se bem nos recordarmos a Islândia foi o primeiro país europeu "a dar o berro" aquando da crise financeira mundial iniciada em 2007 pelo famoso rebentamento da bolha imobiliária norte-americana. com uma economia assente em bancaria e aplicações financeiras de alto risco, tudo ruiu mais depressa que, então, voltarem a pôr os barcos na água e dedicarem-se àquilo onde sempre foram bons: a pesca (não é gozo). foi uma escandaleira, contagiou entre outros a Grã-Bretanha que ficou a arder com vultuosos depósitos, etc. se bem continuo a lembrar-me, foram empréstimos de emergência feitos pela Rússia que permitiram à ilha não ir ao fundo.
passaram quatro anos. saltamos de crise em crise, e esquecemos. ajudam-nos a esquecer. não o mau, que esse está sempre presente, seja para salivar os protos-leitores, seja por qualquer desígnio que me escapa e sobre qual não desejo reflectir muito, mas a verdade é que há uma notícia boa vinda de lá e que nos interessa, nós um dos mais "à rasca": está em curso e com sucesso uma revolução islandesa e tem sido 'apagada' dos jornais e dos telejornais, esses pastéis mediáticos feitos para nos adormecer, indignando-nos só na 'justa medida', controladinha.
têm-na ocultado, silenciado perante nós, os "à rasca". surpreende? não. nem pelo atroz jornalismo que considera que só as más notícias é que fazem boas manchetes. é mais profundo, suspeito, é um roçar as bordas das teorias da conspiração de que não gosto, mas para as quais me sinto muito suavemente empurrado. e - palavra! - prefiro um empurrão sério, fdp q.b, que estes maneirismos manipuladores.
porquê? este silêncio serve quem?
porque o sucesso está a ser conseguido fora das receitas formatadas que se impingem por toda a Europa doente. foge à bula oficial e ao rol de medicamentos tão recomendadíssimo que não há quem o queira de bom grado, o Índice Terapêutico Europeu: FEEF e FMI, ou na nossa actual versão suave "desenrasquem-se então lá, mas fazendo como nós mandamos". sem açúcar, só com o sucedâneo da ameaça das alternativas serem piores. serão?
tivemos a manif de dia 12 que é um facto político não possível de meter ao canto, arrumá-lo nos fait divers fortuitos, e uma semana depois continua tudo como dantes. se se mobilizaram 200.000 (mesmo que com o auxílio de sindicatos, mas eles existem é também para isso) em volta dum protesto apartidário, num passa-palavra virtual que só depois galgou para os jornais e tv's, a sociedade civil não está totalmente KO, ainda respira além de gemer - e protesta.
porém, como evitar a 'revolução na rua', que no nosso estado de endividamento financeiro-compromissos internacionais, seria tão perigoso como contratar-me para cozinheiro dum lar de idosos?
constantemente se zurze no estado da nossa democracia, elegendo por norma o bombo de serviço, i.e. o partido e a cara de quem está no Governo. deitando fora do prato os providencialismos, os 'salvadores da pátria', também suspeito que não há lugar à criação dum novo partido político que seja aglutinador dos descontentamentos. creio mesmo que as divisões ideológicas não permitem governos de 'salvação nacional', tipo centrões ou abas reunidas. não funcionaria, que os ódios de estimação ideológica são tantos e tão ensimesmados que mais depressa se tornavam espiões-boicotadores uns dos outros que efectivamente legislariam e governariam num interesse comum, com sentido de Estado. penso que é dentro dos partidos existentes que há que transformar. dar voz à rua e aos silêncios dos descontentes. alterar o habitual numerus clausus que nos impinge quadrianualmente como caras-candidatas a chefe de todos quem um concílio sempre dos mesmos previamente escolheu. concílio inquinado por interesses viciados, clientelas salivantes, rotundos status e que tudo fazem para não o perderem. então escolhem o seu 'chefe' que nos irá ser apresentado como a única de já parcas opções. assim não vale, é democracia a fingir.
se se sente o apelo da política, mais a mais se por descontentamento, não é errado militar. pelo contrário. a Islândia encontrou a sua via - e parece que funciona. a fórmula, para cá, na verdade descreio dela. há tipicidades próprias e temos muito mais holofotes apontados que eles no período mais crítico, mesmo não estando ainda em falência técnica assumida, como eles tiveram de assumir, engolir e dizê-lo: o futuro da moeda única europeia, das políticas fiscais únicas, etc, passará um bom bocado pela forma como nós iremos reagir, embora concerteza já existam os planos B e até o C. a revitalização dos partidos políticos só se consegue pela injecção maciça de novas opiniões, novas vontades, novos votos que elegerão alternativas ao mais-do-mesmo que nos cansou. esvaziar de inevitabilidades más a pescadinha de rabo na boca, interromper o círculo, criar alternativas sem fazer ruir o edifício.
vale o que vale. é a minha ideia, hoje. ninguém ma pediu e ninguém lhe ligará nada em especial. mas tenho um blogue onde pespego tanto coisa, incluindo disparates e outras coisas assim bonitas, e não vejo porque é que não hei-de aqui colocá-la. ah! não me vou inscrever em nada. nada de nada. sou excessivamente individualista para isso. eu.
ps: post sob inspiração na leitura da crónica de Pedro Lomba, no Público de hoje (sem link, que a visualização é só para assinantes-pagantes)
(na imagem: a versão - de 1590 - de Abraham Ortelius do mapa da Islândia, atribuído ao bispo dinamarquês de Gudbrandur, Þorláksson. encontrado aqui. vénia)
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