quinta-feira, 31 de maio de 2007

os joelhos de Inês, à lareira


as chamas viraram brasas, felizmente. é bom o seu calor, não faz feridas como as chamas soltas, inconstantes e alterosas. das brasas todos sabemos: podemos chegar o banco para mais perto da lareira, ajeitar a samarra ou o xaile a proteger as costas e, olhos fixos nas mudanças de cor das brasas fazer conversas de lareira, dizem que das melhores no Inverno. tu aí e eu aqui, cada no seu banco e no braseiro comum, esta ficção de escrevê-lo e confessá-lo, soltar rédeas aos desejos e cada um contar de como comia o outro, canibalismo de quem está farto da fome das iguarias de sentimento, carnívoro de sentires.

vem um calor bom, as faces estão coradas e nas mãos estendidas em carícia respeitosa ao calor do fogo há o brilho da pele mais intenso, vêem-se tendões e veias, dá vontade de chupar-te os dedos. há momentos em que nestas epístolas me sinto um pedinte de afectos e não gosto disso. tenho vinte dedos e uma pila, rabo, boca e nariz à unidade, dois olhos e duas orelhas, tudo usado e com uns anos em cima, dedos amarelos do tabaco incluídos. um formato em padrão e à época, e com um software exclusivo sempre com bug's e páginas 'agarradas', tanto programa útil que armazenei na vida e nunca os utilizei nem sei utilizar, o mundo acaba logo a seguir ao Word, tão grande que ainda não se acabou. seduzo pela letra e sou fraco galanteador na oralidade, acabo de te confessar em conversa de lareira, olhos nas brasas. teus olhos, como me perderia já a falar deles... mas não, qu'o fresco que vem lá de fora não aconselha a despir a samarra e tentar roubar-te um beijo, deixe-se correr a conversa morna, esta preguiça que vem do calor, das tuas mãos que brilham àquela luz e, agora, os teus joelhos bem nítidos, ora que te puseste sentada de lado para melhor olhar para mim. falas-me. estás a perguntar-me coisas e eu, ou porque não sei do que falas e recuso-me a pensar nisso, ou pela maior razão do novo fascínio surgido, os teus joelhos, não te ouço e não percebo patavina, alterno um sorriso concordante com um ar intrigado e super atento, depois em meditação profunda apoio o queixo no punho e olho.... os teus joelhos. assim, as pernas contraídas e cruzadas nos pés mostram a elegância do teu esqueleto, joelho e fémur mais em pormenor. ossudo aquele, prometedoramente longo e almofadado este (está a ficar calor; vou tirar a samarra)

nesta lareira, nesta casa, quantos casais de quantas gerações se sentaram aqui, a olhar troncos que estalam e brasas que aquecem, quantos bancos foram arrastados na procura do conforto um do outro? o passar pelas brasas sonhadoras, aqui literal. certamente muitos e houve Cinderelas e Marias nesse teu canto e com esses joelhos, há aqui um Carlos que olha Inês como outrora houve quem fosse que houve e olhou quem estava, mostrando ela os joelhos tal como tu agora com as pernas das calças arregaçadas. adivinho-te no sorriso indisfarçado que já descobriste que te miro à sucapa, que não estou aqui e já venho. não posso evitar rir-me, apetece-me rir e rio-me, está calor e os teus joelhos são tão bonitos como a covinha que fazes quando ris, como agora, ei-la! raacccc e raaccc, ambos os bancos se arrastaram milímetros ao mesmo tempo e que se multiplicaram numa gargalhada cúmplice e encantada, no abraço ao calor de brasas que estão em ponto, óptimas, um arco íris privado de tons fortes, quentes, calores que nem as carícias que se trocam suavizam, choques de joelhos o teu nu e o meu não mas como se o estivesse, estou, estamos nus e há quanto tempo, não o negues Musa minha...

é um refresco a que sou sôfrego, a tua boca. estamos lambuzados, contentes que nem crianças com este maravilhoso brinquedo, o desejo, a fome sexual. busco-te um peito e na primeira carícia sinto-te o arfar no meu ouvido, a tua mão que me revolve a nuca e excita-me, os teus dedos que mergulham à procura das minhas costas, carne, carne como eu sinto agora o macio a tremer da tua barriga, solta que está a blusa para permitir à mão encontrar melhor os teus seios, que gritam por elas. damo-nos carinho. beijamo-nos, os corpos colando-se e descobrindo-se, a excitação sexual já revelada e imparável. acaricio-te o rabo profundamente, cravo na nádega os dedos e puxo-te, colo-te mais a mim para sentires a minha excitação, gritando por liberdade e exercício do prazer até à exaustão. a minha mão pesquisa dentro do cós das tuas calças simultâneamente à tua, que, impaciente por acariciar-me sobre a roupa, luta com o meu cinto e botões para sentir o meu músculo quente, inflamado pelo sangue e pelo calor de ti.

depois vem o decoro. nada mais há a contar de estórias de lareira assim; há a mitologia e a esperança em, um dia, outro e outra à mesma lareira assim se incendiarem. smack, Inês

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