quarta-feira, 23 de março de 2011

releituras


...evidentes.

um original impresso em 1670 de que tenho a edição 'moderna' de 1943 ("Arte de Galanteria por D.Francisco de Portugal", Domingos Barreira - Editor), na minha primeira releitura que, quanto a isto, já se leu e julgou ler tudo quando se chega a estas idades e ditosos estados.

afinal não. nunca. folheio-o e pasmo. evidente! tal e qual! mesmo naqueles tempos decanos a Arte do Galanteio, esse sublime rejuvenescimento contínuo e, talvez, às vezes, quiçá quiçá quiçá, deu voltas e aprimoradas maroscas mas assenta nas mesmas pedras: «me Tarzan, you Jane». punhos de renda e bilhetinhos, versos e capa estendida, sim, claro que sim, mas uns olhos castanhos pedem o seu beijo com a veemência do íman e o galã não pode defraudá-los. morre logo ali, perece-lhe o estatuto e caminhará solitário em jardins abandonados pelas damas se a hesitação se prolongar a ponto da fera fêmea apagar o brilho das estrelas, fazendo-se lua distante, onírica, poética mas platónica.

a saliva deve saltar das rimas e mergulhar na sua igual. poesia? linda, bonita, encorajadora. frustrante, quando se chega ao último estremecimento e é um livro numa estante, um jardim onde as flores são bonitas mas com o passeio da solidão perdem a sua graça inspiradora. poesia, retrato de nós? talvez. tantas vezes talvez. mas melhor, bem melhor, é a faísca duns olhos castanhos que salivam por lerem em braille. o resto é literatura, e quanto a eles estou bem servido, obrigado.

abandonei a poesia, 'cansei', e releio materialismo dialéctico.

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