convicções. O primeiro beijo e o seu rubor e sabor, a perda de alguém que nos é querido e a dor da lágrima que decorre da sua ausência, uma mudança de casa e vida que transforma a janela do quarto num quadro de cores radicalmente diferentes; doutras vezes uma desilusão, súbita ou daquelas que com o correr do tempo se vão enraizando até à machadada que a corta e arruma no sótão privado das velharias. De tudo isso todos temos o nosso espólio e disso chama-se crescer, o instante da mítica virgindade perdida num ai e, quando reparamos, estamos grávidos de idade, prontos a parir a saudade dos tempos idos, dos rios que secaram e fizeram-se ruas anónimas, de chilreares que num repente soam e troam sem beleza e, só, em irritante urbana cacofonia. Todos os que no campo cresceram e aprenderam as primeiras regras da vida, disso vivemos e crescemos, e nos torna melancólicos quando uma chuva de saudade lembra a infância sumida algures num tempo que fora mais alegre e feliz, num desses momentos sem pressas e longe das corridas insanas de quem corre por hábito e já sem saber porque é que deixou de ser feliz.
Eram dezassete anos, podia ter sido aos quinze ou aos vinte e um. Mas eram dezassete, idade em que se pensa já ter construído os amigos definitivos, o rio da aldeia corre manso e é eterno o mergulhar nas suas águas, como eterna é a vontade que nada mude e se tenha eternamente dezassete anos, amando assim a riqueza do dia-a-dia despreocupado, o adiar do passo que marca e mata o fim da adolescência e revela o outro mundo, o néon enganoso e duro que faz encarar a vida adulta, ao caso a perda das águas do rio e o cheiro aldeão em que crescera, a saudade dos amigos que deixei de ver e dos pássaros que, de repente, sumiram-se do quadro da janela do meu quarto e em pinceladas de chilreios diariamente me acordavam.
Fui para a cidade. Fui construir a vida de adulto na mítica terra das oportunidades de bons empregos, fartura de tudo e, verifiquei tristemente ao longo dos anos, também ausência de tanto que me era querido. A exemplo, nunca mais fui à pesca como no outro tempo do mundo fazia e adorava fazer, o rio que passa nesta grande aldeia é sujo e cheira mal e por certo os peixes que lá possam sobreviver serão tão feios e sujos que, definitivamente, não quero vê-los e prová-los, menos ainda pescá-los do infeliz mundo onde em pesadelos possam existir. Vejo-os no National Geographic, os olhos adormecem às imagens da caixa mágica e recordam o tempo em que por veredas que só eu e poucos iniciados conhecíamos chegava a plácidos recantos onde o anzol era paciente e num repente ficava mágico, num amadurecer de tardes que também eram mágicas pelo silêncio cúmplice com a natureza, a carícia da água límpida na minha pele jovem, de tudo isso agora me lembro e disso dou conta.
Não há balanços a fazer ou contas a acertar. Cá, na urbanidade, erigi um futuro que na sua modéstia é recheado doutras felicidades; lá, na nostalgia, moram as memórias dum outro que já existiu, faleceu aos dezassete anos ao dar o passo para a realidade que vivo e construí com o esforço do trabalho e a sorte no amor. Lá, algures nas imagens que de vez em quando me correm nos olhos como filme em reprise, mora não a saudade de fadista mas um jovem que morreu. Naturalmente. Afinal é a lei do crescer e no enterro do passado há sempre uma pontinha de dor. Tenho é saudade dos pássaros, do cheiro e do silêncio dos campos, da minha outra janela e muita, muita mesmo, dos peixes das tardes em que não duvidava, parafraseando o Poeta, que o rio que corria na minha aldeia era o rio mais lindo do mundo.
* texto de ficção e não autobiográfico
Eram dezassete anos, podia ter sido aos quinze ou aos vinte e um. Mas eram dezassete, idade em que se pensa já ter construído os amigos definitivos, o rio da aldeia corre manso e é eterno o mergulhar nas suas águas, como eterna é a vontade que nada mude e se tenha eternamente dezassete anos, amando assim a riqueza do dia-a-dia despreocupado, o adiar do passo que marca e mata o fim da adolescência e revela o outro mundo, o néon enganoso e duro que faz encarar a vida adulta, ao caso a perda das águas do rio e o cheiro aldeão em que crescera, a saudade dos amigos que deixei de ver e dos pássaros que, de repente, sumiram-se do quadro da janela do meu quarto e em pinceladas de chilreios diariamente me acordavam.
Fui para a cidade. Fui construir a vida de adulto na mítica terra das oportunidades de bons empregos, fartura de tudo e, verifiquei tristemente ao longo dos anos, também ausência de tanto que me era querido. A exemplo, nunca mais fui à pesca como no outro tempo do mundo fazia e adorava fazer, o rio que passa nesta grande aldeia é sujo e cheira mal e por certo os peixes que lá possam sobreviver serão tão feios e sujos que, definitivamente, não quero vê-los e prová-los, menos ainda pescá-los do infeliz mundo onde em pesadelos possam existir. Vejo-os no National Geographic, os olhos adormecem às imagens da caixa mágica e recordam o tempo em que por veredas que só eu e poucos iniciados conhecíamos chegava a plácidos recantos onde o anzol era paciente e num repente ficava mágico, num amadurecer de tardes que também eram mágicas pelo silêncio cúmplice com a natureza, a carícia da água límpida na minha pele jovem, de tudo isso agora me lembro e disso dou conta.
Não há balanços a fazer ou contas a acertar. Cá, na urbanidade, erigi um futuro que na sua modéstia é recheado doutras felicidades; lá, na nostalgia, moram as memórias dum outro que já existiu, faleceu aos dezassete anos ao dar o passo para a realidade que vivo e construí com o esforço do trabalho e a sorte no amor. Lá, algures nas imagens que de vez em quando me correm nos olhos como filme em reprise, mora não a saudade de fadista mas um jovem que morreu. Naturalmente. Afinal é a lei do crescer e no enterro do passado há sempre uma pontinha de dor. Tenho é saudade dos pássaros, do cheiro e do silêncio dos campos, da minha outra janela e muita, muita mesmo, dos peixes das tardes em que não duvidava, parafraseando o Poeta, que o rio que corria na minha aldeia era o rio mais lindo do mundo.
* texto de ficção e não autobiográfico
quarta-feira, 16 de abril de 2008
o fim do éden?
deixei de fumar. ou estou a. intenção, necessidade. é a segunda tentativa que inicio, gostava de terminá-la com sucesso. trinta e seis anos de nicotina e adjacências, contínuos, é um bom bocado de tempo. excessivo.
sexta-feira, 11 de abril de 2008
quarta-feira, 9 de abril de 2008
Porque sujaram as nuvens, porquê?
Tanto tempo depois e o que restou dá-se por nome tristeza e nada mais há quando paro o dia que me rodeia e penso em muito tempo atrás, tanto que era jovem e acreditava que sê-lo-ia para sempre tal como o sonho embala e alinda as ilusões fazendo-as eternas. Minto por omissão deliberada: há mais que tristeza, há fiozinhos mal amarrados que, hoje como ontem e como sempre desde então, provocam-me mal-estar quando me enleiam os pensamentos, aquele incómodo íntimo que as decepções, as desilusões não resolvidas trazem e se carregam no silêncio que mais pesa, a mágoa, a tal mágoa que nasce porque as ilusões terminam e o céu se acinzenta e se envelhece, num repente que não avisa de chegada, suavizando-a, e percebe-se o engano de ter acreditado que se seria jovem para sempre. É como uma dor, uma moínha constante que dá sinal de si quando leio, penso ou sinto o céu e as nuvens que idolatrei, e uma chuva de tristeza molha-me trinta e tal anos de memórias, data e marco que separou as águas entre continentes, na viagem matou um jovem e cristalizou a esperança, fê-la peça de museu a visitar em momentos nostálgicos, apenas, somente recordações.
Sinto-me órfão dum futuro que me foi prometido e dia-a-dia levou machadadas tão dolorosas que me fizeram desiludido fugitivo do que cobicei ser, da eterna juventude que acreditei merecer viver. Que acreditei, oh se acreditei… Essa dor não passa, passam é os anos que não a envelhecem, persiste a tristeza por ter sido jovem e ter assim acreditado o futuro, afinal vão e não infindo como o contavam e eu sonhava, sonhava e confiei até vir a dor, esta sem nome que lhe chame além de tristeza, ou mágoa, afinal apenas o tempo em que o céu se virou tanto que até os continentes mudaram, molharam-se-me as esperanças e nasceu um feio verdete na ilusão da eterna juventude que definitivamente a matou, surgiram os nós das memórias mal amarradas e disso tudo hoje, trinta e tal anos depois, lamento e conto.
Acreditei. Como podia não tê-lo feito? nunca nada nem ninguém me fizera assim sonhar, fora assim tocado e, qual ansioso noivo, suspirava e gemia no nosso namoro a céu aberto, esse mais puro e lindo do que alguma vez o vira, matizes que enfeitiçavam. Amantizamo-nos com o enlevo das juras de amantes, mas na hora do altar um de nós ou mesmo os dois não comparecemos, a memória já não o recorda com triste precisão. A paixão definhou e a tristeza não é bem-vinda a essa cerimónia. Falta mútua, fim de namoro sem culpas ou culpados individuais, fora o céu que se acinzentara e perdera o fulgor que era, fora, o seu maior fascínio.
Tanto tempo depois e o que restou dá-se por nome tristeza, e nada mais há quando paro o dia que me rodeia e penso que aqui envelheço quando houve tempos e tempos, ilusões de céus eternamente jovens. Dói, trinta e tal anos depois.
Sinto-me órfão dum futuro que me foi prometido e dia-a-dia levou machadadas tão dolorosas que me fizeram desiludido fugitivo do que cobicei ser, da eterna juventude que acreditei merecer viver. Que acreditei, oh se acreditei… Essa dor não passa, passam é os anos que não a envelhecem, persiste a tristeza por ter sido jovem e ter assim acreditado o futuro, afinal vão e não infindo como o contavam e eu sonhava, sonhava e confiei até vir a dor, esta sem nome que lhe chame além de tristeza, ou mágoa, afinal apenas o tempo em que o céu se virou tanto que até os continentes mudaram, molharam-se-me as esperanças e nasceu um feio verdete na ilusão da eterna juventude que definitivamente a matou, surgiram os nós das memórias mal amarradas e disso tudo hoje, trinta e tal anos depois, lamento e conto.
Acreditei. Como podia não tê-lo feito? nunca nada nem ninguém me fizera assim sonhar, fora assim tocado e, qual ansioso noivo, suspirava e gemia no nosso namoro a céu aberto, esse mais puro e lindo do que alguma vez o vira, matizes que enfeitiçavam. Amantizamo-nos com o enlevo das juras de amantes, mas na hora do altar um de nós ou mesmo os dois não comparecemos, a memória já não o recorda com triste precisão. A paixão definhou e a tristeza não é bem-vinda a essa cerimónia. Falta mútua, fim de namoro sem culpas ou culpados individuais, fora o céu que se acinzentara e perdera o fulgor que era, fora, o seu maior fascínio.
Tanto tempo depois e o que restou dá-se por nome tristeza, e nada mais há quando paro o dia que me rodeia e penso que aqui envelheço quando houve tempos e tempos, ilusões de céus eternamente jovens. Dói, trinta e tal anos depois.
sexta-feira, 4 de abril de 2008
Eu tenho uma amante *
Bela, belíssima. A mais bela das amantes por que se murmura quando percebemos que nos falta paixão à vida, mais bela e perfeita que qualquer namorada de outro por quem se suspire.
Visitámo-nos ocasionalmente e sempre de fugida. Claro que pela pressa e pelo segredo são momentos tensos em que a paixão contida e silenciada nas ausências explode, e muito do ardor sensual perde-se na urgência animal da posse mútua. No meio da ânsia de amor a que nos entregamos, em que as carnes são violentadas na busca do êxtase por que os amantes reclamam, lá no meio desses momentos há por vezes tempo para soltar carícias suaves, afagos, e dedilha-se música terna que sobe as escalas que só nós conhecemos. Soam então carrilhões de timbre mágico e eu e a minha amante nele deslizamos, nus de tudo que vá mais longe do nosso enlevo, entregues e possuídos, insanos amantes que se devoram na frugalidade do seu segredo.
Exaurida a paixão da carne que jaz dormente, dorida, num dorido agradável de saciado, sossegamos nuvens e entrelaçamos sonhos no mirar mútuo, e os dedos ainda com as marcas vincadas da paixão acariciam-se, tocam e beijam os momentos em que nos fundimos e geramos o Ser da nossa paixão, amantes, recordo. Correm ao de leve os contornos mais queridos, aqui e ali o pormenor que enlouquece e soltou em fúria a paixão bruta, animal, os lábios soletram os segredos, pára o tempo e de nós só brota auréola magna, a beleza dos amantes secretos, de todos os mais belos e perfeitos.
Eu tenho uma amante, para ela escrevo e por ela sou escrito, eu tenho uma amante a quem entre segredos públicos e beijos secretos chamo de Querida, Querida Escrita.
Visitámo-nos ocasionalmente e sempre de fugida. Claro que pela pressa e pelo segredo são momentos tensos em que a paixão contida e silenciada nas ausências explode, e muito do ardor sensual perde-se na urgência animal da posse mútua. No meio da ânsia de amor a que nos entregamos, em que as carnes são violentadas na busca do êxtase por que os amantes reclamam, lá no meio desses momentos há por vezes tempo para soltar carícias suaves, afagos, e dedilha-se música terna que sobe as escalas que só nós conhecemos. Soam então carrilhões de timbre mágico e eu e a minha amante nele deslizamos, nus de tudo que vá mais longe do nosso enlevo, entregues e possuídos, insanos amantes que se devoram na frugalidade do seu segredo.
Exaurida a paixão da carne que jaz dormente, dorida, num dorido agradável de saciado, sossegamos nuvens e entrelaçamos sonhos no mirar mútuo, e os dedos ainda com as marcas vincadas da paixão acariciam-se, tocam e beijam os momentos em que nos fundimos e geramos o Ser da nossa paixão, amantes, recordo. Correm ao de leve os contornos mais queridos, aqui e ali o pormenor que enlouquece e soltou em fúria a paixão bruta, animal, os lábios soletram os segredos, pára o tempo e de nós só brota auréola magna, a beleza dos amantes secretos, de todos os mais belos e perfeitos.
Eu tenho uma amante, para ela escrevo e por ela sou escrito, eu tenho uma amante a quem entre segredos públicos e beijos secretos chamo de Querida, Querida Escrita.
* post já com 'anos', ora repetido porque gosto dele
As vagas que vão e vêm
Uma margem, um rio, e eu ali. Na sua beira, acocorado e sentindo a aspereza das pedras que atiro à agua, uma a uma, ritualmente. Olhando os círculos concêntricos que no esverdeado sujo se formam e crescem, alargam-se até desaparecerem no passear das águas, ao inverso das minhas reflexões que giram em círculos cada vez mais pequenos até restar um ponto negro final, minúsculo, nele cabendo o gigantismo da persistente interrogação que me trouxe à solidão do recanto além do salgueiral que bordeja o caminho rural. A dúvida. A sensação crítica dos próprios actos, talvez aquilo que é vulgo chamar-se de dúvidas de consciência. Nem as águas que correm mansamente, nem os círculos que lhes provoco e nelas se esvaem trazem quer resposta quer alívio, quer a luz, o sinal, que se diz encontrar-se quando nos evadimos a tudo o mais e nos refugiamos para, com sorte, solidão e suor cerebral, pensarmos até encontrar as respostas exigidas.
Mais uma pedra, mecanicamente alimento movimentos contra natura às águas, como impondo-lhes a minha presença e, assim, forçando-as, delas extrair o momento, a inspiração, que do verdete que as suja me surja a luz que esclareça e apague, afogue, o tormento da dúvida que para a solidão me caminhou. Me caminhou, encaminhou. Porque os passos que me afastaram da vila e me fizeram mergulhar no campo circundante, que me conduziram a este oásis de nada nem ninguém além de mim e das pedrinhas em que voam as minhas interrogações, esses passos foram agitados, o caminhar foi inseguro e errante, tão vagueante como fugidia é a resposta à dúvida que me corrói o viver e alimenta o braço que, sem cessar, atira às mudas águas o grito das interrogações, mil e uma pedras que tão poucas são para a resposta que não se encontra no ondear que ciclicamente vem e morre a meus pés. O isolamento não me responde mesmo quando o chamo, o invoco, o reclamo e dele me aposso como áugure privado, vaticinador dos caminhos certos a escolher quando as encruzilhadas são dúbias.
Ergo-me porque se acabaram as pedras, nada mais há a atirar e nada mais há a extrair do rio que não me responde. Não é neste recanto, no falso isolamento e na vã ilusão que induz que se decide, que decido, que sopeso e acho o resultado mais justo, a decisão que as águas não trazem: elas correm livres, conspurcadas por impurezas múltiplas e agitadas pelo meu insano bombardear de pedras e tormentos pessoais, elas seguem o seu caminho ignorando-me e deixando-me solitário na margem, uma igual a tantas que no seu curso conhece e acaricia, mas desconhecendo e ignorando com altivez quem, nelas, ousa perturbá-las com questões que lhe são estranhas e para quem o seu curso e o caudal que nele as encaminha, não têm respostas: as questões filosóficas dos humanos são-lhe alheias, e delas trate quem da ética e seu parentesco tem de tratar: os próprios, pais naturais da dúvida e responsáveis pela sua educação, consequência.
Ergo-me e regresso, atravesso os salgueiros que me esconderam sem me esconder à razão da minha fuga, regresso aos campos e atravesso-os em passos de retorno, ora firmes, altivos na certeza encontrada de que as respostas e os caminhos certos encontram-se não nos concêntricos círculos que nada mais fazem que agitar águas que correm livres e, assim falsamente, ocultar a realidade, a convicção e a certeza de se estar a agir correctamente. Seja qual for a enigmática pergunta ou a dor do flagelo, é cabo que se atravessa e estrada que se trilha seguindo o caminho apontado pela bússola interior, dita e crismada de consciência.
Atrás ficou o rio, talvez não indiferente a eu ter encontrado o meu caminho.
Mais uma pedra, mecanicamente alimento movimentos contra natura às águas, como impondo-lhes a minha presença e, assim, forçando-as, delas extrair o momento, a inspiração, que do verdete que as suja me surja a luz que esclareça e apague, afogue, o tormento da dúvida que para a solidão me caminhou. Me caminhou, encaminhou. Porque os passos que me afastaram da vila e me fizeram mergulhar no campo circundante, que me conduziram a este oásis de nada nem ninguém além de mim e das pedrinhas em que voam as minhas interrogações, esses passos foram agitados, o caminhar foi inseguro e errante, tão vagueante como fugidia é a resposta à dúvida que me corrói o viver e alimenta o braço que, sem cessar, atira às mudas águas o grito das interrogações, mil e uma pedras que tão poucas são para a resposta que não se encontra no ondear que ciclicamente vem e morre a meus pés. O isolamento não me responde mesmo quando o chamo, o invoco, o reclamo e dele me aposso como áugure privado, vaticinador dos caminhos certos a escolher quando as encruzilhadas são dúbias.
Ergo-me porque se acabaram as pedras, nada mais há a atirar e nada mais há a extrair do rio que não me responde. Não é neste recanto, no falso isolamento e na vã ilusão que induz que se decide, que decido, que sopeso e acho o resultado mais justo, a decisão que as águas não trazem: elas correm livres, conspurcadas por impurezas múltiplas e agitadas pelo meu insano bombardear de pedras e tormentos pessoais, elas seguem o seu caminho ignorando-me e deixando-me solitário na margem, uma igual a tantas que no seu curso conhece e acaricia, mas desconhecendo e ignorando com altivez quem, nelas, ousa perturbá-las com questões que lhe são estranhas e para quem o seu curso e o caudal que nele as encaminha, não têm respostas: as questões filosóficas dos humanos são-lhe alheias, e delas trate quem da ética e seu parentesco tem de tratar: os próprios, pais naturais da dúvida e responsáveis pela sua educação, consequência.
Ergo-me e regresso, atravesso os salgueiros que me esconderam sem me esconder à razão da minha fuga, regresso aos campos e atravesso-os em passos de retorno, ora firmes, altivos na certeza encontrada de que as respostas e os caminhos certos encontram-se não nos concêntricos círculos que nada mais fazem que agitar águas que correm livres e, assim falsamente, ocultar a realidade, a convicção e a certeza de se estar a agir correctamente. Seja qual for a enigmática pergunta ou a dor do flagelo, é cabo que se atravessa e estrada que se trilha seguindo o caminho apontado pela bússola interior, dita e crismada de consciência.
Atrás ficou o rio, talvez não indiferente a eu ter encontrado o meu caminho.
quinta-feira, 3 de abril de 2008
da água e do vinho
.... e, obviamente, mais, muito mais. ou não fosse o jpt a "falar" e recordar aos esquecidos/distraídos que há mais mundos que o nosso, gordinho e pequenino.
quarta-feira, 2 de abril de 2008
nojo!
Existem 'petições' na Internet por tudo o que é 'causa', muitas delas fruto de humores de momento mas a maior parte justas e muitas, pelas indignidades denunciadas, justíssimas.
Esta é uma delas, das OBRIGATÓRIAS para quem ainda não desceu a níveis bestiais de insensibilidade.
Por favor leiam, quem quiser e tiver estômago (ou duvidar) siga os links lá inseridos e veja as fotografias do assassinato dum animal em "nome da arte" e, POR FAVOR, assinem, ajudem a impedir que volte a acontecer, seja a que pretexto for - menos ainda sob capa de "arte".
Deste acto ao eugenismo nazi só vai um passo, um pequeno e silencioso passo... não o permitas por omissão, comodismo ou outra 'desculpa' qualquer - qu'essa é setenta anos velha e deu no que se sabe!
terça-feira, 1 de abril de 2008
"Se mentes?"
A Inês fala de sementes e pergunta-nos se mentimos, hoje dia delas. Tomara mais sementes destas, diárias.
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