sexta-feira, 11 de março de 2011

poesia e um frio túmulo, onde habitam mornos fantasmas




Demócrito

Prefiro entender o que sei
a poder ser, na Pérsia, rei.


Bartolomeu Dias

Dobrado o Assombro, foi o que tu viste
não ser o mar diferente. Então, voltaste.
Desflorado o mistério, não existe
motivo para novo esforço: cessaste.


Copérnico

O céu que viste era o céu
de Ptolomeu. Mas diferente
foi a forma de o olhar.
No modo de julgar, teu,
a Terra, astro movente,
demitiu-se de pensar
que era o centro do mundo:
assim ver, que abalo fundo!


Pascal

Não penso, no vasta espaço denso,
encontrar a minha dignidade:
tão só no domínio do que penso.
Ter mundos é pura insanidade:
qual átomo, o espaço me devora
e anula; e só o pensamento
que me habita e em mim demora
me dá, do universo, entendimento.


Van Gogh

Demora-me a sede de infinito.
Que vou fazer? Como resolvê-la?
Decido: saio para a noite e fito
o espaço nu, a luz duma estrela.


Einstein

E igual a mc dois
abriu as portas do ignoto:
o que há-de vir depois
é o frio: aqui o noto.

-/-

Epílogo


Hipótese - II ( O outro inverno)


O caminho da entropia

Um frio estelar roupa à glória a memória.
Ao mais e ao menos uma fria brisa alisa.
Arrefecido o homem, já da sua história
fica só nada, que o fluir do tempo pisa.
Do que fomos, nem de nos termos esquecido
traço fica. Inocente, o tempo, liso, flui,
nem sabendo que não sabe. O já ter sido
é nem ter chegado a ser: o passado alui.
Eterno, sem lembrança, o frio acontecido.


"O Ilimitável Oceano", Eugénio Lisboa, Edições Quasi, 2001

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