repenso os dias, mexo-lhes e ouço estalinhos como num pé torcido. o azul e o verde das marés lesionam no vai-e-vem, e é bem-vinda uma ligadura que aperte e me bóie, m'emerja do pé-coxinho de sentar na areia a olhar horizontes, ora tão próximos que m'afogam em ilusões, ora tão distantes que à borbulha das ondas junto os íntimos salpicos que se escrevem saudade.
memórias, esse caderno diário escrito com tinta secreta e que a pátine da vida descobre, às vezes terna e complacente, outras tão cruel. memórias, e se deste momento yin-yang amanhã não disser que atirei a minha garrafa à água por ser exagero - e a exposição pública não é um Vidrão, ao menos que dele me lembre e diga qu'o que escrevi fi-lo em cortiça, é uma rolha que soltei, pois tudo que de mim sinta e bóie faz flop! e está escrito o melhor que sei, e é tão mensagem como outro silêncio qualquer.
de todas, recupero a imagem do pé-coxinho. de todos, detesto-me primeiro a mim. homem, português, cinquenta e seis anos, duas mulheres e três filhos, e vários amores. assim m'escondi o mais que pude, NIF, NIB e Cartão de Cidadão, mas se repenso os dias ouço estalinhos como num pé torcido, e duvido (duvido mesmo!) que nesta areia onde me sento e tanto olho veja de novo os caranguejos, pequeninos, a fugirem para as covinhas desenhando-me rastos importantes, tanto que os acredito hoje, cá dentro, escrevendo as linhas antigas. mas é o que sobrou. de mim? estalinhos.
(a foto foi gamada aqui.
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