quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Amores estivais



Os rapazes de tronco nu que não tiram os olhos das raparigas. Elas sorriem com malícia, vaidosas de ser e do viver. Além e aqui grãos, grãos do moinho que nas praias fez-se areia e nos peitos paixões, suspiros de sol. Quando o raio estala a multidão acaba, desvanece-se levada em ondas que recuam aspirando tudo, esgotando o mundo: ficam dois olhares e uma praia e nada mais existe. O clique mágico da caminhada da vida estalou e une um desejo dividido em dois, esse ardor adolescente que não sabem ser o prenúncio das solidões que virão. O sol negro da existência e o regresso da multidão.

Acontece sempre assim e é maravilhoso enquanto dura. Enquanto dura. E quem se rala? A vida é bela é vivida e não temida na precaridade dos imponderáveis ou nas finitudes de tudo: o Sol continua e se há compromisso com ele é o de lhe sorrir e viver, qu'ele não é perecível ou se desgasta como o arrepio na pele dos amores de Verão. A bela ilusão renasce contínuamente, enquanto rapazes e raparigas se galarem no descomprometimento das juras eternas, e quem se rala? Afinal viver é uma colecção imensa de ficções e ilusões, e nas praias não há lugar às irrealizáveis: há sol e, repete-se, ecoa nos grãos, com sol a Vida é Bela!

Além, aqui, os rapazes de tronco nu não tiram os olhos das raparigas e elas sorriem com malícia; além, aqui, as miragens do calor escondem a vã estivalidade, e ninguém se rala.


(foto da praia do Tofo, em Inhambane, Moçambique, gamada aqui.)

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