quinta-feira, 25 de abril de 2013

madrugar a vida: 25 de Abril








«Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo»


Sophia de Mello Breyner Andresen
 
 
- quem não o sentiu assim?
quem não sentiu assim não sentiu o poema da vida amanhecida com a força duma fé, dum amor novo, e a beleza - talvez cândida mas tão bela e pura!... - de acreditar sermos a criança que irá escrevê-la. uma madrugada duma vida subitamente nova e limpa, como a folha branca onde se desenham e cabem todas as esperanças. os tropeços do crescer dão-lhe rugas e vincos, mas os traços originais, matriciais, permanecem e são discerníveis quando se lê este poema, e se recua ao bonito que nós fomos, éramos... aquele instante virginal do mundo e de nós, prometedor como a aurora é tónico para o noctívago, derreado de noites e pesos, e revitaliza-o a fazer do novo dia um seu dia novo.
e se, no hoje de hoje, quem não sente o poema que este dia foi - e ele permanece porque ninguém cala a poesia -, quem não sente além do rancor cinzento metalizado do mundinho de tristezas e de culpas que pertencem sempre ao outro, esse outro que nunca ele, sinta pelo menos que não tem qualquer direito por arrogar em atirar primeiras pedras acusatórias ou vingativas. não sente nem entende a liberdade, herdou-a, e exerce-a pelo desiquilibrador peso de pedras em mãos. elas não escrevem, calejam a sensibilidade e nublam a memória. doem a quem as recebe? sim, também por sentir a incapacidade de quem as atira.
Viva o 25 de Abril!
 

(fanei a foto aqui . thanks!)

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