lendo o estupendo ensaio de Mario Vargas Llosa "O desaparecimento do erotismo", in o seu recentíssimo 'A civilização do espetáculo' (Quetzal, 2012), concordo com o cerne e estendo a concordância a resmungos pessoais.
moro nas traseiras duma escola secundária, e as minhas janelas fronteiras dão para o largo pátio onde os putos e as pitinhas brincam, seja num futebol guerreiro onde as hormonas emergentes fazem os rapazes competirem na asneirada gritada, para se sentirem e afi...rmarem assertivamente machos-alfa, seja em namoros nos recantos, onde as hormonas emergentes produzem encantadores amassos que, até a mim, vizinho-voyeur, me fazem sorrir. e tudo isto está certo.
estendo o sorriso e puxo por mim, recantos de mim. o frisson que era espreitar umas pernocas no liceu, sempre na esperança da glória magna, o tremendamente erótico branquinho das cuequinhas. um beijo trocado nas escadas 'de trás' do prédio, com a atrevida da miúda da flat de baixo. a perna-colada-com-perna, fosse no machimbombo ou noutro aperto casual ou estimulado, e o cavalgar de emoções e imaginações que esse momento mágico dava. as sôfregas e secretas leituras dos livros proibidos, à procura das páginas onde 'aquilo' acontece... e nos fazia 'acontecer', atrás duma porta de quarto de banho fechada. enfim... e tudo esteve certo, certo na idade própria. crescer, na descoberta e no enamoramento do 'proibido', olhado(s) com bonomia maliciosa pelos 'mais velhos'.
Vargas Llosa, com a acutilância e a elegância próprios de quem é, diz isto e muito mais sem recurso a baús próprios mas fazendo um olhar global sobre o 'estado d'arte' do erotismo no estádio actual da nossa civilização. indigna-se com o concreto e extrai abrangente: «(...) é um erro acreditar, [como os promotores deste movimento libertador,] que, dessacralizando-o, despindo-o dos véus, do pudor e dos rituais que o acompanham há séculos, abolindo da sua prática toda a forma simbólica de transgressão, [o sexo] passará a ser uma prática saudável e normal na cidade. (...)». o movimento libertador é emulado no 'leitmotiv' que deu razão de ser ao indignado ensaio: dentro do seu plano de educação sexual dos alunos, uma Junta autónoma de Espanha (a de Estremadura) organizou, em 2009, "workshops de masturbação" para rapaziada de ambos os sexos, e a partir dos catorze anos. pobres meninos e meninas que, aos catorze, necessitam de "workshops" para saberem-como-fazer. pobre sociedade pseudo-refinadamente esclarecida que em tal acredita, e força a nota promovendo sessões 'didácticas' - «num exercício sem mistério, dissociado do sentimento e da paixão» - de assassinato dos caminhos a trilhar, naturais no crescimento.
termino a arenga resmungona naturalmente recomendando o livro. que vai mais além, muito mais, mas só pelo ensaio em causa já se justificaria. ah! aproveito e explico-me: a tradução respeita o malvado AO '90. que dá origem a esgares, como aquele que nasce só ao olhar para a grafia usado no título. porém há que fazer concessões, quando não há alternativa. e, este livro, é fundamental lê-lo
moro nas traseiras duma escola secundária, e as minhas janelas fronteiras dão para o largo pátio onde os putos e as pitinhas brincam, seja num futebol guerreiro onde as hormonas emergentes fazem os rapazes competirem na asneirada gritada, para se sentirem e afi...rmarem assertivamente machos-alfa, seja em namoros nos recantos, onde as hormonas emergentes produzem encantadores amassos que, até a mim, vizinho-voyeur, me fazem sorrir. e tudo isto está certo.
estendo o sorriso e puxo por mim, recantos de mim. o frisson que era espreitar umas pernocas no liceu, sempre na esperança da glória magna, o tremendamente erótico branquinho das cuequinhas. um beijo trocado nas escadas 'de trás' do prédio, com a atrevida da miúda da flat de baixo. a perna-colada-com-perna, fosse no machimbombo ou noutro aperto casual ou estimulado, e o cavalgar de emoções e imaginações que esse momento mágico dava. as sôfregas e secretas leituras dos livros proibidos, à procura das páginas onde 'aquilo' acontece... e nos fazia 'acontecer', atrás duma porta de quarto de banho fechada. enfim... e tudo esteve certo, certo na idade própria. crescer, na descoberta e no enamoramento do 'proibido', olhado(s) com bonomia maliciosa pelos 'mais velhos'.
Vargas Llosa, com a acutilância e a elegância próprios de quem é, diz isto e muito mais sem recurso a baús próprios mas fazendo um olhar global sobre o 'estado d'arte' do erotismo no estádio actual da nossa civilização. indigna-se com o concreto e extrai abrangente: «(...) é um erro acreditar, [como os promotores deste movimento libertador,] que, dessacralizando-o, despindo-o dos véus, do pudor e dos rituais que o acompanham há séculos, abolindo da sua prática toda a forma simbólica de transgressão, [o sexo] passará a ser uma prática saudável e normal na cidade. (...)». o movimento libertador é emulado no 'leitmotiv' que deu razão de ser ao indignado ensaio: dentro do seu plano de educação sexual dos alunos, uma Junta autónoma de Espanha (a de Estremadura) organizou, em 2009, "workshops de masturbação" para rapaziada de ambos os sexos, e a partir dos catorze anos. pobres meninos e meninas que, aos catorze, necessitam de "workshops" para saberem-como-fazer. pobre sociedade pseudo-refinadamente esclarecida que em tal acredita, e força a nota promovendo sessões 'didácticas' - «num exercício sem mistério, dissociado do sentimento e da paixão» - de assassinato dos caminhos a trilhar, naturais no crescimento.
termino a arenga resmungona naturalmente recomendando o livro. que vai mais além, muito mais, mas só pelo ensaio em causa já se justificaria. ah! aproveito e explico-me: a tradução respeita o malvado AO '90. que dá origem a esgares, como aquele que nasce só ao olhar para a grafia usado no título. porém há que fazer concessões, quando não há alternativa. e, este livro, é fundamental lê-lo
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