Pedem-me que conte uma história pessoal e marcante passada em Moçambique, de forma curta e intensa, como se com tais coordenadas fosse possível condensar o fogo fazendo-o luzinha e limitar o estremecimento quando um desafio assim é proposto. É que – foi inevitável pois foi marcante, ó se foi!... – o que me veio logo à memória é uma história de amor. A minha história de amor predilecta, o love story cuja bobine aninho com o carinho que dedicamos aos momentos mais belos das nossas vidas.
Recuando ao seu princípio, hoje acho que me apaixonei logo que a conheci, que com ela brinquei, ri e chorei, pois foi sempre em sua companhia que cresci. Dos sete aos vinte anos, dito com a precisão dos registos, então vividos sem noção de tempo além da mudança dos calções para calças boca-de-sino, hoje com a lenta minúcia com que nos recolhemos quando revisitamos o tempo das mais doces memórias.
Era um namoro descomprometido, que do meu amor por ela vivia-o no dia-a-dia com a naturalidade de sempre o conhecer, ser simplesmente assim, e, ela por mim, suspeito, com a gaiatice malandra das meninas namoradeiras, cortejadas por todos e capaz de a todos conceder o seu sorriso especial. Eu juro que tive os meus, juro-o porque o senti quer nos momentos que o rubor dos sorrisos íntimos e a discrição silenciam, quer em todos os restantes, dias, noites cheias e quentes que vivíamos intensamente, lado a lado em todas as ocasiões. Viver maiúsculo, chama-se quando se é jovem e chamo-o ainda hoje assim. Ser feliz.
Éramos jovens e ela muito bela. Atrevida, orgulhosa e vaidosa da sua beleza, e qual a bonita rapariga que não o é, que não exibe o volume dos seus seios como se fossem colinas na paisagem, que, gaiata e feliz, não solta mais um botão da bata do liceu para que se veja mais um pouco das suas lindas pernas, longas e elegantes, e olhá-las é perdermos o sentido do tempo e tudo o mais, como se em cada centímetro de veludo revelado fosse mais um passo numa longa avenida, a do crescer. As suas feições, ocidentais de arquitectura e de traço moderno com um ou outro pormenor clássico que lhe realçavam a beleza (aquelas covinhas quando sorria, ó deuses…), eram apimentadas pelo tom moreno da pele, bem além daquele que o sol nos grava quando nos namora, tão lindo, tão lindo, que só consigo dele dizer que com ele ela era eroticamente selvagem, enlouquecendo-me hoje de desejo em voltar a acariciá-la quando fecho os olhos e na memória a contemplo, linda como a mais linda das princesas.
Sim, ela era bonita, lindíssima, mas achava-o natural e acho que na altura até acreditava que todas as moças seriam assim como ela, perdidas de lindas. Mais tarde, depois dos tais vinte’s, tive outros namoros e até uma ou outra paixão, mas só então percebi que o adágio que diz que não há amor como o primeiro se lhe colava com plena justiça, que moça mais linda ainda não vi, e amor igual lamento mas ainda não me visitou e eu senti.
Olhando hoje com a minúcia da saudade o seu rosto e perfil, que seduziam todos que a conheciam – sei-o e sem ciúmes, ela era simplesmente assim! reconheço que para o conjunto ter ganho tanta beleza não era estranho – felizmente não! a mistura de sangues que herdara e nela se consolidava como a mais bela do mundo, tal qual cidade que eclode na paisagem com tal elegância e dinâmica e arrasa o que a rodeia, prendendo atenções, olhares e caminhos, minimizando as restantes belezas assim chamadas propriamente de limítrofes pois, filha assim do Homem sobrepõe-se às belezas naturais. Ela era simplesmente a mais bela, a moça mais bonita entre todas, e nós namorávamos sem de tanto me aperceber bem além da felicidade de fruí-la, que a demasia quando é nossa não incomoda, e ela era minha, tinha-a, minha quase desde que me lembro e me conheci. Dos sete aos vinte, recordo e sorrio com carinho.
Nem me ralava que fosse algo frívola, já o disse, não me fazia comichão que catrapiscasse o olho e sorrisse a todos que a olhavam, que não fosse esquiva nos beijos que aceitava, que o meu amor não fosse único, pois, quando se voltava para mim e me olhava, me mimava, eu sentia-me como se o fosse e era feliz. Quando se tem uma paixão assim, um amor enorme, gigantesco, qual a admiração por ele extravasar convenções, para quê complicar? O seu gordinho era enorme mas eu sabia que nele estava o meu melhor cantinho, e quando a olhava e via o sorriso retribuído, a carícia partilhada, tudo o mais se apagava e as ruas ficavam desertas e eu era o seu único príncipe, como se naqueles momentos de ternura eu fosse o único habitante daquela cidade imensa e linda que era o seu coração.
Foi assim. Eu chamo-me Carlos e ainda estou apaixonado, reconheço. O nome dela, da minha princesa moçambicana, é lindo como ela é e certamente será sempre, mesmo que por coisas da vida tenha adoptado no registo civil outro, consentâneo com uma nova situação legal. Chama-se Eleéme, quente como ela é, e pronuncia-se com os lábios terminando num beijo lento, final sempre feliz quando se tenta a fonética do amor.
Publicado também aqui.
Recuando ao seu princípio, hoje acho que me apaixonei logo que a conheci, que com ela brinquei, ri e chorei, pois foi sempre em sua companhia que cresci. Dos sete aos vinte anos, dito com a precisão dos registos, então vividos sem noção de tempo além da mudança dos calções para calças boca-de-sino, hoje com a lenta minúcia com que nos recolhemos quando revisitamos o tempo das mais doces memórias.
Era um namoro descomprometido, que do meu amor por ela vivia-o no dia-a-dia com a naturalidade de sempre o conhecer, ser simplesmente assim, e, ela por mim, suspeito, com a gaiatice malandra das meninas namoradeiras, cortejadas por todos e capaz de a todos conceder o seu sorriso especial. Eu juro que tive os meus, juro-o porque o senti quer nos momentos que o rubor dos sorrisos íntimos e a discrição silenciam, quer em todos os restantes, dias, noites cheias e quentes que vivíamos intensamente, lado a lado em todas as ocasiões. Viver maiúsculo, chama-se quando se é jovem e chamo-o ainda hoje assim. Ser feliz.
Éramos jovens e ela muito bela. Atrevida, orgulhosa e vaidosa da sua beleza, e qual a bonita rapariga que não o é, que não exibe o volume dos seus seios como se fossem colinas na paisagem, que, gaiata e feliz, não solta mais um botão da bata do liceu para que se veja mais um pouco das suas lindas pernas, longas e elegantes, e olhá-las é perdermos o sentido do tempo e tudo o mais, como se em cada centímetro de veludo revelado fosse mais um passo numa longa avenida, a do crescer. As suas feições, ocidentais de arquitectura e de traço moderno com um ou outro pormenor clássico que lhe realçavam a beleza (aquelas covinhas quando sorria, ó deuses…), eram apimentadas pelo tom moreno da pele, bem além daquele que o sol nos grava quando nos namora, tão lindo, tão lindo, que só consigo dele dizer que com ele ela era eroticamente selvagem, enlouquecendo-me hoje de desejo em voltar a acariciá-la quando fecho os olhos e na memória a contemplo, linda como a mais linda das princesas.
Sim, ela era bonita, lindíssima, mas achava-o natural e acho que na altura até acreditava que todas as moças seriam assim como ela, perdidas de lindas. Mais tarde, depois dos tais vinte’s, tive outros namoros e até uma ou outra paixão, mas só então percebi que o adágio que diz que não há amor como o primeiro se lhe colava com plena justiça, que moça mais linda ainda não vi, e amor igual lamento mas ainda não me visitou e eu senti.
Olhando hoje com a minúcia da saudade o seu rosto e perfil, que seduziam todos que a conheciam – sei-o e sem ciúmes, ela era simplesmente assim! reconheço que para o conjunto ter ganho tanta beleza não era estranho – felizmente não! a mistura de sangues que herdara e nela se consolidava como a mais bela do mundo, tal qual cidade que eclode na paisagem com tal elegância e dinâmica e arrasa o que a rodeia, prendendo atenções, olhares e caminhos, minimizando as restantes belezas assim chamadas propriamente de limítrofes pois, filha assim do Homem sobrepõe-se às belezas naturais. Ela era simplesmente a mais bela, a moça mais bonita entre todas, e nós namorávamos sem de tanto me aperceber bem além da felicidade de fruí-la, que a demasia quando é nossa não incomoda, e ela era minha, tinha-a, minha quase desde que me lembro e me conheci. Dos sete aos vinte, recordo e sorrio com carinho.
Nem me ralava que fosse algo frívola, já o disse, não me fazia comichão que catrapiscasse o olho e sorrisse a todos que a olhavam, que não fosse esquiva nos beijos que aceitava, que o meu amor não fosse único, pois, quando se voltava para mim e me olhava, me mimava, eu sentia-me como se o fosse e era feliz. Quando se tem uma paixão assim, um amor enorme, gigantesco, qual a admiração por ele extravasar convenções, para quê complicar? O seu gordinho era enorme mas eu sabia que nele estava o meu melhor cantinho, e quando a olhava e via o sorriso retribuído, a carícia partilhada, tudo o mais se apagava e as ruas ficavam desertas e eu era o seu único príncipe, como se naqueles momentos de ternura eu fosse o único habitante daquela cidade imensa e linda que era o seu coração.
Foi assim. Eu chamo-me Carlos e ainda estou apaixonado, reconheço. O nome dela, da minha princesa moçambicana, é lindo como ela é e certamente será sempre, mesmo que por coisas da vida tenha adoptado no registo civil outro, consentâneo com uma nova situação legal. Chama-se Eleéme, quente como ela é, e pronuncia-se com os lábios terminando num beijo lento, final sempre feliz quando se tenta a fonética do amor.
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2 comentários:
Parabéns pelo texto e pelos sentimentos...
Sou coca-cola tbm e tbm em LM vivi o 1º amor e o 2º...tive lá 2 filhos...um bjinho.
Micah Forsado no facebook
muito obrigado pelo teu comentário, Micah. e desculpa-me a demora em responder: embora tenha-o recebido por e-mail, não tenho vindo ao Blogger.
sobre os amores à nossa terra, e aos com que ela nos envolveu, carinhosa como sempre soube ser, que posso dizer-te além de retribuir o beijinho, meu carinho por ti, por todos que possuem memórias gratas como a tua? :-)
«Africa, surge e ambula», África, levanta-te e caminha, disse o poeta Rui de Noronha há oitenta anos atrás. África levantou-se e andou, mas mesmo quando em tropeço pela forte ventania histórica que surgiu magoou alguns dos seus filhos, estou certo, estamos certos, acredito-o, que sabemos e sentimos como rapidamente do tropeço fez abraço e (nos) envolveu nos seus braços quentes quem ama porque sabe que a amam para sempre. o amor é assim, feito dalguns desencontros mas sempre com muito mais encontros. olhamos a vida e vemos África. não só a vida passada, a nostagia. olhamo-la quando cerramos os olhos e vemos as nuvens, sonhamos como habitualmente se diz. é a nossa eterna namorada e princesa, e um amor como temos àquela parte mais bonita da África urbana que é a cidade de LM/Maputo não se silencia: grita-se. e sonha-se um dia gritá-lo outra vez. não é viver no passado sonhar assim. é respeitá-lo, ascendendo-o à recriação mais desejada quando se pensam futuros, aléns tão belos como as tais nuvens que se sonham em mentira ficcionista pois, elas, nuvens, são verdadeiras. transportam sonhos tão verdadeiros como elas. eu vejo o meu. vês o teu? acredito que sim. como acredito saber para onde ele aponta, que gps tens no teu gordinho no meio do peito :-)
outro beijinho
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