"Os homens têm necessidade da culpa porque ela
funciona como um excitante para criar. Têm que criar as excitações da
culpa. Têm que ser criminosos. É tão simples como isso." disse Agustina
Bessa-Luís.
há anos que faço órbitas rasantes à noção de culpa, sem me decidir se aluno ou se sigo viagem. palavra. inclusivé já tive apoio da NASA nacional destas questões, que é como quem diz o departamento de psiquiatria público mais próximo. mas não me quero agora perder por aí. por aí, tanto que há a contar mas não é este o momento. a culpa:
torturo-me. são noites meio insones meio gritadas (vero), o corpo em espasmos como se estivesse para parir o diabo (já mo disseram), e a epicural ao meu alcance é esta e isto: esta catarse azulinha, este divã público,
falta-me o "conhecimento de ciência", que quando invocado faz os senhores das becas arrebitarem as orelhas, para alinhavar acontecimentos e causas e conseguir extrair com precisão. o que sai, sei: extracto de culpa. múltipla: das conhecidas e muita, muita, daquelas que nem eu suspeito mas que na minha vida herética ignaras gnoses vividas 'en passant' acarretaram, acumularam, e chegou a idade e tempo de deitarem fumo: a culpa.
cuidadosamente ponho na beira do papel a vertente religiosa: não me interessa, não cuido por aí além disso, mas também não amarfanho e deito fora a possibilidade da "culpa" ter ovo e ninho no formalismo infantil do acesso a esse conhecimento: a catequese é traumática. mas procuro mais longe, tão longe como o mais perto possível: a família (Lacan dixit? ou afinal é mesmo David Cooper que dixit?). as relações familiares. o conflito geracional, blá blá. por aí é bornal cheio, e "a culpa" inibe-me de desatar totalmente o nó, e só espreito: inibo-me de contar o comum dos meus problemas, tão iguais e tão especial e dolorosamente diferentes. "Allons enfants de la Patrie", sou tão patriota de mim mesmo que estupidamente faço segredo de Estado dos problemas comuns aos comuns. ("a culpa")
depois há todo o resto que me tortura e me faz gritar ao meio da noite, que faz da hora de descanso uma luta em que me agrido a mim mesmo em espasmos, choros, e em estúpida sublimação de substituição efectuar raides predatórios aos armários da cozinha, enfardando, enfardando, mas sem nunca engordar: o diabo tudo consome e não deixa esconder o osso da questão: há anos que me explodi, sem uso de colete de proteção. e aleijo-me, nem no tempo das pílulas às cores serenei ou esclareci, toquei mas fugi.
o César Amaral, que de todos que conheci foi o mais esperto, pôs-me a ler o Dostoievski, e na consulta semanal falávamos, entre viagenzinhas toca-e-foge cá pelo íntimo, no enredo do "Crime e Castigo'. (não matei ninguém; avanço já a explicação aos chocados com a revelação do tema das leituras psico-terapêuticas). e, já quase no fim, já quase em posse de carta de alforria para regresso à estupidez normalizada, enfiou-me numa sala cheia de monstros feios de discretamente sorridentes, e absurdamente opacos naquelas batas intimidatórias (ele não a usava. felizmente), mas avisou-me antes de entrarmos na sala: «estou contigo. é tudo uma cambada de asnos e só aguentas até onde quiseres. um sinal teu e o circo acaba». ah! o tema do conclave era obviamente "a culpa" (a minha extensão extensa à dita e da dita), e parece que alguém andava às voltas com uma tese do assunto e acharam-me perfeito para dissecarem. não interessa muito o que lá se passou, pois até pouco falei: mal abria a boca abanavam todos a cabeça com um ar tão sabido que me apetecia era mandá-los todos pró carilho: só o César percebia alguma coisa do que se passava (duvido que aquela malta, aqueles crâneos tão mal enjorcados assim vestidos de branco lesse mais além da biblioteca da Academia), e nem ao fim de meia-hora pisquei-lhe o olho e acabamos num instante com aquilo: a culpa, se cá mora, tem de ser tratada com dedos cuidadosos e não como um caldeirão de caldeirada de cabrito onde todos metem as mãos à procura dos melhores bocados.
pronto, já está. mais dia menos dia eu tinha de falar nisto. já está: tenho qualquer coisa esquisita e por resolver dentro de mim, e que me angustia. se fui sonâmbulo e pratiquei crimes durante esse estado não devem ter sido de monta, pois todos os dias leio os jornais e não dou fé de escândalos aqui na vizinhança. e, quando no estado consciente, sou pulha, mau-feitio, com fantasias de promíscuo que nem um vero mangusso, e até me armo em chef de cuisine amador. mas, palavra, não vejo nessas actividades lúdicas razão q.b. para este espalhafato diário, este espernear e gritar com a vida. pelas leituras, e por dumas ir extraindo as outras, já cheguei ao nome do ovinho: a culpa, lê-se bem na casca. agora o conteúdo ainda me é mistério, e não sei se a estrele ou faça dela ovos mexidos.
tenham um bom-dia :-)
há anos que faço órbitas rasantes à noção de culpa, sem me decidir se aluno ou se sigo viagem. palavra. inclusivé já tive apoio da NASA nacional destas questões, que é como quem diz o departamento de psiquiatria público mais próximo. mas não me quero agora perder por aí. por aí, tanto que há a contar mas não é este o momento. a culpa:
torturo-me. são noites meio insones meio gritadas (vero), o corpo em espasmos como se estivesse para parir o diabo (já mo disseram), e a epicural ao meu alcance é esta e isto: esta catarse azulinha, este divã público,
falta-me o "conhecimento de ciência", que quando invocado faz os senhores das becas arrebitarem as orelhas, para alinhavar acontecimentos e causas e conseguir extrair com precisão. o que sai, sei: extracto de culpa. múltipla: das conhecidas e muita, muita, daquelas que nem eu suspeito mas que na minha vida herética ignaras gnoses vividas 'en passant' acarretaram, acumularam, e chegou a idade e tempo de deitarem fumo: a culpa.
cuidadosamente ponho na beira do papel a vertente religiosa: não me interessa, não cuido por aí além disso, mas também não amarfanho e deito fora a possibilidade da "culpa" ter ovo e ninho no formalismo infantil do acesso a esse conhecimento: a catequese é traumática. mas procuro mais longe, tão longe como o mais perto possível: a família (Lacan dixit? ou afinal é mesmo David Cooper que dixit?). as relações familiares. o conflito geracional, blá blá. por aí é bornal cheio, e "a culpa" inibe-me de desatar totalmente o nó, e só espreito: inibo-me de contar o comum dos meus problemas, tão iguais e tão especial e dolorosamente diferentes. "Allons enfants de la Patrie", sou tão patriota de mim mesmo que estupidamente faço segredo de Estado dos problemas comuns aos comuns. ("a culpa")
depois há todo o resto que me tortura e me faz gritar ao meio da noite, que faz da hora de descanso uma luta em que me agrido a mim mesmo em espasmos, choros, e em estúpida sublimação de substituição efectuar raides predatórios aos armários da cozinha, enfardando, enfardando, mas sem nunca engordar: o diabo tudo consome e não deixa esconder o osso da questão: há anos que me explodi, sem uso de colete de proteção. e aleijo-me, nem no tempo das pílulas às cores serenei ou esclareci, toquei mas fugi.
o César Amaral, que de todos que conheci foi o mais esperto, pôs-me a ler o Dostoievski, e na consulta semanal falávamos, entre viagenzinhas toca-e-foge cá pelo íntimo, no enredo do "Crime e Castigo'. (não matei ninguém; avanço já a explicação aos chocados com a revelação do tema das leituras psico-terapêuticas). e, já quase no fim, já quase em posse de carta de alforria para regresso à estupidez normalizada, enfiou-me numa sala cheia de monstros feios de discretamente sorridentes, e absurdamente opacos naquelas batas intimidatórias (ele não a usava. felizmente), mas avisou-me antes de entrarmos na sala: «estou contigo. é tudo uma cambada de asnos e só aguentas até onde quiseres. um sinal teu e o circo acaba». ah! o tema do conclave era obviamente "a culpa" (a minha extensão extensa à dita e da dita), e parece que alguém andava às voltas com uma tese do assunto e acharam-me perfeito para dissecarem. não interessa muito o que lá se passou, pois até pouco falei: mal abria a boca abanavam todos a cabeça com um ar tão sabido que me apetecia era mandá-los todos pró carilho: só o César percebia alguma coisa do que se passava (duvido que aquela malta, aqueles crâneos tão mal enjorcados assim vestidos de branco lesse mais além da biblioteca da Academia), e nem ao fim de meia-hora pisquei-lhe o olho e acabamos num instante com aquilo: a culpa, se cá mora, tem de ser tratada com dedos cuidadosos e não como um caldeirão de caldeirada de cabrito onde todos metem as mãos à procura dos melhores bocados.
pronto, já está. mais dia menos dia eu tinha de falar nisto. já está: tenho qualquer coisa esquisita e por resolver dentro de mim, e que me angustia. se fui sonâmbulo e pratiquei crimes durante esse estado não devem ter sido de monta, pois todos os dias leio os jornais e não dou fé de escândalos aqui na vizinhança. e, quando no estado consciente, sou pulha, mau-feitio, com fantasias de promíscuo que nem um vero mangusso, e até me armo em chef de cuisine amador. mas, palavra, não vejo nessas actividades lúdicas razão q.b. para este espalhafato diário, este espernear e gritar com a vida. pelas leituras, e por dumas ir extraindo as outras, já cheguei ao nome do ovinho: a culpa, lê-se bem na casca. agora o conteúdo ainda me é mistério, e não sei se a estrele ou faça dela ovos mexidos.
tenham um bom-dia :-)
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