segunda-feira, 29 de outubro de 2012

"Medo"

Quererei tudo
depois da morte.

Até lá,
quero apenas ressuscitar.
Em cada dia,
ressurgir dos mortíferos desfechos.

Lá vem o poeta, dizem.
E abrem alas, receosos.

Não me importa:
de vivo não quero memória.

Medo tenho
é de ser enterrado sem história.


Mia Couto, "idades cidades divindades" (Caminho, 2007)

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