".... olhou-a, os olhos brilhando de desejo, os lábios secos e as mãos crispadas, os músculos tensos, o animal macho emergindo, já rugindo no longo murmúrio que o seu corpo gotejava, ansioso pelo calor corporal sexual. A atmosfera do quarto, àquela meia luz que as discretas cortinas corridas criaram, fazia-a mais bela se possível, a alvura do seu corpo e a ternura ávida do seu sorriso eram os focos, o íman, seu único destino naquele momento em que o mundo se apagava e o zumbido dos carros na avenida, lá tão longe, ainda parecia mais distante.
Não falaram. Para quê? Os corpos gritavam, os braços dela erguidos, suplicantes pelas suas carícias, diziam tudo. As palavras seriam irritas pois só os beijos falavam, no seu húmido calor que incendeia e reincendeia, adormece passados e torna os presentes névoas, nuvens onde se flutua. Os corpos foram glorificados, sugados, lambidos, beijados. Os sussurros ciciados elevavam o prazer em vagas, as mãos eram poucas para sentir, agarrar, acompanhar o desejo e os lábios que, esses, faziam a via sacra dos odores e dos sabores, as línguas sugavam-se e os lábios sorriam, húmidos, brilhando em prata à luz dos corpos que ardiam na fogueira do festim da carne, os poros dilatados para libertarem e absorverem os fluidos, os cheiros, o sorrir que os olhos contavam.
A tarde correu molenga, as carícias e a ternura moderavam os ritmos sapientes, e a fricção corporal íntima soltava-lhes exclamações incontroladas. Ardiam no fogo que tudo lava e descobre, expõe o animal ora sedento ora ronronante, solta o sorrir simples das coisas boas, primitivas, até risadas francas e libertas soaram enquanto os membros inventavam fugas, alternativas, vias, permitiam aos corpos púbicos afundarem-se um no outro, radiantes, felizes, os egos feitos esponjas e, gulosos, sugando as carícias como tesouros, os músculos em espasmos e contracções, o beijo terno autorizando.
Foi mágico. As pernas, ainda enleadas, repousavam, o peito num afã de grito subindo e descendo, oxigénio do viver. Os lábios formulavam beijos e os olhos davam-nos, à claridade que deles voava em brilhos incandescentes juntava-se o aroma macho e fêmeo que pairava e eles absorviam como o complemento do momento do grito, dos dedos cravados em pedido brutal por mais! mais!, dos olhos explodindo em entrega, raiados pela loucura dos amantes, o espasmo corporal, o grito e o desespero do abraço, depois as gotas de suor venceram e vergaram-lhe os troncos, os corpos prostraram-se e os olhos abriram as portas da felicidade, semi-cerrando-se enquanto os últimos raios da realidade fugiam, o quarto e a cama, a janela e a luz, o nada bom inundou-os e a fome saciada adormeceu-os.
Sorria assim o viver quando, em estrondo, a porta abriu-se violentamente e um pincel de violência traçou naquela tela de amor traços brutais. O estremecimento deles, aquele acordar súbito e de terror, foi abafado pela visão das armas nas mãos, os dois adultos que, junto com a criança, tinham violado a mais bela intimidade que lhes dourara o viver. Em inconsciente defesa mútua abraçaram-se, em debalde tentando ocultar o brilho das suas intimidades assim reveladas, ofendidas, ameaçadas pela brutal invasão. Os protestos, débeis, silenciaram-se perante o esgar das máscaras humanas, os revólveres erguidos como a arma que são e não se lhes acredita num filme ou numa notícia.
Surpreendentemente quem parecia comandar o trio era a criança. Teria uns pequeninos anos, proporcionais à fragilidade da sua figura, e envergava roupas a condizer com a idade presumida, nos caracóis loiros uma fita vermelha, ligeiramente solta e precisada da ajuda dum adulto. Porém, quem lhe observasse a face, aliada às palavras que proferia numa linguagem estranha e que não se parecia com nenhum linguarejar que eles conheciam, percebia em estupefacção incrédula que o invólucro era apenas isso, havia um ser alienígena ou diabólico na posse do corpo infantil, cujos bracinhos rechonchudos indicavam ordens, os olhinhos castanhos revelando uma atenção e dureza maníacas, estranhas, em nada parecidas com qualquer outro olhar que recordassem, e isto assustava mais que as armas quando ambos de tanto tomaram realidade.
Que se passava? Quem eram? Que lhes iria acontecer, o que queriam? (...)
Não falaram. Para quê? Os corpos gritavam, os braços dela erguidos, suplicantes pelas suas carícias, diziam tudo. As palavras seriam irritas pois só os beijos falavam, no seu húmido calor que incendeia e reincendeia, adormece passados e torna os presentes névoas, nuvens onde se flutua. Os corpos foram glorificados, sugados, lambidos, beijados. Os sussurros ciciados elevavam o prazer em vagas, as mãos eram poucas para sentir, agarrar, acompanhar o desejo e os lábios que, esses, faziam a via sacra dos odores e dos sabores, as línguas sugavam-se e os lábios sorriam, húmidos, brilhando em prata à luz dos corpos que ardiam na fogueira do festim da carne, os poros dilatados para libertarem e absorverem os fluidos, os cheiros, o sorrir que os olhos contavam.
A tarde correu molenga, as carícias e a ternura moderavam os ritmos sapientes, e a fricção corporal íntima soltava-lhes exclamações incontroladas. Ardiam no fogo que tudo lava e descobre, expõe o animal ora sedento ora ronronante, solta o sorrir simples das coisas boas, primitivas, até risadas francas e libertas soaram enquanto os membros inventavam fugas, alternativas, vias, permitiam aos corpos púbicos afundarem-se um no outro, radiantes, felizes, os egos feitos esponjas e, gulosos, sugando as carícias como tesouros, os músculos em espasmos e contracções, o beijo terno autorizando.
Foi mágico. As pernas, ainda enleadas, repousavam, o peito num afã de grito subindo e descendo, oxigénio do viver. Os lábios formulavam beijos e os olhos davam-nos, à claridade que deles voava em brilhos incandescentes juntava-se o aroma macho e fêmeo que pairava e eles absorviam como o complemento do momento do grito, dos dedos cravados em pedido brutal por mais! mais!, dos olhos explodindo em entrega, raiados pela loucura dos amantes, o espasmo corporal, o grito e o desespero do abraço, depois as gotas de suor venceram e vergaram-lhe os troncos, os corpos prostraram-se e os olhos abriram as portas da felicidade, semi-cerrando-se enquanto os últimos raios da realidade fugiam, o quarto e a cama, a janela e a luz, o nada bom inundou-os e a fome saciada adormeceu-os.
Sorria assim o viver quando, em estrondo, a porta abriu-se violentamente e um pincel de violência traçou naquela tela de amor traços brutais. O estremecimento deles, aquele acordar súbito e de terror, foi abafado pela visão das armas nas mãos, os dois adultos que, junto com a criança, tinham violado a mais bela intimidade que lhes dourara o viver. Em inconsciente defesa mútua abraçaram-se, em debalde tentando ocultar o brilho das suas intimidades assim reveladas, ofendidas, ameaçadas pela brutal invasão. Os protestos, débeis, silenciaram-se perante o esgar das máscaras humanas, os revólveres erguidos como a arma que são e não se lhes acredita num filme ou numa notícia.
Surpreendentemente quem parecia comandar o trio era a criança. Teria uns pequeninos anos, proporcionais à fragilidade da sua figura, e envergava roupas a condizer com a idade presumida, nos caracóis loiros uma fita vermelha, ligeiramente solta e precisada da ajuda dum adulto. Porém, quem lhe observasse a face, aliada às palavras que proferia numa linguagem estranha e que não se parecia com nenhum linguarejar que eles conheciam, percebia em estupefacção incrédula que o invólucro era apenas isso, havia um ser alienígena ou diabólico na posse do corpo infantil, cujos bracinhos rechonchudos indicavam ordens, os olhinhos castanhos revelando uma atenção e dureza maníacas, estranhas, em nada parecidas com qualquer outro olhar que recordassem, e isto assustava mais que as armas quando ambos de tanto tomaram realidade.
Que se passava? Quem eram? Que lhes iria acontecer, o que queriam? (...)
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