quinta-feira, 1 de maio de 2008

Vocábulos na Falésia

é quando precisamos gritar e que ecoe,
e os sons calam-se e engolem-se
que se cerram os olhos e dá-se o passo, atrás,
negando em silenciosa cegueira a atracção
duma tela que não soube ser nada,
nem fim, meio ou sequer princípio.

só os olhos não escondem o grito.
em brilho e em lágrima, ou opacos e enxutos,
eles soletram letras que formam a palavra
auxílio, já insignificante: a luz?
termina ao fim da tarde
e o relógio está certo, ao minuto.

(será por isso que nenhum sonhador fá-lo de óculos escuros,
e profere o grito de olhos legíveis, descobertos?)

o Sol põe-se sobre o Mar. há beleza tentadora e
que se aloura, irrecusável.
estão lá as cores todas e há sempre telas virgens nas falésias.
que pena eu não ter crescido para poder pintá-lo
ou apenas cair pelo quadro abaixo, qual fruto
que agora sou, em excesso pré-podre, amadurecido...

por isso grito, ouço-me no silêncio do meu inútil grito.
sem eco nem sonhos porque já mudo.
não me esqueço, e escondo os olhos sob os óculos escuros,
volto as costas à tela e dou o tal passo atrás
- cobarde, já previsto.

sem força, arte ou coragem de pegar no pincel e pintar
os tantos ocasos que já daqui avisto.

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