parece que o arribar, hoje, não é falso como o foi ontem, em que
levantei-me cheio de ilusões de melhoras mas não demorei a perceber que o
engano era grande e a realidade continuava a chamar-se Crohn, e
sequelas. tanto que finalmente hoje vou
sair à rua. parece não ser nada de especial mas para quem ainda só
caminha vergado (para amainar as dores estomacais), é obra. tenho
consulta no Centro de Saúde, esta tarde.
será um acto pró-forma e administrativo, quanto a mim, que me muno de receitas específicas para este bichinho nas consultas de especialidade, no Hospital Distrital. o Médico de Família, por mais atencioso que seja (é) não mete palpites num assunto que sabe ser acompanhado por colegas especialistas, e registará no meu dossier outra ocorrência. a visita ocorrerá principalmente para obter um atestado de baixa por assistência a familiar para a Paula, que tirou estes dias para cuidar de mim com prejuízo das suas férias futuras.
cuidar de mim. na fase mais crítica, a noite de 3ª para 4ª feira, dez vezes quis ela telefonar para o 112 e dez vezes a impedi. e esta noite isso ainda aconteceu. as razões porque o fiz foram de natureza medrosa (tenho pavor à introdução da sonda naso-gástrica) e de natureza economicista: ironicamente, na 2ª feira fora informado de que a minha doença, que é crónica e me ataca diversas vezes ao ano, fora excluída da lista daquelas em que os doente beneficiam da isenção de taxas nas consultas e tratamentos, assim como no transporte de ambulância quando não prestado pelo INEM. em resumo de números, qualquer visita à urgência hospitalar não fica por menos de 50 euros: consulta, análises, radiografias e tratamentos incluídos. caso passe a internamento (costuma ser) aí a conta pára de somar. mas até lá não há perdão contabilístico.
sou parvo? e medricas? assumo ambos. mas tenho esta maldita há mais de década e meia e conheço-a, sei ler-lhe os sinais. naturalmente sei quando as dores se tornam insuportáveis sem apoio, e arrisco no jogo de cálculo quanto à evolução da crise, protelando a intervenção médica. já umas vinte crises e subsequentes internamentos deram-me experiência suficiente para "ver" quando há risco duma ruptura interna poder eclodir. e as dores, essas aguentam-se até àquele ponto em que 'a solo' não se aguentam mais. mas sou duro, desculpem-me a vaidade. só a sonda me aterroriza (tenho os canais nasais estreitos, diz o médico) mas mesmo assim 'éne' vezes fui eu que pedi que chamassem a ambulância, mesmo sabendo o que me espera mal chegue à urgência: entubado.
depois a vida é o que é, e hoje ela é tanto o que é que só em pensar nisso predispõe os sãos à depressão, e a sua lembrança agudiza qualquer doença. se eu puder poupar 50 euros a troco só de dores, e sem elevado risco para a minha vida, então torno-me um somítico irracional e não hesito, cerro dentes e largo os ais suficientes para psicologicamente aplacá-las. a minha doença foi catalogada como doença de ricos (meu exagero descritivo, sei) e nem vocês, nem os médicos, nem hipoteticamente o senhor contabilista que é ministro da Saúde caso ele me pensasse além de contribuinte, calculam o tamanho do meu sorriso quando me sonho nesse estado de graça social. isto está duro, e no meu raciocínio escanzelado só se gastam 50 euros quando não existe alternativa a fazê-lo.
Europa, Portugal, 2012. em que me descubro na doença incluído em elites que me davam um jeitaço integrá-las era na saúde!
será um acto pró-forma e administrativo, quanto a mim, que me muno de receitas específicas para este bichinho nas consultas de especialidade, no Hospital Distrital. o Médico de Família, por mais atencioso que seja (é) não mete palpites num assunto que sabe ser acompanhado por colegas especialistas, e registará no meu dossier outra ocorrência. a visita ocorrerá principalmente para obter um atestado de baixa por assistência a familiar para a Paula, que tirou estes dias para cuidar de mim com prejuízo das suas férias futuras.
cuidar de mim. na fase mais crítica, a noite de 3ª para 4ª feira, dez vezes quis ela telefonar para o 112 e dez vezes a impedi. e esta noite isso ainda aconteceu. as razões porque o fiz foram de natureza medrosa (tenho pavor à introdução da sonda naso-gástrica) e de natureza economicista: ironicamente, na 2ª feira fora informado de que a minha doença, que é crónica e me ataca diversas vezes ao ano, fora excluída da lista daquelas em que os doente beneficiam da isenção de taxas nas consultas e tratamentos, assim como no transporte de ambulância quando não prestado pelo INEM. em resumo de números, qualquer visita à urgência hospitalar não fica por menos de 50 euros: consulta, análises, radiografias e tratamentos incluídos. caso passe a internamento (costuma ser) aí a conta pára de somar. mas até lá não há perdão contabilístico.
sou parvo? e medricas? assumo ambos. mas tenho esta maldita há mais de década e meia e conheço-a, sei ler-lhe os sinais. naturalmente sei quando as dores se tornam insuportáveis sem apoio, e arrisco no jogo de cálculo quanto à evolução da crise, protelando a intervenção médica. já umas vinte crises e subsequentes internamentos deram-me experiência suficiente para "ver" quando há risco duma ruptura interna poder eclodir. e as dores, essas aguentam-se até àquele ponto em que 'a solo' não se aguentam mais. mas sou duro, desculpem-me a vaidade. só a sonda me aterroriza (tenho os canais nasais estreitos, diz o médico) mas mesmo assim 'éne' vezes fui eu que pedi que chamassem a ambulância, mesmo sabendo o que me espera mal chegue à urgência: entubado.
depois a vida é o que é, e hoje ela é tanto o que é que só em pensar nisso predispõe os sãos à depressão, e a sua lembrança agudiza qualquer doença. se eu puder poupar 50 euros a troco só de dores, e sem elevado risco para a minha vida, então torno-me um somítico irracional e não hesito, cerro dentes e largo os ais suficientes para psicologicamente aplacá-las. a minha doença foi catalogada como doença de ricos (meu exagero descritivo, sei) e nem vocês, nem os médicos, nem hipoteticamente o senhor contabilista que é ministro da Saúde caso ele me pensasse além de contribuinte, calculam o tamanho do meu sorriso quando me sonho nesse estado de graça social. isto está duro, e no meu raciocínio escanzelado só se gastam 50 euros quando não existe alternativa a fazê-lo.
Europa, Portugal, 2012. em que me descubro na doença incluído em elites que me davam um jeitaço integrá-las era na saúde!
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