sábado, 7 de julho de 2007

bula-bula de sábado

As semanas agitam-se em ondas, sendo que a culpa não é só do calor: há conjugações astrais propícias ao rolar de berlindes pela areia procurando o mágico plim! de tocar o outro, a covinha aconchegadora. Começo por onde calha e sigo por onde for calhando:
Fui a um lançamento e trouxe mais que um livro + um autógrafo personalizado: espreitei de longe quem admiro, finalmente conheci um enigma da (minha) net/blogosfera e fiquei contente com isso, mangusso gosta de mangusso. Além dele, verdadeiro Number One da divulgação via Net da cultura moçambicana e seu património, (e defesa...), empatizei no imediato com quem muito me tem feito sorrir ao ler memórias passadas na 'terrinha', tempos de quando eu também jovem e moço: a exemplo leia-se esta, mas é só vasculhar no baú que há por lá muitas mais - e bem escritas, agradável norma que aliás se estende a todo o blogue.
Em véspera partilhara uma sopa da pedra, um peixito grelhado e muita bula-bula com um jovem a quem - juro! - eu e a Webina (minha mulher) acreditávamos, sei lá porquê!..., ter alguns anitos mais daqueles que mostrou, riso fácil e muita simpatia e não o 'circunspecto académico' que o nosso imaginário construíra... Falou-se principalmente da 'terrinha', quer em pormenores menores como divagações acerca da rua tal e prédio tal, a conversa do "lembras-te?", também da literatura que lá vai havendo, da que cá chega e da que não embarcou, e muito de pessoas e de políticas para as pessoas. Foi muito agradável, André, sei que não to disse pois essas coisas não são para se dizer mas, em ti, reencontrei razões para manter a candeia da esperança acesa quando se trata de pensar no futuro do 'nosso' país!
Embora por meritória causa - e força, Marlene! 'verás que verás', tu entendes o que digo!, a pandemia das sopas congeladas em panelões chegou às mães, as ainda salvadoras da estabilidade da diversificação culinária da civilização ocidental, quem nos salva de viver à roda da sandocha e do pastel de bacalhau, McDonald's e Pizza Hut! Estas 'gajas' - no bom termo, please!!! - da minha geração são uma desgraça na cozinha, agravada com a crise de consumíveis e de irreverências que leva a já há umas boas três décadas não conhecer o sabor dum bolo de 'erva', vá lá um 'chifon' quando há festa e o resto vem do supermercado ou da pastelaria... Andaram de alva bata no 'gineceu' e tudo, até se licenciaram melhor que certos engenheiros mas, se cumpriram as suas disciplinas específicas obrigatórias foi coxas nas de artes culinárias e, a benifício de dúvida, talvez com um botão cosido em Lavores Femininos que lhes valeu magros dez valores. Razão que lê-se, por vias que o bom e sabido garfo e cavalheiro ocultou, quando, a fls. 87 do seu magnífico "Cozinha para Homens: a honesta volúpia" (Colares Editora, 1992), Alfredo Saramago conta assim:
"Dizia-se que, para uma refeição ter condições de ser elevada à excelência máxima, deveria ser uma refeição só de homens! Às mulheres ficava reservada a missão de bem fazer cumprir os pedidos vindos da sala de jantar", depois justificando com elegância e galanteria, maila sã verdade: "Não existe machismo nesta prática infelizmente quase a desaparecer. Era uma forma de respeito pela refeição e uma declarada consideração pelas mulheres, era uma prova de que «as atenções não devem ser partilhadas, mas irem por inteiro para o que guarnecia a mesa e não para o que a rodeava»", terminando esta profundidade filosófica com o judicioso comentário: "Os nossos avós sabiam que não era agradável dividir o interesse por uma iguaria e uma mulher. Todos ficavam a perder".
Voilá... hoje vivemos tempos cujas mesas caseiras anunciam a certa proximidade do fim do mundo, impera a massa cozida e com pouquíssimas variantes, o ovo estrelado e... o panelão de sopa no frigorífico, esse símbolo da emancipação ao fogão e aviso gástrico de ruína anunciada da civilização. Como disse, viva a sandocha e o pastel, vivam as pizzas e os frangos assados que quebram a dieta da modernidade. Ufa, esta andava-me cá enrolada, feito arauto sem mandato duma geração sacrificada, por todas as úlceras e suas irascíveis primas eu tinha de desabafar!...
E que mais? mais tudo o que me estou a esquecer, fica para outra vez. Um bom fim-de-semana, saiam, larguem os pc's e vamos apanhar sol na moleirinha, espreitar as miúdas que já se descascam com o calor, procurar uma sombra num jardim ou uma mesa duma esplanada. A canícula é agreste mas nem ainda começou a sério nem é só espinhos: há pólen mágico no ar.
Entretanto, em Inglaterra, Lewis Hamilton dá décima e meia ao bi-campeão em título, equipamentos iguais... até onde irá este puto?
ah! e escrevi um e-mail a uma das pessoas que mais estimo. sem saber se serei compreendido mas desejando profundamente que sim.

3 comentários:

Anónimo disse...

Ah ah ah - estás bem enganado, lezírias, cá em casa nunca se congela nem canja nem massa e, quanto à qualidade, fica a saber que a minha irmã até me pediu a receita, tão boa que é, como elas dizem, a sopa da Tia Bela.
Mas é sempre um trunfo, face ao adversário, que os outros tenham ideia contrária, oh, se é lol!
Já agora, obrigadíssima por me teres inspirado mais um (futuro) 'post', sobre as actividades da MPF no gineceu.
Beijo superiormente divertido,
uma que te pergunta: e tu, sabes fazer 'chau min' ou feijoada?

Carlos Gil disse...

humpf....

Nkhululeko disse...

Adorei conhecer este mangusso moçambicano e percorrer as suas (nossas) memórias. Muito obrigado pela excelente tarde. Viagem marcada para Maputo (e Gurué)? Prepara-te para a farra. Espero por ti.
Grande abraço.