Vem sentar-te comigo, Musa, à beira do teu rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
.......
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé da futilidade,
Mais longe que os deuses que nos espreitam desejariam.
.......
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos ínócuos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente - mas ardentemente
Que com desassossegos públicamente grandes, tão feios de grandes.
.......
Sem amores, ódios, paixões que levantem a voz além do sussurro ciado,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos
que só devem ver-se no nosso âmago fitados.
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio correria sempre manso,
E com ele nós não esbracejariamos ardores e iríamos desaguar no mar onde moram
cavalos-marinhos e suas éguas, disfarçadas em lulas de mil braços
e tantas, tantas ilusões.
.......
Amemo-nos tranquilamente pensando que podemos,
Sempre que quisermos, trocar beijos e abraços e carícias.
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-nos nele nadando em sincronia,
até a foz emudecer o arrulhar das águas.
.......
Colhamos flores! pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o nosso momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da própria inocência.
.......
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque ao enlaçarmos as mãos e nos beijarmos
Nem fomos mais do que crianças, sonhadoras, mas inamovíveis crianças.
.......
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti,
fora o salgado do rio que desagua no mar e de caminho lavará a face.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste, Musa eterna com as nossas flores nesse amado regaço.
.......
(variação livre sobre o poema de Fernando Pessoa-"Ricardo Reis", Vem sentar-te comigo, Lídia)
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
.......
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé da futilidade,
Mais longe que os deuses que nos espreitam desejariam.
.......
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos ínócuos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente - mas ardentemente
Que com desassossegos públicamente grandes, tão feios de grandes.
.......
Sem amores, ódios, paixões que levantem a voz além do sussurro ciado,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos
que só devem ver-se no nosso âmago fitados.
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio correria sempre manso,
E com ele nós não esbracejariamos ardores e iríamos desaguar no mar onde moram
cavalos-marinhos e suas éguas, disfarçadas em lulas de mil braços
e tantas, tantas ilusões.
.......
Amemo-nos tranquilamente pensando que podemos,
Sempre que quisermos, trocar beijos e abraços e carícias.
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-nos nele nadando em sincronia,
até a foz emudecer o arrulhar das águas.
.......
Colhamos flores! pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o nosso momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da própria inocência.
.......
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque ao enlaçarmos as mãos e nos beijarmos
Nem fomos mais do que crianças, sonhadoras, mas inamovíveis crianças.
.......
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti,
fora o salgado do rio que desagua no mar e de caminho lavará a face.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste, Musa eterna com as nossas flores nesse amado regaço.
.......
(variação livre sobre o poema de Fernando Pessoa-"Ricardo Reis", Vem sentar-te comigo, Lídia)
NOTA: o pouco que sei de "html" não me permite editar o poema respeitando a elegância de forma do original. designadamente o 'espaço' no início de certas partes. clicando aqui pode ver-se o que, cá no blogue, não consegui fazer.
1 comentário:
Jawwa, honraste-me duplamente: pela visita que não se ficou pela sala e desceu ao baú, e pela referência a que o "meu alemão" não deixou apreceber-me logo...
um terno smack para ti, tu Mulher-Musa pois o ícone assenta-te que nem um vestido Dior... ou umas Levi's justinhas (à escolha)!... ;-)
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