quinta-feira, 22 de julho de 2010

um euro e 5 cêntimos de prazer

O café na pastelaria do bairro e um guardanapo cheio de gomas, das amoras, vermelhas e negras lembrando um romance romântico (as únicas que merecem o dispêndio), um cigarro chupado com a volúpia do pós café, e sento-me no banco da esquina, o "meu" banco, o embrulhinho das amoras poisado ao lado e na mão mais umas páginas dum excelente Bolaño, ano de 1998.

Não é caro trazer prazeres à vida. Mesmo assim deve-se gastar tudo em mansinho, até o cigarro se chupa devagar após aquele primeiro. A calma de fruir é um prazer que não se devora como se se fosse um miserável esfomeado e desesperado, para eles, os prazeres, não se assustarem e fugirem ficando o vazio e quiçá algumas gomas, essas sim, céleres rumo à míngua, que a gula é poderosa e dizem que nos ameniza. Outro risco é poder sentar-se a tristeza, essa má visita e velha conhecida de todos os bancos de todas as esquinas dos mundos.

Já há um bocado que fechei o livro mas continuo a ler. Na copa das árvores em frente, no céu que esta tarde está animador nas linhas que se lêm nas nuvens, em mim. Eu adoro ler mas é quando as gomas acabam que sinto uma pontada de medo da solidão.

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