chamaram-me "Peter Pan" e não gostei! humpf...
porra, às vezes também cá calha literatura de cordel... :-(
sábado, 29 de setembro de 2012
a dor
"Dorme, meu amor"
Dorme, meu amor, que o mundo já viu morrer mais
este dia e eu estou aqui, de guarda aos pesadelos.
Fecha os olhos agora e sossega o pior já passou
há muito tempo; e o vento amaciou; e a minha mão
desvia os passos do medo. Dorme, meu amor -
a morte está deitada sob o lençol da terra onde nasceste
e pode levantar-se como um pássaro assim que
adormeceres. Mas nada temas: as suas asas de sombra
não hão-de derrubar-me eu já morri muitas vezes
e é ainda da vida que tenho mais medo. Fecha os olhos
agora e sossega a porta está trancada; e os fantasmas
da casa que o jardim devorou andam perdidos
nas brumas que lancei ao caminho. Por isso, dorme,
meu amor, larga a tristeza à porta do meu corpo e
nada temas: eu já ouvi o silêncio, já vi a escuridão, já
olhei a morte debruçada nos espelhos e estou aqui,
de guarda aos pesadelos a noite é um poema
que conheço de cor e vou cantar-to até adormecer
Maria do Rosário Pedreira
imagem: "le soir et la douleur", de Gustave Moreau
o umbigismo do escritor
"Os êxitos têm apenas por companhia inseparável a confusão e um punhado
de ideias baratas sobre o mundo. Notamos de imediato aqueles que têm
êxito e gozam a consideração alheia, ficam gordos de uma
auto-complacência contente, e a força da vaidade infla-os como balões e
quase deixamos de os reconhecer. Deus proteja um bom homem da
consideração de terceiros. Se não se tornar mau, ficará pelo menos
confuso e perderá a força."
Robert Walser, in "Jakob von Gunten"
tão verdade...
têm um blogue? Facebook? não se sentem enojados com tanto nascisismo, e na triste maioria completamente sem um suporte que seja legível sem um esgar, antes do abandono? mas é vê-los, ouvi-los. que ridículos. que feios e sem se verem.
têm um blogue? Facebook? não se sentem enojados com tanto nascisismo, e na triste maioria completamente sem um suporte que seja legível sem um esgar, antes do abandono? mas é vê-los, ouvi-los. que ridículos. que feios e sem se verem.
e assim minto. minto-me
"A companhia da literatura é perigosa, tanto que eu, por vezes, a
pessoas que aprecio não vejo motivos nenhuns para lhes aplaudir que
leiam muito e penetrem tanto nos livros, e o que lhes desejo é o Bem, e
qualquer um que tenha lido por exemplo Kafka conhece perfeitamente
«quanta angústia excessiva para nada» (como dizia Pessoa) há na
literatura.
Como diz Magris: «Kafka sabia perfeitamente que a literatura o afastava do território da morte e permitia-lhe compreender a vida, mas deixando-o de fora. Assim como lhe permitia compreender a grandeza do padre judeu, modelo de homem, mas não lhe permitia precisamente sê-lo.»
Precisamente porque a literatura nos permite compreender a vida, deixa-nos fora dela. É duro, mas às vezes é o melhor que nos pode acontecer. A leitura, a escrita, buscam a vida, mas podem perdê-la precisamente porque estão inteiramente concentradas na vida e na sua própria busca.
Talvez seja a melancolia da tarde em que estou a escrever isto, mas a verdade é que estou a falar de um nó inextricável de bem e de mal, de luzes e sombras inerentes à leitura e à literatura. Tudo isto é duro, para quê nos enganarmos. Trata-se de uma dureza que, segundo Gombrowicz, a boa literatura possui como produto de um instinto de agudizar a vida espiritual. Há dias em que recomendaria ler aos meus piores inimigos.
Precisamente porque a literatura nos permite compreender a vida, fala-nos do que pode ser mas também do que podia ter sido. Às vezes não há nada mais distante da realidade do que a literatura, que nos recorda a todo o momento que a vida é assim e o mundo foi organizado assado, mas poderia ser de outra forma. Não há nada mais subversivo que ela, que se ocupa de devolver-nos à verdadeira vida ao expor o que a vida real e a História sufocam."
Como diz Magris: «Kafka sabia perfeitamente que a literatura o afastava do território da morte e permitia-lhe compreender a vida, mas deixando-o de fora. Assim como lhe permitia compreender a grandeza do padre judeu, modelo de homem, mas não lhe permitia precisamente sê-lo.»
Precisamente porque a literatura nos permite compreender a vida, deixa-nos fora dela. É duro, mas às vezes é o melhor que nos pode acontecer. A leitura, a escrita, buscam a vida, mas podem perdê-la precisamente porque estão inteiramente concentradas na vida e na sua própria busca.
Talvez seja a melancolia da tarde em que estou a escrever isto, mas a verdade é que estou a falar de um nó inextricável de bem e de mal, de luzes e sombras inerentes à leitura e à literatura. Tudo isto é duro, para quê nos enganarmos. Trata-se de uma dureza que, segundo Gombrowicz, a boa literatura possui como produto de um instinto de agudizar a vida espiritual. Há dias em que recomendaria ler aos meus piores inimigos.
Precisamente porque a literatura nos permite compreender a vida, fala-nos do que pode ser mas também do que podia ter sido. Às vezes não há nada mais distante da realidade do que a literatura, que nos recorda a todo o momento que a vida é assim e o mundo foi organizado assado, mas poderia ser de outra forma. Não há nada mais subversivo que ela, que se ocupa de devolver-nos à verdadeira vida ao expor o que a vida real e a História sufocam."
Enrique Vila-Matas, in 'O Mal de Montano'
recebido por mail. obrigado. mas a necessidade - e o prazer! - que assim tenho em esconder-me às sapatadas da vida, desta forma recriada, ajustando em precisão de relojoeiro-leitor a puta da realidade!...
sem a escrita morreria. mas sem a leitura morreria ainda mais depressa. quando escrevo, quando leio, tudo é real. o paradoxo: por isso dói tanto viver quando se recusa a ignorância, e se adopta como olhar a sinceridade da nudez própria. mas continuo a conseguir chorar.
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
as nossas "blessures"...
Cette blessure
Où meurt la mer comme un chagrin de chair
Où va la vie germer dans le désert
Qui fait de sang la blancheur des berceaux
Qui se referme au marbre du tombeau
Cette blessure d'où je viens
Cette blessure
Où va ma lèvre à l'aube de l'amour
Où bat ta fièvre un peu comme un tambour
D'où part ta vigne en y pressant des doigts
D'où vient le cri le même chaque fois
Cette blessure d'où tu viens
Cette blessure
Qui se referme à l'orée de l'ennui
Comme une cicatrice de la nuit
Et qui n'en finit pas de se rouvrir
Sous des larmes qu'affile le désir
Cette blessure
Comme un soleil sur la mélancolie
Comme un jardin qu'on n'ouvre que la nuit
Comme un parfum qui traîne à la marée
Comme un sourire sur ma destinée
Cette blessure d'où je viens
Cette blessure
Drapée de soie sous son triangle noir
Où vont des géomètres de hasard
Bâtir de rien des chagrins assistés
En y creusant parfois pour le péché
Cette blessure d'où tu viens
Cette blessure
Qu'on voudrait coudre au milieu du désir
Comme une couture sur le plaisir
Qu'on voudrait voir se fermer à jamais
Comme une porte ouverte sur la mort
Cette blessure dont je meurs
e porque já é Outono
Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur monotone.
Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure;
Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte
Deci, delà,
Pareil à la
Feuille morte.
Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur monotone.
Paul Verlaine
Dazed and confused (sempre!)
Been dazed and confused for so long, it's not true
A-wanted a woman, never bargained for you
Lots of people talkin', few of them know
soul of a woman was created below, yay
You hurt and abuse, tellin' all of your lies
Run 'round sweet baby, lord, how they hypnotize
Sweet little baby, I don't know where you been
Gonna love you baby, here I come again
Every day I work so hard, bringin' home my hard-earned pay
Try to love you, baby, but you push me away
Don't know where you're goin', only know just where you've been
Sweet little baby, I want you again
That's not my babe
Ah, ah, ah, ah
Did you ever look-up my woman
Ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah-ah, ah-ah-ah-ah
Ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah, ah
Ahh, ah, ah, ah, ah
Ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah-ahhh, ahh
Oh, yeah, alright, alright
Ah, ah, ah, ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah, ah
Ah-ah, ah-ah, ah-ah, ah-ah
Oh, I don't like when you're mystifyin' me
Oh, don't leave me so confused, now
Whoa, baby
Been dazed and confused for so long, it's not true
Wanted a woman, never bargained for you
Take it easy, baby, let them say what they will
Tongue wag so much when I send you to bed, oh, yeah, alright
Oh, oh, oh, oh, oh, oh, oh, oh, oh, oh, oh, oh, ah, ah, ah
Ah-ah-ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah
Sea Train (outra vez?)
Comin' in easy on the sea train.
Walkin' out under the fog again,
And the sky don't explain
If I'm up or across or down, town around just like then.
The neon screen will never know when.
Be quiet or dream,
And just not crowd the scenes
Of my mind's sound.
I'm goin' under and comin' on out
To see you again.
My mind's been wanderin', but I'm about
To meet you again.
The rhythm of hearts plays in my veins
Like some long-gone lonesome sea train.
I'm only sure that the weather would break if I did.
They'll come easy, then go glad.
Your child at the window says the rain don't look sad,
And you ask me who's mad
As you show me your lost and found.
Down, you're bound again.
With your fan, my fire turns to wind
Your glass fills mine with sand,
You shout, "I'm not your land!"
And I hear the ground.
I'm a weeping shadows, feeling like a willow
Bearing Martha's flower; as the sun comes, I come.
Far across the street, clear across the stream,
The sun shall come.
If you're in a tree and the forest falls, who hears you?
[musical interlude]
And the hills meet the wind, making dew.
We see us again.
As the sun behind clouds, breaking through,
We're gonna meet them again.
The rhythm of hearts plays through my veins
Like some long-gone lonesome sea train.
Rain in the meadow beats the river to the ocean.
[scream
Lyrics: Jim Roberts
Music: Andy Kulberg
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
um bom Setembro
O prisioneiro do céu, Carlos Ruiz Záfon
Praça de Londres, Lídia Jorge
Praça de Londres, Lídia Jorge
Comboio de sal e açúcar, Licínio de Azevedo
Contos e lendas, Carneiro Gonçalves
A voz dos deuses, João Aguiar
A breve e assombrosa vida de Oscar Wao, Junot Díaz
Alentejo e Ninguém, Manuel Alegre
O príncipe da neblina, Carlos Ruiz Záfon
O homem que comia dinheiro, Rosina Umelo
Aquele Verão em Paris, Abha Dawesar
inicio hoje "A última concubina", de Lesley Downer. quase nada sei sobre ele. e sobre ela, autora, então é um redondo nada. o que sei? é um romance histórico passado no Japão, séc. XIX. e foi muito barato - saldos de Verão... quem sabe se?... só lendo-o...
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
valores
«É a amizade que torna toleráveis as verdades dolorosas acerca de nós próprios.»
Pascal Boutin para Prem Rustum, in
"Aquele Verão em Paris", de Abha Dawesar (ASA, 2009)
_que ainda tenho em mãos, mas já se me apresenta como um dos melhores romances que li este ano. Abha Dawesar, que surpresa boa! mestre em diálogos
a culpa
«nunca menosprezes a culpa. as emoções vivem num pântano denso, húmido de luzes e de perigos, onde facilmente a culpa nos dá a mão. e enredamo-nos, e perdemo-nos.»
Sir Charles B. Walters, filósofo inglês prematuramente falecido (1855-1912), conversando com um espelho
Sir Charles B. Walters, filósofo inglês prematuramente falecido (1855-1912), conversando com um espelho
terça-feira, 18 de setembro de 2012
"You never know until you try"
This is for all the lonely people
Thinking that life has passed them by
Don't give up until you drink from the silver cup
And ride that highway in the sky
This is for all the single people
Thinking that love has left them dry
Don't give up until you drink from the silver cup
You never know until you try
Well, I'm on my way
Yes, I'm back to stay
Well, I'm on my way back home (Hit it)
This is for all the lonely people
Thinking that life has passed them by
Don't give up until you drink from the silver cup
And never take you down or never give you up
You never know until you try
Thinking that life has passed them by
Don't give up until you drink from the silver cup
And ride that highway in the sky
This is for all the single people
Thinking that love has left them dry
Don't give up until you drink from the silver cup
You never know until you try
Well, I'm on my way
Yes, I'm back to stay
Well, I'm on my way back home (Hit it)
This is for all the lonely people
Thinking that life has passed them by
Don't give up until you drink from the silver cup
And never take you down or never give you up
You never know until you try
Santarém, 15 de Setembro de 2012
terça-feira, 11 de setembro de 2012
Os seios das raparigas tremem um resto
de frio nos decotes — e os seus vestidos
têm agora saias mais curtas. Os rapazes
encostam-se à pele dos muros e escrevem
vergonhas. Ai, quem me dera ter outra
vez a idade deles para não saber que a
morte nunca desiste de chamar pelo amor.
Maria do Rosário Pedreira
(copiado do blogue de Eduardo Pitta, Da Literatura, com pequena nota crítica à sua obra poética aqui.)
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
com luva. Eugénio Lisboa com luva, por si e por todos nós
clap, clap, clap!
Eugénio Lisboa, no gigantismo dos seus 82 anos, suavemente, traduz e até vai além do muito que se grita, em carta-aberta ao PM de Portugal.
clap, clap, clap! assim não me doem as mãos!
Eugénio Lisboa, no gigantismo dos seus 82 anos, suavemente, traduz e até vai além do muito que se grita, em carta-aberta ao PM de Portugal.
clap, clap, clap! assim não me doem as mãos!
domingo, 9 de setembro de 2012
sábado, 8 de setembro de 2012
"Ah, se eu bebesse..."
se eu bebesse
hoje
flutuaria
entre copos destramente desprovidos
alguns de trago, e outros devagarinho.
eu, se hoje eu bebesse
bebia-me era a mim.
e, ao urinar
(chique: pilau de fora; mictar)
o jacto que purgava livrava-me de mim.
-/-
não beber é o meu fundo de maneio.
mas um dia faço-me homenzinho e acordo insolvente.
sábado, 1 de setembro de 2012
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