as músicas são como as cerejas: vermelhinhas, apetitosas para remexer os íntimos e trazerem sabores ao palato que o sazonal viver não estival quase apagou.
a seguir ao video de E, L & P - e tantas músicas deles que me apetece aqui recordar..., vou meter outro, mas este é açucarado com uma memória forte, das tais que o tempo, esse sacana, nunca maculou numa única nota. "July Morning" , pelos Uriah Heep. aqui vai:
mas não é esta a versão que me fez extasiar, idos de '74, nas primeiras filas do cinema Dicca de Lourenço Marques. aí e então, ouvi o João Poitevin, vocalista dos Melting Pot cantá-la de forma que - e não é sacrilégio, não: recordo-me e recorda-se quem viu e ouviu! - menoriza(-me) esta versão, a original...
tenho de fazer a chamada "declaração de interesses", e dupla: era amigo pessoal de toda a banda, o canhoto Vasquinho (Vasco Duque Fonseca, sócio da Mizé) que tocava bateria divinamente, o João, dos outros foge-me a memória, do viola-solo nem sombras do nome mas o baixo ou era o Hélder ou o Steve, este um mulato rodesiano (ou vindo de lá no pós 25A) com cabelo "à Angela Davis" que, mais tarde e findos os Melting Pot, passou junto com o Vasco para o grupo que lhes sucedeu como 'top' do rock laurentino: os "Storm", onde o vocalista era o Figs e que deram um concerto, para mim inolvidável por razões que já conto, no cinema S. Miguel ao Alto-Maé, edifício para mim de excelentes memórias e que em nota irónica (mas não desrespeitosa) acho hoje subaproveitado como sede da Assembleia Nacional Popular. as suas sessões-duplas de cinema, sábados à tarde, deram-me pelo preço de dois-em-um a cinematografia completa do duo Dean Martin e Frank Sinatra, John Wayne, Rock Hudson e pistoleiros dessa geração, as pasteladas italianas do Alberto Sordi e outras coisas encantadoramente horríveis desse género, à excepção das comédias do Louis de Funés, que isso eram 'hits' de popularidade e portanto fitas para cinemas de gente fina e bilhete carote, como o Manuel Rodrigues. enfim umas ricas tardes de sábado para um puto duns treze, catorze anos que, com momentos de sorte lá calhava e até enchia o olho com mulheres semi-nuas do tamanho do écran, esse extraordinário precursor dos "wonderbra".
bem, mas regresso à "declaração de interesses", em concreto à parte ainda omissa: além da amizade, na tarde do concerto e como 'aquecimento psicológico' toda a banda Melting Pot mais o grupo de seus primeiros fãs, onde o je se encontrava, passámos essas horas em deleites proto-tabagistas, do mais fino extracto. uma delícia, um must, só especiarias finas e doses à Lagardérè, éramos malta que não nos privávamos da excelência, quer fosse inspiradora de primorosa execução musical ou de preparação psicológica para assistir à dita.
já quanto ao outro concerto, o dos 'Storm' no S.Miguel, o aquecimento foi doutro género e origem, químico e de nome técnico "Lipo-Perdur". um "genérico" para o optimismo e a hiper-actividade, infelizmente hoje sobrevivente só nas memórias pois a malta de então esvaziou meticulosamente as prateleiras das farmácias do dito, e o fabricante, horrorizado com a perspectiva de com tais índices de consumo passar a empresa super trimilionária, deu uma de modesta e bem-comportada, adepta de índices de vida do proletariado então em alta ideológica, e retiraram-no do mercado, enfim, abdicaram de enriquecerem... diga-se que com grande desgosto duma enorme massa populacional que crescia a olhos vistos e esbugalhados, mais o linguarejar incontinente que o "speed" dá. o mesmo veio mais tarde a acontecer com o "Preludin" e com o "Profamina", mas isso já são comprimidos a mais para esta história-memória, e tenho de fazer ramal senão já não sei em que via estava e isto ainda fica uma overdose pegada.
ah! vamos lá: o entusiasmo da estreia terá contribuído com metade, mas os lipos por certo deram a outra. a verdade é que, logo na primeira música, o Figs agarra no micro e aproxima-se da boca de cena para soltar os primeiros trinados e dá em abrir e fechar a boca, abre e fecha, a malta toda na expectativa e o grupo a aguentar nos instrumentos que ele se decidisse, mas foi uma carga de trabalho até o "spedd" lhe permitir mais que abrir e fechar a boca que nem um peixe fora d'água: o rapaz até parecia que estava com falta d'ar! nós, o tais da pandilha que sabíamos o que os outros talvez suspeitassem, quase que nos escangalhamos a rir, e só não o fizemos pois, lá, estávamos a dois metros dele, nas primeiras filas, e era deixá-lo em paz para então soltar o vozeirão e "a banda avançar"... ;-)
mas este foi um interlúdio químico-musical para agora dar a voltinha e regressar ao início: "oiço" na memória o João Poitevin a cantar o July Morning e arrepio-me. como nunca foi possível ao ouvir o 'original'. é que há cópias superiores aos originais, invariavelmente quando foram assim degustadas, ouvidas e fumadas, vividas desde os bastidores até à bezana colectiva comemorativa no final.
LM, período entre o 25A e início do freakismo-marxismo (designação que li a outro e achei extraordinária de realismo), então ainda só freakismo pois do marxismo só se lhe conhecia a teoria. o seu lado nada musical só veio depois, e os concertos dessa época ainda não os encontrei no YouTube.
a seguir ao video de E, L & P - e tantas músicas deles que me apetece aqui recordar..., vou meter outro, mas este é açucarado com uma memória forte, das tais que o tempo, esse sacana, nunca maculou numa única nota. "July Morning" , pelos Uriah Heep. aqui vai:
mas não é esta a versão que me fez extasiar, idos de '74, nas primeiras filas do cinema Dicca de Lourenço Marques. aí e então, ouvi o João Poitevin, vocalista dos Melting Pot cantá-la de forma que - e não é sacrilégio, não: recordo-me e recorda-se quem viu e ouviu! - menoriza(-me) esta versão, a original...
tenho de fazer a chamada "declaração de interesses", e dupla: era amigo pessoal de toda a banda, o canhoto Vasquinho (Vasco Duque Fonseca, sócio da Mizé) que tocava bateria divinamente, o João, dos outros foge-me a memória, do viola-solo nem sombras do nome mas o baixo ou era o Hélder ou o Steve, este um mulato rodesiano (ou vindo de lá no pós 25A) com cabelo "à Angela Davis" que, mais tarde e findos os Melting Pot, passou junto com o Vasco para o grupo que lhes sucedeu como 'top' do rock laurentino: os "Storm", onde o vocalista era o Figs e que deram um concerto, para mim inolvidável por razões que já conto, no cinema S. Miguel ao Alto-Maé, edifício para mim de excelentes memórias e que em nota irónica (mas não desrespeitosa) acho hoje subaproveitado como sede da Assembleia Nacional Popular. as suas sessões-duplas de cinema, sábados à tarde, deram-me pelo preço de dois-em-um a cinematografia completa do duo Dean Martin e Frank Sinatra, John Wayne, Rock Hudson e pistoleiros dessa geração, as pasteladas italianas do Alberto Sordi e outras coisas encantadoramente horríveis desse género, à excepção das comédias do Louis de Funés, que isso eram 'hits' de popularidade e portanto fitas para cinemas de gente fina e bilhete carote, como o Manuel Rodrigues. enfim umas ricas tardes de sábado para um puto duns treze, catorze anos que, com momentos de sorte lá calhava e até enchia o olho com mulheres semi-nuas do tamanho do écran, esse extraordinário precursor dos "wonderbra".
bem, mas regresso à "declaração de interesses", em concreto à parte ainda omissa: além da amizade, na tarde do concerto e como 'aquecimento psicológico' toda a banda Melting Pot mais o grupo de seus primeiros fãs, onde o je se encontrava, passámos essas horas em deleites proto-tabagistas, do mais fino extracto. uma delícia, um must, só especiarias finas e doses à Lagardérè, éramos malta que não nos privávamos da excelência, quer fosse inspiradora de primorosa execução musical ou de preparação psicológica para assistir à dita.
já quanto ao outro concerto, o dos 'Storm' no S.Miguel, o aquecimento foi doutro género e origem, químico e de nome técnico "Lipo-Perdur". um "genérico" para o optimismo e a hiper-actividade, infelizmente hoje sobrevivente só nas memórias pois a malta de então esvaziou meticulosamente as prateleiras das farmácias do dito, e o fabricante, horrorizado com a perspectiva de com tais índices de consumo passar a empresa super trimilionária, deu uma de modesta e bem-comportada, adepta de índices de vida do proletariado então em alta ideológica, e retiraram-no do mercado, enfim, abdicaram de enriquecerem... diga-se que com grande desgosto duma enorme massa populacional que crescia a olhos vistos e esbugalhados, mais o linguarejar incontinente que o "speed" dá. o mesmo veio mais tarde a acontecer com o "Preludin" e com o "Profamina", mas isso já são comprimidos a mais para esta história-memória, e tenho de fazer ramal senão já não sei em que via estava e isto ainda fica uma overdose pegada.
ah! vamos lá: o entusiasmo da estreia terá contribuído com metade, mas os lipos por certo deram a outra. a verdade é que, logo na primeira música, o Figs agarra no micro e aproxima-se da boca de cena para soltar os primeiros trinados e dá em abrir e fechar a boca, abre e fecha, a malta toda na expectativa e o grupo a aguentar nos instrumentos que ele se decidisse, mas foi uma carga de trabalho até o "spedd" lhe permitir mais que abrir e fechar a boca que nem um peixe fora d'água: o rapaz até parecia que estava com falta d'ar! nós, o tais da pandilha que sabíamos o que os outros talvez suspeitassem, quase que nos escangalhamos a rir, e só não o fizemos pois, lá, estávamos a dois metros dele, nas primeiras filas, e era deixá-lo em paz para então soltar o vozeirão e "a banda avançar"... ;-)
mas este foi um interlúdio químico-musical para agora dar a voltinha e regressar ao início: "oiço" na memória o João Poitevin a cantar o July Morning e arrepio-me. como nunca foi possível ao ouvir o 'original'. é que há cópias superiores aos originais, invariavelmente quando foram assim degustadas, ouvidas e fumadas, vividas desde os bastidores até à bezana colectiva comemorativa no final.
LM, período entre o 25A e início do freakismo-marxismo (designação que li a outro e achei extraordinária de realismo), então ainda só freakismo pois do marxismo só se lhe conhecia a teoria. o seu lado nada musical só veio depois, e os concertos dessa época ainda não os encontrei no YouTube.
3 comentários:
Eu estive nesse concerto do S. Miguel. O guitarrista era um freak muito louco. O look do trio fazia lembrar um pouco os Grand Funk. Nunca cheguei a ver os Melting Pot, uma banda que todos diziam ser de excelência. Não tocavam em verbenas, só davam concertos. Acabaram cedo mas deixaram marca.
Entre os 25, de Abril/74 a Junho/75 foi uma era dourada para o prelo e similares. Grandes tempos e outras revoluções que não vêm nos manuais.
O disco do "Lucky Man", comprei-o numa discoteca nos prédios da COOP, este, numa outra no Prédio Nauticus.
Na altura do concerto, já tinha "voado" para estas paragens..., e posto uma borracha na "memória", que agora, também, com a tua ajuda vou recuperando.
Abraço
F
P.S. Não é só a ti que a fica molhada, de quando em vez...
a do prédio Nauticus era na arcádia: comprei lá a tal cassete do Aqualung que gramamaos na ida à Namaaacha...
já nos prédios da COOP lembro-me duma livraria, onde comprei os meus priemiros livros de xadrez.
ah! e de duas manas perdidas de boas, que moaravam naquelas moradias em banda, que também eram da COOP, logo numa das primeiras, quem ia do largo da Igreka...
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