quarta-feira, 25 de abril de 2012

memória



a colecção, que julgo completa, da emissão da RTP no 25 de Abril de 1974.

foi tremendo assistir-lhe assim, de fio a pavio. a maioria já a conhecia, mas como imagens isoladas. mas, assim, o impacto emocional é outro. forte. e quando chegaram as primeiras de rua, de onde a revolução se fazia, pensava: é ali que se devia estar. não em casa olhando a tv, não em casa acolhendo os repetidos avisos (conselhos? bah...) para que não se saísse à rua. a revolução vivia-se na rua. no Carmo, no Rossio, no Camões, em qualquer lugar mas nunca num bafiento e temeroso. chega. chegava de medos. e ao ouvir as notícias sobre a tardia rendição da DGS, da sua resistência à História, dos cinco mortos e alguns feridos recordei-me naturalmente do meu amigo Rui Morais, que foi lá ferido por balas criminosas que dispararam sobre a multidão. ele mostrou-me as duas marcas das balas nas costas, uns meses mais tarde, lá em LM.

(onde andarás, Rui? alguém me disse que para a Suíça, mas não tenho a certeza. não sei. sei que gostava de te rever, a ti e à Marília caso ainda estejas com ela. e ao Jorge, o teu irmão. recordarmos a "república" em que vivemos todos em 76, perto da Praça das Flores, ali a S.Bento. gostava de te rever, amigo, gostava sim. fomos especiais porque vivemos momentos especiais. tu cá e eu lá, antes lá quando me introduziste a coisas que eu não sabia e contigo aprendi, livros que nunca esqueci. depois cá, contra-a-corrente, a nossa anarquia dissidente. a nossa práxis orgulhosamente de lumpen, também essa revolução. tenho saudades, Rui)

uma hora e tal de História. somos fruto do que aconteceu naquela noite e naquele dia e o saldo tem muito mais de positivo do que de deita fora. 25A, Sempre! na minha geração este sentimento nunca mudará, tenha-nos a vida dados pontapés em cima de pontapés, há um poema que nos diz

"Esta é a madrugada que eu esperava 
O dia inicial inteiro e limpo 
Onde emergimos da noite e do silêncio 
E livres habitamos a substância do tempo" 

(Sophia)

e a poesia das palavras não mente: ela pode silenciar-se mas ela sente

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