quarta-feira, 2 de maio de 2012

o doce feriado do Pingo Doce

a histeria. e com certeza algum desarranjo mental momentâneo provocado pelo pânico da crise: quantos e quantos gastaram 50, 60, 70 - na mira do desconto - quando se fora deste síndroma de multidão, de "rebanho", para gastarem 20 ou 30 já contariam bem contado? ah! e os cartões de crédito. os que sobreviveram. daqui a 30 dias vai ser uma chiadeira danada.

brigar pelo último frasco de champô? 10 kgs de sardinhas? uma loira agarrada a um expositor de chocolates «é meu, é meu, é meu!»? deus m'a livre...

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entretanto há quem ache virtudes muito óbvias no acto caridoso. eu duvido. é que duvido mesmo! e numa troca de comentários no Facebook respondi assim:
a Jerónimo Martins capitalizou-se nesta operação sem ter de ir à Bolsa ou à banca. transferiu as suas existências em armazém para as despensas dos seus clientes - que para isso pagaram mais do que normalmente pagam: hoje gastaram em produtos que em vias normais de consumo só gastariam daqui a meses, pois só então os consumiriam. repito, Vítor: a Jerónimo Martins hoje "limpou" os bolsos aos seus clientes mais aflitos - os tais que bem identificaste. fez uma rotação mágica de stocks - mágica porque gigantesca e a custo 0 para ela, empresa: o que ganhou no excesso de vendas é superior ao valor do tal desconto que suportou. mais o que não pagou nem pagará pelo encaixe de dinheiro vivo.

quanto aos clientes. li várias reportagens com trechos de entrevistas feitas no momento. quem ia a pensar gastar 100 (200 em compras reais) e quando pagou pagou 300 (600 em compras reais). armazém em casa. um caso falou em já ter gasto 700 (1.400 de mercadorias) e ainda iria voltar à tarde, dizia. armazém. aqui em Almeirim ouvi conversas em café. e, aqui, conheço as pessoas. não lhe conheço a carteira mas conheço-lhes genericamente as vidas. nunca foram largas e com certeza agora estão mais apertadas. e falavam no stock reforçado que fizeram. o tal armazém. obviamente a troca de transferência de reservas ou poupança para o mealheiro Pingo Doce. fora os que utilizaram o crédito: cartões. e quem tem ou teve cartões sabe o quanto custam os juros caso não se faça a amortização integral em 30 ou 45 dias - conforme o tipo de cartão e o contrato celebrado: balúrdios, taxas pornográficas. quantos e quantos encheram os carros com adicionais que em sanidade normal nunca comprariam, ou na mira de atingir os miríacos 100€ de despesa - e múltiplos sucessivos..., ou apenas no embraseamento do desconto mágico de 50%... mas mesmo aceitando que o desconto é mesmo esse (só episodicamente o é; mesmo a destruição de bens no interior das lojas foi contabilisticamente favorável à empresa e esbate o valor 'dado' no desconto) acabam por pagar "50%" dum valor X que noutras circunstâncias nunca o fariam. o consumismo descontrolado é perigoso, e foi isso que sucedeu hoje. promovido. incentivado.

isto não é bonito. nem penso ser necessário alongar-me por este (1º de Maio) ser tradicionalmente um dos poucos dias em que os hipers encerram de facto (encerravam...), dando folga não virtual aos seus empregados para poderem ter um dia de família. que é necessário. e não é com a mãe a folgar à quarta e o marido ao sábado, ou a folgarem em dias em que os putos estão em aulas, que efectivamente há "um feriado" que o seja, e que seja um dia familiar pleno. já nem vou por aí, vê...

eu chamo ao que se passou capitalismo pérfido. e repara: não sou ideologicamente comunista ou quejando, não tenho nenhuma aversão especial pelo capitalismo. mas o que se passou hoje foi feio. ah! e feio igualmente pelas manifestações da massa humana ensandecida pela cupidez, a inveja, a maldade num ou noutro caso até. mas esses maus instintos foram polarizados e estimulados pela acção que lhes foi proposta como rebuçado único e a aproveitar. há que pensar as coisas em todas as suas consequências antes de promovê-las. infelizmente até acho que sim: foi pensado. de a a z como atrás te digo, certamente saltando algumas letras em que nem quero sequer pensar

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