A minha tontinha bem-amada dava-me de jantar, e pela janela aberta da sala eu contemplava as arquitecturas deambulantes que Deus constrói com os vapores, os maravilhosos edifícios do impalpável. E dizia para comigo, na minha contemplação: "-Todas estas fantasmagorias são quase tão lindas como os olhos da minha bem-amada, a monstruosa tontinha dos olhos verdes."
E de repente recebi uma punhada violenta nas costas, e ouvi uma voz roufenha e adorável, uma voz histérica e como que enrouquecida pela aguardente, a voz da minha querida bem-amadazinha, que dizia: "Então quando vens comer a sopa, seu estupor de traficante de nuvens?"
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"O Spleen de Paris", Charles Baudelaire, Ed. Relógio d'Água, 1991
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