sexta-feira, 6 de abril de 2012

eu e o diabo

desde há uns tempos atrás, e sem ter passado perto dum reactor nuclear ou, que me tenha apercebido, me digladie com mais crises existenciais que as habituais e de conforto de identidade, por tudo e por nada sai um festival de caretas. saiem-me: sem causa lobrigável, no remanso dos nadas expludo num torte-retorce da face, revirar de olhos e dentinho à mostra, por vezes com uns ais esticados a acompanhar. no café já nem ligam («lá está ele...»), e a senhora das opiniões cá da casa diz que é o diabo a tentar sair de mim e eu não deixo. curiosa opinião. 

que cá dentro isto anda desarranjado, não é novidade nem é de agora. aceito como bom o argumento da queda do berço, esse lava-tudo infantil, a ter de aceitar algum: a tal zona de conforto de que carecemos para nos explicarmos, quando "o ser" entra em conflito com o externo "deverias ser". a paz social paga-se, mas muito honestamente creio que o meu contabilista interno ando um pouco zangado com a facturação detalhada da conta, e vai daí saem as inexplicáveis caretas, nem mais nem menos que o dito a resmungar com as parcelas. o diabo, portanto. 

o Nietszche, que foi um gajo diabolicamente esperto para estas coisas, tratou a sublimação de formas que me são muito pouco agradáveis - tratando-se afinal disso. não se contentando com as tradicionais pulsões sexuais, o bom do bigodaças mau-feitio anexa à minha economia psíquica de desilusões e fantasias pulsões de nomes tão antipáticos como de destruição ou de morte. vade retro, ó pá! nem os espelhos onde me miro se quebram, as crianças fogem de mim, ou penso em colocar mais bombas que o comum dos cidadãos. 

mas que é verdadeiro o dito «isto está tudo ligado!», é é. isto anda tudo ligado, quando penso no inconfessável: elas (as caretas) saem e espreitam quando penso em gente concreta, quando associo tudo (tudo) no quotidiano às presenças, às ausências, e às imaginações. um divã que o explique melhor: faço os trabalhos de casa à minha maneira, e neste próprio momento estiquei os lábios e fiz u-u!, fechei e abri um olho que nem com um tresolho, ao concluir que este azul marítimo facebookeano* (e que é um chibo) despertou um diabinho que caiu do berço em pequenino, e, por muito que eu me estrangule ("sublime"), deu-lhe asas e revelou-o. em caretas filosóficas, pois. 

ps em defesa da honra: o gajo da foto não sou eu. acredito que as minhas são melhores. hum 

* fanei-me, do Facebook

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