o doce feriado do Pingo Doce
a
histeria. e com certeza algum desarranjo mental momentâneo provocado
pelo pânico da crise: quantos e quantos gastaram 50, 60, 70 - na mira do
desconto - quando se fora deste síndroma de multidão, de "rebanho",
para gastarem 20 ou 30 já contariam bem contado? ah! e os cartões de
crédito. os que sobreviveram. daqui a 30 dias vai ser uma chiadeira
danada.
brigar pelo último frasco de champô? 10 kgs de
sardinhas? uma loira agarrada a um expositor de chocolates «é meu, é
meu, é meu!»? deus m'a livre...
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entretanto há quem ache virtudes muito óbvias no acto caridoso. eu duvido. é que duvido mesmo! e numa troca de comentários no Facebook respondi assim:
a Jerónimo Martins
capitalizou-se nesta operação sem ter de ir à Bolsa ou à banca.
transferiu as suas existências em armazém para as despensas dos seus
clientes - que para isso pagaram mais do que normalmente pagam: hoje
gastaram em produtos que em vias normais de consumo só gastariam daqui a
meses, pois só então os consumiriam. repito, Vítor: a Jerónimo Martins
hoje "limpou" os bolsos aos seus clientes mais aflitos - os tais que bem
identificaste. fez uma rotação mágica de stocks - mágica porque
gigantesca e a custo 0 para ela, empresa: o que ganhou no excesso de
vendas é superior ao valor do tal desconto que suportou. mais o que não
pagou nem pagará pelo encaixe de dinheiro vivo.
quanto aos
clientes. li várias reportagens com trechos de entrevistas feitas no
momento. quem ia a pensar gastar 100 (200 em compras reais) e quando
pagou pagou 300 (600 em compras reais). armazém em casa. um caso falou
em já ter gasto 700 (1.400 de mercadorias) e ainda iria voltar à tarde,
dizia. armazém. aqui em Almeirim ouvi conversas em café. e, aqui,
conheço as pessoas. não lhe conheço a carteira mas conheço-lhes
genericamente as vidas. nunca foram largas e com certeza agora estão
mais apertadas. e falavam no stock reforçado que fizeram. o tal armazém.
obviamente a troca de transferência de reservas ou poupança para o
mealheiro Pingo Doce. fora os que utilizaram o crédito: cartões. e quem
tem ou teve cartões sabe o quanto custam os juros caso não se faça a
amortização integral em 30 ou 45 dias - conforme o tipo de cartão e o
contrato celebrado: balúrdios, taxas pornográficas. quantos e quantos
encheram os carros com adicionais que em sanidade normal nunca
comprariam, ou na mira de atingir os miríacos 100€ de despesa - e
múltiplos sucessivos..., ou apenas no embraseamento do desconto mágico
de 50%... mas mesmo aceitando que o desconto é mesmo esse (só
episodicamente o é; mesmo a destruição de bens no interior das lojas foi
contabilisticamente favorável à empresa e esbate o valor 'dado' no
desconto) acabam por pagar "50%" dum valor X que noutras circunstâncias
nunca o fariam. o consumismo descontrolado é perigoso, e foi isso que
sucedeu hoje. promovido. incentivado.
isto não é bonito. nem
penso ser necessário alongar-me por este (1º de Maio) ser
tradicionalmente um dos poucos dias em que os hipers encerram de facto
(encerravam...), dando folga não virtual aos seus empregados para
poderem ter um dia de família. que é necessário. e não é com a mãe a
folgar à quarta e o marido ao sábado, ou a folgarem em dias em que os
putos estão em aulas, que efectivamente há "um feriado" que o seja, e
que seja um dia familiar pleno. já nem vou por aí, vê...
eu
chamo ao que se passou capitalismo pérfido. e repara: não sou
ideologicamente comunista ou quejando, não tenho nenhuma aversão
especial pelo capitalismo. mas o que se passou hoje foi feio. ah! e feio
igualmente pelas manifestações da massa humana ensandecida pela
cupidez, a inveja, a maldade num ou noutro caso até. mas esses maus
instintos foram polarizados e estimulados pela acção que lhes foi
proposta como rebuçado único e a aproveitar. há que pensar as coisas em
todas as suas consequências antes de promovê-las. infelizmente até acho
que sim: foi pensado. de a a z como atrás te digo, certamente saltando
algumas letras em que nem quero sequer pensar
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