Não fui baptizado "Lázaro" nem alguma vez nas onomatopeias das sms se me dirigiram como "JC". Cruzes-credo, só se fosse pela ópera-rock. E não mordo e gosto de alho. Vagueio e preencho formulários. Hoje vim a este guichet preencher o de 'prova de vida'. Tenho escrito. À lareira das brasas do sol novembril, manias de acreditar que o reerguer tem de ser rápido e diurno. Coisas de mim que ficam para mim.
À pouco escrevi assim - num e-mail, mas leia-se 'lareira' - e fica o formulário preenchido:
"(...) faço exclusivamente o que gosto, claro que também o que posso. poesia isto. se o Martinho da Arcádia fosse um ciber-café o contabilista não escrevia sobre "a mentira dos poetas", falava dos bloggers. é tudo a mesma merda, a merda humana. este fedor não devemos receá-lo: é o cheiro da humanidade, o nosso cio pela escrita, o nosso cio de nós mesmos. e viva o onanismo à lareira, um teclado de piano sorrindo-nos. (..) tenho um gato virtual. chama-se 'Pitágoras' porque sempre pensei que se um dia tivesse um gato era esse o nome que lhe daria. foi logo crismado de 'Pitas', saberão as deusas e seus colegas dos porquês de tudo ter um diminuitivo. deita-se ao borralho ao meu lado. sabes como os gatos olham, hipnóticos. acho que ele está a gozar comigo mas enfim. é o 'Pitas', que fazer? pergunta velha. velha edição de materialismo dialéctico com tanta tradução e de respostas népia. vai daí carrega-se no tinteiro e enrolam-se canudinhos. (...) é impossível parar. repito-te que escrevo que me desunho. e algumas belas, ouso dizê-lo. nada como os trambolhões para a malta se reerguer. aí, sei lá como, encontra-se uma ternura impensável. mãos que nos guiam a mão. e faço poesia, assim minúscula mas... bela para mim que só eu a leio. que quero mais? acabei de estrelar dois ovos e manjá-los. que quero mais? (...) e esta noite revi pela quinquajésima vez "As pontes de Madison County", a aldeia mais populosa do mundo pois tem milhões de residentes não recenseados. vagueio. fumo. não me perguntes pelo Multiply que não ligo pívia àquilo. multiplico-me sozinho - como sempre. (...) acho que vou fazer uma pequena 'prova de vida' no on the road e aguardar mais um pouco. não conto morrer nem amanhã nem depois de amanhã. a decisão do novo blogue surgirá 'naturalmente', e nisso e em nadica da minha vida não quero nunca mais sentir pressão. faço o que gosto, escrevo quando gosto e do que gosto. (...) preciso de me sentir livre."
Está feita. Papelada despachada e guichet seguinte.
(a foto da tumba aberta veio daqui. thanks ao morto mesmo se morto-vivo, seus familiares e ao guarda do cemitério que assobiou para o lado. sem vocês isto eram só letras. letras, letras, e a lareira ardendo à espera de mim)
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