domingo, 13 de janeiro de 2013

a raposa no galinheiro

«(…) Todo o discurso político do poder é o da divisão e o apelo à luta de classes, grupos, idades, profissões, cada um contra o outro, mesmo quando a condição de cada um é a mesma do outro. Os que tinham toda a razão para fazer greve voltam-se contra os que fazem greve. Os jovens são instigados a voltarem-se contra os velhos, pensionistas e reformados. Os que têm alguns meios de vida desdenham dos que recebem dos que recebem subsídios de desemprego. Os que ainda não viram a sua profissão como alvo apontam a do outro como o alvo que deveria ser o seguinte. Polícias olham para os militares, os militares para os polícias. Trabalhadores do sector privado culpam os funcionários públicos, os funcionários públicos fecham-se contra o desemprego. Os que ganham 900 euros apontam o dedo aos que ganham 1000 euros. Uma inveja social mesquinha e corrosiva perpassa tudo e todos e cada um defende o seu território, dando razão ao Governo, que aponta toda a contestação como sendo “corporativa”. Só a minha “corporação” é que não é corporativa, todas as outras são-no. O vírus da intriga e da divisão sempre foi a melhor garantia da intangibilidade do poder. E não é difícil em tempos de crise propagar estas epidemias, mas é perigoso. Porém, o medo ajuda, ajuda muito. Antes dizia-se que o anti-semitismo era o socialismo dos imbecis, agora os nossos governantes apostam numa fractura social que faz de cada uma das partes imbecis sociais, e que, pela sua linguagem, divisões, alvos, egoísmos, servem de rebanho aos pastores deste “PREC”. (…)
Os maus costumes duma sociedade em crise, permeável a partir de cima pelos miasmas que dividem e pelo medo, estão a fazer um Portugal pior, muito pior. A mentira tornou-se uma prática quotidiana da governação. Foi-o já em doses exponenciais no Governo socrático , continua no governo passista-relvista. Todos os dias há uma nova tentativa de engano, uma manipulação, uma inquinação do espaço público, uma espertice qualquer vinda de um gabinete ou uma agência, canhestras muitas vezes, mas sempre destinadas a enganar-nos. (…)
 
A morte da “classe média”, de que CDS e PSD eram no passado os grandes arautos, é a receita melhor para destruir qualquer dinamismo, retirar à sociedade qualquer potencial de crescimento. Podem fazer mil programas de televisão sobre “pensamento positivo”, sobre o “Portugal melhor”, premiar em cerimónias televisivas os jovens “empreendedores”, “inovadores”, “inventivos”, que estão apenas a alimentar a ilusão de que qualquer dessas qualidades pode sobreviver numa sociedade que está a ser construída para que eles emigrem se querem ter sucesso, ou vão à falência deibaixo do jugo dos impostos e da crise. (…)
 
Parece maniqueísmo? Antes fosse. Mas a responsabilidade é nossa. Edmund Burke escreveu-o: «Tudo o que é necessário para o triunfo do mal é que os homens bons não façam nada». (…)


José Pacheco Pereira, na sua crónica de sábado no “Público”.

...e eu estremeço de medo e até algum terror ao lembrar-me de como me tocou o romance do argentino Adolfo Bioy Casares, "Diário da guerra aos porcos". li-o em 2006 ou 2007, antes da 'bomba atómica' e estas sequelas, e pensei: «nã... isto é impossível!» hoje? não sei. não sei se não o viverei daqui a uns anos, não em extremos romanceados como no que aludi mas temo uma nova espécie de "guerra civil", ainda mais diabólica que a-própria: a inter-geracional. que já aflora, já aflige. e está a ser alimentada e potenciada por quem 'devia zelar' para evitar esse tipo de rupturas: o nosso Governo, um qualquer governo

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