sexta-feira, 5 de abril de 2013

pater familias

pergunta-me o sr. do Facebook o que penso. queres saber? penso que o show must go on. feito o 'login' não se espera outra coisa de fiéis dum culto de solidões, nós, mútuos e solidários esmolares de atenções, um mimo, um like. é melhor isto que o vazio, o pânico, o medo, o que sobrou após esta entrega voluntária e de password secreta só para nós mesmo: quem lê vê, sabe, entende, reflecte igual. deixei de dizer mal da malta do cachecol e o futebol, da mini persistentemente na mão, ou outros refúgios quaisquer. eles lá sabem, se nem eu sei de mim. e lá vem divagação...
 
 
'pater familias', estranha definição... quando estudei encontrei-lhe uma definição e sentido diferente da ambição adolescente que a recheara como objectivo, sonhos de estabilidade e de realização. uma responsabilidade que nunca é atingível em pleno, e é essa a sua melhor definição e realização: somos responsáveis dentro do núcleo, e dele no seu exterior. ninguém sentirá que cumpriu a 100% e esse trabalho teve ou terá fim. há imponderáveis, e há também o que se julgava ponderado mas teve curvas de erro mal calculados. exógenas, às vezes. destinos, diz-se. tais leviandades da sorte (ou do destino) aplicáveis na economia têm o penar que conhecemos, mas se no campo de exame pessoal, "balanços de vida", é exame de dor maior. o problema do espelho que enfrentamos todas as manhãs. o medo de errarmos num campo onde ele não é admissível: trata-se da nossa maior missão (passe o lugar-comum), aquela em que o sucesso ver-se-á num que em rigor biológico nos é alheio.
esse é o 'pater familias' que aprendi a ambicionar ser depois, quando me tornei 'Pai'. quando igualmente percebi o quanto errara como filho. tenho três filhos, a Filipa, o Miguel e a Carla. nenhum é fotocópia de outro mas há um campo onde se assemelham – e vejo nas minhas nuvens, sonho-me, como auxiliar dessa matriz: a bondade. e vejo-me realizado porque algo contribuí. vejo-me ‘pater familias’ além de manuais ou códigos, de escolásticas definições. neles, nessa sua característica comum que se preserva e reafirma, regressa em mim a definição original, antes de conhecer e estudar a latinizada, rigorosa e austera no peso duma tradição de séculos: vem-me o sonho de quando era adolescente em vir a ser pai e, mais que isso, “um bom pai”. acorda-me para uma realidade viva, superior à cor ácida e cinzenta destes dias, agita-me, dá-me ânimo neste espernear constante à depressão. ensinam-me a melhor parte do “adolescer” que pratico como escudo ao seu anverso, este lado pessimista da realidade que teima em dizer que é tarde demais para tudo, e desligo o botão e voo para tão perto do que nunca fui ou serei que chego a acreditá-lo, faço-me máscara, Arlequim, escondo-me dos erros e dos falhanços quando, afinal, no que manual e sonho coincidem como nuclear eu fui feliz: pai, ‘pater’, ‘pater familias’.

tenho orgulho em vocês, filhotes. dão-me muito mais que vos dei ou dou, e mais que dei ao meu (esta parte não tem remissão: não chegaram a conhecer o avô paterno, e não posso escudar-me no meu orgulho por vocês para lhe pedir perdão). não sinto que seja algum tipo de placebo a frustrações minhas – tantas… - dizer, hoje, que seja via genes (ó vaidade…), seja via carimbos do crescer, eu, empossado pai, dizer sem me envergonhar que houve daqui um bocadinho de ‘bom trabalho’. mais: acredito que fora estes descuidos nem saiba como vos dizê-lo. beijo-vos. e agora regresso ao meu caminho não de pedras mas de nuvens, impante de orgulho por, hoje, acreditar merecê-lo. (eu, 'pater familias’ realizado! quem diria que conseguiria, hein?)


(aqui, do meu filhote. expludo de orgulho!)

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