(...) Estou há horas sentado nos degraus do prédio. Já entraram dois vizinhos e saíram cinco. É sábado, será por isso que saem mais. Leio pela sei lá que vez o jornal gratuito que apanhei no Metro. Não trás notícias de ti. Aos vizinhos não pergunto nada pois nada me diriam. O máximo seria que ouvem um gato a miar. Nem os horóscopos me trazem as novas que desejo ler. Os jornais, os horóscopos, a vida, nisso são iguais. É tudo gratuito. Mas valem pelo que nos tragam de desejado. Em Inglaterra vende-se mais o The Sun por causa da gaja descascada da página três. E as 'bombas' parangonas da página um. Nisso é igual ao Correio da Manhã, só que este salta da um para a três e vai por aí fora sempre na descompensação social, abusando dessa tecla mal-batida mas que lhe faz o gáudio de ser muito vendido e mais ainda lido. Um dia será o gládio que nos matará. Este gratuito é igual. E não é inglês: na três trás a fotografia de dois políticos assassinamente a apertarem as mãos. Preferia a gaja nua. Preferia ver-te chegar de casaco longo e com um sorriso abri-lo e revelares a tua nudez "en passant", sem parares passares por mim dirigindo-te ao elevador e com o braço semi erguido sobre o ombro um dedo chamando-me para te seguir. E eu seguia-te: já te disse que inglês fosse e era adepto da página três. Não sou inglês, sou só tarado: tarado por ti. Sou adepto de ti. Tu, aquela a quem chamo minha Princesa e num momento algures a folhas tantas lembraste-te do Saint-Exupéri e do Principezinho e contaste-mo deixando-me com esse quarto-de-linha ruborizado. Tu que me fazes escrever "ardo" em tudo onde caiba tal brasa. Tu por quem espero sentado nos degraus frios da gratuidade duma vida sem ti. (...)
(foto gentilmente recebida por e-mail face a este apelo. Obrigado pela contribuição :)
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