sexta-feira, 15 de março de 2013

órfãos


neste momento o ministro Gaspar e os seus ajudantes falam, falam. ontem à noite, muito à noite, o Primeiro também falou.

o meu espanto não é pelas más notícias. não o suspeitávamos: sabíamos. sem cursos de Finanças Públicas ou de Economia Política mas já sabemos antes de ouvir: vivemos o filme desde a primeira hora, e já houve altura em que não perdíamos pitada das legendas, crentes num happy end. o meu espanto advém de como conseguem, com caras sérias mas não pesarosas, tentando serem neutras, falarem logo a seguir em medidas e perspectivas animadoras. anunciarem decisões salvíficas para amanhã logo após reconhecerem o fiasco das de ontem, repetição em cima de repetição de nºs que já entram por um lado para saírem por outro porque ninguém lhes dá valor, ninguém os acredita.
deviam cumprir um período de nojo entre umas e outras. não é para nos suavizar o choque: já sabíamos. é pela dignidade. dignidade - e cuidado - quanto tocam no pedacinho que sobra da esperança. assim, as mesmas caras a darem uma no cravo e outra na ferradura, esse défice salta à vista e aumenta a sensação de luto iminente por nós próprios.

ouço-os, vejo-os, e entendo a raiz do vulgar ódio ao Estado. eles falharam, não fomos nós. há uma legitimidade rude neste pensamento, e repetem-se (mais uma vez) as justificações fornecidas pelos seus principais agentes para aquele sentimento. a orfandade de futuro é terrível.

Sem comentários: