domingo, 4 de abril de 2010

"o tabaco anda a matar-me. é pior quando se me baralham as memórias"



Eu baralho-me. Quero cortar por inteiro e deitar fora de vez os resíduos, fechar de vez as portas e liquidar as existências do meu bab bank privado, o toxicismo de não conseguir ficar refastelado a pensar os longe, um tempo que se imagina exclusivo de cenas boas mas não foi bem assim, tudo isto, mas o nome Kanpfumo deita-me num desconforto. O não gostar das mudanças dos nomes das coisas, das pessoas, dos lugares. Por puro conservadorismo escaldado A noção de que não é assim que se fecham as coisas. Eu, de mim. Cada vez estou mais longe – e a mudança de nome dos bairros já me estranha, que não sei de memória o antigo nome do bairro B1, mas Maputo encaixa-se na identidade, que era o sonho recorrente, alimentado pela descoberta do B1 e de tudo que, não tarda, me esperava. Assim, suave. Seria uma visita chorosa quando o suplício aterrasse em Maputo: estava em Mavalane, tudo certo. Tenho medo de Kanpfumo me tirar o choro, e promessa é promessa. E nem consegui memorizar o novo nome do bairro B1. Antes, morei na rua tal, prédio tal. A rua mudou e o prédio provavelmente – um, desapareceu no meio duma data deles que entretanto nasceram, e sei lá se o veterano é sequer pintado; e, dois, o outro, já era velho e numa boa esquina, provavelmente o terraço donde podia contar que uma ou duas boas aconteceram – porque o terraço existiu e eu estive lá, e duma vez meti lá a moto para mudar-lhe segmentos, e de lá ouvi e vi (ordem correcta) o heli da Força Aérea com um megafone aconselhando atitudes, pois da periferia vinham rolos de fumos, as sirenes e buzinas aflitas eram uma constante, e… – talvez o terraço já não exista, sequer exista em Maputo. Travão. Até aqui reconheci. Faço a transição na boa.

Eu não sei lidar comigo, e agora vem esta confusão com Kanpfumo. A mudarem, a mexerem em fiozinhos cada vez mais confusos – que a puta da idade veio com o estatuto dum residente cheio de direitos por antiguidade: mal me lembro de tanto, que certamente ao momento foram importantes, e uns dez anos depois eram uma memória valiosa, suminho aristocraticamente moderno-tropical recheado de proteínas ficcionistas e já com começo de respeitável patina. Agora vem o novo nome lembrar-me que tudo isto foi há quase quarenta anos atrás, não tarda. Ou sigo em frente e aceito que hoje não me lembro bem de todas as casas onde morei, ou torno-me estudioso de história para preencher um novo mapa recheado de utilidades, entre elas não baralhar os verdadeiros nomes das ruas, esquinas, cafés, jardins, bairros, e o da cidade onde se viveu o bom e o melhor: a juventude, forma; a cidade: palco.

É complicado. Não me levem a mal: quando aterrar em Mavalane, vou pensar que cheguei a LM.


A foto é by net, e sei lá já de onde; é de 2008 e nela está a escola primária ex-João de Deus
PS ao VP: calculo com certeza mais ou menos que a foto seja tua, Victor. mas a legenda faz parte do post...

Sem comentários: