segunda-feira, 13 de outubro de 2008

o limbo



Um dos Papas, já não sei se este se o que era seu chefe e patrono, extingiu o limbo, aquela zona dúbia onde não se era nem se deixara de ser: morria-se e não se ia nem para o céu ou para o inferno ou se reencarnava nem que fosse em lagartixa ou couve galega: ficava-se eternamente a pairar, apátrida algures nas nuvens. O limbo. Terra de ninguém além das almas-penadas que lá esperam Visto ou para cima ou para baixo. Como qualquer sala de espera onde se tira uma senha em maquinetas iguais às das casas de frangos assados, cá de baixo olho as nuvens e imagino-o com bancos de plástico incómodos, revistas velhas já sem capas e folhetos que ninguém lê. Uma seca. Não se é nem se deixa de ser. Nem faz nem sai de cima.

Imagine-se um divorciado que ainda vive em casa da ex-mulher, também sua ex-casa, porque o Inverno está à porta e as pontes não se mostram como tecto convidativo. Vive no limbo. Nem já o é nem já o deixou de ser. Ainda mais agora com o Cartão do Cidadão que já não tem 'estado civil' e portanto não pode confortar-se lendo o saudoso e simpático "div." que antes era luz verde para independências diversas. Nem ele salta nem ninguém salta para cima dele. É um híbrido condenado à abstinência sentimental com pena cumprida mas sem o gozo da liberdade. Quem o olha acredita que tem os níveis emocionais e físicos convenientemente usados e atestados por vistoria permanente, e bem pode ele protestar que vazam diariamente e não tarda está ferrugento mas, tss tss, ninguém que tenha oficina acreditada e não clandestina o acredita. Está nas nuvens de senha na mão e não tem a menor ideia de em que número vai e quando saberá se vai para cima ou para baixo, se a senha na mão lhe dirá se desce se sobe: o limbo. O limbo dos 'div.' ainda sem nova casa e que não querem gelar no inverno e congelar os depósitos pretensamente atestados.

Limbo, um problema 'div.' bisneto da crise do sub-prime. Espera-se que o Governo olhe para ele. O Papa já fez a sua parte mas ao que consta e se vê não esvaziou a sala de espera: olho as nuvens e vejo na mão d'alguém, exemplo, a senha nº 15.243, ano de 2008. Sem cunhas e missas à sua alma, nem o céu nem o inferno. O limbo.



(imagem das nuvens, sala de espera do 'limbo', daqui. vénia, claro)

2 comentários:

Anónimo disse...

Limbo
Palavra certa pra mim, que tu Gil sabes descreve-la tao bem.
Apesar do lugar ser incomodo, acredita ha' sempra lugares piores,
por isso imagino-me feliz.
Os eunucos ja' diziam o mesmo que eu. Eunuco ou Limbo?
Calhou-me o limbo.
Boa Gil, gosto do teu rico vocabulario e tenho uma ponta de inveja sim, por nao puder chegar aos teus pes.
Bem hajas
Joaoroldao

Carlos Gil disse...

João. li-te sem querer crer no que leio :(

segue mail, foda-se